sexta-feira, 14 de agosto de 2015

O neo-ateísmo - Uma análise e refutação


Introdução

Ateus sempre existiram, e, até Jesus voltar, sempre existirão. No entanto, o “neo” ateísmo é um fenômeno recente. Enquanto os antigos ateus tinham por crença a inexistência de Deus e não iam muito além disso, os novos ateus são ateus militantes. Isso significa que o típico neo-ateu não se satisfaz em apenas não crer em Deus: ele quer fazer de tudo para levar os outros a não crerem também. O neo-ateu é um “evangelista” ao contrário. Enquanto os ateus mais sérios não se envolvem em enormes discussões e contendas sobre religião e muito menos incentivavam o ódio ou o preconceito contra os que creem, os neo-ateus seguem uma cartilha que incentiva explicitamente a intolerância religiosa e um ativismo contra todas as religiões, com uma ênfase mais específica que recai ao Cristianismo.

Os maiores ícones desta nova geração de ateus são o já falecido jornalista Christopher Hitchens, o neurocientista Sam Harris, o filósofo Daniel Dennett e o biólogo Richard Dawkins, que é o nome mais proeminente entre os neo-ateus. Para perceber o tratamento que eles oferecem à religião, basta uma lida em qualquer um de seus vários livros contra a fé. Em seu livro “Deus não é Grande”, Christopher Hitchens assevera:

“Visto que a religião tem provado que ela é unicamente deliquente, nós podemos concluir que a religião não é apenas amoral, mas também imoral. A religião envenena tudo. Além de ser uma ameaça para a civilização, ela é uma ameaça para a sobrevivência da própria espécie humana”[1]

Sam Harris nos dá outro belo exemplo de como os neo-ateus devem tratar os religiosos:

“A ridicularização pública é um princípio. Uma vez que você deixa de lado o tabu que é criticar a fé e exige que as pessoas comecem a falar com sentido, então a capacidade de fazer as certezas religiosas parecerem estúpidas, fará nós começarmos a rir na cara das pessoas que acreditam aquilo que Tom DeLays, que Pat Robersons do mundo acreditam. Nós vamos rir deles de uma maneira que será sinônimo de excluí-los do nossos salões do poder”[2]

Os neo-ateus costumam usar muito a Bíblia, embora sempre de forma deturpada e isolada, e apenas para tentar destruí-la. É assim que Richard Dawkins, após comentar sobre algumas “atrocidades” presente no Antigo Testamento, descreve o Deus judaico-cristão:

"O Deus do Antigo Testamento é talvez o personagem mais desagradável da ficção: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento, megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo. Aqueles que são acostumados desde a infância ao jeitão dele podem ficar dessensibilizados com o terror que sentem"[3]

Acusações contra os cristãos é o que não falta no neo-ateísmo: os cristãos são frequentemente atacados por supostamente serem contra o avanço científico, são responsabilizados pelas guerras no mundo e por seguirem um livro “obsoleto”. Dawkins vai mais adiante e coloca a crença em Deus no mesmo patamar da crença em fadas e gnomos[4]. É realmente um caso grave, que merece ser analisado com mais atenção.


Há um confronto entre a fé e a ciência?

O maior e mais rotineiro ataque dos neo-ateus contra os religiosos é baseado na ciência, que é a principal bandeira do neo-ateísmo. Ele sobrevive por meio de frames como “Fé ou Razão?”, onde somos colocados em uma situação na qual nos vemos forçados a aceitar a fé e rejeitar a razão, ou a aceitar a razão e rejeitar a fé. Trata-se, evidentemente, de um dilema de fachada, expresso através da falácia da falsa dicotomia, que é quando duas proposições são apresentadas como se fossem contraditórias entre si, quando elas podem ser perfeitamente conciliáveis.

Grandes homens da ciência foram cristãos, como Pascal, Newton, Copérnico, Faraday, Pasteur, Boyle, Da Vinci, e muitos outros. De fato, praticamente todos os cientistas renomados que nos trouxeram a ciência moderna eram religiosos, e, destes, a esmagadora maioria era cristã. Eles nunca precisaram abdicar à razão para nos dar a ciência que temos hoje. Colocar a fé em conflito com a ciência é somente uma jogada desonesta para tentar sutilmente dizer que para ser a favor da ciência é necessário ser contra a ideia de Deus, embora as duas coisas não sejam realmente conflitantes.

