O trecho abaixo é extraído de meu livro: "As Provas da Existência de Deus", de autoria minha e de Emmanuel Dijon, disponível gratuitamente para download
Muitos céticos, ateus,
agnósticos e pasme: até mesmo alguns que se dizem “cristãos” creem que
a Bíblia foi corrompida pela Igreja cristã, sendo adulterada e tendo passado
por muitas alterações, acréscimos e modificações com o passar dos séculos. Tais
acusações gratuitas vem de pessoas que nunca estudaram um mínimo de história
antiga ou não conhecem nem um pouco sobre Crítica Textual, pois, se estudassem,
saberiam que não existe obra antiga mais
confiável do que o Novo Testamento.
Primeiramente, temos que ressaltar
que, ao tratarmos de Crítica Textual em textos antigos, como os livros do Novo
Testamento, que datam há milênios atrás, não possuímos em mãos o manuscrito
original, mas cópias dele, por
pessoas que copiaram tais escritos mais tarde. O fato de não possuirmos o
original em mãos não significa que as cópias não sejam autênticas, ou, senão,
teríamos que dizer que nenhum documento da história antiga é autêntico,
pois todos eles sobrevivem através de manuscritos posteriores – sem
qualquer exceção!
Norman Geisler e Frank
Turek abordam isso nas seguintes palavras:
“Os céticos podem perguntar: ‘Bem, se o NT é realmente a palavra de Deus, então por que Deus não
preservou o original?’. Só podemos especular aqui, mas uma possibilidade é porque sua palavra pode
ser melhor protegida por meio de cópias do que por meio de documentos
originais. Como assim? Porque, se o original estivesse de posse de alguma
pessoa, essa pessoa poderia alterá-lo. Mas, se houvesse cópias espalhadas por
todo o mundo antigo, não haveria maneira de um escriba ou sacerdote alterar a
palavra de Deus. Como vimos, o processo de reconstrução permite que variantes e
alterações nas cópias sejam identificadas e corrigidas de maneira bastante
simples. Desse modo, ironicamente, o fato de não existirem originais pode
preservar a palavra de Deus de uma maneira melhor do que se eles existissem”[1]
Para conseguimos remontar
o texto original com total confiança, são necessárias basicamente duas coisas:
• Possuirmos cópias bem antigas, próximas do original.
• Possuirmos uma quantidade significativa dessas cópias.
Se as cópias preservadas
de um original são datadas de tempo bem posterior a ele, alguém pode alegar que
nesse meio-tempo houve alterações no escrito original. Portanto, é importante
possuirmos cópias que são próximas à época em que o original foi feito. Da
mesma forma, quanto maior é a quantidade de cópias existentes também é maior a
chance do original não ter sido corrompido, pois, desta forma, um falsário
teria que adulterar milhares de manuscritos
por todas as partes do mundo da época e nas mais diversas línguas se quisesse
se sair bem sucedido.
Assim sendo, a Crítica
Textual trabalha dentro desses dois critérios para determinar se o original de
qualquer obra (não somente do Novo Testamento) foi bem preservado ou não. A
pergunta que fica é: possuímos cópias
antigas do Novo Testamento? E quantas
dessas cópias possuímos? É isso o que passaremos a investigar a partir de
agora.
• Quantidade de cópias antigas
do Novo Testamento
Nenhuma obra da história
antiga possui cópias tão próximas ao original quanto o Novo Testamento. Isso
mesmo: nenhum! O Novo Testamento ganha disparado do segundo colocado e de textos que
os próprios céticos creem que foram bem preservados. Sobre isso, Geisler e
Turek discorrem:
“O NT não apenas desfruta de um amplo apoio dos manuscritos, como também
possui manuscritos que foram escritos logo depois dos originais. O mais antigo
e incontestável manuscrito é um segmento de João 18.31-33,37,38, conhecido como
fragmento John Rylands (porque está na Biblioteca John Rylands, em Manchester,
Inglaterra). Os estudiosos datam esse documento como tendo sido escrito entre
117 e 138 d.C, mas alguns dizem que ele é ainda mais antigo. O fragmento foi
encontrado no Egito próximo ao mar Mediterrâneo, e seu provável local de
composição foi a Ásia Menor – demonstrando que o evangelho de João foi copiado
e levado a lugares distantes logo no início do século 11”[2]
Quantas cópias antigas do
Novo Testamento em grego nós possuímos? A resposta é nada a menos que 5.664!
Esse número é assustadoramente grande ao se tratar de história antiga. Para se
ter uma noção e usar como parâmetro, de todas as obras antigas aquela que aparece
em segundo lugar é a Ilíada de Homero, com apenas 643 manuscritos que
sobreviveram até hoje. Ou seja: só de textos em grego, nós possuímos nove
vezes mais cópias do Novo Testamento do que a segunda obra antiga mais bem
colocada em qualquer idioma.
Mas não para por aqui. O
Novo Testamento também foi copiado nos primeiros séculos em muitos outros
idiomas. Existem pelo menos 9.300 antigas
versões em outras línguas, e mais 10.000 manuscritos antigos da Vulgata Latina
de Jerônimo. No total (juntando o número de cópias antigas do Novo Testamento
nos mais diversos idiomas) nós possuímos aproximadamente 25.000 manuscritos de livros inteiros
do Novo Testamento, isso sem contar outras 24.000 cópias de porções (trechos) desses livros. Isso
significa 39 vezes mais do que a Ilíada
de Homero, que é a segunda colocada em número de cópias em todos os
documentos antigos já criados pelo homem!
A tabela a
seguir detalha o número de manuscritos do Novo Testamento:
Gregos Unciais
|
306
|
Minúsculas
|
2.764
|
Lecionários
|
2.143
|
Papiros
|
88
|
Achados recentes
|
47
|
Vulgata Latina
|
Mais de 10.000
|
Etiópico
|
Mais de 2.000
|
Eslavônico
|
4.101
|
Armênio
|
2.587
|
Versão Siríaca (Peshita)
|
Mais de 350
|
Copta
|
100
|
Árabe
|
75
|
Versão Velha Latina
|
50
|
Anglo-Saxônico
|
7
|
Gótico
|
6
|
Sogdiano
|
3
|
Siríaco Antigo
|
2
|
Medo-Persa
|
2
|
Frâncico
|
1
|
A conclusão é óbvia: o
Novo Testamento é o documento antigo
mais bem preservado da história da humanidade. Discorrer contra isso é
lutar contra os fatos, movido pura e simplesmente pelo preconceito de se
aceitar algo histórico se está ligado à religião, como fazem os céticos e
ateus. Esses números são tão impressionantes quando postos em comparação com os
outros documentos da antiguidade que John Warwick Montgomery declarou:
“Ter uma atitude cética quanto ao texto disponível dos livros do
Novo Testamento é permitir que toda a antigüidade clássica se torne
desconhecida, pois nenhum documento da história antiga é tão bem confirmado
bibliograficamente como o Novo Testamento”[3]
A
evidência para a autenticidade do Novo Testamento é tão esmagadora que seria
necessário juntar as dez melhores e mais bem preservadas obras da literatura
antiga se quiséssemos chegar a algo próximo daquilo que o Novo Testamento nos
oferece:
“Embora os documentos originais do NT não tenham sobrevivido ou
ainda não tenham sido encontrados, temos muitas cópias precisas dos documentos
originais – muito mais do que as dez
melhores peças da literatura antiga combinadas”[4]
Esse
enorme número de cópias do Novo Testamento também nos ajuda a refutar aqueles
que pensam que a Bíblia foi adulterada. Muitos afirmam que os escribas poderiam
errar por desatenção, incluindo uma coisa aqui ou ali que não estava no
original, errando uma ou outra palavra ou deixando de escrever uma ou outra
coisa. Isso ocorre em todas as cópias, é algo comum.
E
é aí que entra em cena a importância de se ter muitos manuscritos. Porque se
tivéssemos apenas um único e esse escriba tivesse errado em alguns pontos,
teríamos uma Bíblia incompleta e adulterada em mãos. Mas, se temos muitos escribas e muitos manuscritos, essa possibilidade cai exponencialmente.
Imagine, por exemplo, uma sala de aula com 100 alunos. A professora enche o
quadro negro de matéria. Os alunos têm que copiar palavra por palavra, linha
por linha de tudo aquilo que foi escrito. Os 100 alunos copiam tudo o que a
professora escreveu. Mas Joãozinho chega tarde, perde a primeira aula e a
professora já apagou o que tinha escrito no quadro negro.
