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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Dawkins dedica um tópico
inteiro em seu livro para tratar de um experimento sobre as preces, no qual
tenta provar que a oração é inútil. Trata-se de uma iniciativa financiada pela
Fundação Templeton, para testar se a oração pelos doentes contribui para a sua
saúde. Dawkins fala sobre este experimento nas seguintes palavras:
“Os
pacientes foram divididos, de forma estritamente aleatória, em um grupo
experimental (que recebeu preces) e um grupo controle (que não recebeu preces).
Nem os pacientes, nem os médicos ou enfermeiros, nem os autores do experimento
podiam saber quais pacientes estavam recebendo orações e quais eram do grupo
controle. Aqueles que faziam as preces experimentais tinham de saber o nome dos
indivíduos por quem estavam rezando – do contrário, como saber se estavam
rezando por eles, e não por outras pessoas? Mas tomou-se o cuidado de contar
aos que faziam as preces apenas o primeiro nome da pessoa e a primeira letra do
sobrenome”
Os pacientes foram
divididos em três grupos, como Dawkins prossegue em seu relato:
“O
grupo 1 recebeu preces, mas não sabia disso. O grupo 2 (o grupo controle) não
recebeu preces e não sabia disso. O grupo 3 recebeu preces e sabia que estava
recebendo. A comparação entre os grupos l e 2 testa a eficácia das preces
intercessórias. O grupo 3 testa os possíveis efeitos psicossomáticos de saber
que se está sendo alvo de preces”
Em resumo, não houve
nenhuma diferença entre os que receberam oração e os que não receberam. Mas os
que receberam orações sabendo que
recebiam orações pioraram de estado,
o que foi considerado uma “ansiedade de desempenho”, nas palavras dos autores
da experiência. Dawkins usa este experimento como uma evidência de que Deus não
responde as orações, e que, portanto, Deus não existe – senão ele responderia
as orações. Mas essa conclusão ignora o fato de que poderia haver outras razões para Deus não ter atendido
aquelas orações, além da suposição de que “Deus não existe”.
A maior razão é que, de
acordo com a Bíblia, Deus não aceita ser testado pelo homem:
“Assim, como diz o
Espírito Santo: ‘Hoje, se vocês ouvirem a sua voz, não endureçam o coração,
como na rebelião, durante o tempo de provação no deserto, onde os seus antepassados me tentaram, pondo-me à prova, apesar de,
durante quarenta anos, terem visto o que eu fiz. Por isso fiquei irado
contra aquela geração e disse: Os seus corações estão sempre se desviando, e
eles não reconheceram os meus caminhos. Assim jurei na minha ira: Jamais
entrarão no meu descanso’" (Hebreus 3:7-11)
A questão aqui é simples.
Se Deus não aceitou ser colocado à prova com os israelitas, por que ele
aceitaria ser colocado à prova hoje? O escritor bíblico diz claramente que Deus
não aceitaria isso hoje, da mesma forma que não aceitou isso na época. Os
israelitas viam os milagres de Deus acontecendo diante deles, mas mesmo assim,
insatisfeitos, o colocavam à prova, querendo mais, querendo testá-lo. A mesma
coisa aconteceu com Jesus. Ele fazia muitos milagres por onde passava, mas sempre se recusou a realizar um milagre
quando foi colocado “à prova” por alguém.
Quando os fariseus
colocaram Jesus contra a parede exigindo-lhe um milagre para “provar” que ele
era enviado de Deus, Cristo respondeu:
“Os fariseus vieram e
começaram a interrogar Jesus. Para pô-lo
à prova, pediram-lhe um sinal do céu. Ele suspirou profundamente e disse:
‘Por que esta geração pede um sinal miraculoso? Eu lhes afirmo que nenhum sinal lhe será dado’. Então se
afastou deles, voltou para o barco e atravessou para o outro lado”
(Marcos 8:11-13)
Nem Deus, nem Jesus
enquanto esteve na Terra, aceitaram ser colocados à prova, em um “experimento”
para “provar” algo, tal como ocorreu no caso citado por Dawkins. Por isso seria
surpresa se Deus mudasse de atitude em relação a um novo “teste” no século XXI
e aceitasse ser colocado à prova desta maneira, ao invés de ser surpresa o fato
de Ele rejeitar novamente, como sempre rejeitou. Isso não significa,
obviamente, que Deus não responda as orações. Deus rejeitou ser testado pelos
israelitas, mas fazia milagres por eles. Jesus rejeitou ser testado pelos
fariseus, mas fazia milagres por aqueles que pediam com honestidade e boas
intenções.