A pretensa superioridade intelectual e racional do ateísmo é destruída quando vemos que muitos dos grandes intelectuais e gênios que já pisaram neste planeta criam em Deus. Albert Einstein não era cristão, mas era teísta. Ele rejeitava a acusação de ser “ateu”, dizendo:

“Há pessoas que dizem que não existe Deus, mas o que me deixa mais zangado é que elas citam meu nome para apoiar essas ideias”[5]

Einstein disse também:

“Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado neste ou naquele fenômeno, no aspecto deste ou daquele elemento. Quero conhecer os pensamentos de Deus; o resto são detalhes”[6]

Embora o homem que é considerado o mais inteligente da história cresse na existência de Deus, os neo-ateus querem a todo custo que compremos o discurso de que as pessoas “inteligentes” e “evoluídas” precisam ser ateístas. Cada vez mais este conceito está caindo em desuso. Um dos maiores cientistas do mundo, Francis Collins, diretor do projeto genoma humano, era um ateu que se tornou cristão após analisar as evidências. Ele escreveu em 2006 o livro “A Linguagem de Deus”, no mesmo ano em que era publicado o livro “Deus, um Delírio”, no qual Richard Dawkins dizia que a ciência e a crença em Deus são incompatíveis.

Um dos maiores filósofos do século XX, chamado Antony Flew, era um notório ateu. Ele chegou a debater sobre a existência de Deus contra proeminentes apologistas cristãos, como William Lane Craig. Porém, embora fosse tão aclamado pelos ateus, Flew passou a crer em Deus no período final de sua vida, adotando o ponto de vista teísta. Ele escreveu o livro chamado “Um Ateu Garante: Deus Existe”, onde dedica um apêndice para as evidências da ressurreição de Jesus, escrito pelo apologista cristão e bispo anglicano N. T. Wright. Restou aos neo-ateus a acusação de que Flew estava “velho demais” e que por isso teria perdido a razão.

Embora seja verdade que o número de religiosos tenha caído bastante desde os últimos cem anos, o número de cientistas teístas tem se mantido estável de um século pra cá. Uma pesquisa realizada em escala global em 1916 mostrou que 40% dos cientistas criam em um Deus pessoal que intervém na natureza e realiza milagres. A mesma pesquisa foi repetida 81 anos depois, e Alister McGrath discorreu sobre os resultados:

“Em 1916, cientistas diligentes foram inquiridos sobre se acreditavam em Deus, especificamente num Deus que se comunica de modo zeloso com a humanidade e a quem se possa orar ‘na expectativa de receber uma resposta’. Os deístas não acreditam num Deus segundo essa definição. Os resultados ficaram famosos: grosso modo, 40% acreditavam nesse tipo de Deus, 40% não e 20% não tinham certeza. Valendo-se dessa mesma pergunta, a pesquisa foi repetida em 1997 e resultou quase exatamente no mesmo padrão, com um leve aumento dos que não acreditavam (chegando a 45%). O número dos que acreditavam em Deus permaneceu estável, em torno de 40%”[7]

A pretensa “superioridade intelectual” do neo-ateísmo também fracassa miseravelmente quando testada e colocada em prática nos debates. Apologistas cristãos como William Lane Craig, John Lennox e Dinesh D’Souza tem defendido a visão teísta-cristã sobre o mundo com enorme capacidade, e em linhas gerais tem levado grande vantagem contra seus oponentes ateus. No prefácio do livro “Em Guarda” (de William Lane Craig), escrito pelo ex-ateu Lee Strobel (autor do livro “Em Defesa de Cristo”), há um relato sobre como começou a ideia de debates entre cristãos e neo-ateus nas igrejas e universidades. Craig foi o debatedor cristão naquela ocasião, e Strobel nos conta o resultado do debate:

