quinta-feira, 2 de abril de 2015

Nós nascemos ateus?



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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Os neo-ateus costumam dizer que todo mundo “nasceu ateu”, e usam um bebê como exemplo, que seria supostamente um ateu. Mas o bebê é tão “ateu” quanto este teclado ou esta parede – ele simplesmente não tem capacidade ainda de raciocinar e refletir sobre a existência ou inexistência do transcendental. No entanto, embora o bebê em si não seja propriamente nem ateu nem teísta, ele tem uma tendência de se tornar teísta, e não ateu. Em outras palavras, as pessoas já nascem com a propensão de crer em Deus, como se a existência de Deus fosse tão evidente quanto intuitiva. E isso explica o porquê que, de fato, a existência de Deus sempre foi crida pela maioria esmagadora das pessoas que já habitaram esse planeta.  

O historiador grego Plutarco (45-125 d.C) já dizia que “é possível encontrar cidades sem muralhas, sem ginásios, sem leis, sem moedas, sem cultura literária; mas um povo sem Deus, sem orações, sem juramentos, sem ritos religiosos, sem sacrifícios, jamais foi encontrado”[1]. Jefferson Magno Costa, em seu livro “Provas da Existência de Deus”, nos passa os mais diversos exemplos e evidências históricas da existência de Deus crida de forma majoritária em todos os povos e culturas antigas, e afirma:

“A crença na existência de um Ser Supremo, criador de todas as coisas, está documentada tanto nas antigas marcas e restos de utensílios e pinturas encontrados nos locais onde viveram as primeiras famílias descendentes de Adão e Eva, como também nos papiros e monumentos egípcios, nos tabletes de barro da Assíria e da Babilônia, nos primeiros escritos do povo hebreu, nos antigos livros da índia, nas gravações em ossos na China, nos pergaminhos gregos e nos monumentos romanos”[2]

E, por este motivo, ele conclui que a crença em Deus é a “posição natural” dos seres humanos, que pode ser descoberta pela simples intuição inata a todos os indivíduos:

“Ora, essa ideia da existência do Criador espalhada na consciência de todos os povos nos leva a concluir que um sentimento comum a todos os seres humanos não pode ser falso. Aristóteles já dizia que ‘o que é inerente à essência, é universal: tudo quanto o homem tem instintivamente por verdadeiro, é uma verdade natural’. E por esse motivo que o ateísmo, ou seja, a negação da existência de Deus resultante de uma convicção clara e deliberada, é um fenômeno isolado, uma degeneração da consciência do homem, mas nunca a expressão geral da humanidade”[3]

Até mesmo o comunista e ateu Gorky, em uma carta escrita a Stalin, admitiu que:

“A ‘tendência’ para uma disposição religiosa é muito notável – um resultado natural do desenvolvimento do individualismo. Neste tempo, como sempre, o jovem está correndo em busca da ‘resposta definitiva’”[4]

Dorothy Kelman destacava que as crianças são teístas intuitivas[5]. Robertson comenta e sugere:

“Na verdade, eu concordaria com isso e sugeriria, em contrapartida, que tal evidência contradiz um outro mito ateísta – que as pessoas apenas são religiosas porque sofreram lavagem cerebral quando crianças. Na verdade mesmo, a posição padrão para os humanos é serem religiosos”[6]

Nury Vittachi publicou um artigo intitulado: “Ceintistas descobrem que ateus podem não existir, e isso não é uma piada”. Ele cita vários estudiosos do tema que explicam que a crença na existência de Deus está embutida na natureza da cada ser humano, admitindo ele ou não. Ele declara:

“Os cientistas cognitivos estão cada vez mais conscientes de que uma perspectiva metafísica pode estar tão profundamente enraizada nos processos de pensamento humano que não pode ser expurgado (...) É claro que essas descobertas não provam que é impossível parar de acreditar em Deus”[7]

