quarta-feira, 1 de abril de 2015

A teoria da evolução prova que Deus não existe?


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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Dawkins não tem quase nenhum argumento que prove[1] que Deus não exista, mas aposta todas as fichas em seu maior trunfo: a teoria da evolução. Ele, como um bom biólogo, fala com facilidade sobre este assunto, e o nível do livro sobe significativamente se comparado aos péssimos argumentos que ele suscita contra Bíblia. Todos os seus outros livros tratam sobre a mesma coisa: O Gene Egoísta (1976), O Relojoeiro Cego (1986), A Escalada do Monte Improvável (1996) e até seu livro mais recente, O Maior Espetáculo da Terra – As Evidências da Evolução (2009).

O próprio Dawkins diz ter se “convertido” ao ateísmo depois de descobrir o trabalho de Charles Darwin, o pai da teoria da evolução. Sendo esta a razão que levou Dawkins ao ateísmo, é totalmente natural que ele traga este mesmo argumento aos seus leitores, induzindo-os a tornarem-se ateus se são darwinistas. Este é, portanto, o “carro-forte” de Dawkins em sua luta contra Deus, e por esta razão a parte mais importante do livro a ser refutada.

Dawkins testemunha a este respeito nas seguintes palavras:

“Qualquer advogado criacionista que conseguisse me colocar no tribunal conquistaria instantaneamente o júri só de me perguntar: ‘Seu conhecimento sobre a evolução influenciou-o para que se tornasse ateu?’ Eu teria de responder que sim e, de um golpe, teria perdido o júri. Por outro lado, a resposta judicialmente correta do lado secularista seria: ‘Minhas crenças religiosas, ou a falta delas, são uma questão pessoal, que não interessa a este tribunal nem está ligada de forma alguma à minha ciência’. Eu não poderia dizer isso com honestidade”

Ele trata sobre o dilema entre evolução vs Deus no capítulo 4 de seu livro, que ele chama: “Por que quase com certeza Deus não existe”.

Antes de entrarmos na questão do evolucionismo em si, convém tratarmos do aspecto principal do argumento de Dawkins: o evolucionismo é realmente incompatível com o teísmo? Ou, em outros termos: é impossível ser cristão e crer na teoria da evolução? Dawkins faz de tudo para provar que é. Faltou apenas plantar bananeira. Ele se demonstra obcecado em conseguir provar a qualquer custo que a teoria da evolução “refuta” a crença em Deus, porque este é na prática o único argumento que ele tem contra a existência dEle.

Podemos até entender as razões pelas quais Dawkins passou a crer desta forma. Ele teve contato com o darwinismo na década de 50, quando ainda era um adolescente. Naquela época era desenvolvida a ideia de que não era possível ser x e defender y, e era comum que estudantes primários de biologia se encantassem com o evolucionismo e, consequentemente, se tornassem ateus, por não verem outra opção a seguir. O tempo, contudo, mostrou que este dualismo é falso, e desbancou a ideia de que a evolução é incompatível com o teísmo, ou mesmo com o Cristianismo em especial.

Há muitos dos chamados evolucionistas teístas, que creem em Deus e também na teoria da evolução. Já na época de Darwin existiam evangelistas como Henry Drummond e o botânico Asa Gray, que defendiam a compatibilidade teológica e científica entre criação e evolução. Gray era professor da Universidade de Harvard e um dos maiores defensores do evolucionismo na América. Era um evangélico piedoso e dedicava boa parte de seu tempo à oração e à leitura da Bíblia.

No século XX já era notável a presença de crentes em Deus na pesquisa biológica, a começar pelo célebre teólogo e paleontólogo Pierre Teilhard de Chardin (1881–1955), notável evolucionista. Na verdade, toda a síntese moderna do evolucionismo, que combina genética molecular com seleção natural, foi desenvolvida por cientistas que criam em Deus, como Ronald Fisher (1890–1962) e Theodosius Dobzhansky (1900–1975). Além disso, como já foi dito neste livro, o diretor do Projeto Genoma Humano, Francis Collins, é reconhecidamente cristão evangélico, defensor do evolucionismo e do teísmo cristão, além de autor do livro “A Linguagem de Deus”, onde defende o conceito de “BioLogos”, que é o Bios pelo Logos

Collins escreveu:

“Sem saber seu nome na ocasião, firmei-me confortavelmente em uma síntese que, em geral, é denominada evolução teísta, uma posição que acho muitíssimo satisfatória até hoje”[2]

