Introdução
Ateus
sempre existiram, e, até Jesus voltar, sempre existirão. No entanto, o “neo”
ateísmo é um fenômeno recente. Enquanto os antigos ateus tinham por crença a
inexistência de Deus e não iam muito além disso, os novos ateus são ateus militantes. Isso significa que o típico
neo-ateu não se satisfaz em apenas não crer em Deus: ele quer fazer de tudo
para levar os outros a não crerem também. O neo-ateu é um “evangelista” ao
contrário. Enquanto os ateus mais sérios não se envolvem em enormes discussões
e contendas sobre religião e muito menos incentivavam o ódio ou o preconceito
contra os que creem, os neo-ateus seguem uma cartilha que incentiva
explicitamente a intolerância religiosa e um ativismo contra todas as
religiões, com uma ênfase mais específica que recai ao Cristianismo.
Os
maiores ícones desta nova geração de ateus são o já falecido jornalista
Christopher Hitchens, o neurocientista Sam Harris, o filósofo Daniel Dennett e
o biólogo Richard Dawkins, que é o nome mais proeminente entre os neo-ateus.
Para perceber o tratamento que eles oferecem à religião, basta uma lida em
qualquer um de seus vários livros contra a fé. Em seu livro “Deus não é
Grande”, Christopher Hitchens assevera:
“Visto que a religião tem provado que ela é unicamente
deliquente, nós podemos concluir que a religião não é apenas amoral, mas também
imoral. A religião envenena tudo. Além de ser uma ameaça para a civilização,
ela é uma ameaça para a sobrevivência da própria espécie humana”[1]
Sam
Harris nos dá outro belo exemplo de como os neo-ateus devem tratar os
religiosos:
“A ridicularização pública é um princípio. Uma vez que você
deixa de lado o tabu que é criticar a fé e exige que as pessoas comecem a falar
com sentido, então a capacidade de fazer as certezas religiosas parecerem
estúpidas, fará nós começarmos a rir na cara das pessoas que acreditam aquilo
que Tom DeLays, que Pat Robersons do mundo acreditam. Nós vamos rir deles de
uma maneira que será sinônimo de excluí-los do nossos salões do poder”[2]
Os
neo-ateus costumam usar muito a Bíblia, embora sempre de forma deturpada e
isolada, e apenas para tentar destruí-la. É assim que Richard Dawkins, após
comentar sobre algumas “atrocidades” presente no Antigo Testamento, descreve o
Deus judaico-cristão:
"O Deus do Antigo Testamento é talvez o personagem mais
desagradável da ficção: ciumento, e com orgulho; controlador mesquinho, injusto
e intransigente; genocida étnico e vingativo, sedento de sangue; perseguidor
misógino, homofóbico, racista, infanticida, filicida, pestilento,
megalomaníaco, sadomasoquista, malévolo. Aqueles que são acostumados desde a
infância ao jeitão dele podem ficar dessensibilizados com o terror que sentem"[3]
Acusações
contra os cristãos é o que não falta no neo-ateísmo: os cristãos são
frequentemente atacados por supostamente serem contra o avanço científico, são
responsabilizados pelas guerras no mundo e por seguirem um livro “obsoleto”.
Dawkins vai mais adiante e coloca a crença em Deus no mesmo patamar da crença
em fadas e gnomos[4].
É realmente um caso grave, que merece ser analisado com mais atenção.
Há um confronto entre a fé
e a ciência?
O
maior e mais rotineiro ataque dos neo-ateus contra os religiosos é baseado na
ciência, que é a principal bandeira do neo-ateísmo. Ele sobrevive por meio de
frames como “Fé ou Razão?”, onde somos colocados em uma situação na qual nos
vemos forçados a aceitar a fé e rejeitar a razão, ou a aceitar a razão e
rejeitar a fé. Trata-se, evidentemente, de um dilema de fachada, expresso através da
falácia da falsa dicotomia, que é quando duas proposições são apresentadas como se fossem
contraditórias entre si, quando elas podem ser perfeitamente conciliáveis.