Ele também refuta a “lógica” invertida ateísta, segundo a qual o ateísmo é que é a “condição natural” e o teísmo a “posição aprendida”. Vários cientistas chegaram às mesmas conclusões de Vittachi, incluindo Graham Lawton, Pascal Boyer e Ara Norenzayan. Este último chegou inclusive a pubicar um artigo no New Scientist, onde declara:

“Quando as pessoas não acreditam em Deus, isso não significa que elas não têm sensações que estão fortemente ligados ao sobrenatural (...) Mesmo em sociedades que se declaram de maioria ateísta, é possível encontrar um monte de crença no que chamamos de paranormal”[8]

Pascal Boyer, por sua vez, argumenta que “uma série de traços cognitivos nos predispõe à fé”, e que “os dados confirmam que pensamentos religiosos parecem ser uma propriedade emergente de nossas capacidades cognitivas normais”. Não é a crença que é um esforço deliberado, mas a descrença, que para Boyer “vai contra as nossas disposições cognitivas”, sendo, portanto, “antinatural”. O Dr. Jason Lisle segue nesta mesma linha e chegou também a escrever um artigo onde mostra evidências de que todos os ateus sabem intuitivamente que Deus existe, embora eles tentem conter e até mesmo lutar contra este sentimento até convencerem a si próprios de que Ele não existe.

Até o biólogo neo-ateu Lewis Wolpert, que já debateu com Craig e que considera a fé algo infantil, já admitiu que nós somos “brain-wired” para a crença em Deus, como se o nosso cérebro já estivesse programado para crer! De fato, seria necessária uma enorme e gigantesca conspiração mundial se a crença em Deus não fosse a posição-padrão dos seres humanos, uma vez que ela existe (e existe majoritariamente) em todos os povos, em todas as culturas e em todas as épocas – até mesmo em tribos nativas que nunca tinham tido contato com o homem branco, até mesmo antes da Bíblia começar a ser escrita, até mesmo pelos mais letrados e sábios homens do passado e do presente: é uma crença universal que transcende tempo, espaço, cultura e inteligência. O apóstolo Paulo já sabia disso quando disse:

“Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de forma que tais homens são indesculpáveis” (Romanos 1:20)

Para Paulo, a existência de Deus era tão autoevidente que chegava a ser intuitiva. É absurdo olhar para toda a criação, tão complexa e originalmente perfeita, e dizer que tudo é fruto do acaso – da mesma forma que seria absurdo se alguém visse um quadro de Leonardo da Vinci (como a Mona Lisa) e achasse que ninguém pintou o quadro, mas que ele se formou sozinho, acidentalmente. É necessário cauterizar a consciência para ser ateu, enquanto que para ser teísta basta seguir a própria intuição. O teísmo é a posição-padrão. O ateísmo é um fenômeno isolado, um desvio do padrão.

Para usarmos como ilustração, pensemos na questão da vida e da morte. A posição-padrão dos seres humanos é o apreço pela vida. Há um forte instinto no ser humano pela sobrevivência, e é por esta razão que ainda que haja bilhões de pessoas vivendo em condições sub-humanas, passando fome, tendo necessidade de muitas coisas ou desiludidas com tudo e com todos, ainda assim elas preferem continuar vivendo do que morrer! A posição-padrão pela vida é tão forte que as pessoas preferem continuar vivendo, mesmo quando não gostam da própria vida! Em contrapartida, há uma minoria que se suicida, ou seja, que se desvia desta posição-padrão, que luta contra o seu maior instinto (a sobrevivência).  

Da mesma forma, nós temos uma posição-padrão que é a crença na existência de um Ser (ou de seres) transcendental, embora haja uma minoria de pessoas que cauterizam sua própria consciência para negarem a existência deste Ser, o qual chamamos de “Deus”. Elas negam sua própria intuição, e tentam convencer a si mesmas de que Deus não existe. É interessante notar que mesmo com todos os erros que tantas religiões já cometeram ou que continuam cometendo, a posição-padrão permanece sendo religiosa e não irreligiosa – da mesma forma que uma pessoa que não gosta da sua vida prefere continuar vivendo mesmo assim!

