quinta-feira, 2 de abril de 2015

Como debater com um sofista




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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Neo-ateus e marxistas são naturalmente mais bem treinados para os debates, embora tenham os argumentos mais fracos em qualquer assunto discutido. Há anos Luciano Ayan, que rejeita o neo-ateísmo e o marxismo, vem escrevendo diariamente sobre como a direita política precisa se atualizar em termos de guerra política, principalmente a brasileira[1]. Embora o discurso dos esquerdistas na prática se demonstre um amontoado de sofismas dos mais artificialmente belos até os mais evidentemente ridículos, eles aprenderam a arte da retórica pela qual pensam poder ganhar qualquer debate mesmo sem ter a razão.


Os escárnios, a intimidação e o apelo à autoridade

Há pessoas que falam apenas de paz e amor e são praticamente imunes aos ataques. Quem, em sã consciência, vai atacar alguém que meramente diz que devemos amar ao próximo, ou que Deus é amor, ou que devemos buscar a paz? Essas são coisas que, ainda mais em uma sociedade cristã como a nossa, não incitam debate, apenas aplausos. Quem apenas fala o que é universalmente aceito, falando bem ou falando mal, terá uma blindagem automática aos ataques, a não ser que surja algum maluco que seja contra a paz e contra o amor.

Eu não estou dizendo que paz e amor não sejam importantes. O problema é que paz e amor são conceitos vagos, que podem ser facilmente usados pelo mal tanto quanto podem ser usados pelo bem. Um neo-ateu pode apelar ao “amor” para fundamentar seu neo-ateísmo contra o “vírus” da religião, assim como um comunista pode apelar a um mundo de “paz” enquanto massacra milhões que discordam dele. Paz e amor são coisas lindas, mas fraudáveis. É preciso ir mais além. É preciso ser específico. É preciso tocar na ferida.

O problema é que quando você toca na ferida é como se estivesse mexendo em uma colméia cheia de abelhas prontas para atacar o primeiro que ousa mexer ali. Pessoas que são doutrinadas de uma certa forma durante toda a vida não suportam ver alguém argumentando o contrário. Essas pessoas sentem algo dentro de si – que geralmente chamamos somente de ódio – que as incita a agredir, atacar e intimidar aquele que ousa discordar de suas crenças tradicionais. Isso, infelizmente, é válido tanto para o crente, quanto para o descrente.  É a isso que chamamos de intolerância.

Essa intolerância, que é fruto do ódio, leva por sua vez à perseguição, que é quando alguém é sistematicamente alvo de ataques por parte daqueles que se sentem ofendidos por verem suas convicções sendo desafiadas. Quanto mais e melhor você defende um ponto de vista contrário ao do intolerante (que geralmente se vê como a “vítima”), mais você atiça e desperta o monstro que há dentro dele. Pelo fato de eu fazer parte deste bando de loucos que gostam de mexer em algumas colméias, eu recebo diariamente críticas e elogios, picadas e aplausos, fúria e satisfação por parte dos leitores de meus seis blogs ou dos meus livros.

Ao abrir minha caixa de e-mails, a coisa mais comum e divertida do mundo é me deparar com uma mensagem de apoio, do tipo: “O seu site é ótimo, parabéns!”, seguida de uma outra mensagem de algum anônimo vociferando: “Como você ousa falar contra a minha igreja/fé/crença/ateísmo/visão-política/qualquer-outra-coisa? Você vai apodrecer no inferno, seu herege desgraçado!!!!!”. Ou coisas piores. Há alguns sites na internet, com os quais eu me divirto muito, que justificam sua existência para “provar que o Lucas Banzoli é um mentiroso sem-vergonha”.

Mas o que realmente interessa nisso tudo é que ninguém se preocupa em bater em cachorro morto. Ninguém perde tempo atacando alguém que não está realmente incomodando o lado contrário. Eu, por exemplo, só escrevi uma refutação a “Deus, um Delírio”, porque é o livro ateu mais famoso e conhecido do mundo, o que dispensa comentários. Mas eu nem daria importância se um Zé Mané que ninguém conhece escrevesse um livrinho de 50 páginas onde fala mal da religião de uma forma amadora e infantil. Ninguém perde tempo, desperdiça energia ou comenta sobre algo sem relevância.

Se você, leitor, está sendo alvo de perseguição ou da fúria dos intolerantes vitimizados, isso só significa uma coisa: que você está no caminho certo. Eu pensaria que algo está dando errado se ficasse uma semana inteira sem receber um ataque de fúria anônimo. Tentaria rever meus conceitos, melhorar meus textos, fazer alguma coisa diferente, porque se você não está despertando a fúria de alguém é porque você está fazendo tudo errado.

Eu acho que isso explica o porquê que Jesus dava tanta ênfase nos benefícios da perseguição, ao ponto de dizer que o Reino dos céus é daqueles que são perseguidos por causa do evangelho, ao passo em que ele afirma que é para temer quando todos estiverem somente falando bem de nós:

“Bem-aventurados serão vocês, quando os odiarem, expulsarem e insultarem, e eliminarem o nome de vocês, como sendo mau, por causa do Filho do homem. Regozijem-se nesse dia e saltem de alegria, porque grande é a recompensa de vocês no céu. Pois assim os antepassados deles trataram os profetas (...) Mas ai de vocês, quando todos falarem bem de vocês, pois assim os antepassados deles trataram os falsos profetas” (Lucas 6:22-23,26)

Na minha perspectiva, Jesus não estava exaltando a perseguição sofrida porque aquele que está sendo atacado é um coitadinho. Não. Ele está exaltando a perseguição sofrida porque ela é um indício, um sinal, uma evidência de que estamos pregando o evangelho da forma correta – aquela que sempre despertou o ódio dos inimigos de Deus, a fúria dos intolerantes, a indignação dos obstinados.