Grandes
homens da ciência foram cristãos, como Pascal, Newton, Copérnico, Faraday,
Pasteur, Boyle, Da Vinci, e muitos outros. De fato, praticamente todos os
cientistas renomados que nos trouxeram a ciência moderna eram religiosos, e,
destes, a esmagadora maioria era cristã. Eles nunca precisaram abdicar à razão
para nos dar a ciência que temos hoje. Colocar a fé em conflito com a ciência é
somente uma jogada desonesta para tentar sutilmente dizer que para ser a favor
da ciência é necessário ser contra a ideia de Deus, embora as duas coisas não
sejam realmente conflitantes.
A
pretensa superioridade intelectual e racional do ateísmo é destruída quando
vemos que muitos dos grandes intelectuais e gênios que já pisaram neste planeta
criam em Deus. Albert Einstein não era cristão, mas era teísta. Ele rejeitava a
acusação de ser “ateu”, dizendo:
“Há pessoas que dizem que não existe Deus, mas o que me deixa
mais zangado é que elas citam meu nome para apoiar essas ideias”[5]
Einstein
disse também:
“Quero saber como Deus criou o mundo. Não estou interessado
neste ou naquele fenômeno, no aspecto deste ou daquele elemento. Quero conhecer
os pensamentos de Deus; o resto são detalhes”[6]
Embora
o homem que é considerado o mais inteligente da história cresse na existência
de Deus, os neo-ateus querem a todo custo que compremos o discurso de que as
pessoas “inteligentes” e “evoluídas” precisam ser ateístas. Cada vez mais este
conceito está caindo em desuso. Um dos maiores cientistas do mundo, Francis
Collins, diretor do projeto genoma humano, era um ateu que se tornou cristão
após analisar as evidências. Ele escreveu em 2006 o livro “A Linguagem de
Deus”, no mesmo ano em que era publicado o livro “Deus, um Delírio”, no qual
Richard Dawkins dizia que a ciência e a crença em Deus são incompatíveis.
Um
dos maiores filósofos do século XX, chamado Antony Flew, era um notório ateu.
Ele chegou a debater sobre a existência de Deus contra proeminentes apologistas
cristãos, como William Lane Craig. Porém, embora fosse tão aclamado pelos
ateus, Flew passou a crer em Deus no período final de sua vida, adotando o
ponto de vista teísta. Ele escreveu o livro chamado “Um Ateu Garante: Deus
Existe”, onde dedica um apêndice para as evidências da ressurreição de Jesus,
escrito pelo apologista cristão e bispo anglicano N. T. Wright. Restou aos
neo-ateus a acusação de que Flew estava “velho demais” e que por isso teria
perdido a razão.
Embora
seja verdade que o número de religiosos tenha caído bastante desde os últimos
cem anos, o número de cientistas teístas tem se mantido estável de um século
pra cá. Uma pesquisa realizada em escala global em 1916 mostrou que 40% dos
cientistas criam em um Deus pessoal que intervém na natureza e realiza
milagres. A mesma pesquisa foi repetida 81 anos depois, e Alister McGrath
discorreu sobre os resultados:
“Em 1916, cientistas diligentes foram inquiridos sobre se
acreditavam em Deus, especificamente num Deus que se comunica de modo zeloso
com a humanidade e a quem se possa orar ‘na expectativa de receber uma
resposta’. Os deístas não acreditam num Deus segundo essa definição. Os
resultados ficaram famosos: grosso modo, 40% acreditavam nesse tipo de Deus,
40% não e 20% não tinham certeza. Valendo-se dessa mesma pergunta, a pesquisa
foi repetida em 1997 e resultou quase exatamente no mesmo padrão, com um leve
aumento dos que não acreditavam (chegando a 45%). O número dos que acreditavam
em Deus permaneceu estável, em torno de 40%”[7]
A
pretensa “superioridade intelectual” do neo-ateísmo também fracassa miseravelmente
quando testada e colocada em prática nos debates. Apologistas cristãos como
William Lane Craig, John Lennox e Dinesh D’Souza tem defendido a visão
teísta-cristã sobre o mundo com enorme capacidade, e em linhas gerais tem
levado grande vantagem contra seus oponentes ateus. No prefácio do livro “Em
Guarda” (de William Lane Craig), escrito pelo ex-ateu Lee Strobel (autor do
livro “Em Defesa de Cristo”), há um relato sobre como começou a ideia de
debates entre cristãos e neo-ateus nas igrejas e universidades. Craig foi o
debatedor cristão naquela ocasião, e Strobel nos conta o resultado do debate:
“Ao final de duas horas de debate, pedimos que a audiência
votasse. Uma porcentagem de 82% dos ateus, agnósticos e outros não-cristãos
concluíram que a evidência apresentada em favor do cristianismo fora a mais
convincente. E veja só isto: quarenta e sete pessoas chegaram ao debate como
ateus, e após ouvir os dois lados, foram embora acreditando na existência de
Deus. E mais: nem uma pessoa sequer se tornou um ateu. A afirmação de que os
cristãos têm uma vantagem injusta no mercado de ideias era impressionante: Nós temos a verdade do nosso lado!”[8]
Isso
definitivamente não é compatível com o mundo de fantasia em que ser ateu é ter
superioridade intelectual e ser cristão é ser atrasado e irracional!
