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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Em 1882, o famoso filósofo
ateu Friedrich Nietzsche declarou: “Deus está morto”[1].
Mais de um século se passou desde então, e podemos dizer seguramente que a fé
em Deus não apenas não morreu, mas está mais viva do que nunca. Ainda que
tenham sido muitos os ateus que tenham decretado a morte de Deus com o avanço
da ciência nos últimos séculos, eles tiveram que engolir o fato de que a crença
em Deus não apenas continua existindo no mundo, mas ainda segue sendo
esmagadora maioria entre os mais de sete bilhões de seres humanos no planeta.
Em “O Delírio de Dawkins”,
Alister McGrath faz importantes observações sobre como haviam decretado a morte
de Deus no século passado, e o que de fato aconteceu:
“Por mais de um século,
notáveis sociólogos, antropólogos e psicólogos declararam que seus filhos
veriam o despertar de uma nova era, em que esse ‘delírio’ seria deixado para
trás definitivamente. Nos anos 1960, diziam que a religião estava
desaparecendo, substituída por um mundo secular (...) Duas mudanças ocorreram
desde então. Em primeiro lugar, a religião fez uma reviravolta. Ela é um elemento
tão significativo no mundo de hoje que parece estranho pensar que, há apenas
uma geração, sua morte tenha sido prevista com tanta confiança. O escritor
humanista Michael Shermer, talvez mais bem conhecido como diretor da Skeptics Society e editor da revista Skeptic, retomou com ímpeto esse ponto
em 2000 ao afirmar que nunca a população norte-americana acreditara tanto, e em
tão grande proporção, em Deus. Ele não apenas não está ‘morto’ – conforme o
filósofo alemão Nietzsche proclamou precipitadamente –, como nunca pareceu
estar mais vivo”[2]
Há quem diga que o próprio
Dawkins afirmou, há tempos atrás, que a religião é uma doença que desapareceria
até o final da sua vida. Hoje ele já tem 73 anos e somente alguém que
literalmente estivesse delirando reafirmaria
tal coisa. A religião tem se demonstrado indestrutível diante do avanço
científico, porque nada no avanço científico atesta algo contra a religião.
Em seu livro, Dawkins
tenta rever tal conceito apelando para certas pesquisas que mostram que o
número de cientistas ateus é bem maior que o de cientistas crentes. Essa
técnica é uma forma de manipulação muito comum em apresentação de dados, e
bastante presente em campanhas políticas, onde os candidatos possuem vários
dados diferentes, em diferentes áreas, por diferentes pesquisas e em diferentes
lugares, e elegem arbitrariamente os dados que mais lhe favorecem para
exibi-los ao público, que tristemente acaba comprando a ideia e acreditando que
determinado político é mesmo excelente!
Dawkins faz a mesma coisa,
mas contra a religião. Existem dezenas de pesquisas sobre a quantidade de
cientistas teístas e ateístas, feitas por diferentes instituições, em
diferentes épocas, em diferentes lugares, para grupos diferentes e algumas até
encomendadas, mas Dawkins arbitrariamente seleciona três ou quatro que mais
favorecem a sua visão ateísta, e em cima delas festeja gloriosamente o
“triunfo” de seu ateísmo, como se fosse a única visão cientificamente
plausível. Um charlatanismo tão grosseiro que é de se impressionar que existam
pessoas que comprem tal discurso como se fosse sério.
Para entendermos melhor a
forma de manipulação que Dawkins usa, basta compreender que existe um abismo
muito grande entre “teísmo” e “ateísmo”, e ainda maior entre “cristão” e “ateu”.
Em uma pesquisa hipotética que apresente 30% dos cientistas como teístas,
Dawkins é rápido em “concluir” que os outros 70% são descrentes, quando, na
verdade, a descrença em um teísmo não configura necessariamente a descrença
absoluta em um Deus. Em outras palavras, Dawkins puxa para o seu lado um enorme
quantitativo numérico que jamais compactuaria com suas ideias neo-ateístas.
Há um enorme abismo entre
o teísmo e o ateísmo. Existem os deístas (que creem na existência de um Deus
impessoal), os agnósticos (que não sabem ao certo se Deus existe ou não, mas
que abrem esta possibilidade), os pandeístas (que creem que Deus criou a
natureza e depois se uniu a ela) e os panteístas (que creem que Deus é a
natureza, mas em geral acreditam em vida após a morte e em outras coisas que os
ateus não admitem). Mesmo do grupo de ateus do outro lado, apenas uma minoria
de cientistas é neo-ateísta, sendo
que a maioria de cientistas ateus adota o ateísmo tradicional de Gould e muitos
outros, que não veem qualquer conflito entre a ciência e a religião.
Eu até arriscaria dizer
que, em se tratando de cientistas, a
maioria dos outros 70% é de agnósticos, a segunda parte de deístas e uma
minoria de ateus, e menos ainda de
neo-ateus. Mas Dawkins desconsidera tudo isso em suas estatísticas, pois
nenhuma vez trabalhou com uma pesquisa que informasse precisamente o número de
deístas e agnósticos, caindo em um falso dualismo de crente/descrente,
teísta/ateísta. Não surpreenderia em nada se a esmagadora maioria dos
cientistas repudiasse Dawkins em sua posição de que a ciência anula qualquer
fé, já que cientistas ateus são minoria e neo-ateus menos ainda!