Então,
ele se vê na obrigação de consultar seus colegas que copiaram tudo o que foi
escrito. Se Joãozinho copiasse de apenas um único colega em somente uma única
fonte, ele pode incorrer nos mesmos erros ocasionais que esse colega pode ter
errado na cópia. Mas se Joãozinho consultar todos
os seus 100 colegas que copiaram o que foi escrito, certamente esse
problema seria resolvido sem maiores dúvidas. Para o exemplo ficar mais
prático, suponhamos que Joãozinho esteja copiando um texto de um aluno onde
diz:
“Porque Deus o mundo de tal maneira que deu unigênito para que
todo aquele que não pereça, mas tenha a vida eterna”
Joãozinho
lê esse verso da cópia de um único aluno e percebe que nele está faltando
alguma coisa. O texto não está fazendo sentido. “Deus o mundo”, “deu
unigênito”, “para que todo aquele que não
pereça”...
alguma coisa está errada. Talvez esse aluno estivesse com sono quando copiou,
estivesse com muita pressa ou muito desatento. Para confirmar a tradução
correta, Joãozinho consulta um outro aluno ao seu lado, que copiou da seguinte
forma:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”
Agora
as coisas começam a fazer sentido. O que um aluno errou na transcrição, o outro
acertou. Mas, para confirmar, ele consulta todos os seus outros 99 colegas
(Joãozinho era faminto por uma boa tradução!), e todos os 99 confirmam a
seguinte transcrição:
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
Filho unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna”
Qual
seria a conclusão de Joãozinho? Que o texto original perdeu-se e já não se pode
saber o conteúdo primordial, pois foi tudo adulterado? É claro que não. Ele
concluirá facilmente que aquele “copista” que ele viu anteriormente
havia vertido o texto erroneamente por desatenção, mas o que ele errou foi
concertado por muitos outros que transcreveram certo. Então, como é
praticamente impossível que 99 alunos tenham reproduzido errado e só um tenha
copiado certo, é lógico que a tradução correta é a que foi traduzida pelos 99
alunos.
O
mesmo ocorre com o conteúdo do Novo Testamento, com a diferença de que não
possuímos apenas 100 copistas ou 100 cópias para comparar as traduções, mas 25 mil cópias, o que obviamente abaixa
para virtualmente zero as possibilidades de que todos tenham copiado errado um
mesmo texto. É por isso que a Crítica Textual não trabalha dentro de apenas um
único manuscrito, por mais valioso que seja, mas pela comparação entre vários manuscritos. Então, por mais que
um ou outro copista se equivoque na tradução ou transcrição de um ou outro
verso, a comparação com os mais diversos manuscritos bíblicos antigos nos leva
inevitavelmente ao original, com precisão.
Geisler
e Turek resumem a questão da seguinte maneira:
“Uma reconstrução praticamente perfeita dos originais pode ser
realizada ao comparar-se as milhares de cópias manuscritas que sobreviveram.
Descobrimos fragmentos de manuscritos tão antigos quanto o material da segunda
metade do século I. Não existem obras
do mundo antigo que sequer cheguem perto do NT em termos de apoio de
manuscritos (...) De fato, os documentos do NT possuem mais manuscritos,
manuscritos mais antigos e manuscritos mais abundantemente apoiados do que as
dez melhores peças da literatura clássica combinadas”[5]
O
outro quesito em que o Novo Testamento se destaca em comparação a qualquer
outra obra escrita de toda a história antiga é no tempo entre o original e a
cópia mais próxima. Frederic G. Kenyon, que foi diretor do Museu Britânico e é
reconhecido como uma das maiores autoridades em manuscritos, disse:
“Além da quantidade, os manuscritos
do Novo Testamento diferem das obras dos autores clássicos em outro aspecto, e
mais uma vez a diferença é bem clara. Os livros do Novo Testamento foram
escritos na última parte do século primeiro; com exceção de fragmentos muitos
pequenos, os manuscritos mais antigos existentes são do quarto século –
cerca de 250 a 300 anos depois”[6]
E ele prossegue, dizendo:
“Isso pode parecer um intervalo considerável, mas não é nada em
comparação com o tempo transcorrido entre os grandes escritores clássicos e
seus mais antigos manuscritos. Cremos que, em todos os pontos essenciais, temos
um texto bastante fiel das sete peças remanescentes de Sófocles; no entanto, o
manuscrito mais antigo e substancioso de Sófocles foi copiado mais de 1400 anos
depois de sua morte”[7]
Em seu livro “A Bíblia e a Arquelogia”, Kenyon acrescenta:
“De modo que o intervalo entre as datas da composição do original
e os mais antigos manuscritos existentes se torna tão pequeno a ponto de, na
prática, ser insignificante. Assim, já não há base para qualquer dúvida de que
as Escrituras tenham chegado até nós tal como foram escritas. Pode-se
considerar que finalmente estão comprovadas tanto a autenticidade como a
integridade geral dos livros do Novo Testamento”[8]
Geisler e
Turek acrescentam que possuímos manuscritos de livros completos do Novo
Testamento que datam do século III d.C:
“Qual é a idade do mais antigo manuscrito de um livro completo do
NT? Manuscritos que formam livros inteiros do NT sobreviveram a partir do ano
200 d.C. E quanto aos mais antigos manuscritos do NT completo? A maioria dos
manuscritos do NT, incluindo os quatro evangelhos, sobrevive desde o ano 250, e
um manuscrito do NT (incluindo um Antigo Testamento em grego), chamado Códice
Vaticano, sobrevive desde o ano 325. Vários outros manuscritos completos
sobrevivem desde aquele século. Esses manuscritos possuem ortografia e
pontuação características que sugerem ser parte de uma família de manuscritos
que pode ter sua origem entre 100 e 150 d.C”[9]
Para F. J. A.
Hort, “na
variedade e multiplicidade de provas sobre as quais repousa, o texto do Novo
Testamento destaca-se de um modo absoluto e inigualável entre os textos em
prosa da antigüidade”[10]. J. Harold Greenlee segue essa mesma
linha e afirma que “os mais antigos manuscritos existentes do Novo Testamento foram
escritos numa data muito mais próxima da composição do texto original do que no
caso de qualquer outro texto da literatura antiga”[11]. Para termos uma noção, elaboramos uma
tabela onde o Novo Testamento é comparado às demais obras antigas:
Autor
|
Data do Original
|
Cópia mais Antiga
|
Intervalo em Anos
|
Número de Cópias
|
César
|
100-44 a.C
|
900 d.C
|
1000
|
10
|
Platão
(Tetralogias)
|
427-347 a.C
|
900 d.C
|
1200
|
7
|
Tácito (Anais)
|
60-100 d.C
|
900 d.C
|
800
|
1
|
Plínio, o Jovem
|
61-113 d.C
|
850 d.C
|
750
|
7
|
Tucídedes
|
460-400 a.C
|
900 d.C
|
1300
|
8
|
Suetônio
|
75-100 d.C
|
950 d.C
|
800
|
8
|
Heródoto
|
480-425 a.C
|
900 d.C
|
1300
|
8
|
Sófocles
|
496-406 a.C
|
1000 d.C
|
1400
|
193
|
Lucrécio
|
75-160 d.C
|
1200 d.C
|
1100
|
2
|
Cátulo
|
54 a.C
|
1550 d.C
|
1600
|
3
|
Eurípides
|
480-406 a.C
|
1100 d.C
|
1300
|
200
|
Desmóstoles
|
383-322 a.C
|
1100 d.C
|
1300
|
200
|
Aristóteles
|
384-322 a.C
|
1100 d.C
|
1400
|
49
|
Aristófanes
|
450-385 a.C
|
900 d.C
|
1200
|
10
|
Compare todos
esses autores antigos, que tem milênios de
distância entre a obra original e a cópia mais antiga preservada, com os livros
do Novo Testamento escritos por Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago,
Pedro e Judas, em que temos 25 mil cópias antigas com uma diferença mínima
inferior a 200 anos entre a cópia completa
mais bem preservada e o original, e décadas
entre o original e o fragmento mais antigo.
O erudito F.