O cientificismo e seus
pressupostos
Para
evocar que há algum tipo de contradição na relação entre a fé em Deus e a
ciência, os neo-ateus apelam para uma falácia histórica conhecida como
cientificismo, que é a crença na qual tudo o que não pode ser provado
cientificamente deve ser rejeitado como falso. Dawkins apela amplamente para
essa falácia em seu livro mais famoso, The
God Delusion. Para o autor, se Deus não pode ser provado cientificamente,
então Deus não existe.
Há
numerosos problemas com esta presunção. Em primeiro lugar, há muitas coisas que
a ciência definitivamente não pode provar, mas que somos todos racionais para
aceitá-las mesmo sem a confirmação científica. Em um famoso debate entre o
filósofo cristão William Lane Craig e o químico ateu Peter Atkins, este tentou
usar o cientificismo para impugnar a crença em Deus, e Craig lhe refutou em
seus próprios pressupostos, mostrando-lhe uma série de coisas que não podem ser
provadas pela ciência, mas que Atkins (e demais ateus) cria assim mesmo.
Em
primeiro lugar, verdades lógicas e matemáticas não podem ser provadas
cientificamente, porque a ciência pressupõe a lógica e a matemática, e, por isso,
tentar prová-las mediante a ciência seria argumentar em círculos.
Em
segundo lugar, verdades metafísicas também não podem ser provadas
cientificamente. Não há como efetivamente provar que há outras mentes além da
nossa, ou que o mundo externo é real, ou que o passado não foi criado há cinco
minutos aparentando ser mais velho. Não há como provar pela ciência que não
estamos em uma “Matrix”, tal como no famoso e revolucionário filme de ficção
científica.
Em
terceiro lugar, crenças étnicas sobre declarações de valor não podem ser
provadas cientificamente. Não é possível provar pela ciência que o que os
nazistas fizeram nos campos de concentração foi algo mau, e que o que madre
Tereza fazia era algo bom. Esta concepção não é extraída através puramente do método
científico.
Em
quarto lugar, julgamentos estéticos não podem ser provados cientificamente. O
bom e o belo não podem ser colocados em um tubo de ensaio. Não é possível
provar que Brad Pitt é belo, e Zé do Caixão é feio. Mas não somos irracionais
em pensar que isso é verdade!
Em
quinto lugar, e o caso mais interessante, é que a própria ciência não pode ser
provada cientificamente. A ciência está repleta de pressupostos tomados como
verdades a priori, tais como, por
exemplo, que a velocidade da luz é sempre constante entre quaisquer pontos A e
B, em qualquer parte do universo. Os cientistas têm que pressupor para manterem
as teorias de pé, e eles não são irracionais por fazerem isso.
Finalmente,
o maior equívoco do cientificismo é pensar que um ser como Deus precisaria ser provado cientificamente.
Isso é por si mesmo algo sem nexo. Se Deus existe, ele está fora do universo, e a ciência é a forma
de pesquisar as coisas que estão dentro do
universo. Consequentemente, se Deus existe ou não, isso é algo que está fora do
alcance da ciência – ela não pode provar que existe, e também não pode provar
que não existe. O naturalismo não é mais do que um pressuposto que é tomado
como verdade pelos neo-ateus sem qualquer prova. Simplesmente não é possível
afirmar cientificamente que existe ou
não existe algo a mais que o universo, ou além dele. Afirmar que o universo é
tudo o que existe é apenas um pressuposto, uma premissa, e não uma conclusão
lógica que siga construções argumentacionais.
