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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Dawkins dedica inúmeras
páginas de seu livro para falar da crença de Albert Einstein, que ele tenta por
meio de frases isoladas ou pessimamente interpretadas trazer para o seu lado do
ringue. É fácil entender por que ele se preocupa tanto em provar que Einstein
era ateu: simplesmente porque é considerado hoje o maior gênio – e cientista –
que já existiu. Desta forma, provar que Einstein era ateu é uma peça
fundamental no seu plano, pois ficaria feio dizer que a ciência refuta a crença
em Deus, mas que o maior cientista que já existiu cria nele!
Seria como se alguém
dissesse que “jogador de futebol só presta se for destro”, e depois adicionar:
“exceto o melhor jogador do mundo,
Lionel Messi, que é canhoto...”. Ficaria deselegante e colocaria em completo
descrédito toda a teoria. Isso explica o porquê que Dawkins parece um moleque
desesperado em seu livro, tentando juntar “provas” que mostrem que o maior
cientista que já existiu era ateu. Para ele, Einstein cria em Deus apenas no
mesmo sentido de Espinoza, como sendo a natureza, e não como os teístas ou
deístas o veem. Einstein seria então considerado um panteísta, e, na prática,
um ateu.
Ele passa quase todas as
páginas falando o que todo mundo já sabe: que Einstein não era religioso, no
sentido que entendemos do termo. Grande novidade. Mas ele sequer comenta os
textos em que o maior físico da história refuta explicitamente a ideia de que ele era um ateu. Vejamos o que o
próprio Einstein depõe a este respeito:
“Não sou ateu. O problema aí envolvido é demasiado vasto para nossas
mentes limitadas. Estamos na mesma situação de uma criancinha que entra numa
biblioteca repleta de livros em muitas línguas. A criança sabe que alguém deve
ter escrito esses livros. Ela não sabe de que maneira nem compreende os idiomas
em que foram escritos. A criança tem uma forte suspeita de que há uma ordem
misteriosa na organização dos livros, mas não sabe qual é essa ordem. É essa,
parece-me, a atitude do ser humano, mesmo do mais inteligente, em relação a
Deus. Vemos um universo maravilhosamente organizado e que obedece a certas
leis; mas compreendemos essas leis apenas muito vagamente”[1]
Este parágrafo por si só
já deveria ser suficiente para manter Dawkins de boca fechada sobre Einstein.
Como se não bastasse, o físico continua dizendo:
“Há pessoas que dizem
que não existe Deus, mas o que me deixa mais zangado é que elas citam meu nome
para apoiar essas ideias”[2]
Parece que Einstein estava
escrevendo uma resposta a Dawkins, mas não. Ao que tudo indica, já existiam
ateus querendo colocar na sua boca aquilo que ele jamais disse: que era ateu.
Ele não apenas rejeitava a ideia de que “não existe Deus”, como também se
irritava por ter seu nome relacionado a tal coisa! Walter Isaacson, autor da
maior biografia de Einstein já escrita, nos diz que “Einstein
costumava ser mais crítico em relação aos que ridicularizavam a religião, e que
pareciam carecer de humildade e do senso de deslumbramento, do que em relação
aos fieis”[3].
É com essas palavras que o
físico e filósofo Max Jammer se referiu a Einstein:
"Einstein sempre
protestou contra o fato de ser visto como ateísta. Em uma conversa com o
príncipe Hubertus de Lowenstein, ele declarou que ficava zangado com pessoas
que não acreditavam em Deus e o citavam para corroborar suas ideias. Einstein
repudiou o ateísmo porque nunca viu sua negação de um deus personificado como
uma negação de Deus"[4]
A prova mais forte de que
Einstein não era nem ateu nem panteísta vem do fato de ele ter negado ambos
explicitamente:
“Não sou ateísta, e não
acho que posso me chamar de panteísta”[5]
Se Einstein não era ateu
nem panteísta, ele só poderia ser teísta, deísta ou agnóstico. Antony Flew,
considerado o maior filósofo do século passado, nos ajuda a resolver esta
questão com mais citações de Einstein em seu livro: “Um Ateu Garante: Deus
Existe”, publicado pouco antes de sua morte. Ali vemos várias citações que
mostram claramente que a crença de Einstein era deísta (em um Deus impessoal),
e que ele cria em uma força superior que criou o Universo:
“O certo é que a
convicção, semelhante ao sentimento religioso, da racionalidade ou
inteligibilidade do mundo, está por trás de todo trabalho científico de uma
ordem superior. Essa crença firme em uma
mente superior que se revela no mundo da experiência, ligada a profundo
sentimento, representa minha concepção
de Deus”[6]
“Todos os que seriamente
se empenham na busca da ciência convencem-se de que as leis da natureza manifestam a existência de um espírito
imensamente superior ao do homem, diante do qual nós, com nossos modestos
poderes, devemos nos sentir humildes”
“Minha religiosidade
consiste de uma humilde admiração pelo espírito
infinitamente superior que se revela nos pequenos detalhes que podemos perceber
com nossa mente frágil. Essa convicção profundamente emocional da presença de um poder racional superior, que é
revelado no incompreensível universo, forma
minha ideia de Deus”
Este “espírito
infinitamente superior”, que Einstein se referia, não era a própria natureza,
mas um poder “racional”, pensante, que é revelado
no Universo, e não que é o
Universo. Deus é revelado pela natureza, da mesma forma que um quadro revela a
obra de seu pintor. Esta visão difere-se de Espinoza, que cria que Deus era a
própria natureza. Flew cita Jammer na demonstração do fato de que, embora
Einstein fosse um admirador de Espinoza, ele não tinha a mesma visão sobre
Deus:
“Jammer mostra que o
conhecimento que Einstein tinha de Espinoza era bastante limitado, que dele
lera apenas Ética e que rejeitara repetidos convites para escrever sobre sua
filosofia. Em resposta a um desses convites, ele replicou: ‘Não tenho
conhecimento profissional suficiente para escrever um artigo sobre Espinoza’.
