sábado, 14 de fevereiro de 2015

Por que sou contra o aborto


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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Sem dúvida, o maior debate atual entre Cristianismo e humanismo secular é com relação ao aborto. Como já disse no capítulo 8 deste livro, quando o assassinato é a única coisa “boa” que você vê o seu oponente sustentar para o lado dele do debate é porque a coisa está feia mesmo para ele. Mas os abortistas se defendem, sustentando que o aborto não é assassinato, ou que, mesmo sendo, eles tem “boas razões” para isso.

É claro que o ônus da prova nesta questão está do lado deles. Os cristãos se sustentam em um firme alicerce que diz: “não matarás”. A vida do feto deve ser preservada acima das preferências ou gostos pessoais da gestante. Abortar é assassinar um ser indefeso, que não fez nada para merecer a morte. O ser humano que está dentro da mãe não é uma “coisa” qualquer, mas sim uma vida humana que merece direitos como a mãe, e o primeiro, maior e mais básico direito que alguém tem é o direito à vida. Cabe, portanto, analisar os argumentos dos abortistas, que acham que há razões para legalizar o assassinato de vidas inocentes.


O Estado é laico, então o aborto deve ser permitido

Este é o argumento mais ridículo. Para seus proponentes, se o Estado é laico, o aborto deve ser legalizado. Não é preciso ser um Craig para saber que essa conclusão não segue as premissas; aliás, que não tem premissa nenhuma. Seria o mesmo que um pedófilo dizer que “se o Estado é laico, a pedofilia deve ser permitida”. Se o fato de os cristãos serem contra o assassinato de bebês no útero de suas mães significa que o aborto deve ser legalizado em um Estado laico, então a zoofilia, incesto, pedofilia e até assassinato de adultos também deveria ser legalizado no Estado laico, já que, na visão deformada de tais pessoas, um Estado laico significa um Estado necessariamente anticristão, onde a visão cristã é descartada de antemão e o contrário a ela deve ser acolhida.

Seria como dizer:

1) Cristãos são contra o assassinato de fetos.
2) Mas o Estado é laico.
3) Então o Estado tem que legalizar o aborto.

De acordo com a mesma lógica...

1) Cristãos são contra o assassinato de adultos.
2) Mas o Estado é laico.
3) Então o Estado tem que legalizar o assassinato.

O problema de tais pessoas é que elas, por má intenção ou por simples ignorância, distorcem grosseiramente o significado de “Estado laico”. Na cabeça delas, um “Estado laico” é o mesmo que um “Estado ateu”, tipo a Coreia do Norte ou a antiga União Soviética, onde as visões religiosas devem ser descartadas de antemão e rejeitadas a priori. Desta forma, mesmo representando apenas 2% de total de brasileiros, os ateus querem que o Estado seja deles e que restrinja e repudie qualquer posição religiosa que seja.

É claro que esta visão distorcida não tem absolutamente nada a ver com um Estado laico. Um Estado laico não é um Estado ateu, da mesma forma que não é um Estado religioso. Em outras palavras, o Estado laico respeita todas as visões (religiosas e não-religiosas) e não obriga ninguém a ser católico (como nos moldes medievais), ateu (como nos moldes revolucionários) ou de qualquer religião ou irreligião que seja. Um Estado realmente laico não vai apoiar uma posição religiosa simplesmente por ser uma proposição religiosa, mas da mesma forma também não vai apoiar uma posição ateísta simplesmente por ser uma proposição ateísta.

Dizer, portanto, que em um Estado laico as crenças cristãs devem ser suprimidas da sociedade – ainda mais em uma sociedade composta por maioria esmagadora de cristãos – e que o Estado deve servir somente para fundamentar as crenças dos ateus e atender a vontade destes 2% em detrimento dos outros 98% é algo simplesmente estúpido. Os neo-ateus, lastimavelmente, pensam que estamos vivendo em uma ditadura comunista-ateísta, mas ainda não estamos, graças a Deus. E enquanto este ainda perdurar, estaremos sempre lutando pelos valores cristãos, muito mais representativos na sociedade do que os valores ateístas, os quais eles também têm todo o direito de lutar, caso queiram.

Essa confusão acerca do Estado laico, que só na cabeça do neo-ateu significa um Estado antirreligioso à la Dawkins, é mais comum do que parece. E, tragicamente, são muitos os humanistas seculares que estão distorcendo no mundo todo o sentido de laicismo para impor suas agendas ateístas e exterminar a cultura cristã da sociedade ocidental – a ponto de lutarem bravamente contra os crucifixos em lugares públicos, contra o “DEUS SEJA LOUVADO” no Real, contra os feriados religiosos, contra as cidades brasileiras com nome de santos e até mesmo – acredite – até mesmo contra o Smilingüido[1]!

Sim, uma página ateísta na internet esbravejou contra a empresa Garoto (que nem estatal é!) quando ela decidiu retratar o personagem cristão "Smilingüido" em uma de suas embalagens! O argumento? O Estado é laaaaaaaaicoooooo! Eu não duvido nada que esses mesmos ateus fanáticos que queimaram dezenas de milhares de igrejas no século passado e que fuzilaram milhões de cristãos não obriguem, dentro de alguns anos, a Garoto (para não dizer as igrejas cristãs) a reproduzirem imagens de seus ídolos ateus – Lenin, Stalin e Hitler – sob o argumento de que “o Estado é laico”!

A situação chegou a um ponto tão calamitoso que quando as feministas invadiram nuas a catedral Notre Dame de Paris em direção ao sino da igreja em “protesto” e dali foram retiradas pelos guardas, quem teve que pagar a conta foi a igreja e não as fascistas! Um artigo da BBC, ao relatar este fato, disse:

“O Tribunal Penal de Paris condenou três vigias da catedral que haviam tentado interromper a ação das militantes a multas que vão de 300 euros a 1 mil euros (R$ 900 a R$ 3 mil) por violência contra as militantes. Em fevereiro do ano passado, as ativistas, famosas por protestarem com os seios nus, haviam decidido ‘celebrar’ a renúncia do papa Bento 16. Elas entraram incógnitas na Notre Dame, misturadas aos turistas, arrancaram os casacos e, aos gritos de ‘papa nunca mais’, começaram a tocar com bastões de madeira três sinos que estavam sendo exibidos provisoriamente por ocasião das festividades dos 850 anos da célebre catedral”[2]

Vamos ver se eu entendi bem:

• Um grupo de feminazis desocupadas decide invadir uma catedral sem ninguém ter mexido com elas antes.

• Elas, dentro do templo, tiram a roupa, ficam nuas em público e batem no sino da igreja para chamar atenção.

• Então três vigias da catedral, com um pouco de bom senso, decidem interromper a ação infantil das feminazis.

• E quem é punido, no fim das contas, não são as feminazis, mas sim os guardas!

A lição que fica nessa história toda é que qualquer pessoa pode invadir uma igreja, tirar a roupar e ficar pelada na frente de todo mundo, e os cristãos dali têm que aceitar tudo isso numa boa, porque se alguém tentar impedir esta coação fascista será preso!

Isso me lembra uma tirinha que ilustra bem como os ateus entendem o “Estado laico” na prática:


Há até o caso do Texas, onde uma prefeita homossexual aprovou uma lei que vigia as pregações dos pastores daquele estado impedindo que eles ensinem algo que contrarie a prática homossexual[3]. O Estado já deixou de ser “laico” há muito tempo, pelo menos desde o momento em que eles decidiram invadir o outro lado na base da força, tornando o Estado abertamente secular e ateu. Eles reclamam dos Estados oficialmente religiosos que existiram no passado, mas o que eles desejam mesmo é um Estado oficialmente ateu, à imagem e semelhança das “revoluções” do século XX. Eles não falam contra a teocracia por razões morais, mas por inveja mesmo. Queriam ter feito algo igual para o lado deles.

Em síntese, um Estado realmente laico não é, ou pelo menos não deveria ser, um Estado ateu, i.e, um Estado comprometido a descartar as crenças cristãs da sociedade, ainda mais de uma sociedade majoritariamente cristã. O Estado só deixaria de ser laico na questão do aborto se só houvesse razões religiosas para ser contra a descriminalização da prática, o que sabemos que não é verdade. Ninguém se resume a dizer que o aborto é errado por causa deste e daquele versículo bíblico. Sabemos que o aborto é errado porque o assassinato é errado, e o feto é um ser humano, que, portanto, tem direito à vida. Isso é tão óbvio que por essa razão existem muitos não-religiosos que percebem que o aborto é errado. Há até sites ateus contrários ao aborto, como o ateuscontraoaborto.blogspot.com, que apresenta argumentos laicos contra a legalização do aborto. Será que os neo-ateus vão dizer que estes ateus também estão ferindo o Estado laico?


O corpo é meu e eu faço o que eu quero com ele

O segundo argumento mais comum usado pelos abortistas é sumariado no lema: “Meu corpo, minhas regras”. Basicamente, é uma forma de dizer que elas podem fazer o que quiser com o corpo delas. São elas que mandam – está dado o recado! Há dois problemas cruciais com este argumento, se é que pode ser chamado propriamente de “argumento”. O primeiro é de que, a rigor, nós não temos absoluto controle sobre o que fazer com o próprio corpo.

