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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "O Problema do Mal"
O trecho abaixo é extraído de meu livro: "O Problema do Mal"
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Muitos ateus levantam o questionamento de que na cosmovisão cristã não pode existir algo como um livre-arbítrio, porque existe a condenação para os que decidem rejeitar a Cristo. Portanto, se há punição, então não há livre-arbítrio. Ora, isso é uma distorção grosseira do que significa livre-arbítrio. Livre-arbítrio é poder fazer o que quiser. Se a pessoa será punida, recompensada ou ignorada pelo que fez livremente, isso é uma outra questão. O livre-arbítrio não diz respeito à consequencia; diz respeito ao ato em si. As pessoas não são marionetes nas mãos de uma divindade; são seres livres que decidem agir como bem entendem.
O ateu tem
todo o direito de achar que a punição pelos maus atos é errada, mas não o de
distorcer o sentido de livre-arbítrio para passar a impressão de que quem o
praticou não era livre para decidir se praticaria ou não. E se a punição divina
pelos maus atos implica que não existe livre-arbítrio na cosmovisão cristã,
então nem na cosmovisão ateísta haveria livre-arbítrio, uma vez que existem
policiais para prender aqueles que fazem o mal, juízes para condená-los e
prisões para encarcerá-los.
Por que os
ateus não reclamam também que não existe livre-arbítrio nesta vida, porque para
existir livre-arbítrio deveria inexistir punição por certos atos livres? Por
que eles não entram na luta contra a polícia, contra os tribunais e contra a
prisão? Afinal, se só pode haver livre-arbítrio onde não há punição, então nem
na visão ateísta o livre-arbítrio existe. Todas as formas de punição deveriam
inexistir completamente para as pessoas serem consideradas “livres”. Um bandido
não poderia ser preso por ter assassinado alguém, porque o livre-arbítrio dele
(em decidir matar alguém) deveria ser “respeitado”. É óbvio que a conclusão
ateísta é barata e superficial.
Livre-arbítrio
é Deus permitir que o homem aja da forma que ele escolher agir, da mesma forma
que o bandido tem a opção de matar ou não matar. Ele não é obrigado a matar, o traficante não é obrigado vender drogas, o estuprador não é obrigado a estuprar, um aluno não é obrigado a colar, um ateu não é obrigado
a rejeitar Jesus. Eles agem assim porque querem. Mas para cada uma das
ações há um efeito, seja ela uma consequencia natural ou uma punição imposta.
No caso do assassino, a consequencia natural é a outra pessoa morta, e a punição
imposta é a prisão.
Nada disso
interfere no livre-arbítrio, porque cada pessoa foi livre para agir daquela
forma. É justamente por ela ter o
livre-arbítrio que ela pode ser punida pelo ato, porque se ela não tivesse a
liberdade de escolha ela não poderia ser justamente condenada. Livre-arbítrio é
poder ter agido de forma diferente da que agiu, e é com base no pressuposto do
livre-arbítrio que pessoas são presas. Se quem fizesse o mal não tivesse a opção de não ter feito o
mal, mas o fizesse por obrigação, ninguém seria preso. Eles são presos porque
tiveram opção, e eles tiveram opção porque tinham livre-arbítrio.
Se alguém
conseguisse criar uma tecnologia tão avançada ao ponto de poder entrar na mente
de um ser humano e ter controle sobre suas ações, de modo que o indivíduo fosse
completamente impotente para impedir o que se fizesse por meio do seu corpo,
este indivíduo não seria condenado por ter feito algo que ele não poderia ter
impedido. Essa é a razão pela qual pessoas com sérios problemas mentais não são
julgadas pela lei da mesma forma que as pessoas em sã consciência.
Quanto mais o
indivíduo pode escolher, isto é,
quanto maior for sua capacidade de livre-arbítrio, mais moralmente responsável
ele é, e, consequentemente, com mais justiça pode ser condenado e punido. Por
isso, a lógica é exatamente a oposta à que é proposta pelos ateus. Em vez de o
livre-arbítrio implicar em todo mundo poder agir da forma que bem entender e
sem poder ser punido por qualquer coisa que faça, o sentido real de livre-arbítrio
é poder agir da forma que bem entender, e justamente
por isso ser punido caso escolha agir errado.