“Ao final de duas horas de debate, pedimos que a audiência votasse. Uma porcentagem de 82% dos ateus, agnósticos e outros não-cristãos concluíram que a evidência apresentada em favor do cristianismo fora a mais convincente. E veja só isto: quarenta e sete pessoas chegaram ao debate como ateus, e após ouvir os dois lados, foram embora acreditando na existência de Deus. E mais: nem uma pessoa sequer se tornou um ateu. A afirmação de que os cristãos têm uma vantagem injusta no mercado de ideias era impressionante: Nós temos a verdade do nosso lado!”[8]

Isso definitivamente não é compatível com o mundo de fantasia em que ser ateu é ter superioridade intelectual e ser cristão é ser atrasado e irracional!


O cientificismo e seus pressupostos

Para evocar que há algum tipo de contradição na relação entre a fé em Deus e a ciência, os neo-ateus apelam para uma falácia histórica conhecida como cientificismo, que é a crença na qual tudo o que não pode ser provado cientificamente deve ser rejeitado como falso. Dawkins apela amplamente para essa falácia em seu livro mais famoso, The God Delusion. Para o autor, se Deus não pode ser provado cientificamente, então Deus não existe.

Há numerosos problemas com esta presunção. Em primeiro lugar, há muitas coisas que a ciência definitivamente não pode provar, mas que somos todos racionais para aceitá-las mesmo sem a confirmação científica. Em um famoso debate entre o filósofo cristão William Lane Craig e o químico ateu Peter Atkins, este tentou usar o cientificismo para impugnar a crença em Deus, e Craig lhe refutou em seus próprios pressupostos, mostrando-lhe uma série de coisas que não podem ser provadas pela ciência, mas que Atkins (e demais ateus) cria assim mesmo.

Em primeiro lugar, verdades lógicas e matemáticas não podem ser provadas cientificamente, porque a ciência pressupõe a lógica e a matemática, e, por isso, tentar prová-las mediante a ciência seria argumentar em círculos.

Em segundo lugar, verdades metafísicas também não podem ser provadas cientificamente. Não há como efetivamente provar que há outras mentes além da nossa, ou que o mundo externo é real, ou que o passado não foi criado há cinco minutos aparentando ser mais velho. Não há como provar pela ciência que não estamos em uma “Matrix”, tal como no famoso e revolucionário filme de ficção científica.

Em terceiro lugar, crenças étnicas sobre declarações de valor não podem ser provadas cientificamente. Não é possível provar pela ciência que o que os nazistas fizeram nos campos de concentração foi algo mau, e que o que madre Tereza fazia era algo bom. Esta concepção não é extraída através puramente do método científico.

Em quarto lugar, julgamentos estéticos não podem ser provados cientificamente. O bom e o belo não podem ser colocados em um tubo de ensaio. Não é possível provar que Brad Pitt é belo, e Zé do Caixão é feio. Mas não somos irracionais em pensar que isso é verdade!

Em quinto lugar, e o caso mais interessante, é que a própria ciência não pode ser provada cientificamente. A ciência está repleta de pressupostos tomados como verdades a priori, tais como, por exemplo, que a velocidade da luz é sempre constante entre quaisquer pontos A e B, em qualquer parte do universo. Os cientistas têm que pressupor para manterem as teorias de pé, e eles não são irracionais por fazerem isso.

Finalmente, o maior equívoco do cientificismo é pensar que um ser como Deus precisaria ser provado cientificamente. Isso é por si mesmo algo sem nexo. Se Deus existe, ele está fora do universo, e a ciência é a forma de pesquisar as coisas que estão dentro do universo. Consequentemente, se Deus existe ou não, isso é algo que está fora do alcance da ciência – ela não pode provar que existe, e também não pode provar que não existe. O naturalismo não é mais do que um pressuposto que é tomado como verdade pelos neo-ateus sem qualquer prova. Simplesmente não é possível afirmar cientificamente que existe ou não existe algo a mais que o universo, ou além dele. Afirmar que o universo é tudo o que existe é apenas um pressuposto, uma premissa, e não uma conclusão lógica que siga construções argumentacionais.