O geneticista e biólogo evolutivo Theodosius Dobzhansky, outro dos grandes defensores do darwinismo no século XX, era cristão ortodoxo russo. A teoria da evolução também era aceita pelo notável teólogo presbiteriano conservador B. B. Warfield, da Universidade de Princeton, um ferrenho defensor da inerrância bíblica e um dos pais do conservadorismo protestante. O evolucionismo era defendido também pelo teólogo escocês James Iverach, pelo anglicano A. L. Moore, pelo congregacional G. F. Wright e pelo pastor presbiteriano Henry Drummond, que se empenhava em conciliar a fé e o evolucionismo, pensamento este exposto em sua obra Ascent of Man.

Outro exemplo admirável de evolucionista teísta é o Dr. Kenneth Miller, que é nada a menos senão o autor do livro didático de biologia mais utilizado nas escolas britânicas e estadunidenses, sendo ele uma autoridade em evolucionismo, respeitado no mundo todo. Miller é biólogo e professor na Brown University e já participou de documentários do Discovery Channel e do National Geographic sobre evolução. Ele também é o autor de um dos mais conhecidos livros sobre o assunto: “Findind Darwin's God”.

O também biólogo Alister McGrath, já mencionado neste livro, é outro que defende o evolucionismo teísta. Ele disse:

“Eu discordo de Dawkins em sua insistência de que a evolução biológica exclui Deus do processo. Não entendo como ele chegou a essa conclusão. Na minha opinião, as duas coisas são compatíveis”[3]

Quando o filósofo William Lane Craig, o maior apologista evangélico da atualidade, foi questionado em um programa de televisão sobre a idade da Terra, ele respondeu:

– As melhores estimativas atualmente estão em cerca de 13,7 bilhões de anos[4].

Quando o apresentador do programa lhe disse que há pessoas que falaram em seu programa que a Terra tem 6.500 anos e lhe perguntou se ele achava esta posição sustentável, Craig respondeu:

– Eu não acho que seja plausível. Os argumentos que eu dou estão bem alinhados com a principal corrente da ciência, eu não estou lutando contra ela quando apresento estes argumentos. Eu estou acompanhando o que a cosmologia e a astrofísica contemporâneas suportam[5].

Então o apresentador lhe pergunta se há contradição ou inconsistência entre o relato bíblico da idade da Terra e sua declaração, e Craig responde:

– Isso é interessante, porque não existe um relato bíblico sobre a idade da Terra. Não há nada em Gênesis ou em qualquer lugar da Bíblia dizendo que idade o Universo tem. Então eu não acho que seja incompatível[6].

Mas uma das provas mais marcantes de que o evolucionismo é totalmente compatível com o teísmo é Alfred Russel Wallace (1823-1913). Todo mundo conhece Darwin, mas, infelizmente, poucos conhecem Wallace, que teve quase a mesma importância na teoria evolucionista. Wallace foi um naturalista, geógrafo, antropólogo e biólogo britânico, e em 1858 escreveu um ensaio no qual definia as bases da teoria da evolução e o enviou a Darwin, com quem mantinha correspondência, pedindo ao colega uma avaliação sobre sua teoria.

A enciclopédia online da Wikipédia em português afirma:

“Darwin, ao se dar conta de que o manuscrito de Wallace apresentava uma teoria praticamente idêntica à sua – aquela em que vinha trabalhando, com grande sigilo, ao longo de vinte anos – escreveu ao amigo Charles Lyell: ‘Toda a minha originalidade será esmagada’. Para evitar que isso acontecesse, Lyell e o botânico Joseph Hooker - também amigo de Darwin e com grande influência no meio científico – propuseram que os trabalhos fossem apresentados simultaneamente à Linnean Society of London, o mais importante centro de estudos de história natural da Grã-Bretanha, o que aconteceu em 1 de julho de 1858. Em seguida, Darwin decidiu terminar e expor rapidamente sua teoria: A Origem das Espécies, que foi publicada no ano seguinte”[7]

Em 1855 Wallace já havia publicado o artigo “On the Law Which has Regulated the Introduction of Species”, onde ele escreve que “cada espécie surgiu coincidindo tanto em espaço quanto em tempo com uma espécie aproximadamente a ela aliada”. Wallace foi, portanto, o precursor da teoria da evolução, antes mesmo que Darwin. O próprio Darwin reconheceu isso posteriormente, ao dizer que “ele [Wallace] não poderia ter feito um pequeno resumo melhor! Até os seus termos constam agora nos títulos dos meus capítulos!”[8].