Maurício Zágari nos dá alguns exemplos, dizendo:

“O argumento de que cada um é dono de seu próprio corpo mediante a lei é relativo. Quer ver? Quebre a lei. Cometa um crime. Você verá que quem vai decidir se seu corpo ficará trancafiado em uma cela por anos ou se ele terá o direito de continuar andando solto por aí será um juiz ou um júri – não você. Ou então complete 18 anos e veja se, salvo tendo você um bom pistolão, não será obrigado a levar seu corpo todos os dias, durante um ano, a um quartel, onde um militar qualquer vai obrigar seu corpo a fazer polichinelos e flexões, saltar obstáculos e coisas afins. Ou seja: mesmo que não estejamos falando em termos religiosos, a ideia de que seu corpo é propriedade exclusiva sua não passa de uma doce ilusão”[4]

A grande maioria das pessoas – abortistas inclusos – também concorda que é errado andar nu por aí na rua, ou fazer sexo em local público. Isso é crime, considerado atentado ao pudor. Por mais que o corpo seja seu, você não tem o direito de sair com ele na rua desacompanhado de uma roupa, e se você e outra pessoa consensualmente decidirem transar em local público também serão proibidos pela polícia, ainda que o corpo de cada uma das duas pessoas seja delas e que ambas tenham consentido em fazer o ato. Mas, paradoxalmente, essas mesmas pessoas que consideram errado sair com o corpo nu em local público, consideram certo assassinar um ser humano dentro do próprio útero.

Isso mostra como o senso moral do nosso século está cauterizado: o direito a “fazer o que quiser com o próprio corpo” vale mais do que uma vida, mas vale menos do que o pudor (nudez pública). Pelo menos até o momento, os ativistas pró-aborto não se manifestaram abertamente a favor do sexo em local público. Eles não creem que “tem o direito de fazer o que quiser com o próprio corpo” quando isto envolve um atentado ao pudor. Mas quando o “direito de fazer o que quiser com o próprio corpo” envolve assassinato, o que é incomparavelmente e indiscutivelmente mais grave, eles acham que esse “direito” prevalece! Há uma patente inversão de valores que só poderia ser fruto de pessoas que já cauterizaram sua própria consciência.

Em segundo lugar, o “meu corpo, minhas regras” ignora totalmente um fato bastante óbvio, tão óbvio que faz parecer que tais ativistas realmente não fazem a mínima ideia do que estão falando: o feto não é o corpo dela, é o corpo de um outro ser. Já está mais do que provado cientificamente que o feto não é uma extensão do corpo da mulher, como uma unha ou um dedão do pé, que a mulher pode decidir arrancar caso queira. O útero serve de berço para o desenvolvimento do feto, que é simplesmente um outro corpo, e desconsiderar isso é ignorar a própria anatomia.

Zágari acrescenta:

“É extremamente fácil provar que um feto não faz parte do corpo da mãe. Consideremos o DNA. Toda e qualquer célula do seu corpo, amigo leitor, carrega em si o mesmo DNA, ou seja, o mesmo código genético. Sejam células do cabelo, da bochecha, da pele, do duodeno ou do osso do calcanhar. Agora, compare o DNA de qualquer mãe com o DNA de seu filho e você descobrirá que são diferentes. O que prova que geneticamente o corpo da mãe e o corpo do filho são entidades essencialmente distintas. Vamos além: tipo sanguíneo. O meu é A negativo. O de minha mãe não. Se o sangue de minha mãe correr dentro de minhas veias eu entro em colapso e morro. E isso ocorre porque o sangue que percorre meu corpo é diferente do de minha mãe, o que é mais uma prova de que somos entidades distintas.
Pensemos agora em um assunto não muito agradável, mas ilustrativo: amputações. Sempre que você amputa uma parte de seu corpo, alguma funcionalidade se perde. Se decepar a mão direita, sendo você destro, por exemplo, terá de reaprender a escrever. Se amputar uma de suas pernas dependerá de algum prótese ou muleta para poder caminhar. Já no caso do aborto, o corpo da mãe-hospedeira não perde nenhuma funcionalidade. Isto é, em termos meramente funcionais, a remoção da criança não altera em nada o funcionamento do organismo da mãe. Mais uma prova de que trata-se de um ser humano completamente independente[5]

E ele conclui:

“Em resumo: abortar sob o argumento de que a mãe tem direito sobre seu próprio corpo é uma tremenda desculpa esfarrapada para desculpar o indesculpável. É uma justificativa capenga e sem o menor nexo religioso, jurídico ou biológico para justificar o injustificável. Por uma única razão: aquele corpinho que cresce lindamente dentro do corpo da mãe não faz parte do corpo dela, apenas extrai dela o que precisa até se tornar uma criatura autônoma. É um ser humano absolutamente à parte. Logo, a mãe não tem direito algum de assassiná-lo sob o argumento de que tem direito sobre seu próprio corpo”[6]

Olavo de Carvalho também aborda isso em seu best seller de sucesso: “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. Ele escreve:

“Os aborteiros procuram enganar as mulheres com lisonjas, assegurando que tudo o que está dentro do corpo delas é delas, e que podem fazer o que bem entendem com o que é delas. Este raciocínio subentende que o feto é um órgão do corpo da mulher, e não um ser humano independente. Mas, mesmo que o feto fosse um órgão, que é um órgão? É, por definição, algo que não pode ser retirado sem dano para o corpo. Estão como alegar, em apoio do direito de retirar o feto, o argumento de que é um órgão? Se é um órgão, retirá-lo é mutilar o corpo.
Excluída, por absurda, a hipótese de que o feto seja um órgão, resta saber se, mesmo sendo alguma outra coisa, ele pertence à mulher que o carrega no ventre. A resposta é não, porque não é feito só de óvulo, mas também de esperma. O esperma não é produzido pelo corpo da mãe, mas pelo do pai, que apenas o deposita no corpo da mãe. A mãe não é portanto dona do feto inteiro, mas apenas de uma parte; da outra parte, que veio do pai, é apenas depositária e tem tanto direito de jogar o feto no lixo quanto um banco tem o direito de jogar no lixo o dinheiro dos nossos depósitos”[7]

David Robertson ainda diz:

“Na Índia, mais de 500.000 fetos do sexo feminino são abortados todo ano por serem mulheres. Naturalmente, grupos feministas estão objetando contra essa forma de aborto seletivo. Mas por quê? Por que os defensores do aborto querem interferir no direito de uma mulher de preferir não ter uma menina? Afinal de contas, não é o corpo da mulher? Além do que, aos olhos dos daqueles, não é uma menina, mas uma menina ‘potencial’. As incongruências são irônicas”[8]

Até mesmo Ron Paul, um dos maiores e mais proeminentes libertários do mundo (movimento político que dá forte ênfase às liberdades individuais), ao ser convidado para o talk show de Danilo Gentili e ser inquirido sobre a questão do aborto, respondeu:

“Você não pode matar o feto, a criança tem direitos que devem ser protegidos. Nunca interfira com a liberdade e nunca ofenda a vida. A morte da criança é um ato agressivo... eu pessoalmente acredito que o feto é um ser humano e eu não tenho nenhum direito ou autoridade sobre ele. Às vezes, se uma moça dá à luz a uma criança e joga essa criança no lixo, ela é imediatamente presa, e um minuto antes ela poderia ter feito um aborto, pagando dinheiro para um médico matar o bebê? Isso é uma contradição. Para defender a liberdade, é preciso respeitar a vida”[9]

Em resumo, o argumento feminista ignora o fato de que ninguém possui absoluta autonomia sobre o seu próprio corpo para “fazer o que quiser com ele”. E se nós não possuímos autonomia para fazer “qualquer coisa”, a última coisa que poderíamos fazer seria assassinar alguém que estivesse dentro dele. Eles também ignoram o fato do feto não ser uma extensão do corpo da mulher, mas um outro corpo. Quando um “médico” abortista mata um bebê que está no útero da mãe, ele não está matando a mãe e nem tirando uma parte dela, mas sim um outro corpo, de uma outra pessoa, que está ali como “inquilino”, apenas. Ele está tirando uma outra vida humana – ou seja, assassinando.

Nessas condições, assassinar uma outra pessoa somente por estar dentro de uma “propriedade sua” é como dizer que um proprietário de uma chácara tem o direito de assassinar qualquer pessoa que entrar em sua propriedade particular – ainda mais quando ele próprio a convidou a entrar. Ao conscientemente e consensualmente a mulher ter relações sexuais com alguém, ela sabe que está implicando na possibilidade de ter um filho, que ela o está “convidando”. Matá-lo por estar sob a sua “propriedade” é como assassinar alguém que você convida a entrar na sua casa, por depois não ter gostado daquela visita.

Alguns abortistas jogam com uma analogia semelhante, numa tentativa de suavizar o caso. Certo militante ateu pró-aborto citou como exemplo um caso hipotético onde uma pessoa invade uma propriedade sua, e você por lei tem direito de retirá-la da sua propriedade, caso assim queira. Essa analogia teria sentido se não fosse por dois grandes problemas. Primeiro, porque o feto não é simplesmente “retirado” no mesmo sentido em que uma pessoa entra na sua casa. A pessoa que é retirada da sua casa continua viva, enquanto o feto morre. Se esta diferença capital e totalmente determinante que opõe vida e morte não é suficiente para convencer o ateu de que a analogia é inválida, então ele já cauterizou toda a sua consciência moral, ao ponto de achar que viver ou morrer dá no mesmo.

