sábado, 27 de dezembro de 2014

Os evangelhos são historicamente confiáveis? - Norman Geisler e Frank Turek


Lucas era uma testemunha ocular?

Suponha que alguém tenha escrito um livro em 1980 descrevendo sua cidade natal como era naquele ano. Nesse livro, o autor descreve corretamente os seguintes aspectos: os políticos da sociedade, suas leis e códigos penais singulares, a indústria local, os padrões meteorológicos, a linguagem local, as estradas e a geografia da cidade, sua topografia incomum, locais de adoração, hotéis da área, estátuas e esculturas da cidade, a profundidade da água no porto da cidade e vários outros detalhes singulares sobre sua cidade naquele ano. Uma pergunta: se o autor afirmasse que visitara sua cidade naquele ano – ou dissesse que recebera boa informação de pessoas que estiveram ali –, você acha que ele estaria dizendo a verdade? Naturalmente, porque fornece detalhes que somente uma testemunha ocular poderia fornecer. Esse é o tipo de testemunho que temos por todo o NT.

Lucas inclui vários detalhes típicos de uma testemunha ocular (embora seja possível que Lucas não tenha sido testemunha ocular da ressurreição de Jesus, certamente foi testemunha ocular de muitos eventos do NT). Na segunda metade do livro de Atos dos Apóstolos, por exemplo, Lucas mostra um incrível agrupamento de conhecimento de locais, nomes, condições ambientais, costumes e circunstâncias condizentes com o depoimento de uma testemunha ocular contemporânea da época e dos acontecimentos.

Colin Hemer, estudioso clássico e historiador, faz uma crônica versículo por versículo da precisão de Lucas no livro de Atos. Com esmerado detalhamento, Hemer identifica 84 fatos nos últimos 16 capítulos de Atos que foram confirmados por pesquisa histórica e arqueológica. Ao ler a lista a seguir, tenha em mente que Lucas não tinha acesso aos mapas ou às cartas náuticas modernos. Lucas registra com precisão:

1. A travessia natural entre portos citados corretamente (At 13.4,5);

2. O porto correto (Perge) juntamente com o destino correto de um navio
que vinha de Chipre (13.13);

3. A localização correta da Licaônia (14.6);

4. A declinação incomum mas correta do nome Listra (14.6);

5. O registro correto da linguagem falada em Listra — a língua licaônica (14.11);

6. Dois deuses conhecidos por serem muito próximos — Zeus e Hermes (14.12);

7. O porto correto, Atália, que os viajantes usavam na volta (14.25);

8. A ordem correta de chegada, a Derbe e depois a Listra, para quem vem da Cilícia (16.1; cf. 15.41);

9. A grafia correta do nome Trôade (16.8);

10. O lugar de um famoso marco para os marinheiros, a Samotrácia (16.11);

11. A correta descrição de Filipos como colônia romana (16.12);

12. A correta localização de um rio (Gangites) próximo a Filipos (16.13);

13. A correta associação de Tiatira a um centro de tingimento (16.14);

14. A designação correta dos magistrados da colônia (16.22);

15. A correta localização (Anfípolis e Apolônia) onde os viajantes costumavam passar diversas noites seguidas em sua jornada (17.1);

16. A presença de uma sinagoga em Tessalônica (17.1);

17. O termo correto ("politarches") usado em referência aos magistrados do lugar (17.6);

18. A correta implicação de que a viagem marítima é a maneira mais conveniente de chegar a Atenas, favorecida pelos ventos do leste na navegação de verão (17.14,15);

19. A presença abundante de imagens em Atenas (17.16);

20. A referência a uma sinagoga em Atenas (17.17);

21. A descrição da vida ateniense com debates filosóficos na Agora (17.17);

22. O uso da palavra correta na linguagem ateniense para Paulo (spermagos, 17.18), assim como para a corte (Areios pagos, 17.19);

