A principal bandeira
dos neo-ateus é a ciência. A tática consiste em colocar a si mesmo do “lado da
ciência”, em oposição ao “lado da religião”. Ou você está no eixo da ciência e
milita contra a religião, ou você está no eixo da religião e milita contra a
ciência. É lógico que este quadro só faz sentido na mente fantasiosa do neo-ateu –
na verdade, trata-se de uma evidente falácia de falsa dicotomia,
que é quando um falacioso tenta te colocar em uma posição onde você se vê
obrigado a aceitar uma proposição e rejeitar outra, quando na verdade você pode
aceitar as duas, ou nenhuma das duas, ou uma gama muito maior de opções.
Por exemplo, ninguém
seria insano em tentar opor ciência e culinária, de modo a passar a ideia de
que devemos estar “do lado da ciência” ou “do lado da culinária”. Simplesmente
são magistérios diferentes, que atuam em esferas distintas. Da mesma forma, não
há sentido em opor ciência e religião, uma vez que elas não habitam na mesma
esfera. Elas não são “concorrentes”, simplesmente tocam em pontos distintos,
tornando perfeitamente possível a existência de cientistas cristãos, como
mostrei neste
artigo. A ciência é a forma pela qual nós estudamos a natureza, e a
teologia estuda o que está além da
natureza – Deus.
Os ateus, no entanto,
argumentam que a ciência tem tornado Deus cada vez mais “inútil”, jogando-o
para trás, sem ter mais onde se esconder. Os cristãos supostamente adoram a um “deus
das lacunas”, e essas lacunas tem sido explodidas pelo conhecimento científico.
No entanto, os exemplos passados pelo neo-ateus são em geral bastante infantis,
que provam justamente o contrário daquilo onde eles querem chegar. Por exemplo,
eles afirmam que há muito tempo atrás alguns povos antigos pensavam que os
raios eram sinais da ira de um deus, por não compreender o processo natural que
explica os raios. Afirmam também que, pela mesma época, os antigos adoravam o
sol, por não compreenderem a existência do sol, pensando assim tratar-se de
mais um deus.
Esses exemplos,
contudo, não provam nada contra o Deus judaico-cristão, por um motivo simples: a
teologia judaico-cristã nunca ensinou nada disso! Não há nas páginas da Escritura
nada que assevere que os raios são enviados pelo dedo de um Deus malvado para
castigar os homens, e nada que nos mande adorar o sol, a lua, as estrelas ou
pedaços de pau e de pedra. Contra essa concepção pagã do “deus das lacunas”, a
teologia judaico-cristã sempre ensinou justamente o oposto: que Deus está além
da natureza – é transcendental. Perceba o nítido contraste entre a visão
judaico-cristã e o politeísmo antigo: enquanto para os pagãos os deuses eram imanentes, na concepção judaico-cristã
Deus é transcendente.
Os gregos, por
exemplo, pensavam que os deuses habitavam no famoso monte Olimpo. Platão
enfatizou a eterna pré-existência das almas, significando que Deus não nos
criou, mas que somos eternamente pré-existentes junto com Deus. Na antiga carta
do cristão Teófilo ao descrente Autólico (em cerca de 150 d.C), ele ressalta
que “os gregos e as outras nações cultuam pedras, madeiras
e outras matérias, que são representações de homens mortos”[1]. Em direto contraste a isso, a
concepção judaica de Deus, de onde também provém o Cristianismo, afirma
enfaticamente a existência de um único Deus transcendental, que, de fora da
natureza, deu início ao espaço-tempo em que estamos hoje – embora isso
contrariasse todas as religiões
antigas e suas falsas concepções sobre Deus.