Em termos de lei, você não pode matar alguém que entre em sua propriedade privada, a não ser que seja em legítima defesa, ou seja, se algum bandido entrou na sua casa e, ameaçando-lhe com uma arma, coloca a sua existência em risco. Da mesma forma, já é permitido por lei o aborto em casos de risco de vida da mulher, mas não por qualquer motivo. Se alguém entra na sua casa sem ameaçar-lhe de morte, você não pode matá-lo simplesmente por ele ser alguém preterido (que você não gosta da presença), ainda que ele esteja dentro da sua propriedade. Se você matá-lo sem que ele ofereça risco à sua vida, você vai preso. Da mesma forma, a lei proíbe o aborto quando a vida da mulher não está posta em risco – o mesmo que faz ao proibir que você mate alguém que não oferece risco à sua vida, mesmo que este alguém esteja na sua propriedade.

O segundo grande problema com esta analogia proposta pelo abortista é que o feto, além de ser tratado como um “bandido” qualquer – o que já mostra quão deplorável é a moral deles, ao ponto de retratar bebês como vilões – também é retratado como um invasor, ou seja, alguém que entra em uma propriedade privada sem permissão. Já vimos que, mesmo se este fosse o caso, você não teria legalidade para matá-lo a não ser que ele esteja ali para matá-lo – o que não se aplica ao feto, exceto em raras ocasiões excepcionais onde a vida da mãe é colocada em risco. Mesmo assim, o próprio fato do feto ser descrito como um “invasor” já é incorreto. Toda mulher já sabe premeditadamente que pode engravidar caso faça sexo sem preservativo, e portanto ao decidir correr este risco ela não tem mais como dizer que o feto é um “invasor”.

Ela pode até não gostar de ter engravidado, mas não pode honestamente dizer que não sabia que estava se expondo a esta possibilidade. A partir do momento em que você decide sair sem guarda-chuvas em uma tarde que esteja apenas chovendo leve, você não tem mais moral para reclamar caso comece a chover forte e você fique ensopado. Você simplesmente tem que aceitar as consequencias de sua própria irresponsabilidade, porque sabia que isso poderia acontecer.

Da mesma forma, a partir do momento em que uma garota decide fazer sexo pré-matrimonial sem preservativo, ela também não pode reclamar caso engravide “fora do tempo”. Ela já sabia que isso era perfeitamente possível. Cabe apenas aceitar as consequencias de sua própria irresponsabilidade. O feto não é um invasor, é um convidado – e é estúpido e ilegal matar alguém que você mesmo chama para a sua própria casa, sob o pretexto de que “essa propriedade é minha e eu posso fazer o que quiser com quem esteja dentro dela”, ou, para colocar em outros termos, “minha casa, minhas regras”.

Por fim, cabe-se ressaltar que, excetuando os casos de estupro, quase sempre a mulher que faz aborto fez sexo de forma irresponsável e leviana, sem medir as consequencias. Se não fosse por isso, não teria abortado. Ninguém planeja matar alguém dentro do seu útero – é levada a isso em consequencia de sua própria inconsequência e promiscuidade. É uma relação premeditada com um “ficante”, é um carnaval que se “pula”, é a irresponsabilidade de se transar sem preservativo, é todo um conjunto que envolve imoralidade, imprudência e insensatez. E ao invés de pagar pelos seus erros e aceitar as consequencias que vêm, elas acham certo matar a criança, que não tem nada a ver com isso. “Assassino” é um termo leve demais para quem apóia essa aberração, segundo a qual a vontade egoísta da mãe tem mais valor do que a vida humana que está dentro dela.

O aborto é algo tão absurdo que chega a ser ridículo que, em pleno século XXI, estejamos discutindo sobre se é certo ou errado matar bebês. Um dia olharemos para trás e ficaremos tão horrorizados com esta fase da humanidade quanto ficamos hoje ao lembrar o desprezo dos espartanos com os recém-nascidos[10].


Não há como saber se o feto é um ser humano. Então mate-o.

O terceiro argumento comumente usado pelos abortistas é que o feto não é um ser humano, ou que não é possível saber se é humano, então pode matar que não tem problema. Há três problemas-chave nesta linha argumentacional. O primeiro é que todas as evidências indicam que o feto é de fato um ser humano, e não um aglomerado de células qualquer. A vida de um novo indivíduo da espécie humana tem início na fecundação, quando já se tem os 23 pares de cromossomos característicos da espécie humana. Cada espécie tem seu código, e a da espécie humana já se tem desde a formação do zigoto.

O doutor Jérôme Lejeune, considerado o pai da genética moderna, que recebeu diversos prêmios no campo da genética e foi responsável pela descoberta da causa genética da Síndrome de Down, se pronunciou diversas vezes sobre o início da vida humana. Para ele, “se um óvulo fecundado não é por si só um ser humano, ele não poderia tornar-se um, pois nada é acrescentado a ele”[11]. Ele também afirmou:

“Não quero repetir o óbvio, mas na verdade, a vida começa na fecundação. Quando os 23 cromossomos masculinos se encontram com os 23 cromossomos femininos, todos os dados genéticos que definem o novo ser humano já estão presentes. A fecundação é o marco da vida”[12]

“Se logo no início, justamente depois da concepção, dias antes da implantação, retirássemos uma só célula do pequeno ser individual, ainda com aspecto de amora, poderíamos cultivá-la e examinar os seus cromossomos. E se um estudante, olhando-a ao microscópio não pudesse reconhecer o número, a forma e o padrão das bandas desses cromossomos, e não pudesse dizer, sem vacilações, se procede de um chimpanzé ou de um ser humano, seria reprovado. Aceitar o fato de que, depois da fertilização, um novo ser humano começou a existir não é uma questão de gosto ou de opinião”[13]

O blog dos ateus contra o aborto ainda esclarece:

“A biologia comprova que a origem do indivíduo humano se dá na concepção. Não se afirma que é o início da vida, pois esta é anterior à concepção, mas que é o início da vida do indivíduo. O zigoto, célula formada pela fecundação de um óvulo por um espermatozóide, já contempla todo o patrimônio genético, que é único (exceto no caso de gêmeos univitelinos), de um novo indivíduo da espécie. A carga genética, que essencialmente será mantida da gestação até a sua morte, carrega a receita para a formação e o desenvolvimento deste novo ser. Por essa razão, é absurdo reduzir semanticamente o conceito de embrião, que surge a partir da divisão celular do zigoto, a um mero aglomerado de células. Essencialmente, um zigoto, um embrião ou um feto representam o que todos nós já fomos um dia, no princípio de nossa vida individual e humana”[14]

Mesmo assim, os “cientistas” abortistas pensam diferente, insistindo em propor novas “teses”. Um artigo da Superinteressante sobre o primeiro instante da vida mostra basicamente quatro diferentes perspectivas[15]:

(a) Visão Genética. A vida começa na fertilização, quando espermatozóide e óvulo se encontram e combinam seus genes para formar um indivíduo com um conjunto genético único.

(b) Visão embriológica. A vida começa na 3ª semana de gravidez, quando é estabelecida a individualidade humana. Isso porque até 12 dias após a fecundação o embrião ainda é capaz de se dividir e dar origem a duas ou mais pessoas.

(c) Visão neurológica. A vida começa quando o feto apresenta atividade cerebral igual à de uma pessoa. O problema é que essa data não é consensual. Alguns cientistas dizem haver esses sinais cerebrais já na 8ª semana. Outros, na 20ª.

(d) Visão ecológica. A vida começa quando o feto tem capacidade de sobreviver fora do corpo, o que ocorre o bebê tem pulmões prontos, entre a 20ª e a 24ª semana de gravidez.

O problema com essas outras alternativas é que, partindo pelos outros parâmetros que não os mencionados pelo Dr. Lejeune, até seres já nascidos não poderiam ser considerados “humanos”. Gyordano Montenegro corretamente observa:

“Se um ser humano precisa ter dois braços e duas pernas, então muitas pessoas não são seres humanos. Se um ser humano precisa ter um sistema neurológico perfeito, muitas pessoas não são seres humanos. Se é preciso ser capaz de raciocinar, uma pessoa em coma, mesmo que fisiologicamente perfeita, talvez não seja humana. Cuide o leitor, que talvez também não seja humano”[16]

Pela “lógica” de algumas destas teorias, um anencéfalo (criança que nasce sem cérebro) não é um ser humano. Pela “lógica” de outras destas teorias, uma criança que nasce sem certos órgãos ou que tenha alguma grave doença mental também não pode ser considerada “humana”. E pela “lógica” de outras destas teorias, para ser humano é necessário possuir autodeterminação, mas se é necessário ter autodeterminação para ser considerado humano então os recém-nascidos não são humanos, o que justificaria o infanticídio.

Um recém-nascido também não está totalmente independente da mãe. Dizer que a mãe pode matá-lo no útero é o mesmo que dizer que ela também tem o direito de abandonar o bebê recém-nascido em um lixão, porque em ambos os casos o bebê precisaria da assistência da mãe para continuar existindo. Se o fato do bebê ser dependente da mãe justifica que a mãe escolha matá-lo em seu útero, então não deveria haver problema em matá-lo depois de já nascido, uma vez que o bebê, por si mesmo, ainda continua sem ter condições de sobrevivência sem a assistência dos outros.

Todas essas teorias alternativas apresentam falhas catastróficas que, se levadas a sério até as últimas consequencias, justificaria a desunamização de seres humanos (como Hitler fez com os judeus) ou a práticas abomináveis para com pessoas já nascidas. Como Olavo observa, “negar que o outro seja humano é a mais velha desculpa de quem deseja matá-lo. A ciência nazista provava, com argumentos parecidos, que os judeus não eram gente”[17]. É por isso que, mesmo diante das diferentes hipóteses, a tese de que a vida começa na fecundação permanece sendo a mais coerente e lógica.