O
famoso escritor cristão C. S. Lewis discorreu sobre essa questão em seu
conhecido livro “Cristianismo Puro e Simples”, onde diz:
“A ciência funciona a partir da experiência e observa como as
coisas se comportam. Todo enunciado científico, por mais complicado que pareça
à primeira vista, na verdade significa algo como ‘apontei o telescópio para tal
parte do Céu às 2h20min do dia 15 de janeiro e vi tal e tal fenômeno’, ou
“coloquei um pouco deste material num recipiente, aqueci-o a uma temperatura X
e tal coisa aconteceu” (...) Agora, perguntas como ‘Por que algo veio a
existir?’ e ‘Será que existe algo – algo de outra espécie – por trás das coisas
que a ciência observa?’ não são perguntas científicas. Se existe ‘algo por trás’,
ou ele há de manter-se totalmente desconhecido para o homem ou far-se-á revelar
por outros meios. A ciência não pode dizer nem que este ser existe nem que não
existe, e os verdadeiros cientistas geralmente não fazem essas declarações
(...) Suponha que a ciência algum dia se tornasse completa, tendo o
conhecimento total de cada mínimo detalhe do Universo. Não é óbvio que
perguntas como ‘Por que existe um Universo?’, ‘Por que ele continua existindo?’
e ‘Qual o significado de sua existência?’ continuariam intactas?”[9]
Muitos
cientistas sérios tem se levantado contra o cientificismo, que, em suas
próprias palavras, tem destruído a ciência, permeando-a de pressupostos falsos.
Em um artigo de 14 páginas, o cientista Austin L. Hughes, professor de ciências
biológicas da Universidade da Carolina do Sul, conclui:
"De todas as modas e manias na longa história da credulidade
humana, o cientificismo em todas as suas formas variadas – desde a cosmologia
fantasiosa até a epistemologia evolutiva e ética – aparece entre as mais
perigosas, tanto por fingir ser algo muito diferente do que realmente é, quanto
por ser concebido para a adesão generalizada e acrítica. A insistência sobre a
competência universal da ciência servirá apenas para minar a credibilidade da
ciência como um todo. O resultado final será um aumento de ceticismo radical
que questiona a capacidade da ciência para tratar até mesmo as questões
legitimamente dentro de sua esfera de competência. Deve-se anseiar por um novo
iluminismo para derrotar as pretensões desta última superstição"[10]
O
cientista Ian Hutchinson, doutor em engenharia e ciência nuclear, escreveu um
livro inteiro refutando o cientificismo, chamado “Monopolizing Knowledge”. Em
uma entrevista, ele também refutou a crendice neo-ateísta de que a ciência se
opõe à religião e conflita com esta:
"O cientificismo é uma crença muito espalhada e errônea de que a
ciência é o conhecimento real de tudo o que existe, e que qualquer coisa que
não possa ser compreendida pela ciência não conta como conhecimento (...) A
ciência é diferente não só da religião mas também da história, de análises
políticas, de sociologia ou de jurisprudência. Nenhuma dessas coisas são
ciências e mesmo assim têm seu conhecimento real"[11]
Qualquer
pessoa racional conclui que o cientificismo não é mais do que uma falácia
pseudo-científica que tenta se impor sobre os demais ramos do conhecimento, mas
sem sustentar sua defesa em argumentos plausíveis.
A religião é a raiz de
todos os males?
A
outra bandeia dos neo-ateus contra a religião é que a religião é a “raiz de
todos os males”, para usar um lema utilizado por Dawkins como o título de um
famoso documentário produzido por ele na década passada. Os neo-ateus
responsabilizam a religião por quase todos os males do mundo, pelas guerras,
pelos genocídios, pelo preconceito, e assim por diante. Para eles, o mundo
seria um lugar muito mais feliz e alegre se não houvesse religiosos o
“poluindo”.
