O trecho abaixo é extraído de meu livro: "As Provas da Existência de Deus", de autoria minha e de Emmanuel Dijon, disponível gratuitamente para download
No artigo
anterior provamos historicamente a existência
de Jesus por diferentes autores não-cristãos que conviveram na época de Cristo
ou pouco depois, e da existência dos cristãos ainda no primeiro e no segundo
século, o que aniquila a tese de que Cristo tenha sido uma invenção elaborada
por charlatões que buscavam engrandecer seus próprios nomes e tomar vantagem
dos outros. Os ateus não têm qualquer coisa para refutarem decentemente as
provas históricas da existência de Jesus, mas ainda possuem uma última carta na
manga: Zeitgeist.
Zeitgeist trata-se de um
filme sensacionalista baseado puramente em teorias da conspiração, envolvendo
não apenas a pessoa de Jesus Cristo, mas também os atentados de 11 de Setembro
e o Banco Central dos Estados Unidos. Em qualquer lugar onde as pessoas
tivessem um mínimo de senso crítico, inteligência e raciocínio próprio, ninguém
daria o menor crédito a este falso documentário que já foi desmentido milhares
de vezes por especialistas e estudiosos da área, mas em um país onde a
principal atração é o Big Brother Brasil e uma das principais “manifestações culturais” é o funk, já se podia esperar que milhares de incautos fossem
iludidos sem a menor dificuldade, engolindo qualquer informação mentirosa que
lhes é passada.
Mais de 80% das fontes de
Zeitgeist não são fontes primárias,
mas são tiradas de outros livros (também igualmente sensacionalistas e
conspiracionistas). Ou seja: só pelas fontes já seria suficiente para qualquer
estudioso sério perder qualquer consideração e respeito por esse documentário.
Se eu digo que Leonardo da Vinci foi um sumo sacerdote do satanismo, que tinha
pacto com o diabo e que as suas pinturas não eram dele, mas roubadas ou
plagiadas de algum Fulano de Tal, ou tenho que provar essas acusações sérias com
alguns (ou muitos) documentos históricos daquela época que provem isso. Mas se
80% de todas as minhas “provas” são livrinhos escritos por amiguinhos meus que também
são loucos por alguma teoria conspiratória, isso não me daria qualquer crédito.
Infelizmente, é isso o que
Zeitgeist faz do início ao fim: um verdadeiro show de desinformação e
desconhecimento histórico, deixando claro que foi feito por alguém que estava
desesperado em reunir o maior número de “provas” contra o Cristianismo, mesmo que para isso tivesse
que lançar mão de fontes nada confiáveis, ou de fatos que já se provaram o
contrário. Porque o propósito, como já foi dito, nunca foi de provar nada, mas
de apenas passar mais uma teoria de conspiração.
O Dr. Chris Forbes,
professor da Universidade de Macquarie (Sydney), doutor em história do Novo
Testamento e membro do Sínodo da diocese de Sydney refutou as mentiras ditas em
Zeitgeist em uma entrevista de sete minutos, mostrando inúmeras farsas naquilo
que foi exposto[1]. Em meu site “Apologia Cristã” também mostro um
documentário de uma hora e meia de duração, com vários depoimentos de
estudiosos que refutaram parte por parte dos embustes elaborados pelos
conspiracionistas, que também estará na nota de rodapé deste livro.[2]
Basicamente, o que o filme
pretende mostrar é que Jesus Cristo foi um mito inventado pelos cristãos, que
eram tão burros que copiaram igualzinho os outros mitos daquela época, nem
fizeram questão de disfarçar, e que eles deram as suas vidas em martírio por
esse mito inventado por eles. Primeiramente vejamos o que foi alegado:
Mitra
(persa – romano) 1200 a.C
• Nasceu dia 25 de Dezembro;
• Nasceu de uma virgem;
• Teve 12 discípulos;
• Praticou milagres;
• Morreu crucificado;
• Ressuscitou no 3º dia;
• Era chamado de “A Verdade”, “A Luz”;
• Veio para lavar os pecados da
humanidade;
• Foi batizado;
• Como deus, tinha um “filho”, chamado
Zoroastro.
Attis
(Frígia – Roma) 1200 a.C.
• Nasceu dia 25 de dezembro;
• Nasceu de uma virgem;
• Foi crucificado, morreu e foi
enterrado;
• Ressuscitou no 3º dia;
Krishna
(hindu – índia) 900 a.C
• Nasceu dia 25 de Dezembro;
• Nasceu de uma virgem;
• Uma estrela avisou a sua chegada;
• Fez milagres;
• Após morrer, ressuscitou.
Dionísio
(Grego) 500 a.C
• Nasceu de uma virgem;
• Foi peregrino (viajante);
• Transformou água em vinho;
• Chamado de Rei dos reis, Alpha e
ômega;
• Após a morte, ressuscitou;
• Era chamado de “Filho pródigo de Deus”.
Mesmo se tudo isso fosse mesmo verdade (o que veremos mais
adiante que não é), o que é que isso provaria? Dado o incontável número de
deuses existentes no paganismo e as inumeráveis histórias e fatos que os
envolvem, poderia não ser mais que coincidência que alguns deles se cruzassem
em alguns aspectos. Afirmar que por conta disso Jesus seria um plágio desses
mitos pagãos seria tão inteligente quanto alegar que John Kennedy foi um plágio
de Abraham Lincoln e que por isso ele é um mito que não existiu realmente,
dadas as seguintes coincidências:
• Abraham Lincoln foi eleito para o
Congresso em 1846.
• John F. Kennedy foi eleito para o
Congresso em 1946.
• Abraham Lincoln foi eleito presidente
em 1860.
• John F. Kennedy foi eleito presidente
em 1960.
• Os nomes Lincoln e Kennedy têm sete
letras.
• Ambos estavam comprometidos na defesa
dos direitos civis.