Um artigo do mesmo site “Ateus contra o Aborto”, já mencionado anteriormente, também desdenha a tese de que o feto não é um humano, mas somente um “projeto” de humano. Eles escrevem:

“O anacronismo deste argumento é flagrante e remonta ao Direito Romano, onde o feto era considerado parte das vísceras da mulher, ou à Grécia antiga, quando só após o nascimento saberiam se o nascido era humano ou ‘monstro’. Em pleno século XXI, com todo o avanço do conhecimento proporcionado pelas ciências biológicas, é admirável que ainda se comparem seres humanos em gestação a vísceras ou corpos estranhos, como furúnculos ou tumores a serem extirpados. Lamentavelmente, também se compararam nascituros a outros tipos de aglomerados de células humanas, como tufos de cabelo ou unhas cortadas, que, teoricamente e por meio de ciências avançadíssimas, seriam capazes de gerar novos seres humanos; ou ainda, a óvulos descartados na menstruação feminina ou espermatozóides lançados na masturbação. Este argumento é absurdo e intelectualmente desonesto. Unhas, cabelos, sangue de menstruação e esperma, se deixados em paz, jamais se tornarão seres humanos, o contrário de um zigoto, um embrião ou um feto”[18]

Há ainda outras duas observações que passam despercebidas pelos abortistas. A primeira é que, mesmo se um dia ficasse provado que a vida começa em algum momento depois da fecundação, isso não implica, por conseguinte, que tenhamos direito legal de abortar aquilo que virá a ser uma vida. Um outro artigo da Superinteressante, intitulado “Em que momento o feto vira ser humano?”, mostra este prisma ao salientar:

“Diante de tantas possibilidades, alguns pensadores preferem abordar a questão por outro ângulo: o essencial não seria descobrir quando a vida começa, mas determinar se todos os estágios da existência humana devem ser igualmente valorizados. ‘Ao nascer, a criança não fala, não anda e carece de diversas características que só vai ganhar mais tarde. Mas nem por isso negamos a ela a mesma dignidade de um adulto’, diz Dalton Luiz de Paula Ramos, professor titular de bioética da Unifesp. ‘Portanto, temos de reconhecer que a vida intrauterina tem o mesmo valor, embora faltem ao feto vários traços que ele irá adquirir depois’”[19]

Um dia eu fui uma massa orgânica sem cérebro, e agradeço à minha mãe pela escolha que ela fez. O que eu e você somos hoje só foi possível ter ocorrido porque este processo entre a fecundação e o nascimento não foi abortado. Se tivesse sido, nem os próprios abortistas estariam aqui para defender o aborto! Por que celebrar o direito de matar o que você foi um dia?

É como Geisler e Turek disseram:

“Ronald Reagan brincou certa vez: ‘Percebi que todos aqueles que são favoráveis ao aborto realmente nasceram’. De fato, todos os favoráveis ao aborto se tornariam imediatamente a favor da vida caso se vissem de volta ao ventre materno. Sua reação à possibilidade de serem mortos serviria de alerta ao fato de que o aborto é realmente errado. Naturalmente, a maioria das pessoas, lá no fundo do coração, sabe que uma criança não nascida é um ser humano e, portanto, sabe que o aborto é errado. Mesmo alguns ativistas favoráveis ao aborto estão finalmente admitindo isso”[20]

Eliel Vieira também assinala:

“Será que os defensores da prática do aborto nunca pensaram em se colocar no lugar do abortado? Será que eles ficariam satisfeitos com a ideia de os abortados terem sido eles, quando ainda eram fetos? Um dos valores morais mais difundidos na sociedade é o ‘não faça com os outros o que você não gostaria que fizessem com você’. O valor e a validade moral deste princípio e sua relação com a questão do aborto são óbvios e não carecem de maiores explicações. Você, que defende a legalização da prática do aborto, gostaria de ter sido abortado e não poder, hoje, opinar sobre a questão?”[21]

Por fim, ainda que concedêssemos que não é possível saber ao certo o momento em que a vida começa, esta indecisão ou “empate” logicamente só poderia ser desempatado com a preservação da vida, e não da aniquilação daquilo que pode ser uma vida. É este o ponto crucial que muitos abortistas não percebem. Foi impressionante notar que, em um debate entre um padre e uma feminista[22] ocorrido em 2010, o único argumento da feminista era que nós não podemos saber quando a vida tem início, e que, por isso, não haveria problema em realizar o aborto, já que “não se pode saber ao certo se o feto é um ser humano ou não”. É a justificativa presente no início deste tópico: “Não há como saber se o feto é um ser humano. Então mate-o”.

A feminista simplesmente inverteu a lógica e a jogou de pernas pro ar. O único argumento dela era algo que, se analisado mais racionalmente, volta-se contra ela. Olavo também escreveu sobre isso, nas seguintes palavras:

“Mas o empate mesmo acaba por transfigurar toda a discussão: diante dele, passamos de uma disputa ético-metafísica, insolúvel nas presentes condições da cultura ocidental, a uma simples equação matemática cuja resolução deve, em princípio, ser idêntica e igualmente probante para todos os seres capazes de compreendê-la. Essa equação formula-se assim: se há 50% de probabilidades de que o feto seja humano e 50% de que não o seja, apostar nesta última hipótese é, literalmente, optar por um ato que tem 50% de probabilidades de ser um homicídio. Com isso, a questão toda se esclarece mais do que poderia exigi-lo o mais refratário dos cérebros. Não havendo certeza absoluta da inumanidade do feto, extirpá-lo pressupõe uma decisão moral (ou imoral) tomada no escuro.
Podemos preservar a vida dessa criatura e descobrir mais tarde que empenhamos em vão nossos altos sentimentos éticos em defesa do que não passava, no fim das contas, de mera coisa. Mas podemos também decidir extirpar a coisa, correndo o risco de descobrir, tarde demais, que era um ser humano. Entre a precaução e a aposta temerária, cabe escolher? Qual de nós, armado de um revólver, se acreditaria moralmente autorizado a dispará-lo, se soubesse que tem 50% de chances de acertar numa criatura inocente? Dito de outro modo: apostar na inumanidade do feto é jogar na cara ou coroa a sobrevivência ou morte de um possível ser humano”[23]

E ele conclui:

“Chegados a esse ponto do raciocínio, todos os argumentos pró-aborto tornaram-se argumentos contra. Pois aí saímos do terreno do indecidível e deparamos com um consenso mundial firmemente estabelecido: nenhuma vantagem defensável ou indefensável, nenhum benefício real ou hipotético para terceiros pode justificar que a vida de um ser humano seja arriscada numa aposta”[24]

Por meio de analogia semelhante, Eliel Vieira argumenta:

“Quando temos que tomar uma decisão sobre algo que não temos conhecimento ou certeza, prudência e cautela são duas virtudes importantes e, em casos assim, prudência e cautela nos levam a agir de acordo com o cenário mais crítico possível. Por exemplo: eu vou sair para a faculdade. Pode ser que chova ou não. Eu não tenho certeza, mas levarei meu guarda-chuva assim mesmo. Considero o cenário mais crítico, pois se não chover não me prejudiquei em nada, mas se chover então estarei preparado para me cobrir. Agimos com este tipo de prudência sempre que não temos certeza sobre aquilo que estamos decidindo. Agora, aplique isto sobre a questão do aborto. Na pior das hipóteses não sabemos se um feto tem ou não vida (eu pelo menos fui ensinado que o ser humano tem sua fase embrionária e, portanto, isto implicaria que o embrião é uma vida).
Se não sabemos se um embrião tem ou não vida, então aborto pode ser algo tão moralmente neutro como arrancar um dente, como pode ser uma ação moralmente incorreta como qualquer assassinato de um inocente. Se o embrião tem vida, a interrupção desta vida é um assassinato, tanto quanto a interrupção de uma vida de uma criança ou um adulto, por ação efetiva de outra pessoa, é. Se aborto pode ser um assassinato (veja que eu não disse que é), então, penso, a prudência deve impedir que pratiquemos tal ato, até que tenhamos conhecimento suficiente para decidir sobre tal prática, levando em consideração sua validade moral”[25]

Geisler e Turek também discorrem brevemente sobre este “empate”, dizendo:

“Mesmo que houvesse dúvidas quanto ao momento em que a vida se inicia, o benefício da dúvida deveria ser concedido à proteção da vida – pessoas racionais não atiram com uma arma a não ser que estejam absolutamente certas de que não vão matar um ser humano inocente”[26]

Ray Comfort, em seu documentário sobre o tema, abordou a questão com uma analogia semelhante:

“Eu trabalho em construções, e vejo um prédio e lhe digo: ‘Eu vou implodir esse prédio em um minuto. Há uma possibilidade de haver alguém lá dentro. Eu não tenho certeza se há vida lá, mas irei implodi-lo assim mesmo’. O que você me diria?”[27]

Está claro, para qualquer pessoa dotada de um mínimo de racionalidade, humanidade e bom senso, que o “empate” e a “dúvida” jogam neste caso a nosso favor, e não a favor deles. Ao invés de ser: “Não há como saber se o feto é um ser humano. Então mate-o”; o correto deveria ser: “Todas as evidências indicam que o feto é realmente um ser humano, mas, ainda que isso fosse uma grande interrogação, eu não arriscaria matar”.


Milhares e milhares de mulheres morrem em abortos clandestinos.

