O argumento ontológico,
originalmente descoberto por Anselmo, tem sido reformulado e defendido por
Alvin Plantinga, Robert Maydole, Brian Leftow e outros. Eu apresentarei uma
versão do argumento como apresentado por Plantinga, um dos mais respeitado
proponente contemporâneo. A versão de
Plantinga é formulada em termos da semântica de mundos possíveis. Para aqueles
que não estão familiarizados com a semântica de mundos possíveis, deixe-me
explicar que, por “um mundo possível” não quero dizer de um planeta ou mesmo um
universo, mas especialmente uma completa descrição da realidade, ou uma a
maneira como uma realidade pode ser.
Talvez a melhor maneira de
pensar de um mundo possível é como uma gigante conjunção p & q & r
& s...., em que conjuntos individuais são as proposições p, q, r, s,.... Um
mundo possível é uma conjunção que engloba cada proposição ou sua contraditória,
de modo que ela produza uma descrição completa da realidade – nada é deixado de
fora desta descrição. Ao negar conjuntos diferentes em uma descrição completa,
chegamos a diferentes mundos possíveis:
M1:
p & q & r & s . . .
M2:
p & não-q & r & não-s . . .
M3:
não-p & não-q & r & s . . .
M4:
p & q & não-r & s . . .
Apenas uma desta descrição será
composta inteiramente de proposições verdadeiras e, por isso, será a realidade
como realmente é, isto é, o mundo real. Desde que nós estamos falando sobre
mundos possíveis, as várias conjunções que um mundo possível engloba deve ser
capaz de ser verdadeira individualmente ou juntas. Por exemplo, a proposição “o
Primeiro Ministro é um número primo” não é mesmo possivelmente verdadeira, pois
números são objetos abstratos que não poderiam ser concebidos idênticos com os
objetos concretos com o Primeiro Ministro.
Então, nenhum mundo possível
terá esta proposição como uma de suas conjunções; ao invés disto, sua negação
será um conjunto de mundo possível. Tal proposição é necessariamente falsa,
isto é, ela é falsa em todo mundo possível. Por outro lado, a proposição “O
Técnico Dunga é o Presidente do Brasil” é falsa no mundo real, mas poderia ser
verdadeiro, e por isso, é um conjunto de algum mundo possível. Dizer que o Técnico
Dunga é o presidente do Brasil em algum mundo possível é dizer que existe a uma
completa descrição possível da realidade ter a proposição relevante como um de
seus conjuntos.
Semelhantemente, dizer que Deus
existe em algum mundo possível é dizer que a proposição “Deus existe” é
verdadeira em alguma descrição completa da realidade. Agora na versão completa
do argumento, Plantinga expressa uma idéia de Deus como um ser que é
“maximamente excelente” em qualquer mundo possível. Plantinga entende excelência
máxima a incluir propriedades tais como onisciência, onipotência e perfeição
moral. Um ser que tenha excelência máxima em um mundo possível teria aquilo que
Plantinga chama de “grandeza máxima”. Então Plantinga argumenta:
1. É possível que exista um ser maximamente notável.
2. Se for possível que um ser maximamente notável exista, então é
possível que um ser maximamente notável exista em algum mundo possível.
3. Se um ser maximamente notável exista em algum mundo possível,
então existe em todo mundo possível.
4. Se um ser maximamente notável existe em todo mundo possível,
então ele existe no mundo real.
5. Se um ser maximamente notável existe no mundo real, então um ser
maximamente notável existe.
6. Então, um ser maximamente notável existe.
Premissa 1
Pode parecer surpresa para você
aprender que os passos (1)–(6) deste argumento é relativamente incontroverso.
Muitos filósofos concordariam que, se a existência de Deus é mesmo possível,
então ele deve existir. A questão principal a ser resolvida no que diz respeito
ao Argumento Ontológico de Plantinga é que garante existir para pensar a
premissa-chave “é possível que um ser maximamente notável exista” ser
verdadeira. A idéia de um ser maximamente notável é intuitivamente uma idéia
coerente e, desta forma, parece plausível que tal ser poderia existir.
A fim de o Argumento Ontológico
falhar, o conceito de um ser maximamente notável deve ser incoerente, como o
conceito de um “casado solteiro”. O conceito de um “casado solteiro” não é um
conceito estritamente auto-contraditório (como é o conceito de um homem casado
não-casado) e é ainda evidente, uma vez entendido o significado das palavras
“casado” e “solteiro”, que nada corresponde que este conceito possa existir.
Por outro lado, um conceito de um ser maximamente notável não parece nem mesmo
remotamente incoerente. Isto fornece alguma garantia, prima facie, por pensar que é possível que um ser maximamente
notável exista.
Resposta de Dawkins
Richard Dawkins dedica seis
páginas, cheias de escárnio e injúria, ao argumento ontológico, sem levantar
qualquer objeção séria ao argumento de Plantinga. Ele observa, de passagem, a
objeção de Immanuel Kant que existência não é uma perfeição; mas desde que o
argumento de Plantinga não pressupõe que seja, nós podemos deixar esta
irrelevância de lado. Ele repete uma paródia da argumentação destinada a
demonstrar que Deus não existe porque um Deus “que criou todas as coisas,
enquanto não existir” é maior que um que existe e cria todas as coisas.
Ironicamente, esta paródia,
longe de enfraquecer o Argumento Ontológico, na verdade o reforça. Pois um ser
que cria todas as coisas enquanto não existir é uma incoerência lógica e é,
portanto, impossível: não há mundo possível que inclua um ser inexistente que
criou o mundo. Se o ateísmo deseja sustentar – como ele deve – que a existência
de Deus é impossível, o conceito de Deus teria de ser semelhantemente
incoerente. Mas não é. Isto apóia a plausibilidade da premissa.
Dawkins também chacota: “eu esqueci os detalhes, mas, uma vez, eu ofendi uma
assembléia de teólogos e filósofos por adaptar o Argumento Ontológico de
maneira que ele provasse que porcos podem voar. Eles lançaram mão da Lógica
Modal para provar que eu estava errado”. Isto é simplesmente
constrangedor. O Argumento Ontológico simplesmente é um exercício em lógica
modal – a lógica da possibilidade e da necessidade. Eu posso apenas imaginar
Dawkins fazendo um teatro de si mesmo naquela conferência profissional com sua
paródia espúria, como ele semelhantemente envergonhou a si mesmo na conferência
do Templeton Foundation em Cambridge com sua objeção “peso-mosca” ao argumento
teleológico!
Conclusão
Os argumentos para a existência
de Deus são logicamente válidos; suas premissas são verdadeiras; e suas
premissas são mais razoáveis à luz destas evidências do que suas negações.
Então, enquanto pessoas racionais, deveríamos abraçar suas conclusões. Muito
mais poderia ser dito e tem sido dito. Mas eu confio que o bastante tem sido
dito aqui para mostrar que os argumentos tradicionais permanecem incólume às
objeções levantadas pelos neo-ateus, tais como Richard Dawkins.
Por: William Lane Craig.
(Extraído do seu site: “Reasonable Faith”)
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