F. Bruce expôs esse mesmo quadro comparativo entre as obras seculares antigas e
os documentos do Novo Testamento e chegou à conclusão:
“Talvez possamos avaliar melhor quão rico é o Novo Testamento em matéria de
evidência manuscrita, se compararmos o material textual subsistente com outras
obras históricas da antigüidade... Os manuscritos remanescentes das obras
menores de Tácito provêm todos de um códice do século décimo. Conhecemos a
história de Tucídedes (cerca de 460-400 a.C.) a partir de oito manuscritos, dos
quais o mais antigo data de 900 d.C, e de uns poucos fragmentos de papiros,
escritos aproximadamente no início da era cristã. O mesmo se dá com a História
de Heródoto (cerca de 480-425 a.C.). No entanto, nenhum conhecedor profundo dos
clássicos daria ouvidos à tese de que a autenticidade de Heródoto ou Tucídedes
é questionável porque os mais antigos manuscritos de suas obras foram escritos
mais de 1300 anos depois dos originais”[12]
Se os críticos não
consideram corrompidas as obras de Heródoto, Platão, Aristóteles ou Homero,
mesmo tendo apenas alguns manuscritos
sobreviventes de muitos séculos
posterior ao original, então o que os levaria a pensar que o Novo Testamento,
que possui mais cópias antigas do que qualquer outra obra antiga que já
existiu, e com muito mais proximidade ao original, deveria ser questionado?
Como diz Greenlee:
“Os mais antigos e conhecidos dos manuscritos da maioria dos autores gregos
clássicos foram escritos pelo menos mil anos depois da morte do seu autor...
Todavia, no caso NT, dois dos mais importantes manuscritos foram escritos em
prazo não superior a 300 anos após o NT estar completo, e manuscritos virtualmente
completos, de alguns livros do NT, bem como manuscritos incompletos, mas
longos, de muitas partes do NT, foram copiados em datas tão remotas quanto um
século após serem originalmente escritos”[13]
E ele conclui:
“Uma vez que os estudiosos aceitam que os escritos dos antigos clássicos
são em geral fidedignos, muito embora os mais antigos manuscritos tenham sido
escritos tanto tempo depois da redação original e o número de manuscritos
remanescentes seja, em muitos casos, tão pequeno, está claro que, da mesma
forma, fica assegurada a credibilidade no texto do Novo Testamento”[14]
Bruce Metzger, em seu
livro: “The Text of the New Testament”, acentua a forma como as obras dos autores antigas
eram preservadas, e compara com o Novo Testamento:
“As obras de inúmeros autores antigos foram preservadas pela mais tênue
linha de transmissão possível. Por exemplo, o compêndio de história de Roma,
por Veléio Patérculo, sobreviveu até a era moderna através de um único e
incompleto manuscrito, a partir do qual se preparou a primeira edição impressa
– e perdeu-se esse manuscrito solitário após ser copiado pelo beato Rhenanus em
Amerbach. Mesmo em relação aos Anais do famoso historiador Tácito, no que diz
respeito aos seis primeiros livros dessa obra, ela só sobreviveu devido a um
único manuscrito, do século nono. Em 1870 o único manuscrito conhecido da
Epístola a Diogneto, um texto cristão bem antigo que os compiladores geralmente
incluem entre os escritos dos Pais Apostólicos, perdeu-se num incêndio na
biblioteca municipal de Estrasburgo. Em contraste com esses dados estatísticos,
o crítico textual do Novo Testamento fica perplexo diante da riqueza de
material disponível”[15]
A única conclusão a que se
pode chegar, após a análise minuciosa dos fatos, é aquela que F. F. Bruce
expõe:
“No mundo não há qualquer corpo de literatura antiga que, à semelhança do
Novo Testamento, desfrute uma tão grande riqueza de confirmação textual”[16]
Além
de possuir muito mais cópias antigas do que qualquer outra obra antiga da
história da humanidade e o menor espaço entre o original e a cópia mais antiga
preservada, outro dado que nos ajuda a concluir pela autenticidade do Novo
Testamento é a patrística, que consiste no estudo dos Pais da Igreja. Esses
Pais da Igreja foram bispos, teólogos, clérigos e doutores cristãos que
existiram nos primeiros séculos da Igreja. Existiram dezenas de Pais da Igreja que escreveram, ao todo, milhares de obras cristãs primitivas. E
desde aquela época era costume dos Pais citarem as Escrituras abundantemente.
Cada
um desses Pais da Igreja nos deixou um enorme legado não apenas de ensinos
morais e doutrinários, mas da própria
Escritura, pois eles costumavam frequentemente citar passagens bíblicas. O
resultado disso é que, se juntássemos todas as passagens bíblicas que os Pais
da Igreja escreveram nos primeiros séculos, teríamos o Novo Testamento
praticamente completo, excetuando
apenas onze versos que não foram citados nenhuma vez! Norman Geisler e Frank
Turek também discorrem sobre isso, dizendo:
“Os Pais da Igreja primitiva – homens dos séculos 11 e 111 como Justino
Mártir, Ireneu, Clemente de Alexandria, Orígenes, Tertuliano e outros – fizeram
tantas citações do NT (36.289 vezes, para ser exato) que todos os versículos do
NT, com exceção de apenas 11, poderiam ser reconstituídos simplesmente de suas
citações. Em outras palavras, você
poderia ir até a biblioteca pública, analisar as obras dos Pais da Igreja
primitiva e ler praticamente todo o NT simplesmente com base nas citações que
eles fizeram! Desse modo, nós não apenas temos milhares de manuscritos, mas
milhares de citações desses manuscritos. Isso torna a reconstrução do texto
original praticamente precisa”[17]
O detalhe é que todas
essas 36.289 citações bíblicas feitas pelos Pais da Igreja computadas por
Geisler são de antes do Concílio de
Niceia. Em outras palavras, a Bíblia já era citada tão frequentemente que mesmo
antes da existência de Constantino e de Niceia poderíamos remontá-la
inteiramente apenas com as citações dos Pais que viveram antes do século IV
d.C! Norman Geisler e William Nix discorrem sobre esse número no livro: “Introdução Bíblica”, e dizem:
“A esta altura, um rápido apanhado estatístico mostrará a existência de
umas 32.000 citações do Novo Testamento feitas até a época do Concilio de Niceia
(325 d.C). Essas 32.000 são apenas um número parcial, e nem mesmo incluem os
escritores do século quarto. Apenas acrescentando-se as citações feitas por um
outro escritor, Eusébio, que escreveu prolificamente num período que vai até o
Concilio de Niceia, teremos o total de citações do Novo Testamento aumentado
para mais de 36.000”[18]
Até mesmo os Pais da
Igreja do primeiro século citavam as Escrituras e reconheciam como sendo Sagrada Escritura. Policarpo (69-155 d.C),
por exemplo, escreveu aos filipenses citando um trecho da epístola de Paulo aos
efésios (Ef.4:26) e o chama de “Escrituras” e “Sagradas Letras”:
“Creio que sois bem versados nas Sagradas
Letras e que não ignorais nada; o que, porém, não me foi concedido. Nessas Escrituras está dito: ‘Encolerizai-vos e não pequeis, e que o
sol não se ponha sobre vossa cólera’. Feliz quem se lembrar disso. Acredito que é assim convosco”[19]
Clemente de Roma (35-97
d.C) escreveu em 95 d.C uma carta aos coríntios e fez menção às palavras de
Jesus ditas em Mateus 21:23 e em Marcos 10:6 e o chama de “Escritura”:
“Portanto, irmãos, se fazemos a vontade de Deus, nosso Pai, pertenceremos à
primeira Igreja, que é espiritual, que foi criada antes do sol e da lua; porém,
se não fazemos a vontade do Senhor, seremos como a Escritura, que diz: ‘Minha casa se transformou em covil de
ladrões’. Logo, prefiramos ser a Igreja da vida,
para que sejamos salvos. E não creio que ignoreis que a Igreja viva ‘é o corpo de Cristo’, porque a Escritura diz: ‘Deus fez o homem, varão e mulher’. O varão é Cristo; a mulher é a Igreja. E os livros e os
apóstolos declaram de modo inequívoco que a Igreja não apenas existe agora,
pela primeira vez, como assim desde o princípio, porque era espiritual, como
nosso Jesus também era espiritual; porém, foi manifestada nos últimos dias para
que Ele possa nos salvar”[20]
Em outro momento, ele cita
as palavras de Cristo registradas em Mateus 9:13 como fazendo parte da Sagrada
Escritura:
“Novamente diz a Escritura em outro lugar: eu não vim chamar os justos, mas
os pecadores”[21]
A tabela a seguir mostra
três Pais da Igreja que escreveram ainda no primeiro século e fizeram menção a
vários livros do Novo Testamento:
DOCUMENTOS DO NOVO TESTAMENTO CITADOS POR:
|
||
Clemente
de Roma (35-97 d.C)
|
Inácio de Antioquia
(35-107 d.C)
|
Policarpo (69-155 d.C)
|
Mateus
|
Mateus
|
Mateus
|
Marcos
|
Marcos
|
Marcos
|
Lucas
|
Lucas
|
Lucas
|
Romanos
|
João
|
João
|
1ª Coríntios
|
Atos
|
Atos
|
Efésios
|
Romanos
|
Romanos
|
1ª Timóteo
|
1ª Coríntios
|
1ª Coríntios
|
Tito
|
2ª Coríntios
|
2ª Coríntios
|
Hebreus
|
Gálatas
|
Gálatas
|
Tiago
|
Efésios
|
Efésios
|
1ª Pedro
|
Filipenses
|
Filipenses
|
Colossenses
|
Colossenses
|
|
1ª Tessalonicenses
|
2ª Tessalonicenses
|
|
1ª Timóteo
|
1ª Timóteo
|
|
2ª Timóteo
|
2ª Timóteo
|
|
Tito
|
Hebreus
|
|
Filemom
|
1ª Pedro
|
|
Hebreus
|
1ª João
|
|
Tiago
|
||
1ª Pedro
|
||
2ª Pedro
|
||
1ª João
|
||
3ª João
|
||
Apocalipse
|
O mesmo é feito por outros
vários autores do primeiro século e início do segundo, como Teófilo, Justino,
Hermas, Aristides, Atenágoras, Papias e muitos outros. Isso nos mostra que
desde o primeiro século os cristãos já conheciam o Novo Testamento e o reconheciam como sendo a Palavra de
Deus, como sendo Escritura Sagrada, antes que qualquer Concílio (como o de
Niceia, Cartago, Hipona, Trento ou qualquer outro) anunciasse quais livros eram
oficialmente “canônicos”. E, por esses mesmos Pais da Igreja, podemos reconstruir
o Novo Testamento praticamente em sua totalidade.