Da mesma forma, muitos nos
dias de hoje dizem não crer em Deus e em Jesus pela falta de “evidências
extraordinárias”, ignorando todo o mundo a nossa volta, que é um projeto tão
perfeito que atesta por si mesmo a existência de um Projetista. Como todo
projeto tem um projetista, e o Universo é o projeto mais magnificamente
projetado que existe, é logicamente consistente crer em um design inteligente, a que chamamos Deus. Ele não precisa operar
milagres extraordinários – que violariam a capacidade de livre-arbítrio para
decidir crer ou não crer – pois a própria existência da vida a partir da
não-vida já é um milagre.
Biologicamente falando, a
vida só pode surgir de outra vida. Racionalmente falando, nada vem do nada. A
existência da vida, assim como a existência do Universo a partir do nada (i.e,
sem matéria, sem tempo), já constituem evidências mais que suficientes para
provar a existência de Deus – e os milagres que a ciência não explica são
apenas efeitos desta evidência maior.
Dawkins pergunta em seu livro se os religiosos desdenhariam dos resultados do
experimento se ele desse resultado positivo, mas ele não diz se ele próprio creria caso os experimentos
resultassem em positivo. É claro que não. Dawkins está tão propenso a não crer
quanto os religiosos estão propensos a crer.
É por essa razão que
Dawkins desdenha de todos os casos de orações respondidas, mas dá demasiada atenção a um único experimento cujo objetivo maior não era a cura dos
indivíduos em questão, mas colocar Deus à prova. Dawkins, por exemplo, não faz
qualquer menção às cinquenta mil
orações respondidas de George Müller (1805-1898). Todas as suas orações eram
registradas em livros, com a data do começo da petição, o pedido a Deus, a data
da resposta e como Deus respondeu. Existe o registro de cerca de 50 mil orações
de George Müller respondidas por Deus.
Em seus dias, a epidemia
da cólera aumentou drasticamente a quantidade de crianças órfãs, e Müller
sentiu o chamado de Deus para abrir um orfanato, o que se deu em 1935. O problema
era que Müller não tinha um centavo para cobrir as despesas do orfanato, e se
recusava a ficar insistindo no pedido de ofertas, como fazem muitos pastores
hoje em dia. Ele sequer aceitava receber ofertas quando saia para pregar, para
não passar a ideia de que pregava por dinheiro. Todos os recursos vinham pela
fé, e jamais o orfanato fechou ou as crianças ficaram sem ter o que comer. Em
1870 já eram cinco orfanatos e mais de duas mil crianças.
São inúmeras as histórias
marcantes em sua vida de oração. Uma delas ocorreu quando não havia mais nenhum
pedaço de pão para as crianças, e Müller pediu que todas as crianças dessem
graças a Deus pelo alimento mesmo assim, e orassem na espera por provisão.
Minutos depois um carroceiro bateu à porta, dizendo que sua carroça havia
quebrado perto dali e se queriam ficar com o carregamento de pães que estava
levando a outros lugares.
Em outra ocasião, uma das
caldeiras do orfanato parou de funcionar, e Müller precisava disso consertado.
Isso foi um problema, porque a caldeira estava emparedada e o tempo estava
piorando a cada dia. Então ele orou por duas coisas: em primeiro lugar, que os
trabalhadores que havia contratado tivessem ânimo para trabalhar durante toda a
noite, e em segundo lugar que o tempo permitisse. Na terça-feira, antes do
trabalho ter sido iniciado, um amargo vento norte ainda soprava, mas na parte
da manhã, antes dos trabalhadores chegaram, um vento sul começou a soprar e era
tão leve que não foi necessário acender fogo para aquecer as casas. Naquela
noite, o encarregado da empresa contratada compareceu no local para ver como
que ele poderia acelerar as coisas, e instruiu os homens informando, na
primeira parte da manhã, para fazer um retorno precoce ao trabalho. O líder da
equipe afirmou que eles prefeririam trabalhar durante toda a noite. O trabalho
foi feito em 30 horas.