Em geral, o intimidador não escreve na esperança de refutar os seus argumentos. Ele sabe que não é capaz. Então o que ele faz é tentar intimidá-lo através de ameaças virtuais – que vão desde a ridicularização, passando pela coação pessoal e terminando com ameaças maiores – na esperança de deixá-lo acuado, na defensiva ou desmotivado, para ver se desta forma você para de escrever ou de dizer aquilo que é certo. Aquele que não tem argumentos para calá-lo tentará fazer isso por meio da intimidação. É como se ele estivesse raciocinando: “Se eu não posso contra ele, pelo menos posso tentar amedrontá-lo, e desta forma calá-lo”.

Foi exatamente isso o que Sambalate e Gesém fizeram contra Neemias, que estava reconstruindo os muros de Jerusalém. Eles detestavam os judeus, então tentavam convencê-lo a abandonar a construção do muro, não por causa de algum argumento razoável, mas por meio da intimidação:

“Sambalate e Gesém mandaram-me a seguinte mensagem: ‘Venha, vamos nos encontrar num dos povoados da planície de Ono’. Eles, contudo, estavam tramando fazer-me mal; por isso enviei-lhes mensageiros com esta resposta: ‘Estou executando um grande projeto e não posso descer. Por que parar a obra para ir encontrar-me com vocês?’ Eles me mandaram quatro vezes a mesma mensagem, e em todas elas dei-lhes a mesma resposta” (Neemias 6:2-4)

O que Neemias fez? Ele foi correndo até Sambalate e Gesém tomar satisfação com eles? Não. Ele simplesmente os ignorou, nem deu atenção. Isso é o melhor a se fazer com o intimidador: ignore-o completamente. Se você é administrador de algum blog, não perca o seu tempo se rebaixando a discutir com gente deste nível. Isso é tudo o que eles querem. Por muito tempo eu bati boca com gente assim – quanto tempo perdido e energia desperdiçada! Jesus disse para não jogar pérolas aos porcos (Mt.7:6). Não perca suas pérolas jogando-as aos porcos, a quem não merece sequer que a mensagem dele seja lida, quanto menos publicada ou comentada.

Faça como Neemias fez:

“Estavam todos tentando intimidar-nos, pensando: ‘Eles serão enfraquecidos e não concluirão a obra’. Eu, porém, orei: Agora, fortalece as minhas mãos!” (Neemias 6:9)

A intenção dos intimidadores era deixar Neemias enfraquecido com essas ameaças e intimidações, mas ele não se importou com eles. O que ele fez? Orou e continuou a obra. Ore e continue a agir, a pregar, a ensinar, a denunciar quando for preciso, a recriminar os erros quando for necessário, a defender o bem a todo o tempo, a expor a verdade sempre. Sabendo, é claro, que você só está sofrendo os ataques porque está defendendo com competência aquilo que pensa. Veja se aqueles que defendem a mesma coisa com menos vigor e competência são atacados com a mesma intensidade. É claro que não. Faça das intimidações uma fonte pessoal de motivação para continuar escrevendo mais e melhor.

Mas não é somente com os ataques em si que você deve se preocupar positivamente. Também é importante prestar atenção em como são estes ataques. Geralmente, em uma regra quase infalível, alguém que está fazendo um bom trabalho é atacado sem contra-argumentos. Quando o texto ou o discurso de alguém é realmente bom, o intolerante sente a necessidade de atacá-lo assim mesmo, mas sem argumentos – algo que ele teria caso o nível da sua argumentação estivesse fraco. Então o que sobra é a ridicularização, o deboche, o escárnio e as ofensas.

Por experiência pessoal, posso dizer que 99% dos comentários negativos que eu recebo não vêm com argumento nenhum. As pessoas já são desarmadas de início, de modo que precisam apelar ao plano B, àquilo que sobrou, que é, neste caso, usar todo o seu arsenal de zombaria e difamação. Alguns são mais experts neste assunto, enquanto outros são mais amadores. Os mais amadores são aqueles que não têm tática de escárnio melhor do que o puro xingamento, como “seu filho da...”. Estes estão no estágio mental de uma criança de nove anos, cuja estatura mental e criatividade realmente não passam disso. Ele ainda está no nível 1 das técnicas de escárnio, e não aprendeu nada ainda.

Mas há alguns mais experientes nas técnicas de escárnio, que na falta de argumentos despejam o ódio por verem suas crenças desafiadas de uma forma artificialmente mais convincente, passando realmente a ideia de que sabem algo, mesmo sem argumentar nada. É com estes que devemos prestar mais atenção e identificar ponto por ponto, desmascarando cada uma das técnicas utilizadas pelo charlatão. Citarei como exemplo uma carta divertidíssima que me foi enviada ontem por e-mail, com o seguinte conteúdo:

O farisaísmo impera nesse texto repleto de absurdos e ignorância , tanto histórica quanto escriba... Se quem escreveu fosse meu aluno de antropologia não estaria só reprovado como também eu teria colocado uma observação. ‘imaginação fértil e sem conhecimento fundamentado...’. Estude mais pq seus estudos ainda são muito limitados. Não vou nem perder meu tempo rebatendo seus textos com centenas de provas que está errado em tudo que escreveu porque realmente realmente não quero discutir com pessoas surdas a verdade. Essa realmente foi a pior tese que li atá hoje sobre essa passagem bíblica”

Eu juro por tudo o que é mais sagrado que esta carta começa e termina por aí mesmo, eu não tirei nem acrescentei nada ao conteúdo recebido. Uma carta sem nenhuma contra-argumentação, nenhuma tentativa, nada que seja nem minimamente relevante – mas perceba como quem a enviou é expert nas técnicas de escárnio, ao ponto de escrever oito linhas inteiras sem nenhum argumento para ser rebatido.

O texto em questão, contra o qual ele vocifera (e que não vem ao caso aqui, pois o assunto era totalmente diferente), é um estudo meu com 29 páginas sobre um único versículo bíblico, e que é reconhecido por muitos como o maior e melhor comentário sobre o texto em toda a internet, contra o qual até hoje não foi feita nenhuma refutação. Mas isso não vem ao caso, pois o que importa mesmo é a identificação de cada técnica empregada pelo indivíduo. Vamos por partes:

Parte 1: “O farisaísmo impera nesse texto repleto de absurdos e ignorância , tanto histórica quanto escriba”

A primeira técnica é a da rotulação. Fique atento com isso. O embusteiro que costuma empregar esta técnica geralmente age da seguinte maneira:

(a) pense em algo muito, muito ruim.
(b) rotule o adversário com este título.
(c) trate-o, dali em diante, da mesma forma que trataria alguém que realmente fosse isso.