A tabela a seguir mostra
como que sete Pais da Igreja – sozinhos – citaram passagens bíblicas mais de 32
mil vezes, antes do Concílio de Niceia. Isso sem considerar o testemunho de
mais dezenas de Pais da Igreja que
também citaram as Escrituras antes e depois de Niceia.
Escritor
|
Evangelhos
|
Atos
|
Epístolas
Paulinas
|
Epístolas
Gerais
|
Apocalipse
|
Total
|
Justino
|
268
|
10
|
43
|
6
|
3
|
330
|
Irineu
|
1038
|
194
|
499
|
23
|
65
|
1819
|
Clemente[22]
|
1017
|
44
|
1127
|
207
|
11
|
2406
|
Orígenes
|
9231
|
349
|
7778
|
399
|
165
|
17992
|
Tertuliano
|
3822
|
502
|
2609
|
120
|
205
|
7258
|
Hipólito
|
734
|
42
|
387
|
27
|
188
|
1378
|
Eusébio
|
3258
|
211
|
1592
|
88
|
27
|
5176
|
Totais
|
19368
|
1352
|
14035
|
870
|
664
|
36289
|
Como afirma a Enciclopédia
Britânica, esse testemunho patrístico não pode ser desconsiderado:
“Após ter examinado os manuscritos e versões, o crítico textual ainda assim
não esgotou o estudo das provas em favor do texto do Novo Testamento.
Frequentemente os escritos dos primeiros Pais da Igreja refletem uma forma de
texto diferente da de um ou outro manuscrito... os testemunhos que dão do
texto, especialmente quando corroboram leituras oriundas de outras fontes, são
algo que o crítico textual deve consultar antes de formar juízo a respeito”
Esse número de 36 mil
citações bíblicas pelos Pais da Igreja antes de Niceia oferecem um forte
testemunho acerca da autenticidade do texto neotestamentário, mas a força desse
testemunho cresce ainda mais quando consideramos também os Pais que escreveram após Niceia, ou seja, todos os Pais da Igreja cristã
primitiva. O número de citações do Novo Testamento pelos Pais da Igreja
consiste em 16 espessos volumes que se encontram no Museu Britânico, contendo 86.489 citações!
Todas essas mais de 86 mil
citações, que unidas perfazem praticamente todo
o Novo Testamento, se juntam aos mais de 25 mil manuscritos antigos
neotestamentários de livros completos do Novo Testamento e a outros 24 mil
fragmentos de livros. Um total para cético nenhum botar defeito. De fato, após
uma prolongada investigação, Darlymple admitiu:
“Veja aqueles livros. Você se lembra
da pergunta que me fez sobre o Novo Testamento e os Pais? Aquela pergunta
despertou a minha curiosidade, e, como eu conhecia todas as obras existentes
dos Pais do segundo e terceiro séculos, comecei a pesquisar e, até agora, já
encontrei todo o Novo Testamento, com exceção de onze versículos”
Mas o cético poderia
perguntar: e os evangelhos apócrifos? Estude história. Tais evangelhos foram
escritos a partir do século II d.C – não foram escritos pelos verdadeiros
discípulos de Cristo que foram testemunhas oculares de tudo o que ocorreu – e
por um grupo anticristão conhecido por “gnósticos”, que tinham uma fé completamente oposta à cristã, mas
queriam ser chamados por este nome. Mas havia um problema: o Novo Testamento
era completamente oposto às crenças deles, que incluía a doutrina da
reencarnação e o ensino de que Jesus não veio em carne, que ele não ressuscitou
dos mortos, que não existe ressurreição física nem justificação pela fé, e que
o corpo é uma prisão da alma e é mal em si mesmo.
Então, qual foi a solução
encontrada por eles, para fazerem com que as suas crenças heréticas fossem bem
aceitas? Simples: eles decidiram por si mesmos escreverem pseudo-evangelhos
falsamente atribuídos a Pedro, a Paulo, a João, a Judas, a Tomé, e por aí vai,
onde esses ensinos não-bíblicos eram claramente ensinados, para concorrer com o
Novo Testamento. Isso ocorreu a partir do século II d.C, e pode ser conferido
em obras da época, como o livro “Contra as Heresias”, de Irineu de Lyon.
A Igreja, porém, nunca aceitou esses apócrifos como
inspirados. Desde os primórdios ela soube reconhecer aquilo que tinha origem
antiga e que remetia aos apóstolos e aquilo que era plágio e falsificação
posterior. Além disso, nós possuímos pouco ou nada de evidências concretas e
conclusivas sobre esses livros. A grande maioria deles possuem pouquíssimas
cópias que sobreviveram, de modo que é impossível resgatar o original com
precisão. Sua autenticidade é diametralmente oposta a do Novo Testamento.
Marcelo Berti expôs a
tática tendenciosa de críticos como Bart Ehrman, que tentam fazer os leigos
crerem que tais evangelhos apócrifos são confiáveis:
“Há alguns anos atrás nos tínhamos um pedaço do Evangelho de
Pedro que não sabíamos bem o que significava. Era um fragmento do tamanho de um
cartão de crédito. No século passado foi descoberta uma cópia maior, com
páginas do texto. Eles compararam aquilo que tinha naquele evangelho com aquilo
que foi encontrado recentemente, e Ehrman diz em seu livro: ‘ficou claro que o Evangelho
de Pedro foi bem preservado’. Isso com duas cópias, uma do tamanho de um cartão de
crédito e outra com algumas páginas. Ou seja: para Ehrman, o Evangelho de Pedro
foi bem preservado – com poucas evidências – mas o Novo Testamento, repleto de
evidências (mais de 5 mil), foi ‘mal guardado’!”[23]
Tudo
o que já foi apresentado até aqui já deveria ser mais que o suficiente para
convencer as pessoas mais sinceras e honestas de que a Bíblia não foi
adulterada e que podemos confiar na autenticidade do Novo Testamento, ou seja:
no evangelho cristão. Mas não para os críticos agnósticos e ateus. Enquanto
Deus não descer dos céus com uma poderosa legião de anjos ao seu redor e com
uma Bíblia gigante de ouro na mão dizendo que o Cristianismo é verdadeiro, eles
não vão se convencer. Na verdade, duvidamos que mesmo se isso ocorresse eles
iriam se dar por vencidos.