Embora Einstein compartilhasse a crença de Espinoza em determinismo, Jammer
afirma que é ‘artificial e infundado’ presumir que o pensamento de Spinoza
influenciou a ciência de Einstein. Jammer observa ainda que ‘Einstein tinha
afinidade com Espinoza porque percebia que ambos sentiam necessidade de solidão
e também pelo fato de terem sido criados na tradição judaica e mais tarde
abandonado a religião de seus ancestrais’. Mesmo chamando atenção para o
panteísmo de Espinoza, Einstein expressamente negava ser ateísta ou panteísta”
Como Flew observa, “Einstein
concordava com Espinoza na ideia de que quem conhece a natureza conhece Deus,
não porque a natureza seja Deus, mas porque a busca da ciência, estudando a
natureza, leva à religião”. Einstein também era
rápido em rejeitar o positivismo tão fortemente adotado pelos cientificistas
neo-ateus como Richard Dawkins, dizendo:
"Não sou positivista. O positivismo
afirma que o que não pode ser observado não existe. Essa concepção é
cientificamente indefensável, porque é impossível tornar válidas afirmações
sobre o que as pessoas podem, ou não podem, observar. Seria preciso dizer que
apenas o que observamos existe, o que é obviamente falso"
A frase acima até parece
ter sido escrita por um apologista cristão do século XXI refutando um neo-ateu,
mas foi dita por Einstein. Ele derruba em um parágrafo toda a lógica de
Dawkins, segundo a qual Deus não existe porque só pode existir aquilo que pode
ser provado cientificamente. Essa declaração por si só mostra que, mesmo se ele
fosse ateu (o que não era), ele não via qualquer oposição entre a crença em
Deus e a ciência. Neste quesito, estava junto com Francis Collins, Stephen
Gould e a maioria dos cristãos e cientistas, e contra os neo-ateus como
Dawkins.
Einstein também reafirmou
sua crença em um Deus criador ao dizer:
“A mais elevada
satisfação de um cientista é chegar à compreensão de que o próprio Deus não
poderia ter organizado essas conexões de nenhuma outra maneira a não ser da
maneira que realmente existe, assim como não estaria em Seu poder fazer com que
4 fosse um número primo”[7]
E parece que Einstein
escrevia a Dawkins quando dizia:
“Os ateus fanáticos são como escravos que continuam sentindo o peso
das correntes que jogaram fora depois de muita luta. São criaturas que, em seu
rancor contra a religião tradicional como sendo o ‘ópio das massas’, não
conseguem ouvir a música das esferas”[8]
“Eu não compartilho daquele
espírito de cruzada do ateu profissional, cujo fervor se deve mais a um
doloroso ato de libertação dos grilhões da doutrinação religiosa recebida na
juventude”[9]
Vale ressaltar que os
ateus mais fanáticos da época de Einstein não chegavam nem perto do fanatismo e
radicalismo do neo-ateísmo de Dawkins, que supera largamente o ateísmo
tradicional predominante até então. Se era isso o que Einstein pensava dos
ateus mais fanáticos de sua época, imagine o que ele diria se ele vivesse para
ver o neo-ateísmo, dez mil vezes mais extremista e intolerante do que o mais
fanático dos ateus de sua época!