Neste caso, o sofista usou o termo “farisaísmo”, que provém de fariseus, que nem existem mais, e jogou a bala para o oponente. Esta técnica é muito constantemente usada pelos marxistas, que com frequencia rotulam seus oponentes políticos de “fascistas”, “reacionários”, “coxinhas”, etc. Luciano Ayan apontou nada a menos que 17 caracterizações que certa professora comunista fez da manifestação pacífica que pediu o impeachment de Dilma Rousseff em novembro de 2014. Vejamos a forma educada, respeitosa, serena e desprovida de ódio com que ela descreve as famílias que ali estavam reunidas democraticamente[3]:

a) predadores neonazistas;
b) espancadores e assassinos de homossexuais e negros;
c) direita paulistana com ideais golpistas;
d) órfãos de Hitler;
e) nazista;
f) anti-semita [sic];
g) skinhead;
h) cultivadores do ódio como definição existencial;
i) lobos armados de socos ingleses, canivetes e nunchakus (arma usada por praticantes de artes marciais) que salivam diante da imprensa;
j) hienas excitadas, sempre em bando;
k) agressores de jornalistas;
l) facínoras tatuados com o número 88, ou exibindo a Cruz de Ferro com a suástica;
m) bandidos anti-comunistas como os assassinos do jornalista Vladimir Herzog;
n) fascistas;
o) turba;
p) rapazes que arrostam violência e arreganham os dentes;
q) gente que vai acabar matando alguém, com a cumplicidade do senador Aloysio Nunes e da Polícia Militar.

Perceberam?

Primeiro você desconstrói o oponente, atribuindo-lhe tudo aquilo que há de mal na história da humanidade. Depois de fazer uma lavagem cerebral para colocar na cabeça das pessoas que este oponente é um fascista, nazista, homofóbico, racista e tudo mais o que há de ruim no mundo, então complementa com meia-dúzia de argumentos rasos (ou nem isso), que a maioria do povo já vai ter sido conquistado pela simples rotulação. E o pior é que geralmente o agredido não desmascara as difamações que vem em forma de rótulos, se preocupando apenas em responder aos argumentos em si, que nem de longe foram o objetivo principal ou o foco do agressor. No meu caso, eu tive a sorte de ter sido chamado somente de “fariseu”.

Sempre que algum oponente usar um rótulo pejorativo contra você, primeiro desmascare o rótulo, exija que o agressor prove que você é exatamente aquilo que ele está dizendo pelo rótulo, e somente depois refute os argumentos dados por ele (se é que há algum). Se é um debate presencial, interrompa-o na hora e desmascare esta tentativa de embuste e de lavagem cerebral, que é feita com a única intenção de tomar o público para o lado dele.

Então o texto continua com a segunda técnica, a do apelo à autoridade:

Parte 2: “Se quem escreveu fosse meu aluno de antropologia não estaria só reprovado como também eu teria colocado uma observação. ‘imaginação fértil e sem conhecimento fundamentado...’”

É óbvio que há 99% de chances de que quem escreveu isso nunca tenha sido professor de coisa nenhuma, mas provavelmente um guri de 14 anos escrevendo durante o recreio, o que pode ser facilmente constatado pelo fato de ele terminar o texto dizendo um “atá hoje”, ou por ter colocado um ponto ao invés de dois pontos antes de iniciar a citação com letra minúscula(!), ou por repetir a palavra “realmente” três vezes nas últimas duas linhas, ou por ter esquecido a crase ao falar das pessoas “surdas a verdade”, ou por ter empregado apenas uma vírgula ao longo de todo o longo texto e ainda no lugar errado, separada com um espaço à esquerda e outro à direita, o que nenhum professor decente no mundo faria, mesmo levando em conta o péssimo nível educacional no Brasil.

Mas a questão não é essa. O principal aqui é o apelo à autoridade, que é uma falácia muito popular, e também uma das mais usadas. O sofista viu que simplesmente rotulando os outros de fariseu e ignorante não conseguiria dar peso ao seu argumento, pois são coisas que qualquer mané pode fazer. Então ele decide se passar por alguém importante, superior, altamente intelectual... que tal um “doutor em antropologia”? Desta forma, o agressor intimida o oponente, colocando ares de superioridade, olhando de cima para baixo, querendo impor respeito. Primeiro ele rotula o outro da pior maneira possível (seu fariseu!), depois ele rotula a si mesmo da melhor maneira (sou doutor em antropologia!).

Essa tática também é frequentemente usada por Dawkins, que quer sempre usar sua condição de cientista (essa sim verdadeira, diferentemente do autor da carta) no objetivo de impor respeito e validar seus argumentos como se também fossem “científicos”, ignorando o fato de que existem muitos cientistas tão bons quanto Dawkins, ou até melhores, que discordam de absolutamente tudo do seu livro – basta comparar a contribuição à ciência dada por Francis Collins com a contribuição à ciência dada por Dawkins, e depois ver se Collins concorda com algum argumento de Dawkins!

Sempre que o agressor usar o apelo à autoridade, desmascare-o citando, em primeiro lugar, que o que está em jogo não são pessoas, mas ideias. E que, seja lá que pessoa ele for, sempre haverá alguém melhor do que ele e que defende o lado contrário – obrigue-o a abrir mão do seu próprio argumento ao fazê-lo voltar contra ele, tal como em um bumerangue.