• As esposas de ambos perderam filhos
enquanto viviam na Casa Branca.
• Ambos os presidentes estavam
preocupados com os problemas dos negros norte-americanos.
• Ambos os presidentes foram baleados
numa sexta-feira.
• Ambos os presidentes foram
assassinados com um disparo na cabeça.
• Ambos os presidentes foram
assassinados na presença da esposa.
• A secretária de Lincoln chamava-se
Kennedy e lhe disse para não ir ao teatro.
• A secretária de Kennedy chamava-se
Lincoln e ela avisou a ele para não ir a Dallas.
• Ambos os presidentes foram
assassinados por sulistas.
• Ambos os presidentes foram sucedidos
por sulistas.
• Ambos os sucessores chamavam-se
Johnson.
• Andrew Johnson, que sucedeu a
Lincoln, nasceu em 1808.
• Lyndon Johnson, que sucedeu a
Kennedy, nasceu em 1908.
• Ambos os assassinos eram conhecidos
pelos seus três nomes.
• Os nomes de ambos os assassinos têm
quinze letras.
• Booth saiu correndo de um teatro e
foi apanhado num depósito.
• Oswald saiu correndo de um depósito e
foi apanhado num teatro.
• Booth e Oswald foram assassinados
antes de seu julgamento.
• O assassinato de Kennedy foi filmado
por um homem chamado Abraham.
• O teatro de Ford era propriedade de
um homem chamado John.
• Lincoln foi morto no Teatro Ford.
• Kennedy foi morto num carro Ford,
modelo Lincoln…
• Antes de ser morto, Lincoln esteve em
Monroe, Maryland.
• Antes de ser morto, Kennedy esteve
com Marylin Monroe.
Se tamanhas semelhanças entre Lincoln e Kennedy não significa
que um é um plágio do outro, por que algumas semelhanças entre Cristo em algum
deus mitológico deveriam servir de “prova” para um suposto plágio do Cristianismo? Mas para não deixar
as fraudes ateístas sem respostas, examinaremos ponto a ponto para vermos se
essas informações procedem.
Em momento nenhum a Bíblia diz que Jesus nasceu no dia 25 de
Dezembro, ou ao menos indica isso. Ao contrário, as evidências bíblicas apontam
que Jesus nasceu em Agosto. Ele nasceu pouco antes da morte de Herodes, quando
José foi a Belém com sua família para participar do recenseamento. Esse
recenseamento historicamente ocorreu quatro anos antes da morte de Herodes, que
ocorreu em 4 a.C. Consequentemente, isso nos leva ao ano 8 a.C. Mas os judeus
dificultaram a tentativa dos romanos em contarem todo o povo, razão pela qual,
historicamente, nas terras judaicas esse recenseamento ocorreu um ano depois
das outras terras dominadas pelo império romano. Ou seja: ocorreu em 7 a.C.
Esse recenseamento em Belém ocorreu no oitavo mês, ou seja,
em Agosto. Daí se conclui que Jesus nasceu em Agosto de 7 a.C. Outro fato que
corrobora com essa data é de que, de acordo com os registros locais, Jesus foi
apresentado no templo em um sábado do mês de Setembro daquele ano. Em 7 a.C
houve quatro sábados: 4, 11, 18 e 25. Como os censos em Belém ocorreram entre
10 e 24 de Agosto, o sábado de apresentação foi o de 11 de Setembro, pois a
purificação das mulheres teria que ocorrer até os vinte e um dias após o parto.
Portanto, Jesus nasceu poucos dias depois de 21 de Agosto de
7 a.C, e não em 25 de Dezembro. Se os escritores bíblicos plagiaram os mitos
pagãos para formarem Jesus, teriam dito que ele nasceu em 25 de Dezembro, o que
sabemos historicamente à luz da Bíblia que não aconteceu. Ao contrário: nenhum
deles falou de 25 de Dezembro em parte nenhuma.
A fixação da data de 25 de Dezembro se deu apenas no quarto
século d.C de forma comemorativa, pela Igreja Católica. O objetivo com isso era
de âmbito político: devido ao ecumenismo praticado pela Igreja da época
criou-se essa data comemorativa do nascimento de Jesus como sendo em 25 de
Dezembro, para a fácil aceitação dos pagãos que tiveram que se converter ao
Cristianismo após este se tornar a religião oficial do império romano. Visando
a conversão e aceitação deles, fixou-se essa data. Mas nada na Bíblia, nem nos
primeiros três séculos de Cristianismo, aponta para 25 de Dezembro como uma
data do nascimento de Jesus, o que deita por terra as teses de que os autores
bíblicos fizeram uso de mitos pagãos para “criarem” Jesus Cristo.
É alegado pelos conspiracionistas que em alguns mitos pagãos
os deuses foram recebidos por três reis magos, que seguiam a estrela Sirius.
Nada mais falso do que isso. Na verdade, o relato bíblico não fala de reis, não fala de “três” e não
fala de Sirius! O que o texto bíblico simplesmente diz é isso:
“Depois que Jesus nasceu em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes,
magos vindos do oriente chegaram a Jerusalém” (Mateus 2:1)
Em momento nenhum a Bíblia afirma que eram reis, mas que eram
magos. Se esses magos também eram reis ou não, é algo que a Escritura
simplesmente silencia. A afirmação de que eram “três” também é
falsa. Em lugar nenhum o relato diz que eram três, o que talvez alguns
erroneamente deduziram do número de presentes: ouro, incenso e mirra. Mas podem
ter sido muitos magos trazendo (cada um deles) esses três presentes, ou então
um número menor trazendo mais presentes. O número de presentes não determina o
número de magos!
