quarta-feira, 1 de abril de 2015

Albert Einstein era ateu?


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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Dawkins dedica inúmeras páginas de seu livro para falar da crença de Albert Einstein, que ele tenta por meio de frases isoladas ou pessimamente interpretadas trazer para o seu lado do ringue. É fácil entender por que ele se preocupa tanto em provar que Einstein era ateu: simplesmente porque é considerado hoje o maior gênio – e cientista – que já existiu. Desta forma, provar que Einstein era ateu é uma peça fundamental no seu plano, pois ficaria feio dizer que a ciência refuta a crença em Deus, mas que o maior cientista que já existiu cria nele!

Seria como se alguém dissesse que “jogador de futebol só presta se for destro”, e depois adicionar: “exceto o melhor jogador do mundo, Lionel Messi, que é canhoto...”. Ficaria deselegante e colocaria em completo descrédito toda a teoria. Isso explica o porquê que Dawkins parece um moleque desesperado em seu livro, tentando juntar “provas” que mostrem que o maior cientista que já existiu era ateu. Para ele, Einstein cria em Deus apenas no mesmo sentido de Espinoza, como sendo a natureza, e não como os teístas ou deístas o veem. Einstein seria então considerado um panteísta, e, na prática, um ateu.

Ele passa quase todas as páginas falando o que todo mundo já sabe: que Einstein não era religioso, no sentido que entendemos do termo. Grande novidade. Mas ele sequer comenta os textos em que o maior físico da história refuta explicitamente a ideia de que ele era um ateu. Vejamos o que o próprio Einstein depõe a este respeito:

Não sou ateu. O problema aí envolvido é demasiado vasto para nossas mentes limitadas. Estamos na mesma situação de uma criancinha que entra numa biblioteca repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve ter escrito esses livros. Ela não sabe de que maneira nem compreende os idiomas em que foram escritos. A criança tem uma forte suspeita de que há uma ordem misteriosa na organização dos livros, mas não sabe qual é essa ordem. É essa, parece-me, a atitude do ser humano, mesmo do mais inteligente, em relação a Deus. Vemos um universo maravilhosamente organizado e que obedece a certas leis; mas compreendemos essas leis apenas muito vagamente”[1]

Este parágrafo por si só já deveria ser suficiente para manter Dawkins de boca fechada sobre Einstein. Como se não bastasse, o físico continua dizendo:

“Há pessoas que dizem que não existe Deus, mas o que me deixa mais zangado é que elas citam meu nome para apoiar essas ideias”[2]

Parece que Einstein estava escrevendo uma resposta a Dawkins, mas não. Ao que tudo indica, já existiam ateus querendo colocar na sua boca aquilo que ele jamais disse: que era ateu. Ele não apenas rejeitava a ideia de que “não existe Deus”, como também se irritava por ter seu nome relacionado a tal coisa! Walter Isaacson, autor da maior biografia de Einstein já escrita, nos diz que “Einstein costumava ser mais crítico em relação aos que ridicularizavam a religião, e que pareciam carecer de humildade e do senso de deslumbramento, do que em relação aos fieis”[3].

É com essas palavras que o físico e filósofo Max Jammer se referiu a Einstein:

"Einstein sempre protestou contra o fato de ser visto como ateísta. Em uma conversa com o príncipe Hubertus de Lowenstein, ele declarou que ficava zangado com pessoas que não acreditavam em Deus e o citavam para corroborar suas ideias. Einstein repudiou o ateísmo porque nunca viu sua negação de um deus personificado como uma negação de Deus"[4]

A prova mais forte de que Einstein não era nem ateu nem panteísta vem do fato de ele ter negado ambos explicitamente:

“Não sou ateísta, e não acho que posso me chamar de panteísta”[5]

Se Einstein não era ateu nem panteísta, ele só poderia ser teísta, deísta ou agnóstico. Antony Flew, considerado o maior filósofo do século passado, nos ajuda a resolver esta questão com mais citações de Einstein em seu livro: “Um Ateu Garante: Deus Existe”, publicado pouco antes de sua morte. Ali vemos várias citações que mostram claramente que a crença de Einstein era deísta (em um Deus impessoal), e que ele cria em uma força superior que criou o Universo:

“O certo é que a convicção, semelhante ao sentimento religioso, da racionalidade ou inteligibilidade do mundo, está por trás de todo trabalho científico de uma ordem superior. Essa crença firme em uma mente superior que se revela no mundo da experiência, ligada a profundo sentimento, representa minha concepção de Deus[6]

