“Se
Deus sabia que os tsunamis causariam efeitos maléficos, por que ele criou
tsunamis?”
Bem, esse não é o tipo de
pergunta fácil de se responder. Neste
artigo eu escrevo que os tsunamis não são um mal em si mesmo, uma vez que o
tsunami só é considerado um mal se afeta a vida de alguma pessoa. Em caso
contrário, é apenas mais um fenômeno natural. Mas aqui a pergunta é diferente:
se Deus sabia (pela presciência) que
os tsunamis causariam sofrimento na vida
das pessoas, por que ele permitiu isso?
Em primeiro lugar, é necessário
observar que o tsunami, bem como qualquer outro causador de males, não é parte
do plano original de Deus para com a sua criação. O sofrimento é uma
consequencia do pecado, o qual será extirpado na nova criação de Deus para
sempre (Ap.21:4). Paulo fala um pouco sobre isso em Romanos 8:19-21, texto que
diz:
“A
natureza criada aguarda, com grande expectativa, que os filhos de Deus sejam
revelados. Pois ela foi submetida à futilidade, não pela sua própria escolha,
mas por causa da vontade daquele que a sujeitou, na esperança de que a própria
natureza criada será libertada da escravidão da decadência em que se encontra
para a gloriosa liberdade dos filhos de Deus” (Romanos 8:19-21)
Para Paulo, os efeitos do pecado
alcançaram a própria natureza, que
espera a libertação do estado de “decadência” em que se encontra. É claro que
ele não está falando especificamente de tsunamis aqui, mas, uma vez que os
tsunamis envolvem um efeito negativo da natureza, podemos presumir sua
inclusão. Isso responde o porquê que ele existe,
mas ainda não parece responder o porquê que Deus não o impede de acontecer. A maioria dos cristãos responderá que “Deus
tem um propósito nisso”, jogando a questão para o mistério e confiando na
soberania divina. Eu não acho isso errado, mas é necessário esclarecer que tipo de propósito Deus poderia ter
com isso.
A nossa sociedade está mal
acostumada a pensar que a finalidade da vida presente é a felicidade. E quando
eu digo a sociedade, estou incluindo a Igreja também. A Igreja moderna tem se
tornado cada vez mais antropocêntrica e menos Cristocêntrica. Tem se focado
cada vez mais no homem, e cada vez menos em Deus. Tem levantado seus olhos cada
vez mais para o natural, e abaixado a cabeça cada vez mais para o celestial. As
coisas espirituais têm dado lugar a um materialismo mascarado e às vezes até
mesmo descarado, e por isso não surpreende que mesmo entre os cristãos o ideal
da felicidade seja colocado em primeiro lugar.
Eu já enfrentei essa cosmovisão
deturpada sobre o Cristianismo em meu livro "Chamados
para Crer e Sofrer", e por isso não me alongarei demasiadamente neste
ponto aqui. Basta mencionar que, de fato, se o alvo da vida é a felicidade,
então o inverso da felicidade – o sofrimento – deve ser considerado o principal
mal a ser evitado. Se for assim, então Deus teria a obrigação moral de impedir
a qualquer custo esse mal maior (o sofrimento) de vir a acontecer. Mas essa não
é uma cosmovisão cristã: é uma cosmovisão mundana, secular, materialista e
egocêntrica. A felicidade é almejável no
Cristianismo, mas não em primeiro lugar. Biblicamente, o maior bem que o ser
humano pode alcançar nesta vida não é a felicidade, mas a salvação.
E isso muda as coisas
completamente. Se for a salvação o bem maior, então o mal maior deixa de ser o
sofrimento, dando lugar à condenação (que é o inverso da salvação). Em outras
palavras, em um mundo onde a felicidade é o bem maior, o sofrimento é o mal
maior, e, em um mundo onde a salvação é o bem maior, a condenação é o mal
maior. Logo, na cosmovisão cristã, o mal maior a ser evitado não é o sofrimento
em si, mas a perdição, isto é, o fato de não ter sido salvo para viver
eternamente. E isso nos leva ao próximo ponto, que tem tudo a ver com os
efeitos negativos do tsunami: eles são negativos em questão de sofrimento, mas não necessariamente em questão de
salvação.
Isso significa que, em
determinados casos, Deus pode permitir o sofrimento causado por um tsunami por
saber que este sofrimento temporário irá contribuir para gerar uma alegria
eterna causada pela salvação de pessoas que talvez, de outra forma, não seriam
salvas se não fosse pela tragédia. Ou seja: Deus se compromete em primeiro
lugar não com o fim dos nossos sofrimentos terrenos, mas com a salvação das
nossas almas, ainda que a salvação da alma possa implicar em sofrimentos
terrenos.
A uma primeira vista, pode
parecer esquisito e até mesmo improvável que um tsunami possa contribuir
positivamente em termos espirituais. No entanto, geralmente, quando um tsunami varre
cidades inteiras do mapa, o mundo inteiro se mobiliza para orar, interceder e
ajudar as pessoas necessitadas de uma forma ou de outra. São nestes momentos de
tristeza que o amor ao próximo, a benevolência, a caridade e a ternura se
manifestam visivelmente. São nessas horas de grande aflição que o ser humano
começa a entender que precisa um do outro para continuar existindo, que a fraternidade
e a vida em comunidade são absolutamente necessárias. São nestes tempos de
angústia que estendemos o braço para quem precisa, que nos envolvemos com a
situação do próximo, que choramos com aqueles que choram, que praticamos
hospitalidade, que nos dispomos a nos associar com todo tipo de gente.