O que os neo-ateus tentam desesperadamente fazer a cada instante é nos convencer de que a posição-padrão é o ateísmo, enquanto a crença em Deus que é um desvio desta posição-padrão. Isso porque, se Deus não existe, a posição-padrão seria crer na inexistência deste Ser, e não na existência! Por exemplo, nós não temos a propensão a crer em Bicho Papão, em Papai Noel, em fadas ou em bules voadores, porque elas não são a posição-padrão do ser humano. Ninguém creria nessas coisas a não ser que essas coisas lhe fossem ensinadas. E, consequentemente, a esmagadora maioria das pessoas de fato não crê nestas coisas, porque esta não é a posição-padrão dos seres humanos.

Mas com Deus é totalmente diferente, e o paradigma se inverte. A crença em Deus é universal e majoritária; é, como vimos, a posição-padrão do ser humano, algo inato, intuitivo, para o qual o nosso cérebro já está programado para crer, e por esta mesma razão aqueles que ferem essa consciência (os ateus) tendem a ser uma minoria e estão “indesculpáveis”. Mesmo que você não fale nada sobre Deus a um recém-nascido, com o passar do tempo esta tendência por crer será despertada, tornando inútil qualquer militância ateísta. Ele, no mínimo, irá pensar seriamente sobre a possibilidade de Deus existir, o que não ocorre com fábulas criadas pela imaginação humana.

Pensando na perspectiva da posição-padrão, são os ateus que devem explicar por que eles não creem, e não nós que temos que explicar por que cremos! Nós estamos apenas seguindo a intuição geral da raça humana, e eles, infringindo. Portanto, são eles que nos devem dar as razões pelas quais nós também temos que ferir nossa intuição e quebrar a posição-padrão para seguir a um fenômeno isolado – o ateísmo. São eles que negam essa posição-padrão e intuitiva que nos diz que Deus existe e, no lugar disso, formulam teorias mirabolantes para tentar convencer a si próprios de que Deus não existe, incluindo a crença em “infinitos” universos para tentar “explicar” a complexidade deste Universo, ou a fé de que o Universo inteiro foi criado do nada – coisas irracionais que definitivamente não são intuitivas à nossa natureza e nem a posição-padrão (nenhum ser pensante realmente acredita que alguma coisa possa surgir do nada!), mas que são defendidas pelos ateus como uma forma de iludir a si mesmos, para não ter que admitir a óbvia, evidente e intuitiva existência de Deus.

Tudo isso seria apenas o que deveríamos esperar caso Deus realmente exista, pois ele teria todas as razões para colocar a Sua existência intuitivamente nos corações humanos, embora não de forma coercitiva, o que tiraria o livre-arbítrio do homem e o forçaria a crer. Consequentemente, se Deus existe, deveríamos esperar que a humanidade se dividisse em uma maioria que crê em Deus por essa intuição, e uma minoria que não crê em Deus por se rebelar contra a posição-padrão e por fornecer teorias alternativas delirantes que fizessem objeção à intuição humana. E é exatamente isso que é visível no mundo hoje.

Isso também explica o porquê que os ateus estão sempre falando em Deus, muito mais do que os cristãos. Antigamente, falar em “missionários” só teria sentido caso os indivíduos em questão fossem religiosos. Hoje em dia, há mais “missionários” ateus do que cristãos, e esses “ateus missionários” são tão persistentes, proselitistas e obstinados que colocam no chinelo qualquer testemunha de Jeová! Eles não suportam ver um vídeo de caráter religioso no YouTube que já se aglutinam para falar mal do religioso e pregar a “palavra de Dawkins” aos desconvertidos, eles não suportam ler um artigo apologético em algum site cristão e já se aglomeram para “refutar Deus” e “provar que Ele não existe e que os cristãos estão delirando”, eles não fazem outra coisa na vida a não ser falar em Deus, Deus e Deus o tempo todo!