O famoso escritor cristão C. S. Lewis discorreu sobre essa questão em seu conhecido livro “Cristianismo Puro e Simples”, onde diz:

“A ciência funciona a partir da experiência e observa como as coisas se comportam. Todo enunciado científico, por mais complicado que pareça à primeira vista, na verdade significa algo como ‘apontei o telescópio para tal parte do Céu às 2h20min do dia 15 de janeiro e vi tal e tal fenômeno’, ou “coloquei um pouco deste material num recipiente, aqueci-o a uma temperatura X e tal coisa aconteceu” (...) Agora, perguntas como ‘Por que algo veio a existir?’ e ‘Será que existe algo – algo de outra espécie – por trás das coisas que a ciência observa?’ não são perguntas científicas. Se existe ‘algo por trás’, ou ele há de manter-se totalmente desconhecido para o homem ou far-se-á revelar por outros meios. A ciência não pode dizer nem que este ser existe nem que não existe, e os verdadeiros cientistas geralmente não fazem essas declarações (...) Suponha que a ciência algum dia se tornasse completa, tendo o conhecimento total de cada mínimo detalhe do Universo. Não é óbvio que perguntas como ‘Por que existe um Universo?’, ‘Por que ele continua existindo?’ e ‘Qual o significado de sua existência?’ continuariam intactas?”[9]

Muitos cientistas sérios tem se levantado contra o cientificismo, que, em suas próprias palavras, tem destruído a ciência, permeando-a de pressupostos falsos. Em um artigo de 14 páginas, o cientista Austin L. Hughes, professor de ciências biológicas da Universidade da Carolina do Sul, conclui:

"De todas as modas e manias na longa história da credulidade humana, o cientificismo em todas as suas formas variadas – desde a cosmologia fantasiosa até a epistemologia evolutiva e ética – aparece entre as mais perigosas, tanto por fingir ser algo muito diferente do que realmente é, quanto por ser concebido para a adesão generalizada e acrítica. A insistência sobre a competência universal da ciência servirá apenas para minar a credibilidade da ciência como um todo. O resultado final será um aumento de ceticismo radical que questiona a capacidade da ciência para tratar até mesmo as questões legitimamente dentro de sua esfera de competência. Deve-se anseiar por um novo iluminismo para derrotar as pretensões desta última superstição"[10]

O cientista Ian Hutchinson, doutor em engenharia e ciência nuclear, escreveu um livro inteiro refutando o cientificismo, chamado “Monopolizing Knowledge”. Em uma entrevista, ele também refutou a crendice neo-ateísta de que a ciência se opõe à religião e conflita com esta:

"O cientificismo é uma crença muito espalhada e errônea de que a ciência é o conhecimento real de tudo o que existe, e que qualquer coisa que não possa ser compreendida pela ciência não conta como conhecimento (...) A ciência é diferente não só da religião mas também da história, de análises políticas, de sociologia ou de jurisprudência. Nenhuma dessas coisas são ciências e mesmo assim têm seu conhecimento real"[11]

Qualquer pessoa racional conclui que o cientificismo não é mais do que uma falácia pseudo-científica que tenta se impor sobre os demais ramos do conhecimento, mas sem sustentar sua defesa em argumentos plausíveis.


A religião é a raiz de todos os males?

A outra bandeia dos neo-ateus contra a religião é que a religião é a “raiz de todos os males”, para usar um lema utilizado por Dawkins como o título de um famoso documentário produzido por ele na década passada. Os neo-ateus responsabilizam a religião por quase todos os males do mundo, pelas guerras, pelos genocídios, pelo preconceito, e assim por diante. Para eles, o mundo seria um lugar muito mais feliz e alegre se não houvesse religiosos o “poluindo”.

