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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus
é um Delírio?"
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Dawkins tem uma obsessão
doentia que beira a patologia em insistir colocar Deus contra a ciência, a fé
contra a razão, o intelecto contra a religião. No mundo dawkiniano (que só
existe na cabeça de Dawkins), a religião e a ciência estão há milênios travando
um duelo de vida ou morte, onde só um sobrevive. Os “fortes” estão no lado
ateu, enquanto os “fracos” estão no lado teísta. Estereótipos como esses
ocorrem tão frequentemente em The God
Delusion que é virtualmente impossível achar uma página de seu livro que
não contenha este delírio.
É claro que essa visão
mesquinha e superficial da fé e da ciência é refutada pelos próprios cientistas
– e também pelos ateus mais sérios. A começar pelo fato de que a maioria dos
grandes cientistas que já existiram cria em Deus (dos quais a maior parte é
cristã). Isso é obviamente ignorado por Dawkins e mais tarde minimizado por
ele. Uma lista mais completa de cientistas que creram em Deus esgotaria os
limites de escopo deste livro, mas podemos citar os mais conhecidos, como, por
exemplo:
• Roger Bacon (1214 –
1294)
• Leonardo da Vinci (1452
– 1519)
• Nicolau Copérnico (1473
– 1543)
• Galileu Galilei
(1564-1642)
• Johannes Kepler (1571 –
1630)
• René Descartes (1596-1650)
• Blaise Pascal (1623 – 1662)
• Robert Boyle (1627 – 1691)
• Thomas Burnet (1635 – 1715)
• Nicolaus Steno (1638 – 1686)
• Isaac Newton (1642 – 1727)
• Gottfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716)
• John Flamsteed (1646 – 1719)
• John Woodward (1665 – 1728)
• William Whiston (1667 – 1752)
• Stephen Hales (1677 – 1761)
• John Bartram (1699 – 1777)
• Jonathan Edwards (1703 – 1758)
• Carolus Linneaus (1707 – 1781)
• Leonhard Euler (1707 – 1783)
• William Herschel (1738 – 1822)
• Alessandro Volta (1745 – 1827)
• John Dalton (1766 – 1844)
• Georges Cuvier (1769 – 1832)
• Charles Bell (1774 – 1842)
• Johann Carl Friedrich Gauss (1777 – 1855)
• David Brewster (1781 – 1868)
• William Buckland (1784 – 1856)
• Michael Faraday (1791 – 1867)
• Charles Babbage (1791 – 1871)
• Samuel Morse (1791 – 1872)
• John Herschel (1792 – 1871)
• Karl Ernst von Baer (1792 – 1876)
• Edward Hitchcock (1793 – 1864)
• Joseph Henry (1797 – 1878)
• Hugh Miller (1802 – 1856)
• Justus von Liebig (1803 – 1873)
• Richard Owen (1804 – 1892)
• Matthew Maury (1806 – 1873)
• Louis Agassiz (1807 – 1873)
• Philip Gosse (1810 – 1888)
• Asa Gray (1810 – 1888)
• James Simpson (1811 – 1870)
• James Dana (1813 – 1895)
• James Joule (1818 – 1889)
• Charles Smyth (1819 – 1900)
• George Stokes (1819 – 1903)
• John William Dawson (1820 – 1899)
• Gregor Mendel (1822 – 1844)
• Luis Pasteur (1822 – 1895)
• Alfred Russel Wallace (1823 – 1913)
• William Thompson (1824 – 1907)
• Bernhard Riemann (1826 – 1866)
• Joseph Lister (1827 – 1912)
• Henri Faber (1829 – 1915)
• James Clark Maxwell (1831 – 1879)
• Virchow (1832 – 1902)
• John Bell Pettigrow (1834 – 1908)
• John William Strutt (1842 – 1919)
• MacAlister (1844 – 1919)
• A. H. Sayce (1845 – 1933)
• George Romanes (1846 – 1894)
• John Ambrose Fleming (1849 – 1945)
• Charles Doolittle Walcott (1850 – 1927)
• Edward Maunder (1851 – 1920)
• William Mitchell Ramsay (1851 – 1939)
• William Ramsay (1852 – 1916)
• Howard Kelly (1858 – 1943)
• Max Karl Ernst Ludwig Planck (1858 – 1947)
• Roberto Landell de Moura (1861 – 1928)
• George Washington Carver (1864 – 1943)
• Douglas Dewar (1875 – 1957)
• Paul Lemoise (1878 – 1940)
• Albert Einstein (1879 – 1955)
• Pierre Teilhard de Chardin (1881 – 1955)
• Charles Stine (1882 – 1954)
• Arthur Holly Compton (1882 – 1962)
• Erwin Schrödinger (1887 – 1961)
• Georges Lemaître (1894 – 1966)
• Charles Hartshorne (1897 – 2000)
• Theodosius Dobzhansky (1900 – 1975)
• Werner Heisenberg (1901 – 1976)
• Paul Adrien Maurice Dirac (1902 – 1984)
• Walter Heinrich Heitler (1904 – 1981)
• Nevill Francis Mott (1905 – 1996)
• Carlos Chagas Filho
(1910 – 2000)
• Werhner Von Braun (1912
– 1977)
• Max Jammer (1915 – 2010)
• Charles Hard Townes (1915 - ?)