Já se foi o tempo em que era o cristão que puxava o debate com um ateu tentando convertê-lo. Atualmente, a moda é o ateu tentar fazer de tudo para que o cristão se “arrependa” de seu “delírio” e “creia na razão”. Eles levam muito a sério a máxima de “ir por todo o mundo e pregar o ateísmo a toda criatura; aquele que não crer será salvo, quem crer será condenado”. Já não se vê mais cristãos falando por aí: “arrependam-se, pois o Reino de Deus está próximo” (Mt.4:17), mas está cheio de neo-ateus com uma “Bíblia” na mão (leia-se: um livro de Dawkins) pregando o “evangelho ateu” para que o crente “se arrependa” da fé que uma vez professou e “creia” que o Universo veio do nada, que estamos aqui por puro acaso e que Deus é um grande delírio perpetuado por mentes pobres, fracas e irracionais. Este é o ateísmo versão 2.0. Este é o neo-ateísmo.

Certo militante neo-ateu escreveu um livro em que diz no prefácio: “Esperando ajudar também aqueles com pouco conhecimento da Bíblia a resistir à tentação de acreditar e aos que já a rejeitam, a defender e manter a sua posição”[9]. Qual a diferença disso para algum proselitista cristão que escreve um livro dizendo estar “esperando ajudar aqueles com pouco conhecimento da Bíblia a resistir à tentação de não acreditar e aos que já a aceitam, a defender e manter sua posição”? Nenhuma. O proselitismo neo-ateu é exatamente o mesmo do religioso que ele tanto critica, apenas inverte-se a posição: ao invés de um missionário cristão, temos um missionário ateu, pregando a “Palavra de Dawkins” de casa em casa, ou, melhor dizendo, na internet. O neo-ateu é apenas um religioso enrustido, mas com ódio de Deus.

A situação fica ainda mais constrangedora para os novos ateus quando vemos que o religioso tem razões para ser proselitista, e eles não. Se o Cristianismo for verdadeiro, isso significa que todos os que decidiram não crer se perderão para sempre, ou seja, deixarão de herdar uma vida eterna. Estão apenas caminhando para a morte, e o cristão em questão, por amor e vontade de ajudar o próximo, quer salvá-lo deste cruel destino e lhe dar a oportunidade de ressuscitar para a vida eterna. Mas o ateu sequer tem uma razão decente para pregar seu ateísmo, porque na visão ateísta não há vida eterna nem para um nem para outro – há apenas a morte para sempre, indistintamente para ambos os grupos.

Por que raios, então, o ateu iria querer tanto “desconverter” o cristão? Por que perder tempo pregando o ateísmo, se não vai ganhar nada com isso, de qualquer jeito? Por que dedicar toda uma vida pregando algo que não vai mudar nada na vida de ninguém? Por que desperdiçar tempo e energia se no fim das contas o final do cristão será o mesmo final do ateu? Esta forma de ateísmo é total e completamente irracional. Antigamente eles pelo menos tinham a desculpa de que as pessoas seriam mais “felizes” aqui na terra se deixassem Deus de lado e virassem ateus, mas depois que vários estudos concluíram que os religiosos são mais felizes e mais sociáveis do que os ateus[10] eles não podem nem usar este pretexto mais!

O ateísmo militante é tão estúpido e irracional que faz um cidadão perder toda uma vida discutindo sobre a existência de um Ser que para ele nem existe, tentando converter para o ateísmo pessoas que seriam mais felizes se continuassem crendo, para que no final tanto ele quanto elas tenham o mesmo fim da morte para sempre! E ainda chamam este neo-ateísmo de “racional”! Como Dinesh D’Souza bem observou, “eles são ateus evangélicos, porque não estão satisfeitos em não crer em Deus, eles anseiam também converter pessoas para o seu ponto de vista. Eles são missionários ateus!”[11]. O ateu militante é o único tipo de missionário que prega o seu “evangelho” sem nenhuma razão lógica. É um tipo de militância que começa tão errada que não justifica nem a própria existência de tal ativismo!