As
acusações são várias e bem famosas: inquisição, cruzadas, caça às bruxas,
confronto no Oriente Médio, etc. O problema com esta argumentação é que, embora
a religião tenha sido por vezes usada como pano de fundo para alguém realizar o
mal, ela não é a raiz do mal. Ela foi
simplesmente um meio utilizável para
a ação do mal, um pretexto, e não a
causa em si. A maior prova disso é que quando a religião saía de cena, as
mortes não cessavam, elas apenas mudavam de causa. Alister McGrath corretamente
observa:
"Dawkins não consegue entender que, ao rejeitar a idéia de Deus,
a sociedade tende a transcendentalizar alternativas – como os ideais de liberdade ou igualdade. Estes se
tornam imediatamente autoridades quase divinas, que a ninguém é permitido
desafiar. Talvez o exemplo mais familiar seja a Revolução Francesa, um tempo em
que as noções tradicionais de Deus foram descartadas como obsoletas e
substituídas pelos valores humanos transcendentalizados. Madame Rolande foi
levada à guilhotina, em 1792, para ser executada sob falsas acusações. Quando
se preparava para morrer, ela se curvou zombeteiramente para a estátua da liberdade
na Place de Ia Révolution e proferiu as palavras pelas quais é lembrada: ‘Liberdade,
quantos crimes são cometidos em seu nome’. Todos os ideais – divinos, transcendentes, humanos ou inventados – podem ser mal usados. Assim é a natureza humana. E, cientes
disso, precisamos decidir que fazer a respeito, em vez de atacar
indiscriminadamente a religião"[12]
A
prova mais clara de que nenhuma pessoa séria poderia jogar na religião a culpa
por todos os males do mundo é que os regimes que descartaram a religião,
colocando-a para fora da vida pública e até mesmo da vida privada, foram
justamente aqueles que mais mataram pessoas inocentes por uma “causa”. Luciano
Ayan afirma:
"Quem quer que leia qualquer estrategista de guerra sabe que
adornar seus projetos de violência com enfeites morais é um imperativo
político. Na época, o símbolo ‘Deus quer’ foi usado. Nos genocídios da Rússia,
China e Alemanha Nazista esse símbolo foi trocado por outros. Então a causa
está em outro lugar"[13]
Na
China comunista-ateísta sob a liderança do ateu Mao Tsé-Tung, foram mais de 65
milhões de mortos no país entre 1949 até 1976. Já na União Soviética
comunista-ateísta sob a liderança do ateu Josef Stalin, foram mais de 20
milhões de mortos, no famoso holodomor. Muitos outros morreram sobre os regimes
genocidas dos ditadores ateístas norte-coreanos, ou na ditadura cubana de Fidel
Castro, ou no Camboja, onde o revolucionário comunista ateu Pol Pot exterminou
1,7 milhões de seu próprio povo (dentre os 2,5 milhões existentes).
Na
Rússia, os ateus invadiam as igrejas ortodoxas, as queimavam e matavam muitos
clérigos. Eles destruíram completamente 41 mil das 48 mil igrejas existentes na
Rússia entre 1917 e 1969. Os cartazes e panfletos populares do governo da época
estampavam com prazer lemas como “a religião é o ópio do povo”, “abaixo as
festas religiosas” e “contra todas as religiões”. McGrath assinala:
“Em seus esforços de forçar a ideologia ateísta, as autoridades
soviéticas destruíram e eliminaram sistematicamente a grande maioria das igrejas
e dos sacerdotes entre 1918 e 1941. As estatísticas apresentam um quadro
terrível. A violência e a repressão foram empreendidas na busca de um programa
ateísta: a eliminação da religião”[14]
Richard
Wurmbrand, um pastor torturado durante este regime, conta em seu livro suas
memórias sobre a “religião” ateísta colocada em prática pelos comunistas:
“Nós, crentes, éramos colocados em caixões apenas um pouco
maiores do que nós. Não havia lugar para qualquer movimento. Muitas dúzias de
pregos com suas pontas afiadas como giletes eram colocadas por todos os lados.
Enquanto estávamos perfeitamente quietos, tudo ia bem. Éramos forçados a
permanecer nessas caixas horas a fio. Quando, porém, nos fatigávamos e
tombávamos de cansaço, os pregos estavam em nosso corpo. Se nos movêssemos, ou
estremecêssemos um músculo, ali estariam os horríveis pregos”[15]
As
torturas incluíam também crucificação, para zombar dos cristãos:
“Ali descrevi coisas horríveis, tais como crentes amarrados em
cruzes por quatro dias e quatro noites. A seguir eram as cruzes colocadas no
chão e centenas de prisioneiros tinham de atender suas necessidades
fisiológicas em cima dos rostos e dos corpos dos que estavam crucificados.