Por fim, ainda que
Einstein fosse um deísta, ele disse ser mais preferível o teísmo do que o
ateísmo:
“Uma outra questão é a
contestação da crença em um Deus personificado. Freud endossou essa ideia em
sua última publicação. Eu próprio nunca
assumiria tal tarefa, porque tal crença me parece preferível à falta de
qualquer visão transcendental da vida, e imagino se seria possível dar-se,
à maioria da humanidade, um meio mais sublime de satisfazer suas necessidades
metafísicas”[10]
Está claro. Einstein nunca
assumiria a tarefa de elaborar uma contestação ao teísmo (crença em um Deus
pessoal), porque considerava o teísmo preferível à falta de “qualquer visão
transcendental da vida” (=ateísmo). Essa é a prova incontestável de que
Einstein estava mais para o teísmo do que para o ateísmo, além das provas que
já vimos de que ele tinha uma visão deísta de mundo, que crê na existência de um
Ser transcendental, ainda que impessoal.
No livro “Não tenho fé
suficiente para ser ateu”, Norman Geisler e Frank Turek também acrescentam como
a teoria da relatividade ajudou Einstein a crer na existência de um Deus
transcendental, pois a teoria mostrou que o Universo não era eterno e estático
(como se pensava até então), mas que estava em expansão – consequentemente, que
havia tido um início a partir do “nada” (i.e, sem matéria, sem tempo). Einstein
ficou tão maravilhado com a sua descoberta (que indicava a existência de um
Deus transcendental) que declarou:
“Quero saber como Deus criou
o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no aspecto deste ou
daquele elemento. Quero conhecer os pensamentos de Deus; o resto são
detalhes"[11]
E, embora não fosse
cristão, Einstein reconhecia que “ninguém pode ler os evangelhos sem sentir a
presença real de Jesus”:
“Quando eu era criança,
fui instruído tanto na Bíblia como no Talmude. Sou judeu, mas fico fascinado
pela personalidade brilhante do nazareno. Ninguém pode ler os evangelhos sem
sentir a presença real de Jesus. A sua personalidade pulsa em cada palavra. Nenhum mito está preenchido com tanta vida”[12]
As conclusões que podemos
chegar após tudo isso é que:
1º Einstein não ateu. Ele
negou isso explicitamente e abertamente diversas vezes.
2º Ele também não era
panteísta, pois também rejeitou este termo expressamente.
3º Ele disse crer em um Ser
transcendental que chamava “Deus”, como um “espírito imensamente superior ao
homem”.
4º Ele rejeitava o
positivismo e toda forma de cientificismo, que Dawkins e os neo-ateus se
apegam.
5º Ele rejeitava o fanatismo
ateu e o “ateísmo profissional” já existente em sua época, embora em fase
embrionária (veio a se desenvolver mais tarde em escala maior com o surgimento
do neo-ateísmo de Richard Dawkins).
6º Mesmo sendo deísta, ele
disse preferir o teísmo do que o ateísmo.
7º Ele ficava zangado com as
pessoas que citavam seu nome relacionando-o ao ateísmo.
8º Ele cria na existência de
Jesus, valorizava o evangelho cristão e sustentava que “nenhum mito está
preenchido com tanta vida”.
8º Mesmo que não tenha
conseguido, ele tinha interesse em conhecer o Deus que criou o mundo.
Basta a uma pessoa
consciente perguntar a si mesma: essas visões são mais compatíveis com o teísmo
ou com o ateísmo? Dawkins pode legitimamente e honestamente citar Einstein em
favor de sua causa (i.e, ateísmo radical que nega que um cientista “verdadeiro”
possa crer em Deus), ou isso é um enorme engodo? Dawkins pesquisou seriamente antes
de fazer as afirmações que fez sobre Einstein em The God Delusion ou não passa de um embusteiro? E por último, mas
não menos importante: é a fé em Deus incompatível com a ciência, quando o maior
cientista que já existiu cria em Deus?
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")
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[1]
Walter Isaacson, Einstein: His life and
universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São
Paulo, 2007), p. 396.
[2]
Walter Isaacson, Einstein: His life and
universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São
Paulo, 2007), p. 399.
[3]
Walter Isaacson, Einstein: His life and
universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São
Paulo, 2007), p. 400.
[5]
Walter Isaacson, Einstein: His life and
universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São
Paulo, 2007), p. 395.
[6]
Citado em Antony Flew, Um Ateu Garante:
Deus Existe.
[7]
Walter Isaacson, Einstein: His life and
universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São
Paulo, 2007), p. 395.
[8]
Walter Isaacson, Einstein: His life and
universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São
Paulo, 2007), p. 400.
[9]
ibid.
[10]
Citado em Antony Flew, Um Ateu Garante:
Deus Existe.
[11] Apud Fred Heeren, Show Me Cod. Wheeling, Ill.: Daystar, 2000, p. 135.
[12] Saturday Evening
Post, 26 de Outubro de 1929. Disponível
em: http://www.saturdayeveningpost.com/wp-content/uploads/satevepost/what_life_means_to_einstein.pdf
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