Este outro argumento, por sua vez, tem como pretensão dizer que o aborto “não é uma questão de moral, mas sim de saúde pública” (este raciocínio em si mesmo já é uma falácia, porque seus defensores acreditam que uma saúde pública de qualidade é algo moralmente correto!). Então seus proponentes inventam dados tirados do raio que o parta e alardeiam para todos os cantos que “milhares e milhares de mulheres morrem em clínicas de aborto clandestinas”.

Estes “milhares e milhares” são, obviamente, dados tirados de ONG’s que já estão ligadas ao movimento feminista e que são motivadas por razões políticas. Os dados sérios refutam todo esse exagero de óbitos, acrescentados propositalmente para chocar mais e chamar mais atenção. Ficou muito conhecido nas eleições passadas o discurso de certa candidata comunista de extrema-esquerda favorável ao aborto, que repetia, vez após vez, o jargão de que “a cada dois dias morre uma mulher por aborto clandestino”[28]. O padre Paulo Ricardo responde:

“É falso. Segundo dados do próprio SUS – os quais podem ser acessados por qualquer indivíduo que tenha acesso à internet –, o número de mortes anuais por aborto ilegal no Brasil não chega a cinquenta. No ano de 2012, foram registradas 69 mortes por aborto: 13 foram espontâneos, 11 para a classificação ‘outros tipos de aborto’, 40 por razões ‘não especificadas’ e apenas 5 por falhas durante o procedimento”[29]

Qualquer um pode entrar neste site do Ministério da Saúde[30] e constatar que o número de óbitos de mulheres em função do “aborto ilegal” é infinitamente inferior aos dados alardeados pelos militantes do aborto, que tentam sempre transmitir falsamente a ideia de que o Brasil vive um verdadeiro genocídio de mulheres em função do aborto não ser legalizado. Na verdade, a ideia que passa é que eles realmente torcem para que haja mesmo muitas mulheres morrendo, para poderem usar isso como “argumento” a favor de mais mortes através de um “aborto legal”.

Paulo Ricardo afirma que o médico abortista Bernard Nathanson, que na década de 70 ficou conhecido como o “rei do aborto” – ele fez nada a menos que cinco mil abortos –, “ficou horrorizado ao perceber, por meio do ultrassom, o que ocorria com o feto durante a operação. A sua descoberta resultou no famoso documentário ‘O grito silencioso’. Anos mais tarde, ele revelaria a farsa a respeito dos números de abortos clandestinos nos Estados Unidos”[31].

O testemunho de Nathanson é chocante e, ao mesmo tempo, bastante esclarecedor:

“É uma tática importante. Dizíamos, em 1968, que na América se praticavam um milhão de abortos clandestinos, quando sabíamos que estes não ultrapassavam de cem mil, mas esse número não nos servia e multiplicamos por dez para chamar a atenção. Também repetíamos constantemente que as mortes maternas por aborto clandestino se aproximavam de dez mil, quando sabíamos que eram apenas duzentas, mas esse número era muito pequeno para a propaganda. Esta tática do engano e da grande mentira, caso se repita constantemente, acaba sendo aceita como verdade”[32]

Olavo de Carvalho já escrevia há muito tempo sobre essas falcatruas:

“Também não é de espantar que, na ânsia de impor sua vontade de poder, mintam como demônios. Vejam os números de mulheres supostamente vítimas anuais do aborto ilegal, que eles alegam para enaltecer as virtudes sociais imaginárias do aborto legalizado. Eram milhões, baixaram para milhares, depois viraram algumas centenas. Agora parece que fecharam negócio em 180, quando o próprio SUS já admitiu que não passam de oito ou nove. É claro: se você não apreende ou não respeita nem mesmo a distinção entre espécies, como não seria também indiferente à exatidão das quantidades? Uma deformidade mental traz a outra embutida”[33]

Mesmo sabendo desta enorme manipulação e distorção proposital de dados, vamos trabalhar dentro desta linha argumentacional que eles propõem, segundo a qual o aborto deve ser legalizado porque assim só o feto morre, de outra forma morrerão o feto e a mãe (em abortos clandestinos). Então, por essa mesma “lógica”, é melhor legalizar de uma vez, porque assim morre um ao invés de morrer dois.

Há vários problemas com este argumento. Em primeiro lugar, porque não se pode provar que, efetivamente, o número de mortes irá diminuir caso o aborto seja legalizado. As evidências concretas refutam isso. Paulo Ricardo aponta que “a Rússia, onde o aborto é legalizado desde a era soviética, viu-se obrigada a impor limites à sua atual legislação, dada a quantidade absurda de abortamentos realizados no país: o número de abortos é maior que o de nascimentos”[34].

O que as evidências indicam é precisamente o contrário daquilo que as feministas alardeiam. A proibição ao aborto legal evita que muitas mães pensem em abortar o filho, considerando tanto a vida do filho quanto a sua própria. A proibição pública ao aborto serve como forma de conscientização de que esta prática é declaradamente errada, leva às mães a uma autoreflexão e evita que muitas delas venham buscar medidas desesperadas, como as clínicas clandestinas de aborto.

O aborto legalizado, por outro lado, é uma carta aberta do governo com um recado muito simples: matar é permitido. Isso, além de ser um enorme desserviço do governo e uma patente anticonscientização da sociedade, é um convite às mães matarem seus filhos em seu útero, tratando o aborto como um método anticonceptivo. No aborto ilegal, as mães pensam duas vezes antes de cometer assassinato. No “aborto legal”, qualquer mãe pode abortar com a mesma facilidade e naturalidade com a qual vai ao médico fazer uma consulta qualquer. Este convite aberto ao assassinato gera muito mais mortes do que a sua proibição. Isso é fato.

Em segundo lugar, ainda que o número de mortes fosse menor com o aborto legalizado, isso não significa que devamos considerar algo moralmente repugnante – um assassinato de alguém inocente – como se fosse algo “legal”. Pense na seguinte situação: um sequestrador coloca uma arma na cabeça de um inocente, e propõe o seguinte aos policiais:

– Vocês têm duas opções: ou permitem que eu mate ele e depois fuja, e assim só uma pessoa morre, ou então eu o matarei do mesmo jeito e me matarei depois, e assim duas pessoas morrem!

Eu tenho certeza que os policiais não escolheriam a primeira opção e a descartariam de antemão, ainda que não sejam “favoráveis” à segunda. Eles iriam fazer alguma coisa para negociar com o sequestrador, convencendo-lhe que é melhor não matar nem o refém nem a si próprio, mas mesmo se falhassem na negociação eles nunca iriam aceitar a primeira opção. Estamos em uma situação parecida aqui: uma mãe disposta a matar seu próprio filho, correndo o risco de se matar caso não possa fazer isso, e o Estado na condição de acatar ou não acatar a escolha da mãe.

Eliel Vieira coloca essa situação com uma analogia diferente, mas também elucidativa:

“Certamente o aborto é também uma questão de saúde pública, sim, mas isto por si só não diz se o aborto é uma ação moralmente correta ou não. Certamente o aumento assustador de dependentes de crack hoje é uma questão de saúde pública (e também de segurança pública), mas isto por si só não justifica o Estado a legalizar e distribuir drogas gratuitamente sob a alegação de que ‘quem vem de família rica, compra a droga com dinheiro da mesada, e quem não tem precisa traficar e roubar para conseguir a droga’. Ou, já que falamos sobre validade moral de uma ação, pense então no caso dos necrófilos. Quem tem dinheiro consegue extraviar corpos do IML para deleite sexual pessoal, quem não tem precisa roubar túmulos e correr o risco de ser preso. Deveria o Estado então legalizar a prática da necrofilia e distribuir corpos para que queira praticar sexo com cadáveres?”[35]

Tente não ver um paralelo entre a “sugestão” da legalização do aborto por causa das mortes de mães em clínicas clandestinas com esta notícia que saiu no G1:

“No começo do mês de junho, a Academia Americana de Pediatria (AAP) dos EUA emitiu uma declaração indicando que talvez fosse melhor que os médicos fossem autorizados a realizar uma forma leve de circuncisão feminina nas clínicas americanas do que deixar as famílias enviarem as filhas para os países de origem que realizam o procedimento de maneira rudimentar e sem segurança. O texto gerou polêmica e muitas críticas de organizações de direitos humanos – a mutilação genital feminina é proibida por lei nos EUA – e foi retirado pela AAP”[36]

Perceba que as mesmas organizações que dizem que o aborto deve ser legalizado para que mulheres não morram em clínicas clandestinas são as que, paradoxalmente, são contra a legalização da circuncisão feminina para que mulheres não morram em clínicas clandestinas! No fundo, todo mundo sabe que legalizar não é a solução – nem para um caso, nem para o outro.

A solução para o problema dos abortos clandestinos passa longe da legalização de um crime bárbaro como o assassinato de bebês no útero das mães. Legalizar o assassinato só irá gerar mais assassinato. A solução não é mais morte: é mais conscientização, é mais informação, é mais prevenção, é mais educação. Qualquer coisa que não seja compactuar com a matança indiscriminada e monstruosa de vidas inocentes, que sequer tem a chance de se defender desta crueldade.

Fazendo uma conexão com o tópico anterior, se a humanidade seguisse os padrões cristãos a respeito do sexo e da moralidade, nada disso teria acontecido. Mas os que se lançam na cruzada de destruição da cultura cristã são os mesmos que depois aparecem propondo o assassinato como “solução” dos problemas. Ao invés de apelar à moral cristã, eles apelam ao assassinato explícito. Isso é o neo-ateísmo.