Com o avanço da
ciência, o que temos? A refutação à concepção cristã? Não, mas justamente o
contrário. A ciência provou que todas aquelas outras religiões eram falsas,
pois, se Deus existe, ele tem que ser transcendente. E a própria lógica
assevera que não pode haver dois deuses ao mesmo tempo, pois, se um fosse
onipotente, o outro já não poderia ser. Portanto, a ciência nos coloca em um
patamar onde sabemos que, se há um Deus, ele é monoteísta e transcendental –
exatamente o mesmo que judeus e cristãos já afirmam há milênios. Longe da
caricatura do “deus das lacunas”, que só serve para refutar o mesmo paganismo
que desde sempre foi rebatido por
judeus e cristãos, o Deus cristão só tem sido favorecido pelo avanço da ciência.
Tome como exemplo o argumento
cosmológico. Ele foi sintetizado pela primeira vez por Tomás de Aquino,
ainda em pleno século XIII, na Idade Média. Mas o argumento ainda não parecia
ser forte o bastante, porque a concepção que se tinha até então era de que o
Universo fosse eterno, e se o Universo é eterno nós não precisamos exatamente
de um “Criador”, isto é, de uma “Causa Primeira”. O Universo seria a causa de
si mesmo. Foi assim que os cientistas creram até a época de Einstein, quando impactantes
descobertas científicas deitaram por terra com a hipótese de o Universo ser
infinito (clique aqui
para ler sobre isso).
O que as novas
evidências demonstraram de forma esmagadora é que, de fato, o Universo teve um
início a partir do “nada”, isto é, de um ponto em que não havia nem tempo, nem
matéria, nem espaço. Tudo passou a surgir com o que hoje chamamos de “Big Bang”.
Portanto, o avanço da ciência novamente não destruiu o Deus judaico-cristão; ao
contrário, serviu apenas para fortalecer mais
ainda o argumento filosófico de Tomás de Aquino, agora reformulado de forma
mais científica por William Lane Craig e Alvin Plantinga, dentre outros. Se
antes o argumento da Causa Primeira estava puramente no âmbito da filosofia,
agora é a própria ciência que dá fundamento ao argumento.
É por isso que
comparar Deus com fadas, gnomos, sereias e bules voadores é tão infantil:
porque se compara o transcendente com algo imanente. Analogias como essas são
tão bobas quanto as tentativas de igualar o Deus judaico-cristão com os milhares
de deuses do paganismo antigo ou do politeísmo moderno. Elas fracassam pela
mesma razão: confundem um ser necessário
com um contingente. Deus não é um ser
contingente para depender de algo: ele é a própria Causa Primeira, o ser
necessário para existir algo em vez de nada. Tentar refutar a Causa Primeira
transcendental comparando-a com coisas contingentes só prova o quanto o ateu
realmente não entendeu nada do argumento.
À luz das evidências,
a ideia de que a ciência está em uma guerra mortal contra Deus e o tornando
cada vez mais obsoleto não passa de pura jogada de marketing neo-ateu. Mas o ateu ainda tem uma última carta na manga,
para provar que os cristãos estão do lado oposto da ciência: “Se você toma remédio você é a favor da ciência; se
cresse em Deus iria apenas orar!”.
Quem argumenta nessas
bases parte do pressuposto de que Deus premeditadamente é contra toda e
qualquer forma de remédio e decidiu irrevogavelmente só curar pessoas através
da oração. Mas Deus nunca disse isso. É bem mais razoável supor que, uma vez
que Deus criou os seres humanos e lhes dotou de inteligência, seja do Seu aprazo
que o homem investigue e estude a natureza de modo a encontrar remédios para
curar os próprios problemas do homem. Isso não significa que devamos parar de
orar por cura, mas sim que o dilema “remédio ou oração” se trata de mais uma
falsa dicotomia.
Um Deus transcendente é
capaz de realizar intervenções na natureza por ele criada (e que nós conhecemos
pelo nome de “milagre”), mas ele não a criou para que intervenções deste tipo
sejam o modus operandi da criação.