Depois as cruzes eram de novo levantadas e os comunistas escarneciam: ‘Olhem
para o Cristo de vocês! Que bonito ele é! E que fragrância traz dos céus!’.
Descrevi como, depois de ficar quase louco pelas torturas, um padre ortodoxo
foi obrigado a consagrar fezes e urina humana para dar em comunhão aos
cristãos. Isso aconteceu na prisão de Pitesti, na Romênia”[16]
Tudo
isso mostra de forma clara e inequívoca que o ateísmo não apenas pode, mas de fato foi usado para o mal, ao longo da história humana. Não é apenas a
religião que pode ser um mal utilizável por pessoas inescrupulosas.
Os
ateístas assassinaram mais de 100 milhões de pessoas no mundo todo (sem falar
no estupro de mais de cinco milhões de mulheres), contando apenas o século passado. Os dados são expostos no "Livro Negro
do Comunismo: Crimes, Terror e Repressão", que é uma obra coletiva de
professores e pesquisadores universitários europeus. O livro foi editado por
Stéphane Courtois, diretor de pesquisas do Centre national de la recherche
scientifique (CNRS), e seu lançamento ocorreu por ocasião dos 80 anos da
Revolução Russa. De lá para cá os comunistas sob um regime ateísta já mataram
muito mais, mas os dados coletados até aquele momento mostravam:
•
20 milhões de mortos na União Soviética;
•
65 milhões de mortos na República Popular da China;
•
1 milhão de mortos no Vietname;
•
2 milhões de mortos na Coreia do norte;
•
2 milhões de mortos no Camboja;
•
1 milhão de mortos nos Estados Comunistas do Leste Europeu;
•
150 mil mortos na América Latina;
•
1,7 milhões de mortos na África;
•
1,5 milhões de mortos no Afeganistão;
•
10 mil mortes resultantes das ações do movimento internacional comunista e de
partidos comunistas fora do poder.
Portanto,
um neo-ateu que usa como argumento contra a religião as “guerras em nome de
Deus” deveria também impugnar seu próprio ateísmo em função do genocídio
impregnado por pessoas que não criam em Deus e que não admitiam a existência de
qualquer indivíduo que cresse. Se a religião pode ter seu lado extremista e
intolerante, o neo-ateísmo é o próprio lado
extremista e intolerante do ateísmo. Pessoas intolerantes e fanáticas já
mataram por pretexto de religião, e pessoas intolerantes e fanáticas já mataram
por pretexto de ateísmo.
O
preconceito e a intolerância não nascem da religião, mas de qualquer sistema
que possa levar ao fanatismo – ateísmo incluso. Torcidas organizadas matam por
causa de futebol, mas nem por isso é sábio acabar com a prática do futebol no
planeta em razão destes casos extremos. Religiosos já mataram pessoas no
passado por causa de religião, mas nem por isso devemos proibir a religião em
função destes casos extremos. Nem o próprio ateísmo deve ser proibido, embora
tenha matado muito mais. Infelizmente, neo-ateus não costumam usar de critério
ou bom senso em sua luta árdua e incansável contra a religião.
Crítica à Bíblia
Qualquer
livro do mundo, se tomado fora de contexto ou distorcidamente, irá suscitar
críticas e julgamentos. Com a Bíblia não poderia ser diferente, ainda mais
levando-se em conta que se trata de um livro tão grande, escrito em uma época
tão remota, e por tantos autores diferentes. Há pessoas que só lêem a Bíblia na
única e específica missão de destruí-la. Como “quem procura, encontra”, é
natural que torçam versos isolados para usá-los contra os cristãos.
A
primeira tática empregada por neo-ateus contra a Bíblia é apontar
“contradições” internas nela. Apologistas cristãos tem se saído muito bem em
refutar essas supostas “contradições” da Bíblia. Norman Geisler e Thomas Howe
escreveram um “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia”,
onde refutam mais de 800 destas supostas “contradições”. Pipe Desertor foi além
e refutou todas as duas mil supostas “contradições” expostas na “Bíblia do
Cético”[17].