As acusações são várias e bem famosas: inquisição, cruzadas, caça às bruxas, confronto no Oriente Médio, etc. O problema com esta argumentação é que, embora a religião tenha sido por vezes usada como pano de fundo para alguém realizar o mal, ela não é a raiz do mal. Ela foi simplesmente um meio utilizável para a ação do mal, um pretexto, e não a causa em si. A maior prova disso é que quando a religião saía de cena, as mortes não cessavam, elas apenas mudavam de causa. Alister McGrath corretamente observa:

"Dawkins não consegue entender que, ao rejeitar a idéia de Deus, a sociedade tende a transcendentalizar alternativas como os ideais de liberdade ou igualdade. Estes se tornam imediatamente autoridades quase divinas, que a ninguém é permitido desafiar. Talvez o exemplo mais familiar seja a Revolução Francesa, um tempo em que as noções tradicionais de Deus foram descartadas como obsoletas e substituídas pelos valores humanos transcendentalizados. Madame Rolande foi levada à guilhotina, em 1792, para ser executada sob falsas acusações. Quando se preparava para morrer, ela se curvou zombeteiramente para a estátua da liberdade na Place de Ia Révolution e proferiu as palavras pelas quais é lembrada: ‘Liberdade, quantos crimes são cometidos em seu nome’. Todos os ideais divinos, transcendentes, humanos ou inventados podem ser mal usados. Assim é a natureza humana. E, cientes disso, precisamos decidir que fazer a respeito, em vez de atacar indiscriminadamente a religião"[12]

A prova mais clara de que nenhuma pessoa séria poderia jogar na religião a culpa por todos os males do mundo é que os regimes que descartaram a religião, colocando-a para fora da vida pública e até mesmo da vida privada, foram justamente aqueles que mais mataram pessoas inocentes por uma “causa”. Luciano Ayan afirma:

"Quem quer que leia qualquer estrategista de guerra sabe que adornar seus projetos de violência com enfeites morais é um imperativo político. Na época, o símbolo ‘Deus quer’ foi usado. Nos genocídios da Rússia, China e Alemanha Nazista esse símbolo foi trocado por outros. Então a causa está em outro lugar"[13]

Na China comunista-ateísta sob a liderança do ateu Mao Tsé-Tung, foram mais de 65 milhões de mortos no país entre 1949 até 1976. Já na União Soviética comunista-ateísta sob a liderança do ateu Josef Stalin, foram mais de 20 milhões de mortos, no famoso holodomor. Muitos outros morreram sobre os regimes genocidas dos ditadores ateístas norte-coreanos, ou na ditadura cubana de Fidel Castro, ou no Camboja, onde o revolucionário comunista ateu Pol Pot exterminou 1,7 milhões de seu próprio povo (dentre os 2,5 milhões existentes).

Na Rússia, os ateus invadiam as igrejas ortodoxas, as queimavam e matavam muitos clérigos. Eles destruíram completamente 41 mil das 48 mil igrejas existentes na Rússia entre 1917 e 1969. Os cartazes e panfletos populares do governo da época estampavam com prazer lemas como “a religião é o ópio do povo”, “abaixo as festas religiosas” e “contra todas as religiões”. McGrath assinala:

“Em seus esforços de forçar a ideologia ateísta, as autoridades soviéticas destruíram e eliminaram sistematicamente a grande maioria das igrejas e dos sacerdotes entre 1918 e 1941. As estatísticas apresentam um quadro terrível. A violência e a repressão foram empreendidas na busca de um programa ateísta: a eliminação da religião”[14]

Richard Wurmbrand, um pastor torturado durante este regime, conta em seu livro suas memórias sobre a “religião” ateísta colocada em prática pelos comunistas:

“Nós, crentes, éramos colocados em caixões apenas um pouco maiores do que nós. Não havia lugar para qualquer movimento. Muitas dúzias de pregos com suas pontas afiadas como giletes eram colocadas por todos os lados. Enquanto estávamos perfeitamente quietos, tudo ia bem. Éramos forçados a permanecer nessas caixas horas a fio. Quando, porém, nos fatigávamos e tombávamos de cansaço, os pregos estavam em nosso corpo. Se nos movêssemos, ou estremecêssemos um músculo, ali estariam os horríveis pregos”[15]

As torturas incluíam também crucificação, para zombar dos cristãos:

“Ali descrevi coisas horríveis, tais como crentes amarrados em cruzes por quatro dias e quatro noites. A seguir eram as cruzes colocadas no chão e centenas de prisioneiros tinham de atender suas necessidades fisiológicas em cima dos rostos e dos corpos dos que estavam crucificados. Depois as cruzes eram de novo levantadas e os comunistas escarneciam: ‘Olhem para o Cristo de vocês! Que bonito ele é! E que fragrância traz dos céus!’. Descrevi como, depois de ficar quase louco pelas torturas, um padre ortodoxo foi obrigado a consagrar fezes e urina humana para dar em comunhão aos cristãos. Isso aconteceu na prisão de Pitesti, na Romênia”[16]

Tudo isso mostra de forma clara e inequívoca que o ateísmo não apenas pode, mas de fato foi usado para o mal, ao longo da história humana. Não é apenas a religião que pode ser um mal utilizável por pessoas inescrupulosas.

Os ateístas assassinaram mais de 100 milhões de pessoas no mundo todo (sem falar no estupro de mais de cinco milhões de mulheres), contando apenas o século passado. Os dados são expostos no "Livro Negro do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão", que é uma obra coletiva de professores e pesquisadores universitários europeus. O livro foi editado por Stéphane Courtois, diretor de pesquisas do Centre national de la recherche scientifique (CNRS), e seu lançamento ocorreu por ocasião dos 80 anos da Revolução Russa. De lá para cá os comunistas sob um regime ateísta já mataram muito mais, mas os dados coletados até aquele momento mostravam:

• 20 milhões de mortos na União Soviética;
• 65 milhões de mortos na República Popular da China;
• 1 milhão de mortos no Vietname;
• 2 milhões de mortos na Coreia do norte;
• 2 milhões de mortos no Camboja;
• 1 milhão de mortos nos Estados Comunistas do Leste Europeu;
• 150 mil mortos na América Latina;
• 1,7 milhões de mortos na África;
• 1,5 milhões de mortos no Afeganistão;
• 10 mil mortes resultantes das ações do movimento internacional comunista e de partidos comunistas fora do poder.

Portanto, um neo-ateu que usa como argumento contra a religião as “guerras em nome de Deus” deveria também impugnar seu próprio ateísmo em função do genocídio impregnado por pessoas que não criam em Deus e que não admitiam a existência de qualquer indivíduo que cresse. Se a religião pode ter seu lado extremista e intolerante, o neo-ateísmo é o próprio lado extremista e intolerante do ateísmo. Pessoas intolerantes e fanáticas já mataram por pretexto de religião, e pessoas intolerantes e fanáticas já mataram por pretexto de ateísmo.

O preconceito e a intolerância não nascem da religião, mas de qualquer sistema que possa levar ao fanatismo – ateísmo incluso. Torcidas organizadas matam por causa de futebol, mas nem por isso é sábio acabar com a prática do futebol no planeta em razão destes casos extremos. Religiosos já mataram pessoas no passado por causa de religião, mas nem por isso devemos proibir a religião em função destes casos extremos. Nem o próprio ateísmo deve ser proibido, embora tenha matado muito mais. Infelizmente, neo-ateus não costumam usar de critério ou bom senso em sua luta árdua e incansável contra a religião.


Crítica à Bíblia

Qualquer livro do mundo, se tomado fora de contexto ou distorcidamente, irá suscitar críticas e julgamentos. Com a Bíblia não poderia ser diferente, ainda mais levando-se em conta que se trata de um livro tão grande, escrito em uma época tão remota, e por tantos autores diferentes. Há pessoas que só lêem a Bíblia na única e específica missão de destruí-la. Como “quem procura, encontra”, é natural que torçam versos isolados para usá-los contra os cristãos.

A primeira tática empregada por neo-ateus contra a Bíblia é apontar “contradições” internas nela. Apologistas cristãos tem se saído muito bem em refutar essas supostas “contradições” da Bíblia. Norman Geisler e Thomas Howe escreveram um “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia”, onde refutam mais de 800 destas supostas “contradições”. Pipe Desertor foi além e refutou todas as duas mil supostas “contradições” expostas na “Bíblia do Cético”[17].