23. A correta representação do costume ateniense (17.21);

24. Um altar ao "deus desconhecido" (17.23);

25. A correta reação dos filósofos gregos, que negavam a ressurreição do corpo (17.32);

26. Areopagíta como o título correto para um membro da corte (17.34);

27. Uma sinagoga em Corinto (18.4);

28. A correta designação de Gálio como procônsul, residente em Corinto (18.12);

29. O termo bema (tribunal), superior ao fórum de Corinto (18.16s);

30. O nome Tirano, conforme atestado em inscrições do século I em Éfeso (19.9);

31. Conhecidos relicários e imagens de Ártemis (19.24);

32. A muito confirmada "grande deusa Ártemis" (19.27);

33. Que o teatro de Éfeso era um local de grandes encontros da cidade (19.29);

34. O título correto grammateus para o principal magistrado (escrivão) de Éfeso (19.35);

35. O correto título de honta neokoros, autorizado pelos romanos (19.35);

36. O nome correto para designar a deusa (19.37);

37. O termo correto para aquele tribunal (19.38);

38. O uso do plural anthupatoí (procônsules), talvez uma notável referência ao fato de que dois homens estavam exercendo em conjunto a função de procônsul naquela época (19.38);

39. A assembleia "regular", cuja frase precisa é atestada em outros lugares
(19.39);

40. O uso de designação étnica precisa, beroíaios (20.4);

41. O uso do termo étnico asíanos (20.4);

42. O reconhecimento implícito da importância estratégica atribuída à cidade de Trôade (20.7s);

43. O período da viagem costeira naquela região (20.13);

44. A seqüência correta de lugares (20.14,15);

45. O nome correto da cidade como um plural neutro (Patara) (21.1);

46. O caminho correto passando pelo mar aberto, ao sul de Chipre, favorecido pelos fortes ventos noroeste (21.3);

47. A correta distância entre essas cidades (21.8);

48. Um ato de piedade caracteristicamente judeu (21.24);

49. A lei judaica considerando o uso que os gentios faziam da área do templo (21.28. Descobertas arqueológicas e citações de Josefo confirmam que os gentios poderiam ser executados por entrarem na área do templo. Em uma dessas descrições, pode-se ler: "Que nenhum gentio passe para dentro da balaustrada e do muro que cerca o santuário. Todo aquele que for pego será pessoalmente responsável por sua conseqüente execução");

50. A presença permanente de uma coorte romana (chiliarch) em Antônia para reprimir qualquer perturbação na época das festas (21.31);

51. O lance de escadas usado pelos soldados (21.31,35);

52. A maneira comum de obter-se a cidadania romana naquela época (22.28);

53. O tribunal ficando impressionado com a cidadania romana, em vez da tarsiana (22.29);

54. Ananias como sumo sacerdote daquela época (23.2);

55. Félix como governador daquela época (23.34);

56. O ponto de parada natural no caminho para Cesareia (23.31);

57. Em qual jurisdição estava a Cilícia naquela época (23.34);

58. O procedimento penal da província naquela época (24.1-9);

59. O nome Pórcio Festo, que concorda perfeitamente com o nome dado por Josefo (24.27);

60. O direito de apelação dos cidadãos romanos (25.11);

61. A fórmula legal correta (25.18);

62. A forma característica de referência ao imperador daquela época (25.26);

63. A melhor rota marítima da época (27.5);

64. A ligação entre Cilícia e Panfília (27.5);

65. O principal porto para se encontrar um navio em viagem para a Itália (27.5,6);

66. A lenta passagem para Cnido, diante dos típicos ventos noroeste (27.7);

67. A rota correta para navegar, em função dos ventos (27.7);

68. A localização de Bons Portos, perto da cidade de Laséia (27.8);

69. Bons Portos não era um bom lugar para permanecer (27.12);

70. Uma clara tendência de um vento sul daquela região transformar-se repentinamente num violento nordeste, muito conhecido e chamado gregale (27.13);

71. A natureza de um antigo navio de velas redondas que não tinha opção, senão ser conduzido a favor da tempestade (27.15);

72. A localização precisa e o nome desta ilha (27.16);

73. As manobras adequadas para a segurança do navio nesta situação em particular (27.16);

74. A 14ª noite – um cálculo notável, baseado inevitavelmente numa composição de estimativas e probabilidades, confirmada pela avaliação de navegantes experientes do Mediterrâneo (27.27);  