A ideia de que eram três reis magos provém do século VII d.C,
já muito tempo depois de Jesus, quando a Igreja Católica decidiu aceitar a
sugestão de São Beda (673-735), que disse que os magos eram reis e que eram
três. Mais uma vez, é preciso reafirmar: trata-se de uma tradição católica, e não cristã. Não está registrada na Bíblia, mas na tradição deles.
Nenhum apóstolo, evangelista ou escritor bíblico se baseou nessa interpretação
ao escrever a Bíblia.
A hipótese de que a estrela que os magos seguiram era Sirius
é refutada em Mateus 2:7, que afirma que essa estrela era nova, ela tinha “aparecido” há pouco
tempo. Não podia ser Sirius, que já ela era muito bem conhecida pelos
astrólogos daquela época e até cultuada em muitos povos pagãos. Portanto, não
há nada em Mateus 2:1 que faça qualquer alusão a qualquer mito pagão que seja.
Por fim, é interessante notarmos a figura dos pastores que
foram visitar Jesus quando este ainda era recém-nascido (Lc.2:8-18). Nos mitos
pagãos, os deuses sempre estavam associados apenas a riquezas, a glória, a
honra. Jesus aparece sendo visitado por pessoas pobres no seu nascimento,
diferente dos deuses que eram cercados apenas de outros deuses ricos e poderosos.
A descrição bíblica do Deus encarnado nascendo em uma simples e humilde
manjedoura, vivendo entre os pobres, não tendo sequer onde repousar a cabeça
(Mt.8:20) e morrendo entre dois condenados desassocia completamente Jesus dos
mitos pagãos, onde o que sempre ocorria era o inverso.
De todas as alegações dos conspiracionistas essa é certamente
a mais ridícula. Em primeiro lugar, tudo o que se sabe sobre tais deuses pagãos
é através de desenhos. Seus seguidores não escreveram nada. Como iriam então
desenhar uma mulher virgem? A única diferença entre a virgem e a não-virgem é
interna. Teriam seus seguidores desenhado as genitálias femininas com o hímen
intacto? É claro que não. Então quem foi que deu a ideia de que tais deuses
eram fruto de um nascimento virginal?
Em segundo lugar, é mentira que os desenhos não retrataram
histórias que incluíam um relacionamento físico para gerar esses deuses. Hórus
não foi concebido milagrosamente por uma virgem, mas por relação sexual da
deusa Isis com o deus Osíris.
Em suma, não é apenas ridícula a afirmação de que tais deuses
eram fruto de nascimento virginal: é uma afirmação mentirosa. Simplesmente não
existem registros de algum mito pagão onde um deus tenha sido gerado
milagrosamente pela operação do Espírito Santo, sem qualquer fecundação resultando
do casal sagrado (entre um casal de deuses) ou do ato sexual entre um deus
disfarçado de ser humano e uma mulher mortal.
Tome como exemplo uma das histórias de Dionísio. Segundo essa
versão, Zeus foi a Perséfone disfarçado de serpente e a engravidou. Portanto,
tirou sua virgindade. Em outra versão, ele se aproximou de Semele disfarçado de
homem mortal e ela engravidou. Então, a rainha de Zeus, Hera, tomara de ciúmes,
foi até a casa de Semele disfarçada de uma mulher idosa, sugerindo que a
história que Zeus era o rei dos deuses poderia ser mentira e que ele era um
simples mortal querendo se aproveitar da inocência dela.
Quando Zeus voltou a visitá-la, ela pediu, sob juramento, que
ele aparecesse a ela como aparecia a Hera. Zeus, cumprindo o juramento, apareceu
com toda a sua glória, o que reduziu Semele às cinzas. Hermes salvou o feto e o
conduziu a Zeus, que o costurou à sua coxa e, depois de três meses, deu à luz a
Dionísio. Diante de tudo isso, fica a pergunta: qual ser humano pensante nesse
planeta terra iria achar que a história bíblica do nascimento virginal de Jesus
tem algum paralelo ou “plágio” com a história do nascimento de Dionísio ou dos outros
deuses pagãos? Só um oportunista ou um ignorante.
Nos outros mitos a coisa piora ainda mais. Em Hórus, por
exemplo, de acordo com a The Encyclopedia of Mythica, depois de seu pai Osíris
ser assassinado e ter seu corpo mutilado em quatorze pedaços por seu irmão Set,
íris (esposa de Osíris) recuperou e remontou o corpo, e em conexão pegou o
papel da deusa da morte e dos funerais. Então, ela se engravidou pelo corpo de
Osíris e deu à luz a Hórus nos rios de Khemnis. Esse relato de concepção
necrofílica nada tem a ver com o relato bíblico, chega a ser patético alguém
ver isso e ainda comparar com o nascimento virginal de Jesus, que é totalmente
diferente na narrativa bíblica.
Em conclusão, os historiadores e eruditos Raymond Brown e R.
E. Brown comentam:
“Em suma, não há nenhum exemplo claro de concepção virginal no mundo ou
nas religiões pagãs que plausivelmente poderia ter dado aos judeus cristãos do
primeiro século a ideia da concepção virginal de Jesus”[3]
“Paralelos não judaicos têm sido encontrados nas religiões mundiais (O
nascimento de Buda, de Krishna e do filho de Zoroastro), na mitologia greco-romana,
nos nascimentos dos faraós (com o deus Amon-Rá agindo através do seu pai) e nos
nascimentos sensacionais dos imperadores e filósofos (Augusto, Platão etc...).