Em outra ocasião, durante
a travessia do Atlântico, em agosto de 1877, o navio onde ele estava correu
para um espesso nevoeiro. Ele explicou ao capitão que ele precisava estar em
Quebec pela tarde do dia seguinte, mas o Capitão Joseph E. Dutton disse que ele
estava retardando o navio por segurança e o compromisso de Müller teria que ser
perdido. Müller pediu para usar a sala de navegação para orar para que o
nevoeiro se levantasse. O capitão o acompanhou, alegando que isso seria perda
de tempo. Depois que Müller orou, o capitão começou a orar, mas Müller o
deteve, em parte por causa da incredulidade do capitão, mas, principalmente,
porque ele acreditava que a oração já tinha sido respondida. Quando os dois
homens voltaram para sala de comando, eles viram que o nevoeiro havia
levantado. O capitão se tornou um cristão pouco tempo depois.
Müller cuidou de mais de dez
mil órfãos durantes os 63 anos em que decidiu confiar totalmente em Deus para o
suprimento de suas necessidades, e nunca Deus o desamparou. A diferença básica
entre ele e o experimento realizado pela Fundação Templeton é a motivação. Enquanto Müller orava sabendo que Deus existe, e buscando pura
e simplesmente o atendimento das necessidades das crianças, o experimento
moderno buscava basicamente colocar Deus à prova, para ver se ele existe ou
não. Não apenas a motivação foi errada, mas a rejeição deliberada à oração por
outros pacientes certamente seria desaprovada por Deus – diferentemente de Müller,
que orava por todos.
No livro “Oração
Intercessória”, de autoria de Dutch Sheets, há diversos relatos semelhantes aos
de Muller – e alguns até mais impressionantes – que mostram o poder da oração e
a intervenção divina na criação. De fato, quase todo cristão deve ter alguma
história para contar, onde uma intervenção só poderia ocorrer pelo dedo de
Deus. Há inclusive muitos registros de médicos que se converteram após verem
pacientes perdidos para a medicina serem curados através da fé[1].
É difícil falarmos sobre
orações respondidas com um ateu, pois o ateu já está previamente decidido que,
seja lá o que foi que aconteceu, não foi
Deus quem atendeu a oração, atribuindo qualquer fato a outras razões, por
mais improváveis que sejam – ou mesmo quando não se há nenhuma outra razão
alternativa. É por isso que se alguém tem câncer e é curado depois de uma
oração, eles preferem dizer que 0,01% de todos os cânceres regridem
espontaneamente, independentemente de fé ou crença, ao invés de admitirem uma
intervenção divina.
Da mesma forma, se um
paralítico volta a andar logo após uma oração, eles preferem dizer que a cura
foi uma “autosugestão inconsciente” e que o paralítico era portador de uma
“paralisia psicológica”, do que confessar que foi mesmo Deus que curou em
função de uma oração naquele momento. Essa é a mesma “explicação” que eles têm
para cegos que são curados no meio de um culto, ou portadores de enfermidades
diversas. No fim das contas, chega-se à conclusão de que é impossível que um ateu reconheça um milagre ou uma oração
respondida, porque ele já está pré-disposto
a rejeitar a priori qualquer
coisa do tipo e a buscar explicações alternativas por mais improváveis,
problemáticas e absurdas que sejam.
Não importa quantas provas
Deus ofereça, nem o tamanho da evidência diante de seus olhos. Ele sempre irá
buscar uma resposta alternativa inventada por ele ou absurdamente improvável –
mas que na cabeça dele é mais provável do que Deus, porque ele a priori rejeita a hipótese de “Deus”.