Eu não acredito em unicórnios e se alguém acredita em unicórnios eu acharei que tal pessoa é francamente estúpida, mas eu não vou escrever um livro chamado “Unicórnios, um Delírio”, nem um livro chamado “O Fim dos Unicórnios”, nem um livro chamado “Unicórnios não são Grandes”. É exatamente porque eu acho que a crença em unicórnios é uma bobagem que eu não vou perder tempo escrevendo sobre isso! Eu vou perder meu tempo em coisas que interessam, não em delírios.

Como disse Dinesh, “eu não vou passar muito tempo denunciando unicórnios, simplesmente vivo a minha vida como se unicórnios não existissem”[12]. A verdade é que ninguém perde muito tempo escrevendo livros ou “refutando” coisas que realmente acredita que não existem. Quanto mais ridícula uma crença for, mais ridículo ainda é alguém que quer perder tempo refutando-a. Foi por isso que Mahatma Gandhi (1869-1948) certa vez disse: “Admira-me encontrar uma pessoa inteligente que luta contra algo que ela mesma não crê absolutamente que exista”.

Os verdadeiros ateus – aqueles caras que realmente acham que Deus não existe – não perdem tempo lendo o livro de Dawkins ou o meu, nem perdem tempo discutindo sobre a existência de algo que tem certeza que não existe. Os neo-ateus, no entanto, não são ateus de fato – são simplesmente pessoas decepcionadas com Deus, ou que tem tanta vontade de que Ele não exista que tentam se convencer da inexistência dEle diariamente, até que acreditem mesmo no que dizem! Essa é a razão pela qual eles falam tanto em Deus, como Heywood Broun (1888-1939) salientou: “Ninguém fala tão constantemente sobre Deus como aqueles que insistem que não há Deus”.

Que tipo de gente vive falando de algo, mas não crê neste algo? Que tipo de gente que dedica a vida inteira a falar sobre Deus, se não crê em Deus? Se Deus é um delírio, e este delírio está no mesmo patamar do Papai Noel e das fadas – como os neo-ateus estão sempre dizendo – então esse “delírio” seria tão óbvio que sequer faria sentido dizer que este delírio é um delírio! Quem é que precisa escrever livros para refutar a existência do Papai Noel, de fadas, de gnomos ou do Bicho Papão? Não precisa, porque a inexistência deles é evidente, e toda inexistência que é evidente é um delírio. Mas eles precisam passar muito tempo escrevendo e falando sobre Deus (e mesmo assim não convencem quase ninguém!), porque eles mesmos têm dúvidas sobre a existência de Deus, e sentem até o medo da possibilidade.

Quando alguém descobre que o Papai Noel não existe, ele não passa a escrever livros contra o Papai Noel, ele simplesmente segue a sua vida não se importando mais com o Papai Noel. Mas quando um ateu “descobre” que “Deus não existe”, ele passa boa parte da vida se empenhando a escrever, falar e brigar sobre Deus, porque ele se importa, porque até mesmo o maior ateu do mundo não sente segurança em seu ateísmo. Da boca pra fora dizem que Deus é um delírio, mas só eles mesmos sabem o quão desesperados estão em convencê-los de que isso é mesmo verdade, razão pela qual Deus não sai da cabeça deles. Se Deus não existisse ou se fosse um delírio, ninguém precisaria dizer isso – todos nós já saberíamos, assim como já sabemos que o Papai Noel e as fadas não existem, ainda que ninguém tenha precisado escrever um livro com mais de 500 páginas refutando o Papai Noel e as fadas para nos convencer de que eles não existem!

Os ateus sabem que estão dando murro em ponta de faca quando dizem que Deus é “um delírio”, e é por isso que eles insistem tanto – e tão inutilmente – nesta ideia. No fundo, eles também sabem que a posição-padrão do ser humano é crer, e que a existência de Deus é tão intuitiva e evidente que eles podem escrever um bilhão de livros, aparecer em um milhão de programas na televisão, organizar quanta militância for necessária e até plantar bananeira, que não vão conseguir mudar isso.