• Arthur Schawlow (1921 – 1999)
• Freeman Dyson (1923 - ?)
• Antony Hewish (1924 - ?)
• Robert Jastrow (1925 – 2008)
• Frank B. Salisbury (1926 - ?)
• Jérôme Lejeune (1926 – 1994)
• Marshall Nirenberg (1927 – 2010)
• Owen Gingerich (1930 - ?)
• John Polkinghorne (1930 - ?)
• Roger Penrose (1931 - ?)
• Russell Stannard (1931 - ?)
• Arno Allan Penzias (1933 - ?)
• R. J. Berry (1934 - ?)
• Yuan Lee (1936 - ?)
• Walter Brown (1937 - ?)
• George Ellis (1939 - ?)
• Richard Smalley (1943 - 2005)
• Klaus von Klitzing (1943 - ?)
• Paul Charles William Davies (1946 - ?)
• William Daniel Phillips (1948 - ?)
• Kenneth Miller (1948 - ?)
• Francis Collins (1950 - ?)
• Michael Behe (1952 - ?)
• John David Barrow (1952 - ?)
• Alister McGrath (1953 - ?)
• William Dembski (1960 -
?)
Este é somente um resumo
de alguns dos mais renomados cientistas que já existiram e que ajudaram a
ciência a chegar onde chegou. Alguns dos cientistas supracitados não apenas
criam em Deus, mas também eram extremamente religosos, como é o caso de Isaac
Newton, que escreveu tantos livros de teologia quanto escreveu de física. Ele
passou a vida toda estudando a Bíblia e até fez previsões da volta de Jesus!
Leve também em
consideração que eu estou ignorando sumariamente os diversos outros
intelectuais teístas de outros ramos (como a filosofia) e ficando apenas com os
cientistas, como Dawkins prefere, como se a opinião dos não-cientistas não
tivesse valor. Se incluíssemos os filósofos, a lista contaria com Platão,
Sócrates, Aristóteles, Hipócrates, Pitágoras, Agostinho, Tomás de Aquino,
Anselmo, Voltaire, Locke, Kant, Lewis, Flew, Craig, Geisler, Plantinga...
melhor para o pobre Dawkins que fiquemos somente com os cientistas. A evidência
sugere que a ciência e a fé podem tranquilamente caminhar lado a lado, de forma
pacífica e amistosa.
Em uma tentativa desprezível
de minimizar e depreciar o peso dos cientistas mais famosos dos séculos
anteriores que declaradamente criam na existência de Deus, Dawkins apela ao
argumento de que na época quase todos criam em algum tipo de divindade, mas ele
mesmo entra em contradição em seguida ao afirmar que já naqueles tempos
existiam ateus. David Hume (1711-1776) e Friedrich Nietzsche (1844-1900) foram
os exemplos mais notáveis, embora possamos ainda citar Marx (1818-1883), Freud
(1856-1939), Maquiavel (1469-1527), Espinoza (1632-1677) e tantas outras
figuras famosas. O teísmo nunca foi unanimidade.