“Todos os que seriamente se empenham na busca da ciência convencem-se de que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito imensamente superior ao do homem, diante do qual nós, com nossos modestos poderes, devemos nos sentir humildes”

“Minha religiosidade consiste de uma humilde admiração pelo espírito infinitamente superior que se revela nos pequenos detalhes que podemos perceber com nossa mente frágil. Essa convicção profundamente emocional da presença de um poder racional superior, que é revelado no incompreensível universo, forma minha ideia de Deus

Este “espírito infinitamente superior”, que Einstein se referia, não era a própria natureza, mas um poder “racional”, pensante, que é revelado no Universo, e não que é o Universo. Deus é revelado pela natureza, da mesma forma que um quadro revela a obra de seu pintor. Esta visão difere-se de Espinoza, que cria que Deus era a própria natureza. Flew cita Jammer na demonstração do fato de que, embora Einstein fosse um admirador de Espinoza, ele não tinha a mesma visão sobre Deus:

“Jammer mostra que o conhecimento que Einstein tinha de Espinoza era bastante limitado, que dele lera apenas Ética e que rejeitara repetidos convites para escrever sobre sua filosofia. Em resposta a um desses convites, ele replicou: ‘Não tenho conhecimento profissional suficiente para escrever um artigo sobre Espinoza’. Embora Einstein compartilhasse a crença de Espinoza em determinismo, Jammer afirma que é ‘artificial e infundado’ presumir que o pensamento de Spinoza influenciou a ciência de Einstein. Jammer observa ainda que ‘Einstein tinha afinidade com Espinoza porque percebia que ambos sentiam necessidade de solidão e também pelo fato de terem sido criados na tradição judaica e mais tarde abandonado a religião de seus ancestrais’. Mesmo chamando atenção para o panteísmo de Espinoza, Einstein expressamente negava ser ateísta ou panteísta”

Como Flew observa, “Einstein concordava com Espinoza na ideia de que quem conhece a natureza conhece Deus, não porque a natureza seja Deus, mas porque a busca da ciência, estudando a natureza, leva à religião”. Einstein também era rápido em rejeitar o positivismo tão fortemente adotado pelos cientificistas neo-ateus como Richard Dawkins, dizendo:

"Não sou positivista. O positivismo afirma que o que não pode ser observado não existe. Essa concepção é cientificamente indefensável, porque é impossível tornar válidas afirmações sobre o que as pessoas podem, ou não podem, observar. Seria preciso dizer que apenas o que observamos existe, o que é obviamente falso"

A frase acima até parece ter sido escrita por um apologista cristão do século XXI refutando um neo-ateu, mas foi dita por Einstein. Ele derruba em um parágrafo toda a lógica de Dawkins, segundo a qual Deus não existe porque só pode existir aquilo que pode ser provado cientificamente. Essa declaração por si só mostra que, mesmo se ele fosse ateu (o que não era), ele não via qualquer oposição entre a crença em Deus e a ciência. Neste quesito, estava junto com Francis Collins, Stephen Gould e a maioria dos cristãos e cientistas, e contra os neo-ateus como Dawkins.

Einstein também reafirmou sua crença em um Deus criador ao dizer:

“A mais elevada satisfação de um cientista é chegar à compreensão de que o próprio Deus não poderia ter organizado essas conexões de nenhuma outra maneira a não ser da maneira que realmente existe, assim como não estaria em Seu poder fazer com que 4 fosse um número primo”[7]

E parece que Einstein escrevia a Dawkins quando dizia:

Os ateus fanáticos são como escravos que continuam sentindo o peso das correntes que jogaram fora depois de muita luta. São criaturas que, em seu rancor contra a religião tradicional como sendo o ‘ópio das massas’, não conseguem ouvir a música das esferas”[8]

Eu não compartilho daquele espírito de cruzada do ateu profissional, cujo fervor se deve mais a um doloroso ato de libertação dos grilhões da doutrinação religiosa recebida na juventude”[9]

Vale ressaltar que os ateus mais fanáticos da época de Einstein não chegavam nem perto do fanatismo e radicalismo do neo-ateísmo de Dawkins, que supera largamente o ateísmo tradicional predominante até então. Se era isso o que Einstein pensava dos ateus mais fanáticos de sua época, imagine o que ele diria se ele vivesse para ver o neo-ateísmo, dez mil vezes mais extremista e intolerante do que o mais fanático dos ateus de sua época!