Diante das várias evidências da travessia do mar Vermelho[2]
há até alguns ateus que dizem que o mar abriu por causa de condições
meteorológicas e não por intervenção divina, e que este fenômeno altissimamente
raro e improvável ocorreu naquela ocasião, e os hebreus por ignorância pensaram
que fosse um milagre divino[3].
Respondendo a isto, certo
rabino disse: “O maior milagre não é o mar Vermelho ter
sido aberto, mas é ter sido aberto exatamente
quando os hebreus precisavam que fosse”. De fato, o próprio livro
do Êxodo descreve que “o
Senhor fez retirar o mar por um forte vento oriental toda aquela noite;
e o mar tornou-se em seco, e as águas foram partidas”
(Êx.14:21). Ele não nega que houve um
fenômeno natural (o forte vento oriental durante a noite inteira), mas o
atribui a Deus. O maior milagre, portanto, não foi a abertura do mar em si (que
em condições naturais poderia ocorrer esporadicamente a cada período de
milhares de anos), mas sim o de o mar ter sido aberto exatamente no único momento em que os hebreus oravam, e que precisavam que
fosse aberto.
O problema dos ateus é
que, ao tirar Deus da jogada e exclui-o a
priori de qualquer explicação, eles colocam no lugar qualquer explicação
muito mais absurda, irracional e ilógica, passando a crer em qualquer coisa,
quase sempre atribuindo à “sorte” e ao “acaso” os inúmeros casos onde a
intervenção divina seria muito mais evidente. Assim, eles mantêm seu ceticismo
em relação a Deus, mas adicionam uma medida muito
maior de fé em coisas altamente improváveis, para não dizer praticamente
impossíveis. Acabam sendo “céticos” em relação a uma coisa, mas excessivamente
crédulos em relação a outras várias coisas muito mais improváveis.
É como se você fosse parar
em uma ilha deserta, crendo a priori que
é impossível que existam seres humanos vivendo ali, e então começa a encontrar
grafias nas pedras, um relógio no chão e uma bola de futebol na areia. Mesmo
assim, em seu ceticismo prefere negar que pessoas estão ou estiveram ali, e no
lugar disso começa a cogitar hipóteses que você considera mais “naturais”,
como, por exemplo, o fato de tudo não passar de uma “formação geológica
incomum”, ou que os objetos foram criados pelo vento ou pela chuva, ou por
erosão ou pela combinação de “forças naturais”.
Seja lá o que for
cogitado, será mais absurdo e difícil de ser acreditado do que a hipótese de
que pessoas vivem ou viviam ali até pouco tempo. Seria necessário um nível de
fé maior em crer nas hipóteses
alternativas e “naturais” do que o nível de fé necessário para crer na
explicação mais “fácil” e simples: de que algum ser inteligente fabricou o
relógio, escreveu nas pedras e gostava de futebol! Como dizia Chesterton, quando
deixamos de acreditar em Deus acabamos crendo em qualquer bobagem.
Assim, para o ateu
profissional nenhuma prova seria suficiente, pois ele sempre inventaria uma
teoria alternativa que – por mais ridícula, absurda e improvável que seja – ele
considera mais provável que Deus. Todas as pessoas que foram curadas de doenças
incuráveis, que foram desacreditadas pela medicina e depois saradas pela fé,
que tiveram a vida transformada, que eram cegas e passaram a ver, paralíticas e
passaram a andar, surdas e passaram a ouvir, nada disso será suficiente para o
ateu, que sempre estará de coração fechado para qualquer evidência interna ou
externa que leve a um Criador, sempre procurando explicar os casos com algo que
exija mais fé do que Deus, para manter o ceticismo em relação a Deus.
Há alguns ateus que dizem
que creriam se visse um amputado ser curado, e perguntam em tom desafiador “por
que Deus não cura os amputados”. A resposta à segunda questão está em João
15:24, que diz que Jesus realizou maravilhas que ninguém mais fez ou é capaz de fazer. Nem na Bíblia alguma outra
pessoa do Antigo ou Novo Testamento curou amputados, só Jesus (Lc.22:50-51).