Mas esses ‘paralelos’ sempre envolvem um tipo de hieros gamos em que um macho divino, em
forma humana ou outra, insemina uma mulher, seja através do ato sexual normal,
seja por meio de uma forma substituta de penetração. Eles não são realmente
semelhantes à concepção virginal não-sexual que está no âmago das narrativas da
infância de Jesus, concepção esta em que nenhum elemento ou deidade macho
insemina Maria... Portanto, nenhuma busca por paralelos nos tem dado explicação
verdadeiramente satisfatória de como os primitivos cristãos chegaram à idéia de
uma concepção virginal – a menos, é claro, que ela realmente tenha acontecido
historicamente”[4]
Esse é um clássico exemplo de como os conspiracionistas agem
para enganar os mais desprevenidos. Usam uma informação falsa, em cima de uma
história completamente diferente do relato bíblico, que pela mera descrição do
suposto “nascimento virginal” dos deuses pagãos leva muitos a crerem que o que ocorreu ali
foi algo próximo do relato bíblico de Maria dando à luz a Jesus por um ato
milagroso do Espírito Santo, quando, na verdade, é absurdamente antagônico.
É alegado que alguns deuses de mistério, como Hórus,
efetuavam grandes milagres e maravilhas quando tinham 12 anos, assim como
Jesus. Essa informação é falsa. Não há um único registro de qualquer milagre
que Jesus tenha feito enquanto criança ou jovem. Os evangelhos de Mateus,
Marcos e João nada falam sobre a adolescência de Jesus, e Lucas, o único que
conta alguma coisa, cita apenas a obediência do menino Jesus aos seus pais
(Lc.2:51) e ele conversando com os mestres da lei no templo (Lc.2:46). Sem
retoques, sem milagres, sem grandes exibições ou maravilhas.
Já com os mitos pagãos, a coisa era totalmente diferente. Já
garotos eles faziam coisas sobrenaturais, mágicas, prodígios e todos os temiam.
Totalmente diferente da infância de Jesus! Se os evangelistas tivessem plagiado
alguma coisa dos mitos pagãos, teriam obviamente retratado a infância de Jesus
com muita ênfase e repleto de detalhes sobrenaturais, o que nunca fizeram.
Apenas um dos quatro evangelistas escreveu alguma
coisa sobre a infância de Jesus, e mesmo ele não deu qualquer destaque a
algum milagre ou façanha sobrenatural que ele possa ter feito.
Outra afirmação comum dos conspiracionistas é que a
ressurreição de Jesus foi um plágio dos mitos pagãos. Se isso é verdade, esperaríamos encontrar
muitos relatos de deuses morrendo e ressuscitando fisicamente para o mundo dos
vivos ao terceiro dia. Mas isso nunca ocorre com nenhum deles. Nunca.
Examinaremos caso por caso:
• Adonis. Não há
sequer uma única evidência nem nos textos antigos nem nas representações
pictográficas de que Adonis tenha ressuscitado, como afirmam alguns.
• Áttis. Somente
depois de 150 d.C houve a sugestão de que ele teria sido um deus ressurreto.
Como os cristãos do século I teriam plagiado uma história mitológica que ainda
não existia? Além disso, não há nada que se pareça com o uma ressurreição
corpórea no mito de Áttis. Em uma das versões, ele teria voltado à vida de
forma vegetativa, apenas os pêlos do seu corpo continuavam a crescer e ele
movia apenas um dos dedos, de forma involuntária. Em outra versão, Áttis volta
à vida na forma de uma árvore. Nenhuma dessas versões tem qualquer ligação com
a ressurreição física, corporal e gloriosa de Jesus Cristo.
• Osíris. A versão
do mito de sua morte e “ressurreição” é encontrada em Plutarco, que escreveu no segundo século
d.C. Novamente, mais de um século depois da época de Jesus e dos primeiros
cristãos. E mesmo essa versão difere radicalmente da ressurreição de Jesus.
Osíris teria sido assassinado por seu irmão que o afundou em um caixão no Nilo.
Ísis descobriu o corpo e o conduziu novamente ao Egito, mas seu cunhado ganha o
acesso ao corpo e o mutila em quatorze pedaços, atirando-os para longe. Ísis
procura e encontra cada um desses quatorze pedaços, restaura o corpo de Osíris
e este passa a ser um deus no mundo dos mortos.
Essa visão é completamente oposta à noção cristã da
ressurreição de Jesus. Em primeiro lugar, porque Jesus não teve nenhum de seus
ossos quebrado (Jo.19:36), enquanto Osíris foi mutilado em quatorze pedaços.
Segundo, porque a ressurreição de Jesus foi para esta vida (mundo dos vivos),
enquanto que a “ressurreição” de Osíris, se é que podemos chamar de ressurreição, foi para
habitar no mundo dos mortos. Em outras palavras, ele não ressuscitou
tecnicamente: ele apenas morreu e foi para o mundo dos mortos, jamais voltando
à terra dos viventes, como ocorreu com Jesus. Como disse Roland de Vaux:
“O que significa Osíris ter ‘levantado para a vida’? Simplesmente que, graças à ministração de Ísis, ele pôde levar uma
vida além da tumba que é quase uma perfeita réplica da existência terrestre.
Mas ele nunca mais voltará a habitar entre os viventes e reinará apenas sobre
os mortos... Esse deus revivido é, na realidade, um deus ‘múmia’”[5]
• Krishna. Ele foi
morto por um caçador que, sem intenção, atirou em seu calcanhar, e, em seguia,
ascendeu aos céus. Não houve qualquer ressurreição aqui, e ninguém o viu
ascender. Krishna jamais voltou à vida terrena. Além disso, como nos conta
Benjamim Walker, “não pode haver qualquer dúvida de que os hindus pegaram emprestado os
contos [do Cristianismo], mas não o nome”[6]. Isso
porque o Bhagavata Purana é datado entre o sexto e o décimo primeiro século
d.C, e o Harivamsa foi composto entre o quarto e o sexto século.