Se o bebê não for abortado, ele vai ter uma vida ruim

Este é o argumento mais tosco de todos, tão tosco que eu inicialmente nem o tinha acrescentado à lista de argumentos a serem refutados, mas decidi incluí-lo após tomar conhecimento do tanto de pessoas que insistem neste argumento infantil. Basicamente, o que essas pessoas dizem é que o feto deve ser abortado porque, caso ele viva, ele vai ter uma vida muito ruim, porque poderá ser abandonado pela mãe e virar um mendigo ou alguém muito pobre. Este argumento ignora todo o senso lógico e racional. Em primeiro lugar, porque não há mal maior do que a própria morte. O Dr. Lejeune corretamente afirmou:

“Penso pessoalmente que diante de um feto que corre um risco, não há outra solução senão deixá-lo correr esse risco. Porque, se se mata, transforma-se o risco de 50% em 100% e não se poderá salvar em caso nenhum. Um feto é um paciente, e a medicina é feita para curar… Toda a discussão técnica, moral ou jurídica é supérflua: é preciso simplesmente escolher entre a medicina que cura e a medicina que mata”[37]

Se a morte é o pior de todos os males (uma vez que a preservação da existência é o maior de todos os instintos humanos), então não há qualquer justificativa racional para matar pessoas – ainda mais quando estas pessoas não pedem para serem mortas.

Em segundo lugar, há milhares e milhares de famílias esperando na fila para poder adotar um filho, e é leviano e monstruoso que alguém sugira que matar é melhor do que colocar para a adoção.

Em terceiro lugar, é completamente falsa a afirmação de que todos os que seriam abortados se tornariam pessoas “miseráveis” ou que teriam uma “vida ruim” no futuro. Se alguém tinha de tudo para ter uma “vida ruim”, este alguém era Nick Vujicic, que nasceu sem braços e pernas, mas hoje viaja o mundo todo dando palestras motivacionais, é casado e tem um filho. Pergunte a ele se ele gostaria de ter sido abortado quando ainda estava na barriga da mãe!

Quer outro exemplo de uma pessoa que teria de tudo para ser um “fracasso”? Um dos maiores cientistas do mundo de hoje – e exaltado pelos ateus, por ser um agnóstico – chamado Stephen Hawking. Ele é portador de esclerose lateral amiotrófica, uma rara doença degenerativa que paralisa os músculos do corpo sem, no entanto, atingir as funções cerebrais, sendo uma doença que ainda não possui cura. Isso não o impediu de ser um dos mais consagrados cientistas da atualidade, de deter o posto que um dia foi ocupado por Isaac Newton na Universidade de Cambridge, de ter três filhos e um neto.

Há outra pessoa que dá testemunho de que quase foi abortado, e que, graças a Deus, viveu para se tornar um dos maiores humoristas de todos os tempos, um verdadeiro gênio e mito do humor, que continua fazendo sucesso mesmo depois de quarenta anos desde a sua gravação: Chaves (Roberto Gómez Bolaños). Ele testemunhou: “Olá, eu sou seu amigo, Chaves. Quando eu estava no ventre da minha mãe, ela sofreu um acidente que a deixou à beira da morte. O médico lhe disse: ‘Terás que abortar’, e ela respondeu: ‘Abortar? Eu? Jamais!’. Ou seja: defendeu a vida... a minha vida. E, graças a ela, estou aqui”[38].


Pergunte a essas pessoas – e a tantas outras que poderiam ter sido abortadas – se elas gostariam de ter morrido ainda no útero da mãe. Elas são eternamente agradecidas por alguém um dia ter lhes dado a chance de existir, e de poder desfrutar da maravilha chamada vida. Eles são gratos por poderem um dia ter feito parte da História, e de terem dado a sua contribuição a ela. Este é um apelo que eu também faço: dêem uma chance. Não tirem deles a oportunidade de participar daquilo que você participa: a vida. Os pró-vida dão oportunidade, oportunidade esta que é excluída de antemão por aqueles cuja única opção que dão é a morte.

Por fim, para demonstrar o quão estúpida e irracional é a tese de que essas pessoas deveriam ser mortas no útero de suas mães para que não tivessem uma vida ruim no futuro, Gyordano Montenegro contesta:

“Devemos matar mendigos porque o Estado não é capaz de cuidar deles? Uma situação qualquer legitima o furto? Um crime não deixa de ser crime porque queremos evitar outro crime. Se o feto é um ser humano, por qual motivo defenderemos sua morte?”[39]

Em outras palavras, se é racional tirar a vida do bebê enquanto dentro do útero da mãe porque ele pode vir a ter uma “vida ruim” no futuro, por que não tirar a vida daqueles que já tem efetivamente uma “vida ruim” hoje? Se essa “lógica” fosse levada a sério, ela justificaria até mesmo o infanticídio, para não falar dos genocídios a sangue frio. Por isso, ao invés de matá-los pensando na possibilidade de terem uma “vida ruim” no futuro, dêem-lhes uma oportunidade de viver, retribuindo, mesmo que por gratidão, o favor que lhe foi um dia concedido por sua mãe, para que você mesmo pudesse nascer. Apenas monstros podem dizer que matar é um direito, mas que nascer não é.


A proibição ao aborto é uma lei opressora às mulheres

Este é o argumento preferido do comunista, aquele cara que vê opressão em tudo: nos ricos “burgueses”, no “capital financeiro”, nos bancos e nos banqueiros, nos judeus sionistas, nos norte-americanos “imperialistas”, nos cristãos “fundamentalistas” e, é claro, nos homens como um todo, que querem “oprimir” as pobres mulheres por meio de leis que visam... salvar mulheres. Sim, porque 50% dos fetos abortados – mortos no útero das mães – são do sexo feminino, o que significa dizer que o aborto é uma das maiores máquinas de opressão ao gênero feminino que pode ser concebida, já que não há pior opressão do que a própria morte.

Esta é uma forma certeira de virar a mesa quando algum oponente abortista usa o “argumento da opressão” contra você, dizendo que a vida das mulheres que querem abortar seria melhor se elas de fato abortassem do que se elas tivessem que criar um filho. Basta citar que metade destes fetos brutalmente assassinados seriam mulheres, mostrando quem realmente “oprime” a mulher – se é o que defende a vida de milhões delas ou se é quem luta pelo direito de matar mulheres inocentes. Para eles, o “direito de matar” está acima do “direito de viver”. Podem-se matar milhões e milhões de bebês do sexo feminino no útero de suas mães, contanto que a vontade assassina da mãe seja satisfeita. Que bela forma de “defender” as mulheres!


O feto não sente dor quando morre

Chegamos ao fim de todos os argumentos fracassados, para chegar àquele que é o único proposto por Richard Dawkins a favor do aborto: a dor. É interessante notar que, embora Dawkins seja um abortista (como todo neo-ateu), ele evitou corajosamente entrar em qualquer um dos famosos argumentos ultrapassados (os já rebatidos anteriormente). Isso seria de se estranhar, se não fosse pelo fato de ele ser biólogo, o que lhe fez recuar ao ponto de não citar em seu favor nenhum dos argumentos populares que ele sabe que são errados e que lhe faria passar vergonha por sustentá-los: entre eles o de que o feto é uma extensão do corpo da mulher, ou de que não é um ser humano, ou o “argumento da vida ruim”, ou o “argumento da opressão”. Ele dribla todos estes argumentos populares e facilmente refutáveis para por fim apelar a um que é bem pouco popular: o de que o feto não sente dor, então não há problema em matá-lo.

Ele declara:

“Não há nenhuma razão para achar que os embriões humanos de qualquer idade sofram mais que embriões de boi ou de ovelha no mesmo estágio de desenvolvimento”[40]

Mas se o problema é somente a questão da dor, ele já deveria saber que há milhares de formas de se matar um adulto sem que ele sofra. Formas não-dolorosas de morte é o que não falta. Uma das formas de suicídio existentes é quando a pessoa usa “algum sonífero ou sedativo numa máscara totalmente fechada que não permita a respiração e em seguida pô-la no rosto. Pronto, pois aqui o suicida desmaia rapidamente por causa do sonífero e morre em seguida por asfixia, pois a máscara não permite a respiração. Não há sofrimento ou dor e, quando morrer, você estará inconsciente”[41].

Se a tese de Dawkins está certa e se fosse moralmente justificável matar seres humanos desde que eles não sofram ao morrer, então não haveria nenhum grande problema em assassinar pessoas assim – sejam crianças, adultos ou idosos. Mas nós sabemos que esta e outras formas não-dolorosas de assassinato continuam sendo tão desumanas e criminosas quanto as demais formas de morte, porque o problema primordial não está na dor que se sente, mas precisamente no fato de se estar matando um ser humano inocente – que é precisamente o que ocorre no aborto.

Dawkins tenta contornar isso dizendo:

“Paul Hill e Michael Bray não viam diferença moral entre matar um embrião e matar um médico, com exceção do fato de que, para eles, o embrião era um ‘bebê’ inocente. O consequencialista vê toda a diferença do mundo. Um embrião de pouco tempo tem a sensibilidade, assim como a aparência, de um girino. Um médico é um ser adulto consciente, com esperanças, amores, aspirações, medos, um estoque maciço de conhecimento humano, capacidade para emoções profundas, muito provavelmente uma viúva desolada e filhos órfãos, talvez pais idosos loucos por ele”[42]

Aqui vemos o problema moral e a verdadeira encruzilhada em que Dawkins se depara: ele evita ao máximo afirmar que o feto não é um ser humano porque ele sabe que afirmar isso seria biologicamente falso, mas, ao mesmo tempo, tenta depreciar e menosprezar o feto de tal forma que faz com que os leitores tenham a mesma ideia brutal de que o feto não passa mesmo de um pedaço de carne, de uma parte do corpo da mãe, que pode extirpá-lo à vontade, como bem entender. Neo-ateus como Dawkins não dão valor algum à vida. Esta é uma triste realidade.