Então o sofista prossegue com a sua terceira técnica de escárnio:

Parte 3: “Estude mais pq seus estudos ainda são muito limitados. Não vou nem perder meu tempo rebatendo seus textos com centenas de provas que está errado em tudo que escreveu porque realmente realmente não quero discutir com pessoas surdas a verdade”

A terceira técnica, ainda na base da intimidação, é dizer que possui “centenas de provas” de que eu estou errado. O agressor sabe que não tem como refutar, sabe que não possui contra-argumentos, sabe que sua única arma é o ad hominem e o escárnio, mas para não ficar chato e fazer de conta que tem mesmo argumentos, mas só não estava a fim de usá-los, diz que tem “centenas” (risos) de provas, que misteriosamente foram todas omitidas. Isso lembra o episódio do Chaves, onde ele, sabendo que não tinha força para bater no Nhonho, diz que só não bateria porque havia mulheres presentes (referindo-se à Chiquinha). Então Chiquinha diz: “que não seja por isso, eu saio”. E Chaves responde: “você fica!”.

Todo bom sofista sabe que somente o escárnio não basta – é preciso também compensar a falta de argumentos com algo que pareça um argumento. Neste caso, a falta de uma única prova foi “compensada” por “centenas” de provas imaginárias que ele “não quis passar”. Sempre que algum oponente disser que tem “centenas” de provas de que você está errado, desmascare-o na hora, exigindo-lhe que cite pelo menos uma, e derrube-o sem dó nem piedade nesta “prova” citada por ele, que se presume que seja a melhor que ele tenha em mãos. Caso ele se recuse a dar uma única prova mesmo dizendo que tem centenas, estará demonstrando ao público que é um covarde e um grande charlatão.

E a técnica final é quando ele termina dizendo:

Parte 4: “Essa realmente foi a pior tese que li atá hoje sobre essa passagem bíblica”

Esta técnica não é nova, é somente a repetição das velhas táticas de escárnio já presentes em todo o restante do texto, chegando a ficar até cansativo. Você pode trucidá-lo sobre o uso do “atá hoje”, dizendo, por exemplo, que “esta foi a pior ortografia que já li até hoje”, ou pode simplesmente ter pena dele e deixá-lo ir em paz. Pensando bem, é melhor trucidá-lo.


O ad hominem

O ad hominem é o maior – senão o único – instrumento de massa de manobra utilizado pelos sofistas. Os ataques deles quase nunca vão vir em forma de argumentos, mas sim em formas de ataques pessoais. Essa técnica é muito utilizada pelos sofistas por ser aquela onde eles não precisam se preocupar em rebater argumentos, o que eles não são capazes de fazer mesmo. Basta se preocupar em espalhar mentiras, calúnias, ataques pessoais, factóides enormemente exagerados ou qualquer coisa de cunho privado – o que eles são profissionais em fazer – que já conquistarão a opinião pública, aumentando exorbitantemente a rejeição popular contra o indivíduo agredido. Eles são como leões esperando na espreita pelo momento certo em dar o bote. Eles estão esperando com expectativa pela primeira falha, pelo primeiro deslize, pelo primeiro pecado para lançá-lo na cova dos leões, como fizeram com Daniel:

“Diante disso, os supervisores e os sátrapas procuraram motivos para acusar Daniel em sua administração governamental, mas nada conseguiram. Não puderam achar falta alguma nele, pois ele era fiel; não era desonesto nem negligente. Finalmente esses homens disseram: ‘Jamais encontraremos algum motivo para acusar esse Daniel, a menos que seja algo relacionado com a lei do Deus dele’” (Daniel 6:4-5)

Eles são assim: como uma serpente, esperam em silêncio por qualquer distração do alvo. Quando o inimigo faz algum movimento em falso, era tudo o que ela esperava: dá o bote e captura a presa, que nada pode fazer. Um exemplo clássico foi o que ocorreu com Marco Feliciano por causa de duas mensagens de menos de 100 caracteres no Twitter. Durante mais de um ano ninguém falou disso, mas quando ele foi eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos (que antes era dominada pelos ultraesquerdistas) as cobras passaram a investigar todo o histórico do deputado procurando algum deslize. E encontraram: os dois twitters foram explorados ao máximo para torná-lo um monstro diante da opinião pública.

É claro que os twitters em questão foram realmente imprudentes, mas era exatamente isso o que os ultraesquerdistas estavam querendo encontrar para jogá-lo contra a opinião pública, ameaçando-o, intervindo nas reuniões da Comissão de maneira fascista e impedindo o prosseguimento da mesma, fazendo uso de todos os meios para coagi-lo a desistir da Comissão, o que ele não fez. O fato é que milhares de políticos já disseram coisas muito piores, mas os políticos que a esquerda quer derrubar são os únicos que são massacrados pela mídia por qualquer declaração errônea, exagerada ou mal interpretada que seja.

Ironicamente, esta tática não deu certo neste caso específico, pois Feliciano permaneceu como presidente da Comissão e ganhou o apoio massivo de milhões de pessoas que mais tarde o reelegeram à Câmara com o triplo de votos em relação à eleição anterior. Mas isso é exceção à regra, que em geral funciona. Funcionou quando o PT quis tornar Armínio Fraga (que seria o economista de Aécio, caso este ganhasse) o Darth Vader da economia, esquecendo que eles possuíam um telhado de vidro[4] que incluía os apoios de Sarney, Collor, Genuíno, Dirceu e toda a corja de boa gente, mas que não foram bem explorados pelo PSDB. O resultado foi que eles conseguiram tornar este grande economista em um terrível monstro da economia diante da opinião pública, e fizeram isso sem sair feridos e nem mesmo tocados, em função da inércia e apatia dos marqueteiros do PSDB. É claro que ganharam as eleições.

A razão para isso é simples: é muito mais fácil atacar a pessoa do economista do que aquilo que ele defende. É mais fácil manipular a opinião pública alegando que determinado jornalista é uma pessoa horrível e “inimigo do povo” do que refutar as publicações do jornalista. É mais fácil dizer que a Veja é “golpista” do que refutar as denúncias que ela faz. Destruindo a pessoa, você a mata politicamente, eliminando de antemão qualquer publicação dela, independentemente se os argumentos são bons ou ruins.

Assim como fizeram com Daniel, os sátrapas dos dias de hoje vivem investigando cuidadosamente cada ação nossa procurando encontrar um motivo de acusação e demonização, para lançar-nos à cova dos leões. O problema é que nós não somos “perfeitos” como Daniel. Temos falhas, e os sofistas se aproveitam destas falhas – as quais eles têm mais em demasia – para manipular a opinião pública, nem que seja preciso relacionar esta falha “com algo relacionado com o Deus dele”.