Ele impôs leis que regem o Universo e dotou o ser humano com capacidade
cognitiva suficiente para evoluir e resolver seus próprios problemas. Isso não
significa que “Deus não existe”, significa apenas que o estudo da natureza
(ciência) é algo que agrada a vontade do próprio Deus. Da mesma forma que um pai
de família cuida do seu filho até a idade da maturidade, e quanto mais ele
cresce mais independente tem que ser, assim também Deus não quer que ganhemos
tudo de mão-beijada, mas que lutemos para conquistar nossos próprios objetivos,
e, em um sentido mais amplo, o bem da humanidade. Essa não é uma caminhada sem oração, mas com oração e ação.
Estudar a ciência é
estudar as obras de Deus, e descobrir como Ele fez o mundo. Como diz o Salmo
111:2, “grandes são as obras do Senhor, e para
serem estudadas por todos os que nelas se comprazem”. Esta é a inscrição
presente acima da porta dos laboratórios da Universidade de Cambridge, que
formou milhares de cientistas e recebeu mais prêmios Nobel do que qualquer
outra instituição. O próprio Einstein dizia: “Quero saber como Deus criou
o mundo... quero conhecer os pensamentos de Deus; o resto são detalhes”[2].
Em suma, o estudo da ciência não prova
a inexistência de Deus mais do que o estudo do funcionamento de um computador
prova a inexistência de um criador do computador. Estudar a ciência é descobrir
o como; estudar sobre Deus é
descobrir quem.
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Ótimo texto!
ResponderExcluirObg!
ExcluirMuito bom!
ResponderExcluirEm meus debates com céticos na internet, levanto a seguinte questão que até agora se quer, tive uma tentativa de resposta!
ResponderExcluirSe Deus inexiste então por que existe o universo em vez do nada?
Gênesis cita uma Causa Inteligente Criadora (Designer) para o surgimento do incrível e ordenado universo e da complexa e multiforme vida a partir do nada-ex-nihilo.
Pergunto: o que seria mais complexo? um celular, um micro, uma tv, uma bicicleta ou o universo?
Na paz do Senhor.
Cícero há três tipos de ateus: O a-teu boçal ou ignorante. Este é tão desgraçado e infeliz que dispensaria vir além do que é, apontá-lo... Há também o a-teu pseudo intelectual. Este na verdade é ainda mais infeliz e desgraçado que o a-teu boçal ou ignorante... Também este desmerece nosso crédito: por não possuir cultura suficiente para "provar" sua "CRENÇA" . Que Darwin tem razão acerca da existência da Vida; que o Universo veio do Big Bang (ou do Nada)... Finalmente teríamos o "verdadeiro" a-teu. Seja: o a-teu intelectual. Ou cujo conhecimento, intelecto ou formação poderia, porventura "eclipsar" da Fé dum vero cristão... Quem sabe, este teria mais cacife para nos fazer desistir da nossa Fé em Deus ou Jesus. Sabe por que? Por que a alface que ele come veio duma "ameba" (célula simples ou primordial). Também o tomate que come, também a cenoura, também a maconha, a cocaína, a cachaça (vinda da cana)... Também a beterraba, a manga, a uva, a banana, laranjas etc etc etc. Pior que tal ameba era tão maravilhosa para inventar tantas coisas que inventou os perfumes das flores, cada uma com seu próprio. Também os sabores das frutas, também o aroma do churrasco que ele come etc.etc.etc.... Mas também os fedores: daquilo que ele escreta, peida e vomita. Então viva a ameba primordial, a "deusa" deles. Mas, quem sabe houve algo maior do que ela. Afinal se tal célula ou ameba se alimentava de albomina, como reza a cantilena ateísta, teríamos uma "galinha" botando ovo por lá. Esta seria a deusa maior. Só faltaria um galo também. Mas aí a coisa se complica a favor da doutrina da Criação. Ou do gênesis né? Então fiquemos só com a galinha... Afinal, quem sabe esta tal tenha sido meramente a futura re-encarnação duma mãe ateísta?
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