O que há de bom no ser humano é
despertado mediante as circunstâncias adversas, que mostram o quanto precisamos
uns dos outros, e o quanto a vida humana é importante e precisa ser valorizada.
Por mais triste que realmente seja a morte física de um ser humano ou todas as
outras consequencias naturais que um tsunami traz, na maioria das vezes há
benefícios em termos espirituais, onde as pessoas começam a colocar a salvação
em prática através das boas obras, e outras começam a refletir sobre o quão
breve e passageira é a vida humana – “o homem é
como um sopro, e seus dias são como uma sombra passageira”, diz o
salmista (Sl.144:4).
Em outras palavras, pessoas que
de outra forma poderiam viver despreocupadamente e depravadamente passam a
refletir sobre a vida e concluem que o melhor lugar do mundo é estar aos pés do
Criador. Foi na adversidade que Moisés fugiu do Egito para se tornar o libertador
do povo de Deus; na adversidade que José foi vendido como escravo para salvar o
mundo da fome; na adversidade que Davi fugiu por anos do rei Saul para se
tornar o homem segundo o coração de Deus; na adversidade que o Verbo se fez
carne, sofreu e morreu para salvar pobres pecadores. Sim, o poder de Deus “se aperfeiçoa na fraqueza” (2Co.12:9), e não na
força!
Em síntese, por maior que seja o
sofrimento que um tsunami possa causar, ele pode evitar um mal muito maior do
que o sofrimento: a condenação. E por pior que seja privar pessoas da
felicidade terrena, ele pode ajudar a causar um bem muito maior do que isso:
uma felicidade eterna, que dura para
todo o sempre, perto da qual nenhum sofrimento passageiro merece sequer ser
comparado. É por isso que Paulo ousadamente diz que “os
nossos sofrimentos leves e momentâneos estão produzindo para nós uma glória
eterna que pesa mais do que todos eles” (2Co.4:17).
Lá do Céu, Deus vê que um
tsunami pode causar sofrimento na vida de tantas pessoas, mas vê também que
impedi-lo pode privar outras tantas pessoas de um bem muito maior: uma alegria
eterna. Ele coloca na balança o mal terreno e passageiro que o tsunami pode
gerar, e do outro lado o bem eterno e infindável da salvação, e vê a balança
despencar para o outro lado. Isso não significa relativizar ou desprezar o
sofrimento real que essas pessoas passam; significa apenas que este sofrimento
é um mal menor, que será
infinitamente recompensado na vida futura, dentro da cosmovisão cristã. Pessoas
são temporariamente privadas da felicidade na terra em função de um tsunami,
mas talvez, sem ele, muitas outras se privariam de uma felicidade sem fim, de uma
coroa eterna e incorruptível, de muito mais valor do que a privação que sofreu.
Isso não é fácil de se explicar
e muito menos de se entender, porque não se trata de um bem para evitar um mal,
mas de um mal menor para evitar um mal maior. Um mal menor (tsunami) é permitido
para se evitar um mal maior (perdição da alma). Talvez se torne mais fácil de
entender quando pensamos que, em geral, somos obrigados a optar desta mesma
maneira em nosso cotidiano, ainda que imperceptivelmente. Uma mãe não quer abandonar seu filho pequeno, aos
prantos, para deixá-lo numa escola com pessoas desconhecidas em um ambiente desconhecido.
Ela é compelida a pegar a criança no colo e enxugar suas lágrimas. No entanto,
ela sabe que deixar a criança pequena na escola, mesmo contra a vontade dela,
irá gerar um mal menor, e que deixá-la sem estudo irá gerar um mal maior. Ela é
obrigada a escolher, e escolhe com a razão, embora a emoção a compila a
escolher errado.
Deus não é um velho sádico e rabugento
de barba branca sentado em um trono no Céu enviando raios, trovões e tsunamis
na terra, para se divertir vendo seus filhos sofrer. Ao contrário: ele é como
aquela mãe que, sem querer o sofrimento do seu filho, sabe que às vezes é
necessário fazer escolhas que doem. O foco não está no sofrimento em si, mas no
bem maior que é gerado através disso, e que motiva o Pai a permitir que o mal
aconteça.
Paz a todos vocês que estão em
Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (www.facebook.com/lucasbanzoli1)
Me fale então sobre algum história sem ser a bíblia que viu ou falou sobres os milagres de Cristo, ainda no Primeiro século. Pois josefo só falou sobre a vida dele e não sobre milagres
ResponderExcluirSe cressem nos milagres de Jesus, seriam cristãos e você não consideraria válido o testemunho por ser de um cristão...
ExcluirMuito bom, Parabéns! a questão do mal é sempre uma séria oposição aos cristãos.
ResponderExcluirObrigado.
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