Se a lógica de Dawkins
estivesse correta, deveríamos esperar que os mais proeminentes nomes da
ciência, os pais das grandes invenções, os cientistas que marcaram antigo
milênio e que construíram a civilização moderna fizessem parte da minoria
“intelectual” de ateus, e não da maioria teísta. Mais do que isso, deveríamos
esperar que homens como Einstein, Pascal, Pasteur, Copérnico, Kepler,
Descartes, Newton, Faraday, Da Vinci e Collins estivessem “delirando” por
crerem em Deus, e que eram totalmente propícios a acreditarem também em fadas e
em bules voadores – duas analogias ridículas constantemente presentes em The God Delusion.
Infelizmente, Dawkins quer
falar em nome da comunidade científica ao dizer que “a ciência refutou Deus”,
ou que a ciência conduz ao ateísmo. Isso só pode ser orgulho ou insanidade. O
fato de Dawkins ser cientista não o qualifica a falar em nome da ciência, da
mesma forma que um cientista cristão não poderia dizer que “a ciência prova que
Deus existe”, o que também seria errado. A enorme quantidade de cientistas
teístas e ateístas, cristãos e não-cristãos, deve ser suficiente para provar
que o estudo científico é imparcial e neutro, ele não se envolve com a questão
da existência ou inexistência de Deus.
Stephen Jay Gould, um
biólogo ateu que era um dos cientistas mais renomados do mundo, afirmava
constantemente que a ciência era totalmente compatível tanto com o teísmo
quanto com o ateísmo. Ele até chegou a dizer que “ou metade de meus
colegas é absurdamente estúpida, ou então a ciência darwinista é totalmente
compatível com as crenças religiosas convencionais, e, assim também,
compatíveis com o ateísmo”[1].
Richard Feynman, um dos mais notáveis físicos do século passado e um
dos pioneiros da eletrodinâmica quântica, ganhador do Nobel de Física em 1965,
era outro cientista ateu que não via qualquer incompatibilidade entre a ciência
e a fé em Deus. Em uma famosa palestra que ele deu no ano de 1956, ele
discorreu sobre uma situação hipotética onde um jovem religioso começa a
estudar ciência e então começa a perder a fé. A pergunta principal dele é: “Por
que isto acontece?”. Então ele refuta a ideia de que isto ocorra por uma
suposta incompatibilidade entre a fé e a ciência:
“Esse jovem [do exemplo hipotético] realmente não
entende a ciência corretamente. Não creio que a ciência possa desmentir a
existência de Deus. Acho que isso é impossível. E, se é impossível, a crença na
ciência e em Deus – um Deus comum, das religiões – não seria uma possibilidade
consistente? Sim, é consistente. Apesar de eu ter dito que mais da metade dos
cientistas não crê em Deus, muitos outros cientistas creem tanto na ciência
quanto em Deus de uma forma perfeitamente consistente”[2]
Francis Collins, o diretor do Projeto Genoma Humano e o principal
responsável pelo feito mais espetacular da ciência moderna (o mapeamento do DNA
humano), explicou o porquê que não se pode provar a existência ou inexistência
de Deus por meio da ciência, dizendo:
“O erro de Dawkins é pensar que a única coisa que
deve ser aceita é o que pode ser provado cientificamente, como um critério para
qualquer tomada de decisão. Mas, se Deus existe, ele está fora da natureza, e a ciência é a nossa forma de investigar a
natureza. Portanto, ela não nos ajuda nesta questão”[3]
O ponto em que Dawkins falha e que coloca por terra toda a sua
argumentação neste capítulo é a sua crença no cientificismo, que aceita apenas aquilo que é empiricamente
verificável cientificamente como fonte de explicação de tudo o que existe.
Grande parte dos cientistas rejeita o cientificismo, mas mesmo que ele fosse
verdadeiro ele não teria nada a dizer sobre a existência ou não de algo que
está fora da natureza do Universo, já
que a ciência investiga apenas a natureza. Não há, portanto, sequer condições
de dizer que a ciência apoia ou refuta Deus.