A diferença entre os sátrapas dos tempos antigos e os sátrapas dos dias de hoje é que os antigos não faziam falsas acusações. Eles procuravam falhas verdadeiras, mesmo que a falha em questão fosse Deus. Os sátrapas dos dias atuais, por outro lado, quando não encontram nenhuma falha inventam uma falha – alguma mentira, injúria, calúnia ou difamação.


A tática do Piu-piu

Há também uma técnica muito frequentemente utilizada, que merece um comentário à parte. Eu a apelidarei de a “tática do Piu-piu”, que estava sempre conseguindo fugir do Frajola. Esta técnica funciona da seguinte maneira:

(a) o oponente cita “x” contra você.
(b) você refuta “x” até “x” virar pó.
(c) então o oponente cita “y” e diz que não foi refutado.
(d) você refuta “y” até que “y” vire pó.
(e) então o oponente diz que não foi refutado, porque você não refutou “z”.
(f) e assim por diante, ad infinitum.

Apenas por questão de ilustração citarei uma experiência pessoal de um debate sobre a imortalidade da alma contra um tal pastor Elias, que se considera apologista no Facebook. O debate era simples: ele defende que a alma é imortal, eu defendo que a alma morre. Como todo e qualquer bom imortalista, ele começou fazendo uso da técnica da metralhadora giratória (a qual eu já tratei no capítulo 4 deste livro, e portanto não repetirei aqui), citando aquelas quase meia-dúzia de passagens isoladas que todo imortalista é fã de carteirinha, tentando ganhar um debate pela quantidade de textos bíblicos jogados na tela.

Essa tática é mais frequente do que parece, e é bem típica de pessoas que estão desesperadas. Se você costuma participar destes debates por internet, já deve até estar enjoado de tanto ver debatedores fracos, cuja única capacidade se limita a copiar e colar textos de outro, geralmente em quantidade enorme, para dificultar a refutação. É a velha e clássica técnica do control c + control v, quase sempre infalível, pois nunca tem como finalidade vencer debates, mas sim cansar o oponente até que ele perca a paciência de tanta desonestidade intelectual e vá embora – o que será usado pelo copiador sem personalidade como uma “prova” de que ele “ganhou” o debate, mesmo sem ter argumentado de fato nada, mas apenas se limitado a fazer um trabalho que qualquer criancinha de cinco anos é capaz de fazer.

Eu poderia fazer a mesma coisa se eu quisesse, e com muito mais propriedade, já que em meu livro sobre o tema eu cito literalmente milhares de textos bíblicos e elenco 206 provas bíblicas da mortalidade da alma (feitas por mim e não copiadas de outro), mas se eu fizesse isso ficaríamos em um debate sem fim, em um eterno confronto de versículos para um lado e versículos para o outro, em uma verdadeira guerra monumental de textos bíblicos. Embora eu já tenha jogado este jogo muitas vezes, hoje eu repudio totalmente esta forma de debate por ser completamente infrutífera e inconclusiva, fazendo passar a impressão de que a única razão pela qual estamos certos é porque temos mais versículos, causando o risco até de dar a impressão de que eles também têm alguma base para a doutrina deles, ainda que menor que a nossa.

Não, eu não queria e nem quero um debate desses, que era exatamente o que ele queria. No lugar disso, lhe pedi respeitosamente que selecionasse uma única passagem dentre aquelas citadas por ele, e que debatêssemos em cima dela até concluir o debate sobre o verso em questão. Ele inicialmente topou. Se eu me lembro bem, ele escolheu a passagem onde Moisés aparece no monte da transfiguração. Em tudo que ele centrava era completamente refutado, ficando sem contra-argumentos. Mas quando ele percebia que era derrotado em um texto, ao invés de admitir a derrota preferia correr para as outras passagens e apelar para elas.

Então eu deixava o texto a de lado e ia para o texto b. Ele era derrotado no texto b também, mas ao invés de admitir isso preferia manter a pose e apelava para o texto c. Então lá ia eu para o texto c, e quando eu menos percebia ele já havia se esquecido do texto c e estava correndo para o texto d. E para piorar as coisas, quando não tinha mais texto nenhum voltava lá para o texto a de novo, em um círculo vicioso que tinha como única finalidade cansar o adversário para cantar vitória no final. E isso não é o pior: o pior era que ele achava que estava se saindo bem, e que estava acabando com “todos os hereges” por causa do texto e (até que fosse refutado no e também, e tudo começasse outra vez).

Todos que acompanhavam o debate percebiam as fraudes intelectuais do tal apologista, só ele que não. E o pior é que ele não era um ninguém, era alguém que de vez em quando aparece na televisão e tem toda a pinta de “o grande apologista do Facebook”. Assim como o nosso amigo pastor Elias, muitos neo-ateus apelam para a tática do Piu-piu, correndo do Frajola a cada vez que percebe que foi derrubado em um tema. Os ateus estão em uma posição muito confortável para isso, pois não defendem nada. Quem defende algo são os cristãos – como a Bíblia, a existência de Deus, a existência de moralidade objetiva e de verdade absoluta, etc.

É lógico que aquele que defende algo vai ter naturalmente muito mais dificuldade para sustentar seu ponto de vista do que aquele que não defende nada, e isso por uma razão bem simples: ele tem mais coisas para responder. E é muitíssimo mais simples e mais fácil encher um cara de perguntas do que respondê-las. Qualquer um, desde uma criancinha de cinco anos, pode fazer a pergunta: “por que o mal existe?” (ou os seus equivalentes, como “por que Deus tolera o mal?”), mas para responder satisfatoriamente a esta questão é preciso muitíssimo mais tempo e sabedoria do que o necessário para fazer a pergunta. Muitos já fizeram isso de forma satisfatória, mas tiveram que escrever livros inteiros voltados a esta questão.