Este era um dos sinais únicos de Cristo, exclusivos a ele, como uma
prova conclusiva de que era o Messias. Se todos pudessem fazer qualquer tipo de
milagre, então não sobraria nenhum milagre que Jesus poderia fazer que o distinguisse e o destacasse dos demais “curandeiros”. Jesus na terra realizou certos
milagres únicos que nenhum outro homem havia visto e nem verá.
Mesmo assim, não acredite
em um ateu quando ele diz que creria se visse um amputado ser curado. Isso é
puro blefe. Se eles não creem com os cegos que veem, com os paralíticos que
andam, com os surdos que ouvem e nem com os mudos que falam, atribuindo os
feitos às conjecturas mais absurdas e improváveis, então é óbvio que eles
também não se deixariam convencer por um amputado que fosse curado. Eles mais
uma vez inventariam uma especulação pseudo-científica que nem de longe resolve
o problema ou então lançariam mão do mais famoso trunfo deles, que é a frase:
“eu não sei explicar isso, mas isso não significa que é Deus”. E pronto. Não se
convenceria.
Além disso, se Deus
curasse os amputados, eles mudariam o discurso para os cegos, por exemplo: “Por
que Deus não cura os cegos?”. E se curasse os cegos mudariam para os que têm
câncer: “Por que Deus não cura os que têm câncer?”. E se curasse os que têm
câncer mudariam para os surdos: “Por que Deus não cura os surdos?”. E se
curasse os surdos passariam para os paralíticos, e dos paralíticos para os
coxos, e dos coxos para os mudos, e assim sucessivamente. Como já foi dito,
para o ateu nenhuma prova é suficiente. Nada, nada mesmo.
Há alguns anos eu estava
conversando com uma pessoa descrente, que dizia que mesmo se visse um anjo na
frente dela, lhe dizendo qualquer coisa que seja, ela mesmo assim não creria no
sobrenatural, preferindo crer que era algo como uma alucinação. A velha tática
dos ateus em dizer que “se Deus descer do Céu e se manifestar eu creio nele” é
falsa. A verdade é que eles não creriam nem assim. Não existe algo que possa ser considerado “evidência suficiente”
para eles. Já há uma predisposição à
descrença, e mesmo se Deus ou um anjo aparecer diante deles eles serão
“crentes” durante alguns minutos, mas logo depois pensarão em causas
“racionais” que desmentirão a própria visão. Deus não poderia “provar” sua
existência a eles nem desta maneira (supondo que Deus vivesse para provar sua
existência a uma criatura!).
Existem inúmeros
testemunhos pessoais que entram neste conjunto que nós podemos considerar
“orações respondidas”, mas que o ateu irá buscar uma explicação mais irracional
que exija mais fé. Para não buscar “testemunhos de testemunhos” (de terceira
mão), de pessoas que podem até ser honestas mas que eu não conheço bem, irei
citar um fato que aconteceu com a minha mãe, há vários anos. Posso mencionar
este porque, embora tenha se passado muito tempo, ainda me lembro como se fosse
ontem da alegria dela ao me contar que havia recebido uma carta (carta mesmo, e
não e-mail).
Ela estava tão contente
que eu pensava que tínhamos ganhado na loteria e mudaríamos para Miami, mas
quando ela contou o que aconteceu eu me decepcionei, pelo menos em um primeiro
momento. Nada mais tinha acontecido senão que ela tinha recebido uma carta da
vizinha fazendo as pazes. “Grande coisa”, eu pensei, desanimado. Depois que ela
continuou a contar o relato que eu fui entender o porquê da alegria dela, que
não era tanto por causa da carta em si.
Deus (para os cristãos) ou
uma “autosugestão” (para os ateus) havia dito audivelmente para ela para ir naquele momento à caixa de correios no
portão da casa, porque a vizinha havia enviado uma carta de reconciliação. A
ideia era em si mesmo ridícula, por várias razões. Primeiro porque estavam
brigadas há muito tempo, segundo porque seria no mínimo estranho que a vizinha entregasse uma carta ao invés de falar pessoalmente,
terceiro porque nós quase nunca recebíamos carta nenhuma de pessoa nenhuma (muito
menos da vizinha), e quarto porque o que ela ouviu era bem específico, e só poderia se confirmar caso realmente houvesse
uma carta naquele momento, daquela pessoa
e com aquele conteúdo.