O que Dawkins quer empurrar através de sua negação ao MNI defendido
por Stephen Jay Gould, Francis Collins e grande parte dos
cientistas contemporâneos é basicamente que:
1º O cientificismo é
verdadeiro.
2º O cientificismo afirma que
tudo o que há na natureza deve ser provado cientificamente.
3º Deus está na natureza, mas
não pode ser provado cientificamente.
4º Portanto, Deus não existe.
Mas há duas falhas
cruciais na argumentação de Dawkins, pois ele: (a) não prova que o cientificismo é verdadeiro, apenas o afirma e o toma como verdade a priori; (b) ignora o fato de que o Deus teísta-cristão está fora da natureza, e que a ciência só
pode investigar aquilo que está na natureza.
Assim, tanto a primeira como a terceira premissa são débeis e culminam no
fracasso da conclusão precipitada de seu neo-ateísmo.
No máximo, e somente se o cientificismo fosse verdadeiro, isso poderia nos ajudar a
refutar a existência de um Deus ou deuses que estivessem dentro da natureza – como tradicionalmente se pensava até a época
de Platão, e que continuou a ser crida por muitos depois disso –, pois se tudo
o que está na natureza deve ser provado cientificamente e Deus está na natureza
mas não pode ser cientificamente provado, segue-se então que Deus não existe.
Mas este tipo de Deus está muito longe de ser o Deus
teísta-cristão, cuja teologia sempre afirmou que Deus está fora do Universo porque é a causa
do Universo. Um Deus eterno e atemporal deu início a um Universo finito e
temporal. Isso é totalmente diferente do exemplo anterior, e, mesmo se o
cientificismo fosse verdadeiro (o que não é), ele não teria nada a dizer a
favor ou contra este Deus.
Curiosamente, o cientificismo de Dawkins e dos neo-ateus é refutado
até mesmo por cientistas ateus. Owen Flanagan, filósofo e neurobiologista ateu,
deu alguns exemplos de como o cientificismo é falso, mencionando, como exemplo,
a arte e a música:
“Considere a arte e a música. É, evidentemente,
loucura dizer que as obras de Michelangelo, Da Vinci, Van Gogh, Cezanne, Picasso,
Mozart, Chopin, Schönberg, Ellington, Coltrane, Dylan ou Nirvana poderiam ser
expressas cientificamente. Presumindo algo como o melhor cenário para a
ciência, poderíamos querer dizer que produções artísticas e musicais podem ser
analisadas nos termos de suas manifestações físicas – pintura em termos de
química e geometria e música em termos de ondas sonoras e relações matemáticas
(...) Não há nada remotamente estranho a respeito desses tipos de investigação
científica da arte e da música, ou dos próprios processos criativos. Mas,
embora tal investigação tome a produção artística e musical como algo a ser
explicado, ela não toma a produção em si como expressando algo que possa ser
declarado cientificamente (...) O ponto simples e óbvio é que nem tudo que vale
a pena expressar pode ou deve ser expresso cientificamente. O cientificismo é
descritiva e normativamente falso”[4]
Um dos trabalhos mais brilhantes de refutação ao cientificismo
defendido pelos neo-ateus foi feito pelo cientista Austin L. Hughes, professor
de ciências biológicas da Universidade da Carolina do Sul. Em um artigo que
conta com 14 páginas em impresso, ele detona o cientificismo neo-ateu de
Dawkins e companhia e prova que o cientificismo é o maior perigo à ciência em
nossos dias. Sua conclusão foi que:
“De todas as modas e manias na longa história da
credulidade humana, o cientificismo em todas as suas formas variadas – desde a
cosmologia fantasiosa até a epistemologia evolutiva e ética – aparece entre as
mais perigosas, tanto por fingir ser algo muito diferente do que realmente é,
quanto por ser concebido para a adesão generalizada e acrítica. A insistência
sobre a competência universal da ciência servirá apenas para minar a
credibilidade da ciência como um todo. O resultado final será um aumento de
ceticismo radical que questiona a capacidade da ciência para tratar até mesmo
as questões legitimamente dentro de sua esfera de competência. Deve-se anseiar
por um novo iluminismo para derrotar as pretensões desta última superstição”[5]
O cientista Ian Hutchinson, doutor em engenharia e ciência nuclear,
escreveu um livro inteiro refutando o cientificismo, chamado “Monopolizing
Knowledge”[6].