Desconstruir é sempre mais fácil e rápido do que construir. Você demora horas para construir um castelinho na areia da praia, mas um vândalo só precisa de um chute para destruí-lo. Da mesma forma, é rápido e fácil um ateu acusar um cristão sobre os povos não-alcançados, sobre as mais diversas questões polêmicas da Bíblia, sobre aqueles típicos dilemas ao estilo: “por que Deus fez isso e não aquilo?” e coisas semelhantes, mas responder de forma convincente a todas estas questões exige muito tempo, muito trabalho, muito estudo, muito equilíbrio e muita sabedoria – coisas que são desnecessárias para qualquer um que faça as perguntas.

Em um debate, geralmente o espaço e o tempo dado ao ateu é o mesmo tempo dado ao cristão, e o ateu tem a chance de se destacar ao simplesmente fazer uso da tática da metralhadora giratória e jogar mil questões difíceis nas costas de um cristão, que mesmo que tenha todas as respostas para todas as perguntas possivelmente não terá o tempo e o espaço suficiente para expô-las todas, uma a uma. Desta forma, sempre quando há um debate entre um cristão e um ateu com um tema específico e o ateu se vê refutado neste ponto, a saída é extremamente simples: fuja do tema e fale sobre todas as questões mais difíceis (e demoradas) para o cristão responder. Em termos mais simples: cozinhe o tempo.

Isso geralmente dá certo, infelizmente, mas pela única razão de que o público em geral é profundamente ignorante das premissas mais elementares da lógica e não consegue discernir quando um cara está nitidamente fugindo do tema. Basta que esse cara desesperado fale bonito, mantenha a pose de bom garoto e ataque como um boi selvagem a fé cristã com todos aqueles velhos argumentos que a gente já conhece muito bem (mas que fale de forma bem eloquente, para impressionar mais), que o público vai sair dali pensando que o indivíduo “deu um show” no debate.

Aquele que é com toda a certeza o exemplo mais claro disso foi o vergonhoso debate entre Craig e Harris[5]. Digo vergonhoso pelo lado ateísta, pessimamente representado por Sam Harris, que fugiu quinhentas vezes do assunto ao máximo que lhe foi possível, mais do que o Piu-piu corre do Frajola ou o diabo corre da cruz. O debate era para ser sobre se Deus é a melhor explicação para os valores morais objetivos. Harris se manteve nesta linha em sua primeira fala, até ser esmiuçado por Craig em seguida. Restou-lhe então mudar completamente o seu discurso inicial nas falas seguintes, falando sobre o Deus malvadão do Antigo Testamento[6], sobre os povos não-alcançados, sobre o inferno, sobre o mal, sobre o sofrimento, etc. Ridículo.

Não adiantou nada Craig mostrar à plateia que todo o discurso de Harris não passava de uma cortina de fumaça – uma distração feita para desviar os olhares do público do foco principal do debate. Os neo-ateus fazem isso em qualquer debate, sobre qualquer coisa. Basta encher o cristão com as perguntas mais difíceis da vida e sair cantando vitória. Esta tática, assim como todas as outras que já abordamos, não tem efeito nenhum nas pessoas inteligentes e mais instruídas, mas conseguem alcançar um alto status entre aqueles que estão vendo um debate fora dos padrões de guerra política.

É um grande erro ver os neo-ateus como apenas honestamente enganados. Talvez este seja o único erro de Craig, que os trata bem até demais, com um cavalheirismo indevido. Neo-ateus fanáticos, como Dawkins, Dennett, Harris e o falecido Hitchens não são pessoas honestamente enganadas, são de fato mal intencionadas, com uma específica missão na Terra de destruir a religião (e, obviamente, os religiosos) no mundo, e para isso espalham o mesmo discurso de ódio pregado pelos maiores genocidas do século passado, que assassinaram centenas de milhões de cristãos em poucas décadas.

Tratá-los com cavalheirismo, como se fossem bem intencionados, é um retrato infiel da realidade. Tais fanáticos não têm que ser apenas refutados, tem que ser desmascarados, juntamente com todo o seu arsenal de técnicas e truques provenientes do que há de pior em questão de falácia. Não dê espaços para os seus truques. Não os deixe fugir como um Piu-piu. Garanta que o seu adversário não vá querer debater com você novamente[7].


Numa guerra, o agressor geralmente vence

Aprendi lendo os artigos do Luciano Ayan que na guerra política o agressor geralmente vence, mas só fui me convencer definitivamente disso após ver a campanha petista para a presidência da República, em 2014. Aquilo ali foi uma baixaria total, pior do que Casos de Família ou o Programa do Ratinho. O PT jogou mais baixo e sujo do que nunca e apelou para todas as táticas mais desleais e desprezíveis que um típico socialista já está habituado a fazer. O que já era previsível, já que a presidenta [sic] guerrilheira já havia antecipado que seu partido faria o diabo para ganhar as eleições[8].

O nível da campanha foi para a lama, mentiras grotescas e ataques pessoais aos candidatos adversários foram feitos em medidas descomunais, Aécio Neves foi acusado levianamente de agredir sua mulher, de cheirar cocaína, de não pagar os professores, de cortar o Bolsa Família e outros programas sociais do governo caso fosse eleito (terrorismo psicológico, já que o candidato disse um milhão de vezes que não faria isso), além de todo o arsenal de mentira, calúnia, injúria e difamação que nunca antes foi visto na história deste país, para usar uma frase bem familiar a certo ex-presidente de nove dedos.

Resultado: o PT ganhou as eleições.

O principal responsável pelo fracasso da campanha de Aécio, que até chegou a ultrapassar Dilma nas pesquisas de indicação de voto próximo à data da votação, foi seu horário político repleto de musiquinhas e amiguinhos felizes, enquanto o PT jogava a bomba do outro lado e não descansava enquanto não destruísse a imagem do candidato e o retratasse como um monstro – a mesma coisa que Dawkins e demais neo-ateus fazem com o Deus judaico-cristão. Luciano Ayan fez uma sátira muito inteligente de como isso seria na era do nazismo, onde temos um partido defendendo que os judeus sejam respeitados, lutando contra o partido de Hitler, que quer o preconceito contra os judeus[9]:

X: Hitler está usando discursos cada vez mais fortes, usando divisionismo, apelando ao coração e atacando o tempo todo. Precisamos fazer algo contra isso!