Não
importa a multidão de argumentos: se se trata de religião, eles descartam a priori qualquer evidência, para
colocarem no lugar qualquer argumento supérfluo, fraco e superficial oferecido
pelos céticos. E dentre eles se destaca um nome: Bart Ehrman. Ele se tornou
muito famoso nos Estados Unidos por defender aquilo que os céticos e
anticristãos deste mundo mais desejam: a corrupção da Bíblia e o fim do
Cristianismo.
Foi
várias vezes convidado para depoimentos em documentários na NBC, CNN, History
Channel e muitos outros canais que quase nunca dão espaço a cristãos (não
importando os argumentos), mas se um agnóstico nega tudo o que o Cristianismo
ensina e escreve um livro sobre isso vira popstar
da noite para o dia e seus livros verdadeiros best-sellers. Em seus livros, ele ataca a veracidade do Novo
Testamento com argumentos fracassados já há muito conhecidos e não poucas vezes
refutados, mas vale a pena refutar mais uma vez para quem ainda não os reconhece.
Para
Ehrman e outros críticos como ele, os manuscritos do Novo Testamento possuem
400 mil “erros”, divergindo entre si.
Qualquer leigo no assunto, que não entende absolutamente nada de Crítica
Textual (e é exatamente para tais pessoas que Ehrman escreve), logo irá pensar
que essa é a maior e mais extraordinariamente fantástica prova irrefutável de que
a Bíblia é uma farsa e que o Novo Testamento foi corrompido. Mas tais
argumentos não têm qualquer valor em um debate inteligente, entre eruditos que
entendem de Crítica Textual.
Mas
o que teria de errado esse argumento dos críticos?
Simplesmente
que não se trata de erros nos
manuscritos, mas de variantes. Por
exemplo, suponhamos que um manuscrito traga o texto de 1ª Coríntios 15:19 da
seguinte forma:
“Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis
de todos os homens”
E
que outro manuscrito transcreva assim:
“Se esperamos em Jesus apenas nesta vida, nós somos os mais
miseráveis de todos os homens”
Para
qualquer pessoa minimamente inteligente e honesta, não há qualquer “erro” ou adulteração entre uma
passagem e outra. A diferença é mínima e o sentido é exatamente o mesmo. Um
traz “Cristo”, o outro traz “Jesus”. Um traduz por “só”, o outro por “apenas”.
Um coloca o pronome “nós” no texto, o outro deixa o pronome implícito. Para os eruditos
bíblicos sérios, essas são apenas variantes
textuais. Mas para Ehrman e companhia, são três “erros bíblicos” que provam que a Bíblia foi
adulterada!
Geisler
e Turek também abordam isso, nas seguintes palavras:
“Alguns já chegaram a estimar que existam cerca de 200 mil erros
nos manuscritos do NT. Primeiro de tudo, eles não são ‘erros’,
mas leituras variantes, a maioria das quais de natureza estritamente gramatical
(i.e., pontuação e ortografia). Segundo, essas leituras estão espalhadas por
cerca de 5.700 manuscritos, de modo que a variação na ortografia de uma letra de uma palavra em um
versículo em 2 mil manuscritos é considerada 2 mil ‘erros’”[24]
Isso
por si só já é suficiente para demonstrar o quão desonestos são os críticos do
Novo Testamento em formularem argumentos que apenas tem a força de enganar
leigos, mas que nunca convenceram qualquer erudito ou exegeta. Mas Daniel
Wallace foi além. Ele pegou uma frase simples no grego: “Jesus ama Paulo”. Depois, mostrou 16 variantes
diferentes que esse único verso simples poderia ser transcrito no grego, sem
alterar nada do significado textual:
1. ᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ Παῦλον
2. ᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ τὸν Παῦλον
3. ὁ ᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ Παῦλον
4. ὁ ᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ τὸν Παῦλον
5. Παῦλον
᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ
6. τὸν Παῦλον
᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ
7. Παῦλον
ὁ ᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ
8. τὸν Παῦλον
ὁ ᾿Ιησοῦς ἀγαπᾷ
9. ἀγαπᾷ ᾿Ιησοῦς Παῦλον
10. ἀγαπᾷ ᾿Ιησοῦς τὸν Παῦλον
11. ἀγαπᾷ ὁ ᾿Ιησοῦς Παῦλον
12. ἀγαπᾷ ὁ ᾿Ιησοῦς τὸν Παῦλον
13. ἀγαπᾷ Παῦλον ᾿Ιησοῦς
14. ἀγαπᾷ τὸν Παῦλον
᾿Ιησοῦς
15. ἀγαπᾷ Παῦλον ὁ ᾿Ιησοῦς
16. ἀγαπᾷ τὸν Παῦλον
ὁ ᾿Ιησοῦς
E
ele adiciona:
“Estas variações representam apenas uma pequena fração das
possibilidades. Se a sentença usar φιλεῖ ao invés de ἀγαπᾷ, por exemplo, ou se ela começar com uma conjunção tal qual δεv, καιv, ou μέν, as potenciais variações crescerão exponencialmente.
Fatore em sinônimos (tais quais κύριος por ᾿Ιησοῦς), diferenças de escrita, e palavras adicionais (tais
quais Χριστός, ou ἅγιος com Παῦλος) e a lista de potenciais variantes que não afetam a essência da declaração
cresce às centenas. Se uma simples sentença como ‘Jesus ama Paulo’
pode ter tantas variações insignificantes, meros 400.000 variantes entre os
manuscritos do Novo Testamento parece quase uma quantidade insignificante”[25]
Marcelo
Berti trabalhou em cima desse mesmo exemplo de Daniel Wallace (“Jesus ama Paulo”) e mostrou como um texto
simples como esse poderia oferecer milhares
de variantes sem alterar em nada o significado textual:
“Nós sabemos que existem palavras diferentes em grego para
descrever ‘amor’.
Por exemplo: em vez de usar ágape como
amor, ele poderia ter usado fileo, o
que não faria diferença nenhuma. Mas, assim, nós teríamos 32 leituras
diferentes (variantes). E se um copista desatento não tivesse ouvido ‘Paulo’,
e tivesse escrito ‘Saulo’?[26] Nós já teríamos 128
possibilidades em uma sentença só. E se ele tivesse trocado ‘Jesus’
por ‘Cristo’?
256! E se ‘Cristo’
fosse transcrito como ‘Senhor’? 512! E se ele tivesse colocado ‘Senhor Jesus Cristo’?
1024!”[27]
Mas,
de todas essas 400 mil variantes textuais, quantas afetariam alguma doutrina da
fé cristã? A resposta a essa pergunta é simples e objetiva: nenhuma. Westcott e Hort analisaram os
manuscritos gregos antigos do Novo Testamento e concluíram que apenas 1,67%
dessas variantes textuais nos diferentes manuscritos antigos são minimamente relevantes[28]. Philip Schaff calculou que
apenas 50 eram de todas essas 400 mil eram relevantes e que nem uma única
sequer afetava “um artigo de fé ou um preceito de obrigação que não seja
abundantemente apoiado por outras passagens indubitáveis ou pelo sentido geral
do ensinamento das Escrituras”[29].
Nos
cálculos do grande estudioso do Novo Testamento e professor da Universidade de
Princeton, Bruce Metzger, apenas 0,5% dessas variantes poderiam mudar o sentido
de algum texto, e que nenhum desses
0,5% afetava qualquer doutrina da fé cristã[30]. Frederic Kenyou, autoridade
em manuscritos antigos, afirmou:
“O número de manuscritos do NT, de traduções antigas dele e de
suas citações pelos antigos autores da Igreja é tão grande que é praticamente
certo que a verdadeira leitura de toda passagem dúbia esteja preservada em uma
ou outra dessas autoridades antigas. Não se pode dizer isso em relação a nenhum
outro livro antigo do mundo”[31]
Bejamin
Warfield conclui:
“Se compararmos a situação atual do texto do Novo Testamento com
a de qualquer outro escrito antigo, precisaremos declarar que o texto é
maravilhosamente correto, tão grande é o cuidado com que o Novo Testamento tem
sido copiado - um cuidado que, sem dúvida alguma, é fruto de uma verdadeira
reverência para com suas santas palavras - tão grande tem sido a providência de
Deus em preservar para a sua igreja em todas as épocas um texto suficientemente
exato, que o Novo Testamento não tem rival entre os escritos antigos, não
apenas em termos de pureza de texto pela maneira como foi transmitido e mantido
em uso, como também em termos de abundância de testemunhos, os quais chegaram
até nós para corrigir falhas relativamente esporádicas”
Portanto,
não há qualquer corrupção bíblica por causa das variantes textuais, que são
plenamente compreensíveis e ocorrem com qualquer transcrição ou tradução. Se
qualquer leitor abrir uma Bíblia João Ferreira de Almeida em um versículo
qualquer e depois abrir o mesmo verso em uma Nova Versão Internacional, também
notará muitas dessas variantes. As versões bíblicas traduzem de modo
ligeiramente diferente entre si, mas isso não significa que uma ou outra
decidiu deliberadamente “adulterar” algum texto. Elas apenas
optaram por traduzir de forma diferente – porém plausível – diferentes
passagens.