Na Bíblia,
este conceito é muito claro. “Vejam que hoje ponho
diante de vocês vida e o bem, ou morte e o mal” (Dt.30:15). Deus nos
coloca as duas opções, nos incita a escolher pelo bem e nos adverte sobre as
consequencias da má escolha. Isso é livre-arbítrio. Deus não escolhe em nosso
lugar, ele nos deixa escolher. Há uma idade em que o homem já pode “rejeitar o erro e escolher
o que é certo” (Is.7:15). Josué colocou essas duas opções – bem e
mal – aos israelitas, juntamente com sua própria escolha:
“Se, porém, não lhes agrada servir ao Senhor, escolham hoje a quem irão servir, se aos
deuses que os seus antepassados serviram além do Eufrates, ou aos deuses dos
amorreus, em cuja terra vocês estão vivendo. Mas, eu e a minha família serviremos ao Senhor” (Josué 24:15)
Essa mesma
escolha o próprio Deus havia colocado nas mãos dos hebreus:
“Hoje invoco os céus e a terra como
testemunhas contra vocês, de que coloquei diante de vocês a vida e a morte, a
bênção e a maldição. Agora escolham a vida, para que vocês e os seus filhos
vivam” (Deuteronômio
30:19)
Até quando
alguém decide agir contraditoriamente à vontade de Deus, ele respeita a livre
decisão do homem. Deus não impõe uma mão forte para que todo mundo haja
rigorosamente igual Ele quer que haja. Jesus queria reunir os israelitas para
Si, mas eles não quiseram, e a
decisão dos judeus prevaleceu:
“Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os
profetas e apedrejas os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os
seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas
vocês não quiseram!” (Lucas
13:34)
Mesmo quando
alguém escolhe o mau caminho e a punição se torna necessária, Deus não pune por
prazer, como quem gosta de ver o sofrimento alheio. Ele pune por justiça. “Desejaria
eu, de qualquer maneira a morte do ímpio? Diz o Senhor Jeová; não desejo,
antes, que se converta dos seus caminhos e viva?” (Ez.8:23), “pois não me agrada a morte de ninguém; palavra do
Soberano Senhor. Arrependam-se e vivam!” (Ez.18:32). Ezequiel reitera
ainda mais que “Deus não quer a morte do pecador,
mas, antes, que se converta e viva” (Ez.33:11). Os apóstolos assimilaram
bem esta condição, razão pela qual disseram:
“O Senhor não demora em cumprir a sua
promessa, como julgam alguns. Pelo contrário, ele é paciente com vocês, não
querendo que ninguém pereça, mas que todos cheguem ao arrependimento” (2ª Pedro 3:9)
“Isso é bom e agradável perante Deus, nosso
Salvador, que deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento
da verdade” (1ª
Timóteo 2:3-4)
O segundo tipo
de objeção comum ao livre-arbítrio é o texto em que Deus diz endurecer o
coração do Faraó (Êx.10:27). Alguns usam isso como “prova” de que o
livre-arbítrio não existe, porque, se existisse, Faraó seria livre para agir
como quisesse. Essa objeção é fraca e já começa errada por um non sequitur. Mesmo que o fato de Deus
ter endurecido o coração de Faraó implicasse em perda do livre-arbítrio, isso
não significaria que ninguém tem
livre-arbítrio nunca. A única
inferência necessária seria que o Faraó, naquela
situação específica, teve seu
livre-arbítrio temporariamente violado.
O texto não diz que Deus endurece o coração de todo mundo, e muito menos que
ele endurece pra sempre.
