Para muitos, a precisão com a qual o Universo explodiu
e veio a existir nos dá provas ainda mais persuasivas sobre a existência de
Deus. Essa evidência, tecnicamente conhecida como argumento teleológico, tem
seu nome derivado do termo grego telos,
que significa "plano". O argumento teleológico apresenta-se da seguinte
maneira:
1. Todo projeto tem um projetista.
2. O Universo possui um conceito bastante complexo.
3. Portanto, o Universo teve um Projetista.
Isaac Newton (1642-1727)
confirmou de maneira implícita a validade do argumento teleológico quando se
maravilhou diante do projeto de nosso sistema solar. Ele escreveu: "Este belíssimo sistema no qual estão o Sol, os
planetas e os cometas somente poderia proceder do desígnio e do poder absoluto
de um Ser inteligente e poderoso". Contudo, foi William Paley
(1743-1805) que tornou famoso esse argumento por meio de sua declaração, de
muito bom senso, de que todo relógio implica a existência de um relojoeiro.
Imagine que você está caminhando
por uma floresta e encontra um Rolex cravejado de diamantes jogado no chão. A
que conclusão você chega em relação à causa do relógio? Ele foi criado pelo
vento ou pela chuva? Pela erosão ou alguma combinação de forças naturais? É
claro que por nenhuma dessas opções! Não haveria absolutamente nenhuma dúvida
em sua mente de que algum ser inteligente fabricara o relógio e que alguma
pessoa desafortunada o deixara cair ali acidentalmente.
Os cientistas estão agora
descobrindo que o Universo no qual vivemos é como um Rolex cravejado de
diamantes, embora tenha sido planejado com muito mais precisão do que aquele
relógio. O fato é que o Universo é especialmente adaptado para permitir a
existência da vida na Terra – um planeta com uma quantidade enorme de condições
improváveis e interdependentes para dar suporte à vida que o transformam num
pequenino oásis no meio de um Universo vasto e hostil.
Essas condições ambientais
altamente precisas e interdependentes (às quais chamamos de "constantes
antrópicas") formam o que é conhecido como o "princípio
antrópico". "Antrópico" vem de uma palavra grega que significa
"humano" ou "homem". O princípio antrópico é apenas um
título bonito para a evidência básica na qual acreditam muitos cientistas, a
saber: que o Universo é extremamente bem ajustado (planejado) para permitir a
existência da vida humana aqui na Terra.
Neste Universo vasto e hostil,
nós, os terráqueos, somos muito semelhantes a astronautas que só conseguem
sobreviver no pequeno espaço em que estão confinados dentro de sua nave
espacial. Tal como uma nave espacial, nossa Terra sustenta a vida enquanto
viaja pelo espaço sem vida. No entanto, assim como numa nave espacial, uma
pequena mudança ou um mal funcionamento em qualquer um dos fatores – presentes
no Universo ou na própria Terra – pode alterar de maneira fatal as condições
ambientais tão minuciosamente definidas para que possamos sobreviver.
O antigo argumento do design
continua forte hoje como nunca, defendido em várias formas por Robin Collins,
John Leslie, Paul Davies, William Dembski, Michael Denton e outros. Os
defensores do movimento do Design Inteligente continuam a tradição de encontrar
exemplos de design em sistemas biológicos. Mas o destaque na discussão está no
recém descoberto extraordinário ajuste fino do cosmos para a vida. Este ajuste
fino é de dois tipos.
Primeiro, quando as leis da
natureza são expressas como equações matemáticas, elas contém certas
constantes, como a constante gravitacional. Os valores matemáticos dessas
constantes não são determinados pelas leis da natureza. Segundo, existem certas
quantidades arbitrárias que são apenas partes das condições iniciais do
universo – por exemplo, a quantidade de entropia.
Estas constantes e quantidades
incidem em um conjunto extraordinariamente limitado de valores que permitem a
vida. Se tais constantes e quantidades fossem alteradas por menos que a
espessura de um fio de cabelo, o equilíbrio que permite a vida seria destruído,
e a vida não iria existir.
Destarte, pode-se argumentar:
1. O ajuste fino do universo é resultado da necessidade física, ou
da sorte ou do design.
2. Ele não é resultado da necessidade física e nem da sorte.
3. Portanto, ele é resultado do design.
A premissa (1) simplesmente
apresenta as opções existentes para explicar o ajuste fino. A premissa
principal, portanto, é (2). A primeira alternativa, necessidade física, afirma
que as constantes e as quantidades devem ter
o valor que possuem. Esta alternativa é pouco recomendável. As leis da natureza
são consistentes com uma ampla gama de valores para as constantes e
quantidades. Por exemplo, atualmente, a candidata com melhor potencial para se
tornar a teoria unificada da física, a teoria das supercordas ou “teoria-M”,
permite um “cenário cósmico” de cerca de 10500 possíveis diferentes
universos governados pelas leis da natureza, e apenas uma proporção
infinitesimal delas pode suportar a vida.
Com relação à sorte, os teóricos
contemporâneos reconhecem cada vez mais que as probabilidades contra o ajuste
fino são simplesmente insuperáveis, a menos que se esteja preparado para
abraçar a hipótese especulativa de que o nosso universo é apenas um membro de
um agrupamento infinito e aleatoriamente ordenado de universos (i.e. o
multiverso). Neste agrupamento de mundos, cada mundo fisicamente possível é
concretizado, e obviamente nós podemos observar apenas o mundo onde as
constantes e quantidades são consistentes com a nossa existência. É aqui onde o
debate se esquenta atualmente. Físicos como o da Universidade de Oxford, Roger
Penrose, lançam poderosos argumentos contra qualquer apelo a um multiverso como
opção para se explicar o ajuste fino.
Uma forma de responder à
hipótese dos muitos mundos seria mostrar que o próprio multiverso envolve o ajuste
preciso. Pois, para que seja cientificamente crível, deve ser sugerido algum
tipo de mecanismo para a geração dos muitos mundos. Porém, se é para que a hipótese
dos muitos mundos seja bem-sucedida em atribuir o ajuste preciso exclusivamente
ao acaso, então é melhor que esse próprio mecanismo de geração dos muitos
mundos não seja ele mesmo parte de um ajuste preciso! Pois, se ele for,
acabaremos com o mesmo problema do início: Como explicar o ajuste preciso do
multiverso? Os mecanismos propostos para a geração de um conjunto de mundos são
tão vagos que está longe de estar claro se a física que controla o multiverso
não envolverá algum tipo de ajuste preciso.
Por exemplo, se a teoria m for a
física do multiverso, então continua sem explicação, como vimos, porque existem
exatamente onze dimensões. E o mecanismo que torna atuais todas essas
possibilidades na paisagem cósmica pode envolver um ajuste preciso. Assim, o postulado
de um conjunto de mundos não é em si mesmo suficiente a ponto de justificar a
alternativa do acaso.
Portanto, parece-me que das três
alternativas que temos diante de nós – a necessidade física, o acaso e o design
– a mais plausível da três é o design. Platão e Aristóteles sem sombra de
dúvida iriam se sentir gratificados pelo fato de a ciência moderna defender as
visões deles. Temos, então, um terceiro argumento em nossa série de argumentos em
favor da existência de Deus.
Por: William Lane Craig.
(Extraído do livro: “Em Guarda”)
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