Essa banalidade para com a vida numa mentalidade neo-ateísta ficou ainda mais patente quando Dawkins decidiu se manifestar sobre o aborto de crianças com Síndrome de Down:

“Aborte isso e tente de novo. Seria imoral trazer isso ao mundo se você tivesse escolha”[43]

Dawkins chama os bebês que sofrem de Síndrome de Down de “isso”, ao invés de “ele” ou “ela” – o que só reforça que ele as vê como uma “coisa” insignificante qualquer, mas não como um ser humano. Esta visão extremamente preconceituosa para com os deficientes é somente o resultado da desvalorização da vida intra-uterina, uma consequencia lógica do neo-ateísmo. O problema não é a Síndrome de Down, mas a Síndrome de “Downkins”, que é o preconceito ao diferente, a desvalorização da vida e a inexistência de padrões morais – o que sempre resultou em seres humanos deploráveis.

Há ainda outros dois problemas com esse pensamento. O primeiro é que tudo o que Dawkins faz menção em relação às pessoas adultas – consciência, esperança, amor, aspiração, medos, família, etc – só foi possível porque um dia a mãe escolheu a vida e não a morte para o feto. Dawkins se mete em um argumento circular, onde apela a uma vivência madura que só seria possível se não houvesse o aborto, o que invalida o seu próprio argumento que é em favor do aborto!

Isso seria o mesmo que afirmar, por exemplo, que a graduação é sem valor já que o mestrado é mais importante, sendo que sem graduação não existiria mestrado, e portanto é necessário que se passe pela graduação para se chegar ao mestrado. Se o feto é abortado, não há vida adulta para ele, e não faz sentido nenhum falar da “superioridade” da vida adulta sobre a vida no útero. É necessário lutar pela preservação da vida no útero como um pressuposto básico para que se defenda a vida fora dele. É como certo telespectador disse a uma debatedora abortista: “Seus pontos de vista são interessantes, mas só podem ser feitos hoje porque a senhora teve direito à vida”[44].

O segundo problema crucial com este pensamento de Dawkins é que ele justificaria as formas mais cruéis de infanticídio que o homem conhece, porque tudo aquilo que ele falou sobre o bebê que está ainda na barriga da mãe também se aplica ao momento em que ele já está fora dela. O recém-nascido, com alguns dias de vida, também não é um ser com “esperanças, amores, aspirações, medos, com um estoque maciço de conhecimento humano, capacidade para emoções profundas e muito provavelmente uma viúva desolada com filhos órfãos”.

Ao contrário: na perspectiva do bebê, nada mudou no primeiro minuto em que ele nasceu em relação a um minuto antes, enquanto ele ainda estava na barriga da mãe, exceto por uma mudança de ambiente que o deixa atordoado em um primeiro instante, até se acostumar à nova casa. Essencialmente, no entanto, ele não deixou de ser o que já era antes. Este ser com “aparência de um girino” que Dawkins descreve não passa a ter instantaneamente as características do adulto com o qual ele contrasta.

Na verdade, a única coisa que este argumento de Dawkins nos levaria a defender, caso o levássemos a sério, seria à prática do infanticídio, i.e, de matar bebês já nascidos. Não há absolutamente nada na argumentação de Dawkins que nos mostre uma boa razão pela qual seja errado matar o bebê no útero da mãe, mas não fora dele. Todos os seus argumentos pró-aborto são também argumentos pró-infanticídio. Algo me diz que a intenção era essa mesmo.


Infanticídio

No mundo antigo, o infanticídio era tratado com naturalidade. É difícil encontrar um povo antigo que não praticasse o sacrifício de crianças aos deuses, excetuando Israel. Arqueólogos tem constantemente encontrado cemitérios inteiros de bebês sacrificados aos ídolos, o que foi uma das razões para a eliminação dos cananeus, que praticavam o sacrifício de crianças com vigor. Na Grécia antiga, o infanticídio era desenfreado. Muitas meninas eram abandonadas pelos pais, porque as mulheres eram desvalorizadas. Os espartanos costumavam pegar seu sexto filho e o deixavam nas colinas, para achá-lo morto na manhã seguinte, em pleno inverno.

Os bebês fracos e doentes também sofriam com o infanticídio praticado por aqueles que não davam valor à vida. Os bebês eram abandonados nas montanhas para morrer pela fome ou pelos animais. Em Roma, não havia crime previsto para um pai que matasse seu filho recém-nascido, embora o assassinato de adultos fosse punível pela lei romana. A criança era vista como propriedade dos pais, como se fossem escravos. Foi o Cristianismo que começou a mudar todo este paradigma. Foi Jesus, o mesmo que por pouco não foi morto por Herodes quando criança, que disse:

“Deixem vir a mim as crianças e não as impeçam, pois o Reino de Deus pertence aos que são semelhantes a elas” (Mateus 19:14)

No início do capítulo 18 de Mateus podemos ver o valor que Jesus dava às crianças:

“Naquele momento os discípulos chegaram a Jesus e perguntaram: ‘Quem é o maior no Reino dos céus?’ Chamando uma criança, colocou-a no meio deles, e disse: ‘Eu lhes asseguro que, a não ser que vocês se convertam e se tornem como crianças, jamais entrarão no Reino dos céus. Portanto, quem se faz humilde como esta criança, este é o maior no Reino dos céus’. ‘Quem recebe uma destas crianças em meu nome, está me recebendo. Mas se alguém fizer tropeçar um destes pequeninos que crêem em mim, melhor lhe seria amarrar uma pedra de moinho no pescoço e se afogar nas profundezas do mar’” (Mateus 18:1-6)

Isso pode parecer normal para o nosso contexto, mas era revolucionário para aquele contexto – tanto é que eram os próprios discípulos que queriam afastar as crianças de Jesus (Mt.19:13)! Jesus revolucionou a visão predominante até então, onde os infantes eram tratados com crueldade e desumanidade. Por causa de Jesus, os cristãos passaram a dar valor à vida humana desde a sua concepção. E quanto mais o Cristianismo foi crescendo e moldando o mundo, mais mudanças e progressos morais foram acontecendo. O Pr. James Kennedy corretamente observou:

“Na antiga Roma, muitos recém-nascidos foram adotados pelos cristãos e preservados por causa da sua fé em Cristo. O aborto desapareceu na igreja primitiva, assim como o infanticídio e o abandono de bebês. Houve mesmo um apelo para que as crianças rejeitadas fossem trazidas à igreja. Foram fundados orfanatos e lares para acolher estas crianças. Tais práticas, embasadas numa visão valorativa em favor da vida, influenciaram a civilização ocidental no desenvolvimento de uma ética da vida humana que permanece até hoje”[45]

O que o Cristianismo levou séculos para erradicar, o fundamentalismo ateu de Dawkins e demais neo-ateus de nosso século está lutando para trazer de volta. Dawkins não defende o infanticídio de forma explícita em seu livro (embora ele só tenha levantado argumentos pró-aborto que também servem na defesa do infanticídio), mas ele o faz em um documentário que contou com a presença do “ilustre” “filósofo” Peter Singer (também ateu, diga-se de passagem). Para ele, é moralmente aceitável não só o aborto, mas também o sacrifício de bebês que nasçam debilitados. Singer escreve assustadoramente:

“O fato de ser um humano não significa que seja errado tirar sua vida”[46]

E também:

“Matar um recém-nascido não é, sob hipótese alguma, equivalente a matar um adulto – que quer conscientemente continuar vivendo”[47]

Um artigo da Superinteressante, citando Singer, comenta:

“’Há animais cujas vidas, por quaisquer critérios, são mais valiosos que as vidas de alguns seres humanos. Um chimpanzé ou um porco tem um grau mais alto de autoconsciência e uma maior capacidade de relações significativas do que uma criança com uma doença mental séria’, diz Singer. Ou seja: quem admite cortar um macaco em nome da ciência teria que admitir também cortar uma criança com paralisia cerebral, por exemplo”[48]

Imagine um pastor ou deputado evangélico dizendo que não é errado assassinar recém-nascidos sob o pretexto de que eles não “pedem conscientemente” para continuar vivendo. Imagine um pastor ou deputado evangélico dizendo em rede nacional que matou um bebê deficiente porque este bebê não “quis” continuar vivendo. Imagine esse mesmo pastor ou deputado religioso dizendo que um porco tem mais valor do que uma criança deficiente. Não precisaria de mais do que uma ou duas horas para que este religioso fosse linchado publicamente, para que a mídia inteira não falasse de outra coisa durante meses, para que todos os evangélicos fossem comparados ao tal pastor e, é claro, para que no fim das contas todo o mal recaísse sobre a religião, essa coisa malvada das trevas. Mas como é um filósofo ateu que disse isso, não tem problema. Todos fazem vista grossa ao amiguinho de Dawkins.