Quando ela foi ao correio
e confirmou que havia recebido uma carta (que havia sido colocada ali algumas
horas antes) daquela pessoa e com aquele conteúdo, explicou-se a razão da
felicidade. Um cristão não precisaria de mais nada para concluir que o que ela
ouviu foi mesmo Deus, mas um ateu insistiria na tese de que ela ouviu “coisas
da cabeça dela” por “autosugestão”, mesmo sendo algo tão fora do comum, mesmo
sendo algo probabilisticamente “impossível” de acontecer por acaso e mesmo
sendo algo bem específico que se
confirmou totalmente.
Basicamente, ele teria que
afirmar que:
a)
A “voz” ouvida foi uma
autosugestão, isto é, uma coisa da cabeça dela, e, como algo irreal,
praticamente impossível de se concretizar no mundo real, em tese.
b)
Mas, “coincidentemente”,
havia mesmo uma carta ali, enviada poucas horas antes, ainda que nós nunca
recebêssemos cartas.
c)
“Coincidentemente” também,
quem enviou foi exatamente a mesma pessoa que a “voz” havia dito que era, ainda
que fosse extremamente improvável pelas circunstâncias (por ser uma pessoa que
dificilmente se corresponderia por carta).
d)
“Coincidentemente” também,
o tema da carta era exatamente o mesmo que foi dito, ainda que fosse o tema
mais improvável de todos, dada as circunstâncias da época entre as duas.
Este “show de
coincidências” elevaria a possibilidade disto acontecer “ao natural” (i.e, sem
intervenção divina) à quase zero, e as chances de qualquer uma destas coisas não terem acontecido era infinitamente
maior, mas o ateu estaria disposto a ser totalmente crédulo em relação a esta
probabilidade pífia, mas inteiramente cético em relação à hipótese mais simples
de Deus[4].
O problema é que para tirar a “hipótese Deus” tão violentamente do cenário os
ateus precisariam ter uma prova ainda
mais forte da inexistência de Deus, o que eles assumidamente não
têm.
No máximo, eles dizem que
são ateus porque “não há provas” da existência dele, e não porque eles têm
provas do contrário. Portanto Deus permaneceria como hipótese, e como hipótese
seria menos improvável do que a
combinação absurda de “coincidências” na complexidade do Universo, na
existência da vida, na complexidade da vida, nas orações respondidas, nas curas
instantâneas por fé e nas profecias cumpridas.
Por fim, é errada a
conclusão de que qualquer oração não respondida “prove” que Deus não exista. Um
estudo completo sobre as causas das orações não respondidas demandaria um livro
inteiro para tratar teologicamente um tema tão profundo como a oração, mas seis
causas da oração não-respondida foram mencionadas pelo pastor David Wilkerson
em um artigo onde ele aborda mais de perto cada um delas[5],
e aqui eu apenas citarei as razões:
a)
Quando a oração não está
de acordo com a vontade de Deus.
b)
Quando tem como meta
realizar uma cobiça, sonho ou ilusão.
c)
Quando não fazemos a nossa
parte para que a oração se cumpra.
d)
Quando guardamos
ressentimento ou ódio no coração contra alguém.
e)
Quando não esperamos muito
delas.
f)
Quando oramos para colocar
Deus à prova.
Mesmo na Bíblia estas
razões foram suficientes para que Deus não atendesse as orações de um servo
dele. Não deveríamos esperar, portanto, que Deus atenda positivamente a todas as orações nos nossos dias, o que
não significa, obviamente, que Ele não exista ou que não responda orações.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")
- Veja uma lista completa de livros meus clicando aqui.
- Acesse o meu canal no YouTube clicando aqui.
[4]
Este é somente um exemplo, mas existem milhares senão milhões de cristãos que
passaram por “coincidências” do tipo, cuja probabilidade de ter sido o acaso e
não Deus é virtualmente zero.
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