75. O termo correto de tempo no Adriático (27.27);

76. O termo preciso (bosílantes) para captar sons e calcular a profundidade correta do mar perto de Malta (27.28);

77. Uma posição que se encaixa na provável linha de abordagem de um navio liberado para ser levado pelo vento do leste (27.39);

78. A severa responsabilidade dos guardas em impedir que um preso fugisse (27.42);

79. O povo local e as superstições da época (28.4-6);

80. O título correto protos tes nesou (28.7);

81. Régio como um refúgio para aguardar um vento sul para que pudessem passar pelo estreito (28.13);

82. Praça de Ápio e Três Vendas corretamente definidos como locais de parada da Via Ápia (28.15);

83. Forma correta de custódia por parte dos soldados romanos (28.16);

84. Condições de aprisionamento, vivendo "na casa que havia alugado" (28.30,31).

Existe alguma dúvida de que Lucas tenha sido testemunha ocular desses acontecimentos ou que pelo menos tenha tido acesso ao depoimento confiável de testemunhas oculares? O que mais ele poderia ter feito para provar sua autenticidade como historiador?

O historiador romano A. N. Sherwin-White diz: "Quanto ao livro de Atos, a confirmação de sua historicidade é impressionante (...) Qualquer tentativa de rejeitar sua historicidade básica só pode ser considerada absurda. Historiadores romanos já desprezaram o livro por muito tempo".  O especialista clássico e arqueólogo William M. Ramsay começa sua investigação do livro de Atos com grande ceticismo, mas suas descobertas ajudaram a mudar sua forma de pensar. Ele escreveu:

“Comecei tendo um pensamento desfavorável a ele [o livro de Atos] (...) Eu não tinha o propósito de investigar o assunto em detalhes. Contudo, mais recentemente, vi-me muitas vezes sendo levado a ter contato com o livro de Atos vendo-o como uma autoridade em topografia, antiguidade e sociedade da Ásia Menor. Fui gradualmente percebendo que, em vários detalhes, a narrativa mostrava verdades maravilhosas”

De fato, a precisão de Lucas no livro de Atos é verdadeiramente maravilhosa. Contudo, há um aspecto que os céticos ficam bastante desconfortáveis. Lucas relata um total de 35 milagres no mesmo livro no qual registra todos esses 84 detalhes historicamente confirmados. Vários milagres de Paulo estão registrados na segunda metade de Atos. Lucas registra, por exemplo, que Paulo cegou temporariamente um mágico (13.11); curou um homem aleijado desde o nascimento (14.8); exorcizou um espírito maligno de uma moça possuída (16.18); "fazia milagres extraordinários" que convenceram muitos na cidade de Éfeso a se afastarem da feitiçaria e seguirem a Jesus (19.11-20); ressuscitou dos mortos um homem que havia caído de uma janela durante um longo discurso de Paulo (20.9,10); curou o pai de Públio de disenteria e vários outros que estavam doentes em Malta (28.8,9).

Todos esses milagres estão incluídos na mesma narrativa histórica que foi confirmada como autêntica pelos 84 pontos. Os relatos de milagres não mostram sinais de embelezamento ou extravagância – eles foram contados com a mesma eficiência equilibrada do resto da narrativa histórica.

Por que Lucas seria tão preciso com detalhes triviais como direção do vento, profundidade da água e nomes peculiares de cidades, mas não seria tão preciso quando se referisse a fatos importantes como os milagres? À luz do fato de que Lucas mostrou-se preciso diante de tantos detalhes triviais, só é possível considerar como um viés anti-sobrenatural o fato de dizer que ele não está contando a verdade sobre os milagres que registra. Como vimos, tal viés não é legítimo. Este é um mundo teísta onde os milagres são possíveis. Assim, faz muito mais sentido acreditar nos relatos de milagres contados por Lucas do que não considerá-los.

Em outras palavras, as credenciais de Lucas como historiador têm sido provadas em tantos aspectos que é preciso ter mais fé para não acreditar nos relatos dos milagres do que para crer neles.

Por: Norman Geisler e Frank Turek. 

(Extraído do livro: “Não tenho fé suficiente para ser ateu”)


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