Por
exemplo, a Nova Versão Internacional traduz Gênesis 1:1 da seguinte maneira:
“No princípio Deus criou os céus e a terra”
(Gênesis 1:1)
Enquanto
que a Almeida Corrigida, Revisada e Fiel traduz esse mesmo verso assim:
“No princípio criou Deus o céu e a terra”
(Gênesis 1:1)
Há
duas variantes entre os textos: o céu em
um e os céus em outro, e a inversão
na ordem das palavras - “Deus
criou” em um,
e “criou Deus” em outro. Mas nada que mude o
sentido do texto ou que afete qualquer ponto de fé. Com os manuscritos gregos
antigos é a mesma coisa. Há diferenças, mas não erros. Há variantes, mas não
corrupção textual. Como já dissemos, apenas 1% dessas variantes podem alterar o
sentido de um texto em particular, mas mesmo essas não afetam qualquer
doutrina. Os críticos como Ehrman citam algumas delas. Iremos citar também.
• Hebreus 2:9
O
texto de Hebreus 2:9 diz que, “pela graça de Deus, ele [Jesus] experimentou a morte da parte de
todos”. Na variante textual que Ehrman expôs, o texto não estaria
dizendo “pela graça de Deus”, mas “sem
Deus”. Assim, o autor teria dito que “Jesus morreu sem Deus”, ou seja, abandonado por Ele. Contudo, em primeiro lugar, há
apenas três manuscritos que vertem o texto desta forma, e todos eles datam do
século décimo ou posterior. Todos os manuscritos mais antigos e confiáveis
vertem por “pela graça
de Deus”.
Em
segundo lugar, o copista que transcreveu por “sem Deus” não o fez de forma intencional para adulterar o texto
bíblico, mas simplesmente incorreu em um erro ortográfico muito comum em grego.
Notem a semelhança entre “graça
de Deus” e “sem
Deus”, no original grego, onde se lê:
Graça de Deus
|
Sem Deus
|
carij qeou CARIS
|
cwrij qeou CWRIS
|
Mudam-se
apenas duas palavras entre uma sentença e outra. É, portanto, um erro
ortográfico comum, e não uma corrupção proposital. Como já dissemos aqui, a
Crítica Textual não trabalha em cima de apenas um único manuscrito antigo, mas
no conjunto de todos os manuscritos. Manuscritos isolados, como os três do
século décimo que Ehrman apontou, podem incorrer em erros ortográficos, mas
esses erros são corrigidos pelo conjunto, isto é, pelos outros manuscritos mais
antigos, mais confiáveis e em maior quantidade. E o conjunto aponta
indiscutivelmente pela tradução de “pela
graça de Deus”.
Finalmente,
em terceiro e último lugar, ainda que a tradução correta do verso fosse “sem Deus”, que doutrina vital do
Cristianismo estaria sendo atacada ou colocada em Xeque? Não foi exatamente
isso que o próprio Senhor Jesus disse em
Mateus 27:46, quando exclamou na cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”
(Mt.27:46). Portanto, mesmo se a tradução correta fosse aquilo que Ehrman
deseja, isso em nada incorreria em “adulteração bíblica”, pois o autor de Hebreus poderia meramente estar fazendo
uma alusão ao que Jesus expressou na cruz, registrado no evangelho de Mateus.
O significado deste “desamparo” é outro assunto, é questão de interpretação
e não de tradução. A tradução, em
si, seja de um modo ou de outro, não arremete a nenhuma adulteração textual.
Quando muito, o mais provável é que tenha sido um erro acidental de um escriba
desatento, que errou na ortografia de duas letras, e mesmo assim não afetou
nenhum artigo de fé do Cristianismo nem contradisse o restante das Escrituras.
• Marcos 1:41
Marcos
1:41 diz que “Jesus,
movido de grande compaixão, estendeu a mão, e tocou-o, e disse-lhe: Quero, sê
limpo”. Porém, a resposta de Jesus ao pedido do leproso é outra de
acordo com Ehrman. Cristo teria, conforme variantes textuais, ficado nervoso ou
indignado, e a tradução correta seria: “Jesus, indignado, estendeu a mão...”.
Mesmo se assumíssemos que “indignado” seja a leitura correta, em que isso afetaria a credibilidade dos
evangelhos? Em nada. Isso porque Jesus é descrito por Marcos como estando
indignado em diversas ocasiões. Em Marcos 3:4-5, por exemplo, há o seguinte
relato:
“E perguntou-lhes: É lícito no sábado fazer bem, ou fazer mal?
Salvar a vida, ou matar? E eles calaram-se. E, olhando para eles em redor com indignação, condoendo-se da dureza
do seu coração, disse ao homem: Estende a tua mão. E ele a estendeu, e foi-lhe
restituída a sua mão, sã como a outra” (Marcos 3:4-5)
Todos
os manuscritos gregos antigos vertem por “indignação”, esse texto não é alvo de dúvidas ou polêmicas. Se um
falsário quisesse adulterar um texto bíblico de Marcos para esconder ou omitir
o fato de que Jesus ficou nervoso ou irritado em certa ocasião, por que ele
teria deixado intacta outra passagem do mesmo evangelho em que Jesus é relatado
como estando nervoso? É óbvio, então, que a irritação de Jesus não tem
absolutamente nada a ver com corrupção textual.
Vale
ressaltar, porém, que a maioria dos manuscritos antigos verte por “compaixão” (σπλαγχνισθει), que parece mesmo
ser o sentido diante do contexto, e não por “indignação” (ὀργισθείς), que mesmo
se fosse a tradução correta de modo algum incorreria em algum ataque a qualquer
doutrina bíblica que seja, já que Jesus não raramente era relatado com
nervosismo por diferentes situações, em diferentes ocasiões (ex: Mc.3:5;
Mc.10:14; Mt.21:12).
• Mateus 24:36
Em
Mateus 24:36 vemos Jesus dizendo sobre a Sua volta que “daquele dia e hora ninguém
sabe, nem os anjos do Céu, mas unicamente meu Pai”. Se o texto diz claramente “unicamente o Pai”, então é óbvio que o Filho não conhecia esse dia em sua
natureza humana na terra. O texto deixa isso implícito, sem precisar fazer
esforço. Mas como Bart Ehrman gosta de uma boa polêmica, ele argumenta que
alguns manuscritos antigos trazem nem o
Filho, ficando assim: “nem os anjos, nem o Filho,
senão unicamente o Pai”.
Essa
descoberta bombástica e extraordinária de Ehrman surge para confirmar a força
de seus argumentos e sua qualidade como crítico bíblico, que resume-se a isso:
nada. O que é que a inclusão ou a exclusão de οὁ ὐδὲ υἱός (“nem o Filho”) mudaria no sentido da
passagem? Absolutamente nada! O mais
provável é que pela expressão “unicamente
o Pai”
estivesse tão óbvio que o Filho não estivesse incluído que algum copista pensou
nem ser necessária a inclusão neste texto. Ou o inverso: pelo fato de ser “unicamente o Pai”,
algum copista tenha acrescentado “nem
o Filho”, para
deixar explícito aquilo que já estava implícito no texto.
De
qualquer forma, de um jeito ou de outro, o fato é que a inclusão ou exclusão de
οὁ ὐδὲ υἱός não muda absolutamente nada do sentido da própria
passagem, pois ele está ali implícita ou explicitamente. Além disso, em Marcos
13:32 a expressão “nem o Filho” está explícita nessa
passagem, e não há sequer uma única variante em nem um único manuscrito que a
omita. Marcos 13:32 diz que “daquele dia ou hora ninguém sabe, nem os anjos no Céu, nem o
Filho, senão somente o Pai”.