Portanto, não há nenhum paralelo entre a ressurreição de
Jesus e a ressurreição dos deuses mitológicos de mistério. Nos mitos pagãos, os
deuses simplesmente desaparecem ou morrem. Os que desaparecem retornam porque
não haviam morrido, e os que morrem não retornam. A ressurreição de Jesus é o único caso na história antiga de um Deus
encarnado morrendo em forma humana e retornado à vida terrena. Como diz
Mettinger:
“Desde a década de 1930... um consenso tem se desenvolvido de que os ‘deuses que morrem e ressuscitam’ morreram, mas não retornaram ou se levantaram
para viver novamente... Aqueles que pensam diferente são vistos como membros
residuais de espécies quase extintas”[7]
Na concepção judaica, nenhum dos mitos pagãos ressuscitou
realmente dos mortos, e não é senão a partir do terceiro século d.C que
encontramos material mais sólido sobre as religiões de mistério que permitem
uma reconstrução de seu conteúdo. Como mostrou Pierre Lambrechts, os textos que
se referem à ressurreição dos deuses são muito tardios, do segundo ao quarto
século d.C, e mesmo nestes casos não há um único que seja pelo menos parecido com a ressurreição de Jesus.
Os ateus afirmam que os nomes bíblicos para Jesus, como “Luz do Mundo”, “Alfa e Ômega”, e “Cordeiro de Deus” (dentre
outros) foram copiados dos mitos pagãos. Será mesmo? Examinaremos isso agora.
• Luz do
mundo. Os deuses pagãos eram chamados de “luz do mundo” por sua
associação com o sol, que é a luz do mundo. O sol era adorado em muitos povos
pagãos. O Novo Testamento, porém, em momento nenhum ensina a adoração ao sol, e
mesmo quando chama Jesus de luz o faz em um contexto totalmente diferente
dos mitos pagãos, pois fala de uma luz espiritual e não literal (Lc.8:12). A “luz” dos
deuses pagãos era uma luz literal que é emitida pelo sol para salvar a vida na
terra, já a “luz” de Cristo diz respeito à salvação do pecado e da morte
espiritual. Portanto, uma coisa nada tem a ver com a outra.
Além disso, vale destacar que Jesus disse que nós também somos a luz do mundo (Mt.5:14),
algo que um deus pagão jamais faria, pois esse título seria exclusividade dos
deuses em função do poder exercido por eles sobre os humanos. Sendo assim, a “luz” no
contexto cristão nada tem a ver com a “luz” do contexto pagão, e o título que no paganismo é atribuído
somente aos deuses é no Novo Testamento dado a todos os cristãos (o que era
absurdo e inadmissível no paganismo), o que mostra diferenças marcantes entre
um e outro.
• Salvador.
Se os deuses pagãos alguma vez foram considerados “salvadores”, o foram
em função do sol, que salva a vida existente na terra. Mas será que isso foi um
“plágio” dos escritores bíblicos? Se fosse um plágio, Jesus seria
considerado salvador no mesmo sentido que
os deuses pagãos eram considerados salvadores. Mas nunca vemos esses deuses salvando alguém do pecado, ao contrário: o
conceito de “pecado” é judaico-cristão, nem existia no paganismo. A “salvação”, ao
invés de ser de uma morte física, trata-se da morte espiritual, isto é, do
pecado. Um conceito totalmente antagônico em relação aos deuses de mistério.
Attis, por exemplo, em momento nenhum agiu como um “redentor”, nem sua
religião oferecia a “salvação
em Attis”. Krishna era um “salvador”
guerreiro e terreno que lutou para libertar seu povo do tirânico reinado de
Kamsa. Nada tem a ver com a salvação de Jesus Cristo, que não era de ordem
temporal. Ao contrário: ele disse seu Reino não era deste mundo (Jo.18:36).
• Filho de
Deus. Qualquer deus que fosse filho de um outro deus era
considerado “filho de Deus”, portanto obviamente muitos deuses pagãos tinham esse
título. A pergunta que fica é: se Jesus é o Filho de Deus, teria sido esse
título tirado dos mitos pagãos? Se isso fosse verdade, a Bíblia jamais diria
que nós também somos filhos de Deus,
como afirma claramente (Jo.1:12). Isso nunca
aconteceu em nenhum mito do
paganismo, pois “filho de
Deus” era um título exclusivo dos deuses,
nunca dos seres humanos mortais. Se o Novo Testamento nos chama de filhos de
Deus, é óbvio que ele não foi influenciado pelos mitos pagãos que diziam o
contrário.
• Alfa a
Ômega. Não há qualquer registro de um deus pagão com esse título.
Alguns afirmam que Dionísio tinha esse título, mas não há qualquer registro
histórico ou arqueológico que confirme tal tese. Jesus é o Alfa e o ômega
porque ele não tem Princípio e nem Fim, ou seja: porque ele é eterno. Já os
deuses pagãos eram criados, eram filhos naturais por relações de outros deuses,
portanto não podiam ser “Alfa e
Ômega”.
• Cordeiro
de Deus. Outro título que jamais foi aplicado a qualquer deus
mitológico. A expressão “cordeiro
de Deus” não provém do paganismo, mas do
judaísmo, que costumava sacrificar cordeiros como sacrifício pelo pecado.
Jesus, portanto, é tratado como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo
(Jo.1:29), como sendo o sacrifício completo, final e definitivo. Esse termo não
pode ter sido tomado do paganismo pela simples razão de que os pagãos não
sacrificavam cordeiros. No mitraísmo, por exemplo, eram sacrificados touros. Se
os apóstolos tivessem plagiado as ideias pagãs, teria dito que Jesus era o “Touro de Deus”
(mitraísmo), e não o “Cordeiro
de Deus” (judaísmo).
• A
Verdade. Não existe nada, nenhum texto ou desenho que afirme que tais
deuses se diziam ser “A Verdade”. Pelo contrário: era comum os deuses errarem e muito. Eram
egoístas, orgulhosos, caíam em tentações dos mais diversos tipos, tinham
personalidade instável, por vezes matavam outros deuses e faziam o mal ao
próximo. Nenhum deles era considerado a “verdade” personificada, e nem poderia ser, pois o próprio caráter
deles desmentiria isso. Nem mesmo Theos, o maior dos deuses, era chamado de
tal, muito menos os outros deuses de escala inferior. Jesus foi o único que
disse que era o caminho, a verdade e a vida (Jo.14:6) para quem lhe seguisse.