Ninguém vai conseguir mudar a posição-padrão (natural) dos indivíduos, assim como ninguém vai conseguir um dia fazer com que a maioria das pessoas prefiram o suicídio do que a vida, ou o homossexualismo ao heterossexualismo, ou o mal ao bem, ou uma ditadura à liberdade, ou ter mais afeto a um estranho ao invés das pessoas da própria família, ou que 2 com 2 dá 5 ao invés de 4, ou que estamos aqui sem nenhum sentido ao invés de termos alguma missão na terra. As pessoas podem se organizar e empregar toda a sua vida e todos os seus esforços para tentar tornar o antinatural em natural e o natural em antinatural, mas estarão socando uma parede, dando murro em ponta de faca, insistindo em algo que não vai mudar, em algo que está acima de nós ou da nossa vontade. Estarão como que lutando contra Deus.

Dawkins erra na resposta porque faz a pergunta errada. A pergunta certa não é por que há pessoas que creem, mas sim por que há pessoas que não creem. Se a posição-padrão é a crença e não a descrença, por que há gente que decide se rebelar e não seguir a intuição e as evidências? Em outras palavras: Por que existem ateus? O que explica esse fenômeno anormal? O que houve para que existisse este ponto fora da curva? Eu acredito em duas principais razões que levam essa minoria a não crer. Uma na conta dos ateus, e a outra, ironicamente, na conta dos próprios religiosos. Vamos a elas.

Por Cristo e por Seu Reino,

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")





[1] Plutarco, no capítulo 31 de seu tratado moral Contra a Cólera, citado por Hans Pfeil no livro O Humanismo Ateu na Atualidade. Petrópolis, Vozes, 1962, p. 167.
[2] Jefferson Magno Costa, Provas da Existência de Deus.
[3] ibid.
[5] Citado por David Robertson em “Cartas para Dawkins”, Sétima Carta.
[6] David Robertson, Cartas para Dawkins, Sétima Carta.
[8] ibid.

3 comentários:

  1. LUCAS MUITO BOM SEU TEXTO! LENDO ELE LEMBREI DE UM QUESTIONAMENTO QUE MUITOS ATEUS FAZEM... ELES DIZEM QUE TODO CRENTE É UM ATEU PORQUE POR EXEMPLO PARA SER CRISTÃO ELE IGNORA A CRENÇA ISLAMICA, BUDISTA E DE OUTRAS RELIGIOES...O QUE VC ACHA DISSO? ELES ESTAO CORRETOS? ATÉ QUE PONTO? OU ESSA INDAGAÇÃO PODE SER QUESTIONÁVEL? ABRAÇOS!

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    1. Isso não tem sentido nenhum. Ateísmo significa "Não-Teísmo", ou seja, "Não-Deus". Só pode ser ateu quem não crê em DEUS NENHUM; se você crê em um Deus - mesmo que descarte todos os outros - já não pode ser considerado ateu. Dizer que você é ateu igual ele só porque descrê em outros deuses seria o mesmo que alguém apolítico dissesse a um militante do PT que ele também é apolítico igual ele, só porque milita por um só partido e é contrário a todos os outros. Faz sentido dizer que esse militante petista é "apolítico"? É claro que não. Da mesma forma que não há sentido em um cristão ser chamado de "ateu" só porque não crê no Deus do Islã ou qualquer outro que não o cristão.

      Abraço!

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  2. Vale lembrar que uma das provas de que ninguém nasce ateu está na própria origem da própria palavra.

    A origem da palavra vem do grego, THEOS, que significa Deus com a junção do prefixo "A" que caracteriza uma negação. Exemplo: "Atípico" - que quer dizer "não típico".
    Portanto se a palavra ateu se refere a uma negação à existência de Deus, como podem afirmar que toda criança nasce sendo ateu se ela ainda não tem a capacidade de fazer escolhas, de optar pelo sim ou pelo não, de refletir sobre a existência de um ser superior ou não?
    Torna-se uma imbecilidade afirmar que todos nascem ateus!

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