Y: Nós vamos usar musiquinha!

X: Musiquinha? A cada programa de rádio, o Hitler redobra a intensidade, usando a técnica do “shock and awe”, e aumenta nossa rejeição.

Y: Para cada ataque, faremos uma proposta!

X: Mas e os ataques que ele não pára de fazer?

Y: No fim a verdade prevalecerá!

X: Isso é um absurdo! Ele definiu a estratégia de aumentar nossa rejeição, o que vai ajudá-los. A nossa imagem está piorando.

Y: Nós vamos usar musiquinha!

O PSDB, infelizmente, não percebeu que política é guerra, ou, quando percebeu, já era tarde demais. O estrago já estava feito. Infelizmente, embora a verdade e os argumentos estejam do nosso lado, os maiores estrategistas estão do lado de lá. Em geral, quanto mais para esquerda um partido está, mais lança mão de todas as técnicas desleais e se aproveita da guerra política para lutar e vencer. Se o PSDB, um partido de centro-esquerda, já está tão adormecido para a guerra, quanto mais a direita, que ainda precisa aprender muito.

A grande maioria dos adeptos da direita são cristãos e conservadores, e talvez isso tenha alguma ligação com o fato de a direita em geral ser tão passiva quando o assunto é guerra política. Isso deve ocorrer porque os cristãos estão tão acostumados a serem tolerantes que às vezes acabam sendo tolerantes até demais, em um nível que chega à passividade e à ingenuidade, que é o extremo oposto, mas tão errôneo quanto, o extremo da intolerância. Jesus ensinou muito sobre ser leal, justo, santo, íntegro, humilde, honesto e todos os adjetivos relacionados a isso, mas também ensinou um mandamento que passa despercebido por quase todos os cristãos nos dias de hoje: a astúcia.

Jesus não apenas disse para sermos astutos, mas para sermos astutos como a serpente, que é o animal que sempre simbolizou na Bíblia o mal:

“Eu os estou enviando como ovelhas entre lobos. Portanto, sejam astutos como as serpentes e sem malícia como as pombas” (Mateus 10:16)

Têm muito cristão como as pombas, mas poucos como as serpentes. Jesus não estava ensinando a fazer o mal, nem eu estou dizendo que o PSDB deveria ter atacado a Dilma com toda a sorte de calúnias e difamações. Ser astuto não é a mesma coisa que ser desonesto. O que Jesus estava dizendo ali é para os cristãos serem astutos da mesma forma que as “serpentes” (e vocês sabem do que eu estou falando) são astutas. A diferença é que eles são astutos desonestamente, enquanto nós devemos ser astutos honestamente. A Igreja moderna, contudo, não é astuta nem de um jeito nem do outro – é simplesmente ingênua.

Nós não precisamos, como eles precisam, mentir e caluniar para jogar a guerra política. Como nós estamos do lado da verdade, basta mostrar a verdade. Eles precisam mentir porque defendem uma mentira e vivem da mentira. Nós podemos ser muito mais efetivos se simplesmente desmascarássemos as mentiras deles e lutássemos mais e melhor pela verdade, expondo-a ao mundo. Nós não precisamos roubar os nomes deles para jogar pro nosso lado (como eles fazem com Martin Luther King e Abraham Lincoln), basta usarmos os nossos. Eles, como vivem da mentira, precisam não apenas roubar os melhores nomes do nosso lado, mas transformar monstros assassinos (como Che Guevara e Fidel Castro) em heróis nacionais e verdadeiros mártires.

É por isso que dois bandidos como Dirceu e Genoíno, condenados pela Justiça em todas as instâncias e presos na Papuda, são considerados por eles como “guerreiros do povo brasileiro”. O que tem do lado deles é tão desprezível que eles precisam transformar a imagem de ladrões e assassinos para que sejam heróis e guerreiros. Eles precisam mentir para ligar o fascismo à direita, enquanto nós apenas precisamos mostrar a História, que mostra que todos os grandes líderes revolucionários ateístas do século passado foram genocidas canalhas e covardes.

Eles precisam fazer mágica para transformar Hitler num cristão de direita, quando nós precisamos apenas mostrar a História que diz que o partido de Adolf Hitler se chamava Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, vulgarmente conhecido como “Partido Nazista”. Nós não precisamos esconder nada nem mentir – basta mostrar a verdade, da forma que a verdade é. Eles precisam mentir sobre nós para inventar os maiores horrores; nós precisamos apenas estudar a história e contá-la. Eles triunfam pela mentira, nós triunfamos pela Verdade. Essa é a diferença.

Por isso, quando estiver em um debate, jogue para frente, para o ataque. Não fique somente se defendendo. Este é um problema grave da apologética moderna: ela se preocupa muito em se defender dos ataques neo-ateístas, mas faz pouco em contra-atacar. Ela age como se o objetivo fosse mostrar que a religião não é tão má assim, ao invés de colocar na mesa as cartas do jogo e jogar na cara deles quem eles realmente são, e o que eles realmente fizeram. Quando um quer provar que algo é ruim, enquanto o outro quer provar que não é tão ruim, o agressor sempre vence.

A apologética, muitas vezes, se preocupa em mostrar que a lei do Antigo Testamento não era tão má assim, ao invés de mostrar o quão gigantescamente ela estava à frente de sua época em termos morais. A apologética, muitas vezes, se preocupa somente em amenizar a escravidão presente no Antigo Testamento, ao invés de mostrar que o Novo Testamento foi o primeiro livro da história a rejeitar totalmente qualquer forma de escravidão, e que foram os cristãos que lutaram pela abolição da escravidão enquanto os humanistas seculares a apoiavam com todas as forças.

A apologética moderna falha em não jogar na cara deles que eles nada fizeram na luta contra o racismo, e que todos os grandes ícones na luta pela igualdade racial foram do nosso lado. A apologética moderna falha também em somente mostrar que a Bíblia não é machista, ao invés de demonstrar com ampla quantidade de argumentos que a Bíblia foi o primeiro livro na história da humanidade que deu valor e direitos às mulheres em igualdade com os homens, e que se não fosse pelo Cristianismo a vida delas seria terrível, assim como é nos países onde a ideologia cristã ainda não chegou ou não teve influência.