• Rei dos
reis. Rei dos reis é uma descrição comum em divindade e facilmente
aplicável a qualquer Deus, ou ser poderoso, a diferença é que Jesus reina sobre
todos os reis do mundo, ao passo que os deuses mitológicos reinavam apenas
regionalmente. Zeus no Céu, Hades no mundo dos mortos, e assim por diante. Nunca
vemos algum que era considerado o Deus supremo sobre tudo e sobre todos.
É alegado que Attos foi crucificado em uma árvore numa
Sexta-Feira negra. Isso é totalmente falso. Attis morreu embaixo de uma árvore,
mas não crucificado nela. E nada indica que isso tenha acontecido em uma
Sexta-Feira. Como resultado disso, Attis sangrou e daí surgiu o brotamento de
flores. Como disse J. P. Holding, “se você quiser chamar isso de ‘redenção’ da terra, talvez algum fazendeiro esteja fazendo a mesma coisa
plantando batatas”.
Hórus também não morreu por crucificação. Há vários relatos
da morte de Hórus, mas nenhum deles
envolvendo crucificação. Osíris também não morreu crucificado, mas morreu após
ser enganado por Set. Ele foi preso em um baú e lançado ao Nilo. Krishna também
não morreu por crucificação. Ele morreu depois de acidentalmente ser atingido
por uma flecha de caçador.
Tammuz, que é outro que alegam que morreu crucificado, na
verdade foi morto por demônios enviados por Ishtar. Dionísio foi comido vivo
pelos Titãs em sua infância, não morreu crucificado. Mitra não experimentou a
morte, mas foi carregado para o Céu em uma carruagem de fogo. Em suma, todas as alegações dos
conspiracionistas sobre a morte por crucificação são falsas. Qualquer um que
estude ou pesquise um mínimo sobre
esses deuses consegue desmascarar tais mentiras, que podem no máximo enganar um
ignorante, mas não tem qualquer efeito em um debate inteligente.
Como já vimos até aqui, é comum os conspiracionistas
enganarem os incautos alegando uma suposta ligação entre um deus pagão e Jesus
Cristo com características posteriores a Cristo. Isso porque embora a
maioria desses deuses tenham sido criados há aproximadamente um milênio antes
de Cristo, suas histórias não nasceram prontas, em definitivo, da noite para o
dia. Suas crenças foram se desenvolvendo com o passar dos séculos, e muitas
vezes em sincretismo com outras religiões. Por isso podemos dividir em duas partes
as acusações dos ateus:
• Mentiras.
Afirmações simplesmente mentirosas que não provém de qualquer
fonte primária e que não condizem com a realidade, como já desmascaramos várias
até aqui.
• Verdades
depois de Cristo. Trata-se de acontecimentos verdadeiros, mas que só vieram a
fazer parte da tradição desses deuses séculos depois de Cristo.
Nesse segundo grupo podemos incluir, por exemplo, as
alegações de que Hórus tenha sido batizado com 30 anos e iniciado o seu
ministério. Embora parte dessa alegação seja claramente falsa (pois Hórus nunca
teve um “ministério” como Jesus, que é o ato de se dispor a ser servo e ensinar
os outros, e Hórus sempre foi rei, nunca servo), outra parte é verdadeira, mas
somente veio a fazer parte das tradições deste deus séculos depois da época de
Cristo. Não existia batismo nos tempos de Hórus. Essa tradição existiu séculos
depois de Cristo. Portanto, não é um caso dos cristãos plagiando algo do
paganismo, mas o paganismo plagiando algo dos cristãos.
Na versão original de Hórus, não há qualquer “batismo” deste.
Na verdade, o único relato deste deus que envolve água é em uma história onde
ele é despedaçado e Ísis pede ao deus crocodilo que o pesque da água onde havia
sido colocado.
O mesmo ocorre com Mitra. As informações de que esse deus
tenha nascido de uma virgem, perdoado pecados, morrido crucificado e
ressuscitado dias depois só são encontradas três séculos depois de Cristo, não há uma única linha ou indício
anterior a Cristo de alguém ensinando que Mitra era tudo isso. Por que a
arqueologia nunca encontrou detalhes de deuses pagãos semelhantes a Cristo
antes de Cristo? Porque, obviamente, foram os pagãos que copiaram os cristãos
(e eles tinham esse costume, basta ver a semelhança entre os deuses deles
mesmos), e não o contrário.
Ou tome como exemplo também o caso de Dionísio, que dizem ter
transformado água em vinho. Na verdade, o que realmente aconteceu foi que
existia um escoadouro em um templo de Dionísio, que jorrava vinho ao invés de
água, mas isso é totalmente diferente de transformar
água em vinho. Além disso, essa história é posterior à época da escrita do
Novo Testamento.
Muitos afirmam que o Cristianismo é um plágio do mitraísmo.
Já vimos que as semelhanças entre um e o outro à luz da época em que elas
começaram a aparecer nos mostra claramente que foi o mitraísmo que copiou
detalhes do Cristianismo, e não o contrário. Alguns tentam associar a trindade
cristã com a “trindade” do mitraísmo, que seria formada por Mitra, Ormuzd e Ahriman.
Porém, a exemplo de todas as outras religiões pagãs, elas eram politeístas e
panteóstas, mas os trinitários são monoteístas.
Há uma enorme diferença entre trindade e triteísmo. Os
triteístas creem em três deuses separados, como seria no mitraísmo, mas os
cristãos são monoteístas: creem em um único Deus manifesto em três pessoas
distintas. Assim sendo, o fato de juntar três deuses (ou mais, ou menos) em
nada implica em algum “plágio”, a menos que houvesse alguma religião pagã na história que
cresse em um único Deus (monoteísta) revelado em três pessoas, o que não existe em absolutamente nenhuma
religião pagã!