O pior é que Singer não é uma exceção. Singer é somente mais um militante neo-ateísta que faz parte de uma geração de defensores do infanticídio que só tende a crescer com o tempo. O próprio Richard Dawkins é um defensor público do infanticídio. Ao invés de ele repudiar Singer por suas declarações desprezíveis sobre o assassinato de bebês, o que ele fez foi convidá-lo para o seu próprio documentário na televisão, onde concordou com Singer sobre o infanticídio! As declarações de Dawkins são tão chocantes e desumanas quanto as de Singer, seu grande amigo. Dawkins declarou:

“Até que o bebê tenha um ou dois anos, assim que ele tiver uma enfermidade horrível e incurável, que traga alguma agonia em sua vida futura, deveríamos cometer infanticídio? Moralmente não encontro nenhuma objeção para este ato. Eu favoreceria o infanticídio[49]

É de se espantar que aquela mesma mentalidade retrógrada e facínora presente no mundo antigo, em que era “certo” matar ou abandonar os bebês “fracos” ou doentes, seja retomada em pleno século XXI, desta vez sob a máscara de um discurso “intelectual”. É igualmente chocante observar que a mídia inteira se cala quando o maior ateu do mundo se pronuncia a favor do assassinato de bebês “fracos”, preferindo em lugar disso atacar aqueles que lutam pela vida. O ateísmo não nos leva a lugar nenhum que não seja a um tratamento frio e cruel para com a vida humana, que é entendida da forma mais insensível e desumana possível, que serve de justificativa para as práticas mais abomináveis que pensávamos que o mundo já havia superado.

Singer e Dawkins também não são dois pontos fora da curva do neo-ateísmo. O Dr. Kermit Gosnell, dono de uma clínica de aborto legal nos Estados Unidos, chegou a assassinar sete crianças recém nascidas, após tentativas frustradas de aborto. As crianças nascidas vivas tinham o pescoço perfurado pelo médico. Testemunhas afirmam que o número real de crianças assassinadas chega à casa das centenas[50]. A apologia ao infanticídio também já é realidade nos meios universitários. Reinaldo Azevedo escreveu sobre a monstruosa história de Francesa Minerva e Alberto Giublini, que defendem explicitamente o genocídio infantil:

“Os neonazistas da ‘bioética’ já não se contentam em defender o aborto; agora também querem a legalização do infanticídio! Eu juro! E ainda atacam os seus críticos, acusando-os de ‘fanáticos’. Vamos ver. Os acadêmicos Alberto Giublini e Francesca Minerva publicaram um artigo no, ATENÇÃO!, Journal of Medical Ethics intitulado ‘After-birth abortion: why should the baby live?’, literalmente: ‘Aborto pós-nascimento: por que o bebê deveria viver?’. No texto, a dupla sustenta algo que, em parte, vejam bem!, faz sentido: não há grande diferença entre o recém-nascido e o feto. Alguém poderia afirmar: ‘Mas é o que também sustentamos, nós, que somos contrários à legalização do aborto’. Calma! Minerva e Giublini acham que é lícito e moralmente correto matar tanto fetos como recém-nascidos. Acreditam que a decisão sobre se a criança deve ou não ser morta cabe aos pais e até, pasmem!, aos médicos.
Para esses dois grandes humanistas, notem bem!, as mesmas circunstâncias que justificam o aborto justificam o infanticídio, cujo nome eles recusam – daí o ‘aborto pós-nascimento’. Para eles, ‘nem os fetos nem os recém-nascidos podem ser considerados pessoas no sentido de que têm um direito moral à vida’. Não abrem exceção: o ‘aborto pós-nacimento’ deveria ser permitido em qualquer caso, citando explicitamente as crianças com deficiência. Mas não têm preconceito: quando o ‘recém nascido tem potencial para uma vida saudável, mas põe em risco o bem-estar da família’, deve ser eliminado.
Num dos momentos mais abjetos do texto, a dupla lembra que uma pesquisa num grupo de países europeus indicou que só 64% dos casos de Síndrome de Down foram detectados nos exames pré-natais. Informam então que, naquele universo pesquisado, nasceram 1.700 bebês com Down, sem que os pais soubessem previamente. O sentido moral do que diz a dupla é claro: soubesse antes, poderia ter feito o aborto; com essa nova leitura, estão a sugerir que essas crianças poderiam ser mortas logo ao nascer”[51]

A dupla de assassinos ainda tentava responder à pergunta: “Por que não colocá-los para a adoção?” desta maneira:

“Uma objeção possível ao nosso argumento é que o aborto pós-nascimento deveria ser praticado apenas em pessoas que não têm potencial para uma vida saudável. Consequentemente, as pessoas potencialmente saudáveis e felizes deveriam ser entregues à adoção se a família não puder sustentá-las. Por que havemos de matar um recém-nascido saudável quando entregá-lo à adoção não violaria o direito de ninguém e ainda faria a felicidade das pessoas envolvidas, os adotantes e o adotado? (...) Precisamos considerar os interesses da mãe, que pode sofrer angústia psicológica ao ter de dar seu filho para a adoção. Há graves notificações sobre as dificuldades das mães de elaborar suas perdas. Sim, é verdade: esse sentimento de dor e perda pode acompanhar a mulher tanto no caso do aborto, do aborto pós-nascimento e da adoção, mas isso não significa que a última alternativa seja a menos traumática”[52]

Sim, para eles é melhor assassinar o bebê do que colocá-lo para a adoção, porque – veja só que justificativa brilhante – a mãe pode ficar tristinha caso seu bebê seja adotado, mas não caso seja exterminado.

Minerva e Giublini, para complicar ainda mais a situação, ainda disparam:

“A mãe que sofre pela morte da criança deve aceitar a irreversibilidade da perda, mas a mãe natural [que entrega filho para adoção] sonha que seu filho vai voltar. Isso torna difícil aceitar a realidade da perda porque não se sabe se ela é definitiva”[53]

Oh, que triste. A mãe pode sonhar que o filho vai voltar? Então é melhor matá-lo de uma vez! Como pode ser que dois facínoras como esses estejam soltos, e pior ainda, ensinando em nossas universidades, doutrinando as nossas crianças e jovens?

Azevedo finaliza dizendo:

“Querem saber? Essa dupla de celerados põe a nu alguns dos argumentos centrais dos abortistas. Em muitos aspectos, eles têm mesmo razão: qual é a grande diferença entre um feto e um recém-nascido? Ao levar seu argumento ao extremo, deixam a nu aqueles que nunca quiseram definir, afinal de contas, o que era e o que não era vida. Esses dois não estão nem aí: reconhecem, sim, como vida, tanto o feto como o recém-nascido. Apenas dizem que não são ainda pessoas no sentido que chamam ‘moral’. Notem que eles também suprematizam, se me permitem a palavra, o direito de a mulher decidir, a exemplo do que fazem alguns dos nossos progressistas, e levam ao extremo a ideia do ‘potencial de felicidade’, o que os faz defender, sem meios-tons, o assassinato de crianças deficientes – citando explicitamente os casos de Down.
(...)
Tudo isso é profundamente asqueroso, mas não duvidem de que Minerva, Giublini e Savulescu fizeram um retrato pertinente de uma boa parcela dos abortistas. Se a vida humana é ‘só uma coisa’ e se os homens são ‘humanos’ apenas quando têm história e consciência, por que não matar os recém-nascidos e os incapazes? Estes são os neonazistas das luzes. Mas não se esqueçam, hein? Reacionários somos nós, os que consideramos que a vida humana é inviolável em qualquer tempo”[54]

Toda essa apologia explícita ao infanticídio encontrada em Dawkins, Singer, no Dr. Kermit Gosnell e no casal Minerva e Giublini não é mais do que a consequência natural de se considerar legal o aborto. Na lógica neo-ateísta, não há alguma razão objetiva para dizer que uma mulher tem o direito de escolher matar o bebê em seu útero, mas não fora dele. A “solução” que eles encontraram, então, foi a de que é certo matar nos dois casos. Na verdade, a única diferença entre o aborto e o infanticídio é que no aborto você não tem que olhar na cara do bebê antes de matá-lo. É um assassinato frio e covarde. Em ambos os casos, porém, o que prevalece é a opressão dos fortes sobre os fracos – o que é levado até as últimas consequencias por aqueles que acham certo assassinar um ser indefeso dentro ou fora da barriga da mãe.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


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[5] ibid.
[6] ibid.
[7] Olavo de Carvalho, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
[8] David Robertson, Cartas para Dawkins, Carta 8.
[10] Os espartanos pegavam seu sexto filho e o deixavam nas colinas, para achá-lo morto na manhã seguinte, em pleno inverno.
[12] ibid.
[13] ibid.
[17] Olavo de Carvalho, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
[20] Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho fé suficiente para ser ateu.
[23] Olavo de Carvalho, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
[24] ibid.
[26] Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho fé suficiente para ser ateu.
[33] Olavo de Carvalho, O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota.
[40] Richard Dawkins, Deus, um Delírio.
[42] Richard Dawkins, Deus, um Delírio.
[45] James Kennedy e Jerry Newcombe. E se Jesus não tivesse nascido? São Paulo: Editora Vida, 2003.
[46] Peter Singer, Repensando Vida e Morte.
[47] obid.
[52] ibid.
[53] ibid.
[54] ibid.

3 comentários:

  1. Excelente publicação. O autor está de parabéns pela forma, conteúdo e, obviamente, o grande trabalho de pesquisa.

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  2. O texto está excelente (forma e conteúdo). Parabéns tb pelo grande trabalho de pesquisa.

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