A segunda estratégia empregada por neo-ateus é tentar caracterizar o Deus da Bíblia como um “monstro moral”, se apropriando de certos textos do Antigo Testamento que supostamente retratam um Deus que ensina o ódio, o genocídio e o misoginismo. Paul Copan fez um excelente trabalho nesta área através de seu livro Is God a Moral Monster? (Deus é um Monstro Moral?), onde refuta essas alegações com muitas provas históricas e exegéticas que, no fim das contas, sempre se voltam contra os acusadores da Bíblia.

A terceira estratégia utilizada por neo-ateus é tentar ridicularizar a Bíblia por ser um “livro velho” e “escrito por homens”. Há dois problemas com isso. Primeiro: os livros que os ateus seguem (de Darwin e Dawkins, por exemplo) também foram escritos por homens, e eles não veem problema nisso. Segundo: ser velho ou não ser velho nunca foi critério nenhum para a veracidade de um texto. Não há nenhuma regra lógica que imponha que por um livro ser antigo ele tem que ser falso, ou que por um livro ser uma criação recente ele é necessariamente “mais verdadeiro”. Esse tipo de ataque contra a Bíblia é puramente falacioso, e sequer merece ser levado a sério.


Considerações Finais

Muito mais poderia ser acrescentado sobre o neo-ateísmo, mas, com base no que foi aqui analisado, torna-se evidente que o neo-ateísmo é uma distorção da realidade concreta, através da manipulação de evidências para acumular cada vez mais técnicas falaciosas que não são muito estimadas pelos acadêmicos, mas que tem um poder impressionante de convencer os de mente mais instável, especialmente entre os mais jovens. Trata-se, portanto, de um sistema perigoso, que precisa ser refutado à luz da lógica, da razão e da verdade, para que não cause ainda mais estragos do que vem causando.

Paz a todos vocês que estão em Cristo.

Por Cristo e por Seu Reino,


        




[1] HITCHENS, Christopher. God Is Not Great: How Religion Poisons Everything. Hachette Book Group USA: 2007.
[2] Em entrevista dada por Sam Harris ao site Truthdig. Disponível em: <http://lucianoayan.com/2012/09/16/uso-de-wingmans-jogos-politicos-e-mitomania-o-modus-operandi-da-humanista-asa-heuser/>. Acesso em: 14/08/2015.
[3] DAWKINS, Richard Clinton. The God Delusion. Bantam Books: 2006.
[4] ibid.
[5] Citado em Walter Isaacson, Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007).
[6] Apud Fred Heeren, Show Me Cod. Wheeling, Ill.: Daystar, 2000, p. 135.
[7] MCGRATH, Alister. O Delírio de Dawkins. Mundo Cristão: 2007.
[8] CRAIG, William Lane. Em Guarda. Vida Nova: 2011.
[9] LEWIS, Clive Staples. Cristianismo Puro e Simples. WMF Martins Fontes: 2009.
[10] HUGHES, Austin L. The Folly of Scientism. Disponível em: <http://www.thenewatlantis.com/publications/the-folly-of-scientism>. Acesso em: 08/08/2015.
[11] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rAF2eiCb7HY#t=423>. Acesso em: 08/08/2015.
[12] MCGRATH, Alister. O Delírio de Dawkins. Mundo Cristão: 2007.
[13] AYAN, Luciano. Show de picaretagem: neo-ateu tenta técnica de transferência de culpa para inocentar a extrema-esquerda e culpar a religião. Disponível em: <http://lucianoayan.com/2015/01/14/show-de-picaretagem-neo-ateu-tenta-tecnica-de-transferencia-de-culpa-para-inocentar-a-extrema-esquerda-e-culpar-a-religiao/>. Acesso em: 04/08/2015.
[14] MCGRATH, Alister. O Delírio de Dawkins. Mundo Cristão: 2007.
[15] WURMBRAND, Richard. Torturado por amor a Cristo. Missão A Voz dos Mártires: 2009.
[16] ibid.
[17] Algumas das refutações estão presentes em seu site: http://www.dc.golgota.org

2 comentários:

  1. Texto excelente. Me trouxe boas provocações para uma defesa racional da fé. Que Deus abençoe os organizadores do blog.

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