Portanto, ao invés de a trindade ser uma “prova” de um
sincretismo cristão com o paganismo, ela é uma prova do contrário: da
singularidade do Cristianismo, que não vê nada igual nos contos pagãos. E,
mesmo se fosse plágio, o plágio seria do mitraísmo, e não do Cristianismo,
visto que, como vimos, as crenças do mitraísmo não nasceram da noite para o
dia, elas foram fruto de desenvolvimento histórico com o sincretismo com outras
religiões, inclusive com a cristã, crença de onde eles posteriormente adaptaram
para si algumas de suas crenças.
A trindade de Mitra, portanto, é um plágio mal feito do
mitraísmo em cima do Cristianismo, pois nenhum cristão crê em três deuses, mas
em um só. Isso era difícil para um pagão da época assimilar, razão pela qual o
plágio foi com três deuses separados, como um politeísmo. Se formos para as
primeiras crenças básicas do mitraísmo (quando o Cristianismo ainda não
existia) não vemos uma única semelhança entre as duas crenças. Ronald Nash fala
o seguinte sobre o nascimento de Mitra:
“O que sabemos com certeza é que o mitraísmo, tal como seus competidores
entre as religiões de mistérios, tinha um mito básico. Mitra supostamente
nasceu quando emergiu de uma rocha; estava carregando uma faca e uma tocha e
usando um chapéu frígio. Lutou primeiro contra o Sol e depois contra um touro
primevo, considerado o primeiro ato da criação. Mitra matou o touro, que então
se tornou a base da vida para a raça humana”[8]
Jesus emergiu de uma rocha? Não. Jesus carregava uma faca e
uma tocha? Não. Jesus usava um chapéu frígio? Não. Jesus lutou contra o sol e
contra um touro? Não. Jesus matou um touro? Não. A base da vida para a raça
humana, na visão cristã, é o touro? Não. Então que tipo de plágio é esse onde
as crenças básicas do Cristianismo são totalmente diferentes do mitraísmo?
Ademais, a crença básica e fundamental para o Cristianismo é
a ressurreição dos mortos. Para os cristãos, a ressurreição é o único modo pelo
qual o cristão obtém uma vida póstuma, por meio da qual ele pode entrar na vida
eterna, o que fica claro em textos como 1ª Coríntios 15:18-19[9]. Portanto, é da maior e
mais fundamental importância, razão pela qual era considerada a esperança dos
cristãos (Rm.8:23,24; At.26:6-8; At.24:15; At.23:6). Mas os adoradores de Mitra não creem em ressurreição física.
Nash observa:
“Alegações da dependência cristã primitiva do mitraísmo foram rejeitadas
por várias razões. O mitraísmo não tem conceito da morte e ressurreição de seu
deus nem lugar para qualquer conceito de renascimento – pelo menos durante seus
primeiros estágios (...) Durante os primeiros estágios da seita, a ideia de
renascimento seria estranha à sua visão básica (...) Além disso, o mitraísmo
era basicamente uma seita militar. Portanto é preciso ser cético com relação à
sugestões de que tenha atraído civis como primeiros cristãos”[10]
Além disso, os que afirmam que Mitra nasceu de uma virgem
fazem isso por ignorância ou desonestidade, pois ele teria nascido de uma
rocha. Então, a não ser que a rocha possa ser considerada “virgem”, ele não
nasceu de uma virgem! A crença de que em seu nascimento havia a presença de
pastores é do quarto século d.C, e é falsa a afirmação de que Mitra tinha 12
discípulos. Essa afirmação é baseada em um quadro onde Mitra aparece matando um
touro, emoldurado em duas colunas verticais, cada uma com seis quadros, que em
momento nenhum alude a “discípulos” dele, mas os signos do zodíaco.
Mitra também não teve nenhuma ressurreição corporal.
Primeiro, porque o mitraísmo não crê em ressurreição, como creem os cristãos.
Segundo, porque Mitra jamais morreu para que pudesse ressuscitar. Como disse um
especialista que estudou sobre Mitra a fundo: “não há morte de Mitras” - e, consequentemente, nenhuma ressurreição posterior. E, em
terceiro, porque depois que Mitra concluiu sua missão terra foi logo conduzida
ao Paraíso em uma carruagem, vivo e
muito bem. Jesus morreu e ressuscitou. Mitra não morreu, muito menos
ressuscitou.
Por fim, a última acusação dos conspiracionistas em torno do
mitraísmo é a da Santa Ceia, em que Mitra teria dito que “aquele que não comer do meu corpo ou beber do
meu sangue, de forma a se tornar um comigo, não será salvo”. Essa se trata provavelmente da maior de todas as mentiras e
adulterações, pois não foi dito por Mitra, mas por Zaratrusta, em plena Idade Média, sendo adicionada
séculos depois de Cristo, e nem mesmo era uma referência a Mitra!
A coisa mais próxima a uma “Ceia”
celebrada por mitra foi um jantar onde seus seguidores comeram pão, carne, água
e vinho. Essa refeição em nada tinha a ver com a Ceia cristã, que é formada
apenas de pão e vinho. A refeição de Mitra não era a Ceia cristã, mas uma
refeição muito praticada em todas as partes do império romano, com toda a
naturalidade do mundo.