Em uma entrevista, ele também refutou a crendice neo-ateísta de que a ciência
se opõe à religião e conflita com esta:
“O cientificismo é uma crença muito espalhada e
errônea de que a ciência é o conhecimento real de tudo o que existe, e que
qualquer coisa que não possa ser compreendida pela ciência não conta como
conhecimento (...) A ciência é diferente não só da religião mas também da
história, de análises políticas, de sociologia ou de jurisprudência. Nenhuma
dessas coisas são ciências e mesmo assim têm seu conhecimento real”[7]
O cientificismo nunca se sustentou em um debate inteligente porque
ele não é inteligente, é totalmente anti-científico e é rejeitado pelas mentes
mais brilhantes. Em um famoso debate entre o filósofo cristão William Lane
Craig e o químico ateu Peter Atkins, este tentou fazer uso do cientificismo
para provar a inexistência de Deus, em um paralelo exato à “lógica” de Dawkins
e dos neo-ateus, mas foi violentamente massacrado pela lógica ao desafiar Craig
a mostrar-lhe algo que não possa ser explicado cientificamente. A resposta de
Craig o deixou tão desnorteado que seguramente ele se arrependeria de fazer uso
de tal argumento caso pudesse voltar atrás[8]:
Atkins
– Não há necessidade
de um Deus, porque a ciência pode explicar tudo... a ciência é onipotente!
(...) Tudo no mundo pode ser explicado sem precisarmos invocar um Deus. Você
precisa aceitar que essa é uma visão possível a se tomar sobre o mundo. Você
nega que a ciência possa explicar tudo?
Craig
– Sim, eu nego.
Atkins
– Então, o que ela não
explica?
Craig
– Eu penso que há
muitas coisas que não podem ser provadas cientificamente, mas que somos todos
racionais em aceitar. Deixe-me listar cinco:
a)
Verdades
lógicas e matemáticas não podem ser provadas pela ciência. A ciência pressupõe a lógica e a
matemática, então tentar prová-las pela ciência seria argumentar em círculos.
b)
Verdades
metafísicas. Por
exemplo: que há outras mentes além da minha, ou que o mundo externo é real, ou
que o passado não foi criado há cinco minutos atrás aparentando ser velho, são
crenças que não podem ser provadas cientificamente.
c)
Crenças
étnicas sobre declarações de valor. Elas não são acessíveis pelo método científico. Você não pode
provar, pela ciência, que os nazistas
nos campos de concentração fizeram algo mau, em contraste com os cientistas das
democracias ocidentais.
d)
Julgamentos
estéticos. Eles não
podem ser avaliados pelo método científico, pois o belo, assim como o bom, não
pode ser provado cientificamente.
e)
A
própria ciência. Este
é o caso mais notável, pois a ciência não pode ser justificada pelo método
científico. A ciência é permeada por suposições que não podem ser provadas. Por
exemplo: na teoria especial da relatividade, a teoria toda depende da suposição
de que a velocidade da luz é constante entre quaisquer pontos A e B, mas isso
estritamente não pode ser provado. Nós apenas temos que supor isso para manter
a teoria. Então, nenhuma destas crenças pode ser provada cientificamente, mas
são aceitas por todos nós, e somos racionais em fazê-lo[9].
Enquanto o Dr. Craig lhe dava uma aula pública e gratuita, Atkins
se resumia a arregalar bem os olhos e manter o olhar fixo para frente,
paralisado, feito uma estátua, no maior estilo: “o que eu estou fazendo aqui?”,
e no final ainda teve que ouvir do mediador do debate a frase: “Coloque isso no seu cachimbo e fume”. A plateia
caiu na risada, e nem precisa dizer que Atkins não foi capaz de refutar a
lógica de Craig nem naquele momento, nem em parte nenhuma do debate. Aliás, não
somente ele, mas nenhum neo-ateu jamais foi capaz.