Há, no
entanto, muita evidência de que nem mesmo o endurecimento do Faraó implicou em
perda de livre-arbítrio da parte dele. Isso porque a Bíblia é clara em dizer
que Faraó endureceu seu próprio coração
muito antes de Deus fazer isso (Êx.8:15,32). Diferente do que alguns
néscios pensam, Faraó não era um homem bonzinho, cheio de boa vontade e empenhado
em libertar seus escravos na maior das boas intenções, deixando todo o Egito
sem sua mão-de-obra gratuita e abrindo mão de sua maior fonte de renda. Em vez
disso, Faraó era o maior senhor de escravos do mundo antigo, uma espécie de
Hitler dos tempos antigos. Deus não precisava fazer nada para “endurecer” o
coração de um ser desses além de permitir que ele permanecesse endurecido.
Até mesmo
alguns autores calvinistas têm reconhecido isso. R. C. Sproul, em seu livro
“Eleitos de Deus”, faz uma distinção entre endurecimento ativo e passivo, e
afirma o segundo em relação ao Faraó:
O endurecimento ativo envolveria a intervenção direta de Deus
nas câmaras internas do coração do Faraó. Deus irromperia no coração do Faraó e
criaria nele um mal adicional. Isto garantiria que Faraó produziria o resultado
que Deus estava procurando (...) O endurecimento passivo é uma história
totalmente diferente. O endurecimento passivo envolve um julgamento divino
sobre o pecado que já está presente. Tudo o que Deus tem a fazer para endurecer
o coração de uma pessoa cujo coração já é desesperadamente mau é “entregá-la a
seu pecado”. Encontramos este conceito de julgamento divino em toda a
Escritura.
Não é que Deus coloque sua mão sobre elas para criar o mal novo
em seus corações; Ele meramente remove delas sua santa mão de restrição, e
deixa que façam sua própria vontade (...) Tudo o que Deus tinha a fazer para endurecer
mais a Faraó era remover seu braço. As inclinações malignas de Faraó fizeram o
restante.
Portanto, não
é correto dizer que Deus impediu Faraó de ser livre. Todas as ações de Faraó
foram tomadas a partir de seu próprio livre-arbítrio, que já era inclinado por
si mesmo para o mal. Nada disso prova que os seres humanos não possuem
liberdade de escolha. Se por um lado é verdade que ninguém pode ser perfeito
apenas por meio do bom uso do livre-arbítrio – razão pela qual precisamos da
justificação através de Cristo – também é verdade que podemos evitar muitos
males mediante um uso correto. O livre-arbítrio não é bom ou mal em si mesmo,
ele simplesmente é o potencial para decidirmos
agir bem ou mal. Um dia Deus restringirá seriamente o livre-arbítrio, e isso
será abordado mais adiante. Por hora, Deus age conforme dito em 2ª Samuel 14:14:
“Que
teremos que morrer um dia, é tão certo como não se pode recolher a água que se
espalhou pela terra. Mas Deus não tira a vida; pelo contrário, cria meios para
que o banido não permaneça afastado dele” (2ª Samuel 14:14)
Paz a todos vocês que estão em Cristo
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas vc poderia fazer um texto sobre a submissão da mulher?
ResponderExcluirPosso fazer. Artigos relacionados a isso você também encontra aqui:
Excluirhttp://ateismorefutado.blogspot.com.br/2015/04/o-valor-da-mulher-na-biblia.html
http://ateismorefutado.blogspot.com.br/2015/04/a-igualdade-entre-o-homem-e-mulher-na.html
http://ateismorefutado.blogspot.com.br/2015/04/o-cristianismo-e-machista-ele-rebaixa-o.html
Abraços!
Ótimo texto! Valeu!
ResponderExcluirObg!
ExcluirGostei muito do seu artigo amigo, irei copiar um trecho, para esclarecer para alguns, a visão errônea do Calvinismo. Irei colocar a fonte e o link do seu blog, pode ficar tranquilo. Gostei muito de seu blog, abração e fica com Deus!
ResponderExcluirObrigado. Sobre o livre-arbítrio recomendo mais este outro artigo de meu outro site, que refuta as argumentações calvinistas a este respeito:
Excluirhttp://apologiacrista.com/determinismo-calvinista
Abs!