Dawkins faz parecer que o
renomado cientista ateu Stephen Gould mentia ao dizer que metade de seus colegas
cientistas eram religiosos[3], enquanto ele nos quer
passar a ideia de que este tipo de cientista quase não existe. Uma pesquisa
mais séria a este respeito, feita em escala global no ano de 1916, mostrou que
40% dos cientistas criam em um Deus pessoal que intervém na natureza e realiza
milagres. A mesma pesquisa foi repetida 81 anos depois, e Alister McGrath nos
conta a gigantesca e impressionante diferença constatada de lá pra cá:
“Em 1916, cientistas diligentes foram
inquiridos sobre se acreditavam em Deus, especificamente num Deus que se
comunica de modo zeloso com a humanidade e a quem se possa orar ‘na expectativa
de receber uma resposta’. Os deístas não acreditam num Deus segundo essa
definição. Os resultados ficaram famosos: grosso modo, 40% acreditavam nesse
tipo de Deus, 40% não e 20% não tinham certeza. Valendo-se dessa mesma
pergunta, a pesquisa foi repetida em 1997 e resultou quase exatamente no mesmo
padrão, com um leve aumento dos que não acreditavam (chegando a 45%). O número
dos que acreditavam em Deus permaneceu estável, em torno de 40%”[4]
Impressionante, não é mesmo? Com todo o avanço
científico abrangendo o período de quase um século, houve uma surpreendente
queda no número de cientistas teístas: eram 40% em 1916, e 40% em 1997. Isso
não é fascinante? Os neo-ateus deveriam mostrar isso ao mundo como uma prova
incontestável de que a ciência matou Deus. Onde estão os cientistas teístas
agora?
Os dados mostram um aumento ínfimo e insignificante no
número de descrentes (eram 40% e agora são 45%), mas estes 5% adicionais não
vieram da parte dos que criam em Deus, mas dos indecisos. Os que creram eram
40% e manteve-se igual no final do século passado. Isso sem mencionar que a
pesquisa foi bem específica,
mencionando um tipo de Deus teísta intervencionista, capaz de ouvir e atender
uma oração. Se fosse de uma forma mais abrangente que incluísse os deístas e
parte de panteístas, é lógico que a porcentagem de “crentes” seria bem maior.
Incluindo deístas, panteístas e agnósticos, a porcentagem de descrentes
absolutos (ateus) seria vergonhosa. Perderia até para os “indecisos”.
Por fim, a falha capital que permeia todo o pensamento
de Dawkins é pensar que todos os cientistas que são ateus, são ateus por causa
da sua ciência, e não por outras razões. Dizer que todos os cientistas ateus
são ateus por causa da ciência é tão falacioso quanto afirmar que todos os
jardineiros ateus são ateus por causa da jardinagem. Dawkins quer ver uma
lógica de causa e efeito onde não existe. Mais uma vez McGrath discorre muito
bem a este respeito, dizendo:
“A maior parte dos cientistas descrentes que conheço
são ateus por motivos outros que não sua ciência: eles trazem essas suposições
para sua ciência, em vez de embasá-las em sua ciência. Na verdade, se minhas
conversas pessoais com os cientistas tiverem alguma validade, vários dos mais
ruidosos críticos de Dawkins, entre seus pares, são na verdade ateus. Sua
insistência petulante, dogmática, de que todos os ‘verdadeiros’ cientistas
devem ser ateus tem encontrado feroz resistência precisamente na comunidade que
ele acreditava ser sua mais ardente e leal defensora”[5]
Há diversos motivos que podem levar alguém a ser ateu. Pode ser que
ele tenha nascido em família atéia, pode ser que ele tenha se decepcionado com
alguma igreja ou pastor, pode ser que ele não tenha visto evidências
suficientes ou que tenha alguma grande inquietação por causa de alguma dúvida
em relação à fé (ex: o problema do mal), mas são poucos os cientistas ateus que
se tornaram ateus por causa da sua ciência. Dawkins não tem nenhuma evidência,
nenhum dado, nenhuma estatística que prove que os cientistas ateus se tornaram
ateus por causa da ciência. Ele simplesmente sustenta isso a priori, eliminando automaticamente todas as amplas outras
possibilidades existentes.
Há uma quantidade significativa de cientistas ateus que creem que a
ciência não é incompatível com a fé, e que tem seu ateísmo relacionado a outros diversos fatores que podem tornar
uma pessoa atéia – seja ela cientista ou não –, incluindo a herança familiar.
Portanto, a não ser que Dawkins queira reduzir seu argumento a uma forma que
beire o ridículo (ex: “os ateus são mais inteligentes porque existem vários
ateus que são cientistas”), seu argumento neste ponto é totalmente inútil,
tanto quanto o resto do livro.
A verdade é que os neo-ateus, por falta de argumentos reais, querem
“sequestrar” a ciência, tomando-a para o lado deles do ringue, como se eles
fossem os “detentores” da ciência e como se eles monopolizassem o conhecimento
científico. Eles se vêem arrogantemente como os “porta-vozes” da ciência, mais
ou menos aquilo que o papa é para o catolicismo. Este “sequestro” da ciência é
intelectualmente criminoso, tanto quanto um sequestro real. Foram cientistas
cristãos que levaram a ciência ao patamar em que se encontra hoje, e até hoje
muitos cristãos e portadores de outra fé em Deus continuam desenvolvendo o
conhecimento científico e o levando a dimensões maiores – a ideia patética de
que apenas os ateus estão “do lado da ciência” não passa de uma fantasia neo-ateísta,
criada para iludir os incautos.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
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Não é novidade que o objetivo do ateísmo militante é ir a todo custo contra a religião.....
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