Portanto,
não há qualquer dúvida de que Jesus incluía a si mesmo entre aqueles que não
saberiam o dia de sua vinda por ocasião daquela solenidade. Se algum copista
quisesse adulterar o texto bíblico por não crer que Jesus não soubesse o dia de
Sua vinda teria obviamente tirado também a parte que diz “unicamente o Pai”, e substituído por algo como “o Pai e o Filho”. Além disso, teria também
aproveitado a oportunidade para fazer a mesma modificação no texto paralelo de
Marcos 13:32, que não possui nenhuma variante. Mas nem uma coisa nem outra
procedem. Tudo o que ocorreu foi erro de copista, sem alterar em absolutamente
nada o sentido da passagem.
Daniel
Wallace conclui:
“Ehrman não menciona Marcos 13:32 nenhuma vez em Misquoting Jesus, apesar de que ele explicitamente
discute Mateus 24:3... mesmo que Mateus 24:36 originalmente faltasse ‘nem o Filho’, o fato de que o Pai sozinho (εἰ μὴ
ὁ πατὴρ
μόνος) tem este conhecimento certamente implica na ignorância do Filho (e o ‘sozinho’
é somente encontrado em Mateus 24:36, não em Marcos 13:32). Novamente, este
detalhe importante não é mencionado em Misquoting
Jesus, nem mesmo em Orthodox
Corruption of Scripture [dois livros de Ehrman]”[32]
• João 1:18
João
1:18 na ARA (Almeida Revista e Atualizada) diz que Jesus é o “Deus unigênito, que está no seio
do Pai”. Mas esse mesmo texto na versão Almeida Corrigida, Revisada e
Fiel é traduzido por “Filho unigênito, que está no seio do Pai”.
Isso ocorre por causa das variantes textuais de diferentes manuscritos. Porém,
nesse caso específico a tradução correta mais provável é de “Filho”, pois apenas sete dos mais de
5 mil manuscritos gregos antigos vertem por “Deus”, a saber: P66, P67, Aleph, Aleph-1, Vaticanus, C e L.
Como
já dissemos anteriormente, a tradução correta deve ser aquela que é embasada
pela maior quantidade de manuscritos, e neste caso apenas 0,1% do total de
manuscritos gregos vertem por “Deus”. Esse não deveria ser um caso de dúvida ou polêmica. É um caso
que muda o sentido do texto caso a variante esteja correta, mas não é de
difícil identificação do original como muitos pensam. Seria difícil se 50%
dissesse uma coisa e 50% dissesse outra, mas não quando 99,9% dizem uma coisa e
apenas 0,1% diz outra. Mais uma vez, podemos neste texto chegar ao conteúdo
original sem maiores dificuldades.
Mas
Ehrman vai além. Ele diz que esses copistas que transcreveram esses sete
manuscritos o adulteraram propositalmente. Mas será isso verdade? A resposta
para isso se encontra apenas 17 versos antes, logo no primeiro versículo do
evangelho de João. Ele diz que Jesus era o Verbo que estava com Deus e que era
Deus. A declaração “e o Verbo era Deus”
(kai theos en ho logos) é um
depoimento categórico da divindade de Cristo, porque “se João tivesse a intenção
de dar à frase um sentido adjetivo (que o Verbo era ‘semelhante a um deus’)
ele teria à disposição um adjetivo (theios)
pronto, a mão, que poderia ser perfeitamente utilizado. Mas, ao contrário, João
diz que o Verbo é Deus (theos)”[33].
Portanto,
os copistas que optaram pela tradução de “Deus” no lugar de “Filho” no fim do prólogo o fizeram
possivelmente para dar ligação ao que o apóstolo disse no início do prólogo
sobre a divindade de Cristo, ou seja, para que o prólogo terminasse da mesma
forma que ele iniciou: com uma afirmação da divindade de Jesus. Não foi para
incluir no texto bíblico uma “doutrina
não-bíblica”, pois essa doutrina havia acabado de ter sido proclamada poucos
versos antes e é confirmada por todos os
manuscritos antigos.
Sendo
assim, o fato de a transcrição correta de João 1:18 ser “Filho” de
modo algum ataca qualquer doutrina vital do Cristianismo, pois a divindade de
Cristo já está provada poucos versos antes, naquele mesmo evangelho. Além
disso, ela é reafirmada com clareza alguns capítulos adiante no mesmo livro,
quando Tomé reconhece Jesus como “Senhor meu e Deus meu” (Jo.20:28) - ho
kurios mou kai ho theos mou – e sem variantes.
• Marcos 16:9-20; João 8:1-11; 1ª João 5:7-8
Finalmente,
chegamos ao nossos 1% de variantes no Novo Testamento que são minimamente
relevantes, por de fato não estarem no original, mas serem frequentemente
incluídas na maioria das versões bíblicas de nossos dias. Trata-se de três
textos: a parte final de Marcos 16 (Mc.16:9-20), a fórmula trinitariana de 1ª
João 5:7-8 e o relato da mulher adúltera de João 8:1-11. Este último nem ao
menos deve ser considerado uma variante, já que ele não está presente em nenhum daqueles mais de 5 mil
manuscritos gregos antigos. Ele apenas aparece em manuscritos gregos a partir
do século doze.
Portanto,
na contagem e análise de manuscritos para a Crítica Textual, esse texto nem
mesmo é alvo de dúvidas. A evidência é de 100% contra 0%. Ele provavelmente foi
um comentário de algum copista à margem do texto explicando o texto bíblico, que tardiamente algum outro copista
desatento incluiu pensando que fosse parte do próprio texto sagrado. Ehrman faz
muito barulho com textos como esse, como se tivesse descoberto a pólvora, quando,
na verdade, há séculos os eruditos e
estudiosos já sabem disso e continuam cristãos, pois este texto não representa
nenhum problema em Crítica Textual. Nenhuma dificuldade em se achar o que foi
dito originalmente.
O
mesmo deve ser dito em relação aos outros dois textos. O relato da mulher
adúltera possui ainda menos base que o de 1ª João 5:7-8. Ele despontou como uma
tradição oral daquilo que teria sido pregado por Jesus, e algum escriba achou
por bem incluir essa história nos relatos de Jesus no evangelho. Por isso,
alguns manuscritos incluem essa história em João 8:1-11, enquanto outros o
incluem em Lucas 21:38. Foi uma forma de tentar incluir nos evangelhos – em
algum lugar – um relato bem possivelmente real sobre Jesus que teria
sobrevivido apenas por meio da tradição oral. Quem o fez o fez com boas
intenções, mas não fez certo. Tal passagem não está originalmente no evangelho
de João.
Podemos,
então, discorrer sobre a plausibilidade deste relato tendo por base a tradição, mas não tendo por base a Escritura. Ou seja: o fato de aquele
relato não fazer parte do original de João não significa que a história não
seja verdadeira nem significa que alguém tenha agido fraudulentamente, como se
estivesse inventando uma estória irreal sobre Jesus, mas não é certo dizer que
aquilo faz parte da Sagrada Escritura. Mais uma vez, a Crítica Textual não tem
qualquer problema com esse texto. É unanimidade entre os eruditos cristãos que
esse texto é um acréscimo posterior em poucos manuscritos.
O
caso da parte final do relato de Marcos é similar, porém por outra razão: o
final do relato original de Marcos se perdeu, ou o próprio Marcos deixou de dar
um final definitivo ao seu próprio evangelho. Ele originalmente termina seu
evangelho no verso 8 do capítulo 16, dizendo:
“Tremendo e assustadas, as mulheres saíram e fugiram do sepulcro.
E não disseram nada a ninguém, porque estavam amedrontadas”
(Marcos 16:8)
Esse
“final inesperado” levou alguns copistas a colocarem algum “fim” na história, e no século V
pelo menos quatro finais diferentes foram encontrados. O que ficou mais famoso
foi esse “final longo”, que foi proposto por Ariston, o presbítero mencionado
por Papias[34] e conhecido como um dos
fundadores da Igreja cristã. É por isso que os Pais da Igreja nunca citaram os
últimos 12 versos de Marcos, mas sempre paravam no verso 8. Eles sabiam que o
evangelho de Marcos terminava abruptamente.
O
mais importante que temos que mencionar é que essas três adições que estão no
Novo Testamento nas versões vernáculas não são nenhum problema para a Crítica
Textual, pois, como já foi demonstrado anteriormente neste capítulo, a Crítica
Textual trabalha tendo por base o conjunto
de manuscritos, e não alguns deles, isoladamente. E como possuímos uma
multidão de 5 mil manuscritos gregos antigos (além de outros 20 mil em outros
idiomas), fica relativamente fácil perceber se um texto faz parte do original
ou não.