A
segunda estratégia empregada por neo-ateus é tentar caracterizar o Deus da
Bíblia como um “monstro moral”, se apropriando de certos textos do Antigo
Testamento que supostamente retratam um Deus que ensina o ódio, o genocídio e o
misoginismo. Paul Copan fez um excelente trabalho nesta área através de seu
livro Is God a Moral Monster? (Deus é
um Monstro Moral?), onde refuta essas alegações com muitas provas históricas e
exegéticas que, no fim das contas, sempre se voltam contra os acusadores da
Bíblia.
A
terceira estratégia utilizada por neo-ateus é tentar ridicularizar a Bíblia por
ser um “livro velho” e “escrito por homens”. Há dois problemas com isso.
Primeiro: os livros que os ateus seguem (de Darwin e Dawkins, por exemplo)
também foram escritos por homens, e eles não veem problema nisso. Segundo: ser
velho ou não ser velho nunca foi critério nenhum para a veracidade de um texto.
Não há nenhuma regra lógica que imponha que por um livro ser antigo ele tem que
ser falso, ou que por um livro ser uma criação recente ele é necessariamente
“mais verdadeiro”. Esse tipo de ataque contra a Bíblia é puramente falacioso, e
sequer merece ser levado a sério.
Considerações Finais
Muito
mais poderia ser acrescentado sobre o neo-ateísmo, mas, com base no que foi
aqui analisado, torna-se evidente que o neo-ateísmo é uma distorção da
realidade concreta, através da manipulação de evidências para acumular cada vez
mais técnicas falaciosas que não são muito estimadas pelos acadêmicos, mas que
tem um poder impressionante de convencer os de mente mais instável, especialmente
entre os mais jovens. Trata-se, portanto, de um sistema perigoso, que precisa
ser refutado à luz da lógica, da razão e da verdade, para que não cause ainda
mais estragos do que vem causando.
Paz
a todos vocês que estão em Cristo.
[1] HITCHENS, Christopher. God Is Not
Great: How Religion Poisons Everything. Hachette Book Group USA: 2007.
[2] Em entrevista dada por Sam
Harris ao site Truthdig. Disponível em:
<http://lucianoayan.com/2012/09/16/uso-de-wingmans-jogos-politicos-e-mitomania-o-modus-operandi-da-humanista-asa-heuser/>.
Acesso em: 14/08/2015.
[3] DAWKINS, Richard Clinton. The God
Delusion. Bantam Books: 2006.
[4] ibid.
[5] Citado em Walter Isaacson,
Einstein: His life and universe (2007), traduzida ao português pela Companhia
das Letras (Einstein: sua vida, seu universo. São Paulo, 2007).
[6] Apud Fred Heeren, Show Me Cod.
Wheeling, Ill.: Daystar, 2000, p. 135.
[7] MCGRATH, Alister. O Delírio de Dawkins. Mundo Cristão: 2007.
[8] CRAIG, William Lane. Em Guarda. Vida Nova: 2011.
[9] LEWIS, Clive Staples. Cristianismo Puro e Simples. WMF Martins Fontes: 2009.
[10] HUGHES, Austin L. The Folly of
Scientism. Disponível
em: <http://www.thenewatlantis.com/publications/the-folly-of-scientism>.
Acesso em: 08/08/2015.
[11] Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=rAF2eiCb7HY#t=423>.
Acesso em: 08/08/2015.
[12] MCGRATH, Alister. O Delírio de Dawkins. Mundo Cristão:
2007.
[13] AYAN, Luciano. Show de picaretagem: neo-ateu tenta técnica
de transferência de culpa para inocentar a extrema-esquerda e culpar a religião.
Disponível em: <http://lucianoayan.com/2015/01/14/show-de-picaretagem-neo-ateu-tenta-tecnica-de-transferencia-de-culpa-para-inocentar-a-extrema-esquerda-e-culpar-a-religiao/>.
Acesso em: 04/08/2015.
[14] MCGRATH, Alister. O Delírio de Dawkins. Mundo Cristão:
2007.
[15] WURMBRAND, Richard. Torturado por amor a Cristo. Missão A
Voz dos Mártires: 2009.
[16] ibid.
[17] Algumas das refutações estão
presentes em seu site: http://www.dc.golgota.org
Texto excelente. Me trouxe boas provocações para uma defesa racional da fé. Que Deus abençoe os organizadores do blog.
ResponderExcluirMuito bom gostei, Parabéns Lucas
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