Nem os próprios neo-ateus levam a sério os pressupostos lógicos de
seu cientificismo, pois todos eles creem nos cinco pontos mencionados por
Craig, mas também não podem prová-los cientificamente. Mas eles continuam
sustentando o cientificismo mesmo assim, mesmo contra toda a lógica, mesmo
contra todos os argumentos, porque esta é a única forma de “provar” a
inexistência de Deus, ou de torná-la bem improvável.
Por fim, o maior erro de Dawkins no tópico sobre o MNI em seu livro
é deduzir que do fato de que Deus não pode ser provado ou refutado
cientificamente segue-se que não há meios de provar ou refutar a existência de
Deus de maneira nenhuma. Isso é uma falácia lógica que Dawkins não percebe ou
ignora. Não é porque Deus não pode ser provado cientificamente que ele não possa ser provado por nenhum outro meio.
De fato, a questão da existência de Deus é algo que não pode ser
discutido no âmbito científico, pois
Deus, por definição, é transcendente à
natureza, e a ciência só pode emitir juízo de valor sobre a existência daquilo
que é empírico. É por isso que os teólogos e filósofos teístas fazem uso de
argumentos de outra ordem que não a ciência, como argumentos lógicos (ex:
argumento cosmológico), argumentos filosóficos (ex: argumento ontológico),
argumentos probabilísticos (ex: argumento teleológico) ou argumentos morais
(como o fato do ser humano possuir um senso de bom ou mal, de certo e de
errado).
Assim sendo, a presunção de Dawkins de que não há como provar ou
refutar Deus se a ciência não pode dizer nada a este respeito é uma falácia. Há
outros meios fora da ciência onde é perfeitamente cabível a discussão sobre a
existência de Deus. Gould estava totalmente certo quando disse que, “como cientistas, não afirmamos nem
negamos a existência de Deus; simplesmente não podemos comentá-la”[10].
De fato, a existência de Deus está além da
ciência. Como cientista, ninguém pode
chegar à conclusão de que Deus existe ou não. Mas isso em nada muda o fato de
que é possível chegar a esta conclusão por outros meios – algo que Dawkins
desconsidera.
É como disse o Dr. Craig:
“A razão é muito mais ampla do que a ciência. A
ciência é uma exploração do mundo físico e natural. A razão, por outro lado,
inclui elementos como a lógica, a matemática, a metafísica, a ética, a
psicologia e assim por diante. Parte da cegueira de cientistas naturalistas,
como Richard Dawkins, é que eles são culpados de algo chamado cientificismo.
Como se a ciência fosse a única fonte da verdade. Não acho que podemos explicar
Deus em sua plenitude, mas a razão é suficiente para justificar a conclusão de
que um Criador transcendente do universo existe e é a fonte absoluta de bondade
moral”[11]
Até C. S. Lewis já apontava essa verdade, dizendo:
“A ciência funciona a partir da experiência e observa
como as coisas se comportam. Todo enunciado científico, por mais complicado que
pareça à primeira vista, na verdade significa algo como ‘apontei o telescópio
para tal parte do Céu às 2h20min do dia 15 de janeiro e vi tal e tal fenômeno’,
ou ‘coloquei um pouco deste material num recipiente, aqueci-o a uma temperatura
X e tal coisa aconteceu’ (...) Agora, perguntas como ‘Por que algo veio a
existir?’ e ‘Será que existe algo – algo de outra espécie – por trás das coisas
que a ciência observa?’ não são perguntas científicas. Se existe ‘algo por
trás’, ou ele há de manter-se totalmente desconhecido para o homem ou far-se-á
revelar por outros meios. A ciência não pode dizer nem que este ser existe nem
que não existe, e os verdadeiros cientistas geralmente não fazem essas
declarações (...) Suponha que a ciência algum dia se tornasse completa, tendo o
conhecimento total de cada mínimo detalhe do Universo. Não é óbvio que
perguntas como ‘Por que existe um Universo?’, ‘Por que ele continua existindo?’
e ‘Qual o significado de sua existência?’ continuariam intactas?”[12]
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "Deus
é um Delírio?")
- Veja uma lista completa de livros meus clicando aqui.
Muito bom, o ateísmo é a nova "religião' do momento maquiada de "ciência" ...
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