A apologética moderna falha em não mostrar que foi a fé cristã que lutou pela defesa do velho e da criança, da mulher e do escravo, do pobre e do negro. Sem Cristianismo, não haveria humanidade no sentido moral da palavra, não haveria liberdade, não haveria igualdade, não haveria dignidade. Deixassem o mundo somente com os humanistas ateus como Marx e Engels, e estaríamos vivenciando a escravidão até hoje. Falta à apologética moderna o contra-ataque, a astúcia, a guerra política. Porque, “se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm.8:31).

Por Cristo e por Seu Reino,

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


        





[1] Ele escreve diariamente em seu excelente site “Ceticismo Político”, disponível em: http://lucianoayan.com
[2] O site original dele foi deletado, mas parte foi restaurada anos depois, de modo que o índice das 66 técnicas neo-ateístas refutados são apenas alguns dentre os vários artigos presentes no site original. O que foi recuperado do site pode ser acessado aqui: http://projetoquebrandooencantodoneoateismo.wordpress.com/tecnicas-neo-ateistas/
[6] Já falamos sobre ele no capítulo 8 deste livro (para quem ainda não leu e preferiu pular até esta parte do livro).
[7] Lucas, você não está sendo muito severo? Não. Jesus chamou os fariseus de “raça de víboras” (Mt.23:33), de “sepulcros caiados” (Mt.23:27), de “serpentes” (Mt.23:33) e de “filhos do diabo” (Jo.8:44). Paulo amaldiçoou os anti-cristãos (não os não-cristãos) em 1Co.16:22, chamou Elimas de “filho do diabo” (At.13:10), repreendeu Pedro na face por sua atitude condenável (Gl.2:11), instruiu Tito a repreender severamente os hereges (Tt.1:13) e disse que gostaria que estes que perturbam as pessoas de bem se castrassem (Gl.5:12). Pedro os chamou de “malditos” (2Pe.2:14) e ordenou que um malandro chamado Ananias perecesse (At.8:20), e ele morreu mesmo. E são estas mesmas pessoas que falam na Bíblia sobre mansidão, humildade e respeito, porque há uma diferença enorme entre ser manso e ser ingênuo. Jesus era “manso de coração” (Mt.11:29), mas ele expulsou à chibatadas os ladrões no templo quando foi necessário (Mt.21:12). Não é preciso deixar a humildade de lado para desmascarar alguém. Ninguém deixa de ser humilde por desmascarar alguém que tem que ser desmascarado, assim como ninguém cumprimentaria Hitler ou o trataria “respeitosamente” se ele vivesse nos dias de hoje, e nem por isso quem se recusasse a cumprimentá-lo seria menos humilde. Jesus disse para sermos puros como as pombas, mas também disse para sermos “astutos como as serpentes” (Mt.10:16). A repreensão com firmeza sempre fez e sempre vai fazer parte do Cristianismo evangélico, pois há pessoas que precisam dela, depois de admoestadas uma e duas vezes (Tt.3:10).

6 comentários:

  1. Olá. Lucas, já debati muito na internet, e tudo acontece realmente do jeito que você falou, primeiro o oponente usou ad hominem, depois a técnica do piu piu, e como você falou parece que ele nem percebia que fazia isso, então o acusei de Sofista e desisti do debate! O último que participei o tema era sobre a baixa probabilidade para a existência de vida no Universo, indicando o arranjo de Deus para essa ocorrência! Eu sou Cristão, o oponente é ateu, usou primeiro o argumento da Loteria com todos os jogos pagos! Eu quebrei esse argumento! aí passou pras sandices de Dawkins, foi derrubado, aí passou pra Teoria do multiverso, e assim por diante, foi buscar posts no meu blog sobre et´s e demônios pra me passar como um fanático, enfim desisti, o qualifiquei como Sofista e ele saiu de vitorioso! Comecei um trabalho anti-ateísmo há poucos meses, se puderes dá uma visitinha lá: http://exateus.com. Gostaria de saber também se posso publicar alguns posts seus, claro citando as referências! abraços!

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    1. Olá, José Domingos, me desculpe pela demora em respondê-lo, só agora li seu comentário. Fique a vontade para publicar meus posts, quanto mais somarmos para o avanço do Reino, melhor será. Deus lhe abençoe!

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  2. Obrigado Lucas, que Deus Lhe abençoe! Vai nessa força!

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  3. Os catolicos TRIDENTINOS se encaixam direitinho nessas caracteristicas, eu já vir TRIDENTINOS serem refutados e aí começarem a apelar, começam a dizer: você é um ladrão da universal, da batista, assembleia etc.
    Então quando não tem argumentos querem desmoralizar a pessoa, os catolicos[ da especie TRIDENTINA] quando não refutam o texto da pessoa vem e dizem: seu texto é um lixo, uma merda, ou seja eles querem desprestigiar o artigo sem refutar nada, e é nessa hora que você tem que entrar em ação e pedir provas que mostrem que o texto é uma porcaria, entao o sofista irá ser desmascarado em um segundo.

    Outra tatica é a da intimidação para vencer o debate, o sujeito entra em um debate e por nao conseguir refutar nada do que é dito, ele começa a xingar, berrar, miar, blasfemar, um verdadeiro chorôro, entao o oponente por não querer desagradar ao SENHOR desiste do debate, e aí vem o sujeito dizendo que ganhou e que botou uma serpente, filha da cobra para fugir. OBS[ isso ocorre mais da parte de TRIDENTINOS].

    E ainda tem a tatica da insistencia, ou seja, o sujeito é refutado e por só ter aquelas poucas passagens, o sujeito repete e repete e repete a mesma argumentação RIDICULA e REFUTADA pelo oponente para tentar CANSA-LO.

    Todas essas taticas é utilizada por varios zumbis TRIDENTINOS na net, e olhe que tem muito mais tecnicas usadas por esse "" APOLOGISTAS"" de que quinta categoria.

    É pra encerrar esse comentário, lucas, o apologista citado é o Elias soares de moraes ?

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