Por fim, ainda que Einstein fosse um deísta, ele disse ser mais preferível o teísmo do que o ateísmo:

“Uma outra questão é a contestação da crença em um Deus personificado. Freud endossou essa ideia em sua última publicação. Eu próprio nunca assumiria tal tarefa, porque tal crença me parece preferível à falta de qualquer visão transcendental da vida, e imagino se seria possível dar-se, à maioria da humanidade, um meio mais sublime de satisfazer suas necessidades metafísicas”[10]

Está claro. Einstein nunca assumiria a tarefa de elaborar uma contestação ao teísmo (crença em um Deus pessoal), porque considerava o teísmo preferível à falta de “qualquer visão transcendental da vida” (=ateísmo). Essa é a prova incontestável de que Einstein estava mais para o teísmo do que para o ateísmo, além das provas que já vimos de que ele tinha uma visão deísta de mundo, que crê na existência de um Ser transcendental, ainda que impessoal.

No livro “Não tenho fé suficiente para ser ateu”, Norman Geisler e Frank Turek também acrescentam como a teoria da relatividade ajudou Einstein a crer na existência de um Deus transcendental, pois a teoria mostrou que o Universo não era eterno e estático (como se pensava até então), mas que estava em expansão – consequentemente, que havia tido um início a partir do “nada” (i.e, sem matéria, sem tempo). Einstein ficou tão maravilhado com a sua descoberta (que indicava a existência de um Deus transcendental) que declarou:

“Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no aspecto deste ou daquele elemento. Quero conhecer os pensamentos de Deus; o resto são detalhes"[11]

E, embora não fosse cristão, Einstein reconhecia que “ninguém pode ler os evangelhos sem sentir a presença real de Jesus”:

“Quando eu era criança, fui instruído tanto na Bíblia como no Talmude. Sou judeu, mas fico fascinado pela personalidade brilhante do nazareno. Ninguém pode ler os evangelhos sem sentir a presença real de Jesus. A sua personalidade pulsa em cada palavra. Nenhum mito está preenchido com tanta vida”[12]

As conclusões que podemos chegar após tudo isso é que:

Einstein não ateu. Ele negou isso explicitamente e abertamente diversas vezes.

Ele também não era panteísta, pois também rejeitou este termo expressamente.

Ele disse crer em um Ser transcendental que chamava “Deus”, como um “espírito imensamente superior ao homem”.

Ele rejeitava o positivismo e toda forma de cientificismo, que Dawkins e os neo-ateus se apegam.

Ele rejeitava o fanatismo ateu e o “ateísmo profissional” já existente em sua época, embora em fase embrionária (veio a se desenvolver mais tarde em escala maior com o surgimento do neo-ateísmo de Richard Dawkins).

Mesmo sendo deísta, ele disse preferir o teísmo do que o ateísmo.

Ele ficava zangado com as pessoas que citavam seu nome relacionando-o ao ateísmo.

Ele cria na existência de Jesus, valorizava o evangelho cristão e sustentava que “nenhum mito está preenchido com tanta vida”.

Mesmo que não tenha conseguido, ele tinha interesse em conhecer o Deus que criou o mundo.

Basta a uma pessoa consciente perguntar a si mesma: essas visões são mais compatíveis com o teísmo ou com o ateísmo? Dawkins pode legitimamente e honestamente citar Einstein em favor de sua causa (i.e, ateísmo radical que nega que um cientista “verdadeiro” possa crer em Deus), ou isso é um enorme engodo? Dawkins pesquisou seriamente antes de fazer as afirmações que fez sobre Einstein em The God Delusion ou não passa de um embusteiro? E por último, mas não menos importante: é a fé em Deus incompatível com a ciência, quando o maior cientista que já existiu cria em Deus?

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


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[1] Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007), p. 396.
[2] Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007), p. 399.
[3] Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007), p. 400.
[4] Max Jammer, Einstein e a religião; física e teologia.
[5] Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007), p. 395.
[6] Citado em Antony Flew, Um Ateu Garante: Deus Existe.
[7] Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007), p. 395.
[8] Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007), p. 400.
[9] ibid.
[10] Citado em Antony Flew, Um Ateu Garante: Deus Existe.
[11] Apud Fred Heeren, Show Me Cod. Wheeling, Ill.: Daystar, 2000, p. 135.

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