Se
tivéssemos apenas dois ou três manuscritos antigos do Novo Testamento (um tanto
comum para as obras seculares daquela época), os estudiosos estariam quebrando
a cabeça para descobrirem o que faz parte do original e o pode ter sido
adicionado por algum escriba por qualquer razão. Mas como possuímos
literalmente milhares de manuscritos,
é virtualmente impossível que não possamos remontar o original com precisão.
Entre
os acadêmicos e estudiosos, esses três relatos (Mc.16:9-20; Jo.8:1-11;
1Jo.5:7-8) não representam qualquer problema na reconstrução do original.
Podemos ter plena segurança da autenticidade do Novo Testamento conforme foi
originalmente escrito, se estivermos dispostos a olharmos além daquilo que as versões vernáculas nos mostram.
Finalmente,
devemos perguntar: qual destes textos (ou qualquer outro proposto por Ehrman)
muda qualquer doutrina central das Escrituras? Nenhum. A fórmula trinitariana
de 1ª João 5:7-8 é uma explicação de um ensino provado nas Escrituras. O texto
de Mateus 28:19 diz basicamente o mesmo e não é alvo de qualquer debate na
Crítica Textual, pois está presente em todos
os manuscritos antigos, sem exceção. A Escritura deixa claro que o Pai é
Deus, que Jesus é Deus, que o Espírito Santo é Deus e que Deus é um. Assim
sendo, ainda que a trindade possa ser pouco entendida,
ela certamente é bíblica. Os Pais da
Igreja criam nela desde os primeiros séculos, tendo por base as Escrituras.[35]
O
relato de João 8:1-11 é emocionante, indubitavelmente. Mas, se ele não é parte
integrante do original das Escrituras, isso muda algo em termos de doutrina?
Não. Nada. Tudo o que Jesus teria feito seria demonstrar compaixão, algo que
ele demonstrou da mesma forma em diversas outras ocasiões. Ele inclusive chorou
antes de ressuscitar Lázaro (Jo.11:35), ele era tomado por íntima compaixão
(Lc.7:13), ele deu a vida por sua livre e espontânea vontade (Jo.10:18),
aceitando a tortura, a crucificação e a morte – tudo fruto do amor. João 8:1-11
não contradiz nenhum ensino Escriturístico. A ausência dele também não nos
deixa desamparados em nenhuma doutrina.
Da
mesma forma, o final adicionado em Marcos 16:9-20 é um final tomado dos outros
evangelhos, de forma sintetizada. Tudo o que ali está escrito, seja sobre ter
aparecido a Maria Madalena (v.9), seja sobre a aparição de Jesus aos dois
homens de Emaús (v.12), seja sobre a incredulidade dos discípulos (v.14), seja
sobre pregar o evangelho (v.15), seja sobre falar em línguas (v.17), seja sobre
expulsar demônios (v.17), seja sobre cura (v.18) ou sobre sua ascensão ao Céu
(v.19) é relatado nos outros evangelhos ou nas epístolas. Até mesmo os pontos
mais ousados de Marcos 16:9-20, como o fato de Deus ter poder para curar alguém
que é picado por serpentes (v.18), tem paralelo bíblico (At.28:5).
Portanto,
podemos ter plena certeza da autenticidade do Novo Testamento através da
Crítica Textual, pela quantidade de manuscritos antigos que superam qualquer
outra obra da história antiga e nos proporcionam capacidade de comparar os
diferentes manuscritos e solucionar as dúvidas existentes em algumas variantes,
que também não oferecem qualquer risco a qualquer doutrina cristã. Como Daniel
Wallace acentua, “nós precisamos enfatizar que estes textos não mudam nenhuma
doutrina fundamental, nenhuma doutrina central. Estudiosos evangélicos os
abandonaram há mais de um século sem mudar um pingo da ortodoxia”[36].
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "As Provas da Existência de Deus")
- Veja uma lista completa de livros meus clicando aqui.
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[1]
TUREK, Frank; GEISLER, Norman. Não tenho
fé suficiente para ser ateu. Editora Vida: 2006.
[2] ibid.
[3] MONTGOMERY, History and Christianity (A História e
o Cristianismo). Downers Grove: Inter-Varsity, 1971.
[4] TUREK, Frank; GEISLER, Norman. Não tenho fé suficiente para ser ateu.
Editora Vida: 2006.
[5]
ibid.
[6]
KENYON, Frederic G. - Our Bible and the
Ancient Manuscripts (Nossa Bíblia e os manuscritos Antigos). Nova Iorque:
Harper &Brothers, 1941.
[7]
ibid.
[8]
KENYON, Frederic G. The Bibie and
Archaeology (A Bíblia e a Arqueologia) Nova Iorque: Harper & Row, 1940.
[9] TUREK,
Frank; GEISLER, Norman. Não tenho fé
suficiente para ser ateu. Editora
Vida: 2006.
[10] HORT, Fenton John Anthony & WESTCOTT,
Brooke Foss. The NewTestament in the
Original Greek (O Novo Testamento no Original Grego). Nova Iorque:
McMillan, 1881. vol. 1.
[11] GREENLEE, J. Harold. Introduction to New Testament Textual
Criticism (Introdução à Crítica Textual do Novo Testamento) Grand Rapids:
Wm. B. Eerdmans, 1964.
[12] BRUCE,
F.F. Merece Confiança o Novo Testamento?
São Paulo: Vida Nova, 1965.
[13] GREENLEE,
J. Harold. Introduction to New Testament
Textual Criticism (Introdução à Crítica Textual do Novo Testamento) Grand
Rapids: Wm. B. Eerdmans, 1964.
[14]
ibid.
[15]
METZGER, Bruce. The Text of the New Testament (O Texto do Novo Testamento). Grand
Rapids: William B. Eerdmans, 1968.
[16] BRUCE,
F.F. The Books and the Parchments
(Os Livros e os Pergaminhos). Edição revista. Westwood: Fleming H. Revê 11,1963.
[17]
TUREK, Frank; GEISLER, Norman. Não tenho
fé suficiente para ser ateu. Editora Vida: 2006.
[18] GEISLER, Norman. NIX, William. Introdução
Bíblica. Editora Vida: 1997.
[19]
Policarpo aos Filipenses, 12:1.
[20]
2ª Clemente, 14:2.
[21]
2ª Clemente, 2:4.
[22]
Clemente de Alexandria. Não confundir com o outro Clemente, o romano.
[23] BERTI,
Marcelo. O que Ehrman disse? O que
Ehrman não disse? Disponível em: <http://vimeo.com/9831765>.
Acesso em: 04/11/2013.
[24]
TUREK, Frank; GEISLER, Norman. Não tenho
fé suficiente para ser ateu. Editora Vida: 2006.
[25] WALLACE, Daniel Baird. The Gospel according to Bart. Disponível
em: <https://bible.org/article/gospel-according-bart>.
Acesso em: 04/11/2013.
[26]
Saulo é o outro nome de Paulo nas Escrituras (Atos 13:9).
[27]
BERTI, Marcelo. O que Ehrman disse? O
que Ehrman não disse? Disponível em: <http://vimeo.com/9831765>.
Acesso em: 04/11/2013.
[28] Mais detalhes sobre as fontes em GEISLER, Enciclopédia
de apologética, p. 641.
[29] A Companion to the Greek Testament and the
English Version, 3.ed. New York: Hamper, 1883, p. 177.
[30] Mais detalhes sobre as fontes em GEISLER, Enciclopédia
de apologética, p. 641.
[31] ibid.
[32] WALLACE, Daniel Baird. The Gospel according to Bart. Disponível
em: <https://bible.org/article/gospel-according-bart>.
Acesso em: 04/11/2013.
[33]
GEISLER, Norman; RHODES, Ron. Resposta
às Seitas. CPAD: 2ª Edição, 2001, p. 262.
[34]
Eusébio de Cesareia, HE, Livro III, 39:15.
[35]
Algumas citações dos Pais da Igreja sobre a doutrina da trindade antes do
Concílio de Niceia podem ser conferidas aqui: <http://marceloberti.wordpress.com/2010/05/21/doutrina-da-trindade-antes-de-niceia/>.
[36] WALLACE, Daniel Baird. The Gospel according to Bart. Disponível
em: <https://bible.org/article/gospel-according-bart>.
Acesso em: 04/11/2013.
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