Os adeptos da teoria da conspiração em torno de Jesus Cristo
têm argumentos fracos, frágeis, superficiais, e muitas vezes mentirosos,
irreais, fraudulentos. Não resistem em nenhum debate de ideias com qualquer
estudioso sério do assunto, tem poder apenas para enganar indoutos
desinformados. Como conta o famoso filósofo cristão, Dr. William Lane Craig:
“Se eles chegarem a citar um trecho de uma fonte, eu acho que você ficará
surpreso com o que verá. Por exemplo, no meu debate sobre a ressurreição com
Robert Prince, ele dizia que as curas que Jesus fez vieram dos relatos
mitológicos de curas, como as de Esculápio. Eu insisti que ele lesse a todos
uma passagem das fontes originais mostrando a suposta similaridade. Quando ele
leu, o que alegava não tinha nada a ver com as histórias dos Evangelhos sobre
as curas de Jesus! Essa foi a melhor prova que a origem das histórias não
estava relacionada”
Uma análise superficial por pessoas incapazes ou preguiçosas
de descobrirem a verdade dos fatos pode levar muita gente a acreditar fielmente
em cada uma das mentiras e falsidades que foram expostas em Zeitgeist e que é repetido à exaustão pelos ateus, mas
uma pesquisa mais profunda e um estudo mais sério são mais que o suficiente
para deitar por terra todas as inverdades propagadas pelos conspiracionistas.
Não há qualquer ligação
profunda, ou sequer superficial, entre os mitos pagãos e a pessoa de Jesus
Cristo à luz dos evangelhos. É completamente irracional e impensável acreditar
que os escritores bíblicos plagiaram Jesus daqueles deuses mitológicos que
acabamos de conferir. Se eles tivessem plagiado a ideia, teriam retratado um
Jesus poderoso na terra, que era rico, ambicioso, imponente, altivo e
impetuoso, igualzinho os deuses pagãos.
Não teriam relatado um
Cristo que se fez pobre por amor a nós (2Co.8:9), que não tinha onde reclinar a
cabeça (Lc.9:58), que tinha a humilde profissão de carpinteiro (Mc.6:3), que
morreu crucificado ao lado de dois condenados (Lc.23:33), que foi açoitado
pelos romanos, zombado pelos judeus, desprezado pelo mundo, que morreu como uma
ovelha no matadouro.
Nada disso se vê nos
poderosos deuses mitológicos, que ainda apresentavam traços de caráter por
vezes desvairados, que exaltavam a si mesmos, que lutavam pelo bem de si
próprios, nem que para isso fosse necessário matar outro deus ou armar as mais
insanas estratégias de denegrir o próximo. Jamais se ofereceriam para lavar os pés de seus discípulos
(Jo.13:12), nunca diriam que não vieram para serem servidos, mas “para servir e dar a vida em resgate de
muitos” (Mt.10:45).
Os deuses mitológicos
morriam por compulsão, não por escolha. Tomados pelo orgulho ou pelo desespero,
tiravam a vida uns dos outros, se vingavam uns dos outros, enganavam e eram
enganados. Jesus, porém, morreu voluntariamente, em um amor sacrificial. Sua morte
não foi uma derrota, mas uma vitória. Nunca nenhum deus de mistério morreu
vicariamente por outra pessoa, ou “para tirar o pecado do mundo”
(Jo.1:29). Jamais algum deus mitológico chegou ao ponto de esvaziar a si mesmo,
tomar a forma de servo, se fazer semelhante aos homens, humilhar a si mesmo e
ser obediente até a morte, e morte de cruz (Fp.2:7,8).
Não, Jesus Cristo não é um
mito, nem um plágio, nem uma invenção de mentes velhacas. Jesus Cristo é um
personagem único e singular na história das religiões. Sem igual, sem
precedentes, sem similares. É tão real e verdadeiro que milhares de cristãos
deram a vida em martírio nessa certeza, como testemunhas oculares daquele que
um dia esteve entre nós. À luz de todas as evidências históricas, acreditamos que
o mais lógico e coerente é crer em Cristo exatamente como a Bíblia o descreve: “Senhor meu e Deus meu” (Jo.20:28).
Paz a todos vocês que estão em Cristo.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "As Provas da Existência de Deus")
- Veja uma lista completa de livros meus clicando aqui.
- Acesse o meu canal no YouTube clicando aqui.
[1]
Essa entrevista pode ser vista em meu site “Apologia Cristã”, no link: <http://apologiacrista.com/index.php?pagina=1078461763>.
[2] ibid.
[3] Raymond E. Brown, The Birth
of the Messiah, Anchor Bible (1999), p. 523.
[4] Revista Defesa da Fé, Nº 41.
[5] Roland de Vaux, The Bible and
the Ancient Near East, Doubleday (1971), p. 236.
[6] Benjamin Walker, The Hindu
World: an Encyclopedic Survey of Hinduism, v. 1 (New York: Praeger, 1983), p.
240, 241.
[7] Tryggve N. D. Mettinger, The
Riddle of Resurrection: “Dying and Rising Gods” in the Ancient Near East
(Stockholm, Sweden: Almquist & Wiksell International, 2001), p. 4, 7.
[8] Nash,
p.144.
[9] Eu
abordo mais sobre isso em meu livro sobre o tema: “A Lenda da Imortalidade da
Alma”.
[10]
ibid.
Parabéns! Você é bom! Pena que seja tão anticatólico...
ResponderExcluirPura Verdade Eugênio, devemos combater ao ateísmo ao invés de perder tempo debatendo cristãos contra cristãos..
ExcluirUm artigo Bom também para ser lido, tem refutações ao filme Zeitgeist em forma de vídeos é esse aqui> http://ocatequista.com.br/archives/5868
ExcluirLucas, saudações, o que responder quando um ateu fala - Bhagavad Gita (200 a.C) são escrituras bem documentadas que mostra com houve sim plágio do mito Jesus. É claro que muitos detalhes são diferentes, mas a essência é a mesma entre os deuses solares.
ResponderExcluirO ônus da prova é dele, em mostrar as similaridades entre um e outro e provar que é um plágio.
ExcluirÓtimo artigo! Favoritado para futuras consultas.
ResponderExcluirDeus continue te abençoando.