Como Darwin já era na época muito mais famoso que Wallace e considerado um cientista de elite (enquanto Wallace era considerado de segunda-linha), todo o mérito pela teoria da evolução foi dado a Darwin, e Wallace sequer pôde desfrutar do patamar de “co-descobridor”. Não restam dúvidas, contudo, que Wallace foi quase tão importante quanto o próprio Darwin no evolucionismo, e na ausência deste seria considerado, logicamente, o biólogo que formulou toda a teoria.

Mas o que Wallace tem a ver com tudo isso? Simplesmente que ele, o precursor da teoria da evolução, era um evolucionista teísta. Ele era espiritualista teísta e cria que a seleção natural não poderia justificar, entre outras coisas, o gênio matemático, artístico ou musical, nem tampouco contemplações metafísicas, a razão ou humor, e que Deus havia intervido na história na criação da vida a partir da não-vida (matéria inorgânica) e na consciência humana. O anseio de Dawkins em tornar ateus aqueles que creem na teoria da evolução complica enormemente quando vemos que um dos maiores responsáveis pela teoria não foi ateu, e cria em Deus.

Mas Wallace, embora tenha sido o primeiro a teorizar algo com teor mais científico, não foi o primeiro a propor a ideia do evolucionismo. Foram vários os pensadores que creram nisto antes dele e de Darwin. Podemos traçar uma linha regressiva até Tales de Mileto (621-543 a.C), conhecido filósofo grego, que parece ter sido o primeiro a registrar que “o mundo evoluiu da água por processos naturais”[9], 2460 anos antes de Darwin escrever sobre isso. Qual era a crença de Tales? Será que o primeiro evolucionista da história era ateu? Vejamos o que ele expressa:

“A coisa de maior extensão no mundo é o universo, a mais rápida é o pensamento, a mais sábia é o tempo e a mais cara e agradável é realizar a vontade de Deus[10]

Então, o primeiro evolucionista da história cria que a coisa mais agradável e valorosa no mundo era realizar a vontade de Deus. Que contraste gigantesco com o discurso neo-ateísta, daqueles que impõem que o evolucionismo conduz ao ateísmo e que só pode ser crido consistentemente por ateus!

Mas o definitivo golpe de morte em toda a panfletagem de Dawkins em torno do evolucionismo “vs” Deus vem dele, do próprio Charles Darwin. Se para Dawkins a teoria da evolução leva ao ateísmo e faz com que Deus “quase com certeza não exista”, então deveríamos esperar que o próprio Darwin, muitíssimo citado em The God Delusion e reconhecido por ele como o autor da teoria, fosse o mais convicto ateu do século XIX. Somente assim faria sentido a algazarra que Dawkins faz em torno do evolucionismo. Mas, ao analisarmos mais de perto as crenças de Darwin, percebemos que Dawkins o distorce mais grosseiramente do que faz com Einstein[11].

Darwin explicitamente refutou as acusações já correntes naquela época de que ele era um “ateu”, e disse enfaticamente: “eu nunca fui ateu”[12]. Mesmo depois de ter sistematizado a teoria da evolução, ele disse que o Universo, incluindo o homem, era impossível de ser concebido sem uma Primeira Causa como uma mente inteligente, o que significa que ele cria que Deus agiu no processo da evolução (evolucionismo teísta). Ele se declarou explicitamente teísta ao dizer:

“A extrema dificuldade, ou antes impossibilidade, de conceber este imenso e  maravilhoso universo, incluindo o homem, com sua capacidade para olhar muito para trás no passado e muito para dentro no futuro, como o resultado da chance ou necessidade cegas. Ao assim refletir, sinto-me compelido a olhar para a Primeira Causa como tendo uma mente inteligente em algum grau análogo àquela do homem; e mereço ser denominado teísta[13]

Em uma carta a um amigo no ano de 1879, publicada no livro de seu filho Francis Darwin, ele diz:

“Sejam quais forem as minhas convicções sobre este tema [religião], elas só pode ter importância para mim próprio. Mas, já que me perguntas, posso assegurar-te que o meu juízo sofre, amiúde, flutuações (…) Mas mesmo em minhas maiores oscilações, nunca cheguei ao ateísmo no verdadeiro sentido da palavra, isto é, nunca cheguei a negar a existência de Deus[14]

Os estudiosos dizem que Darwin era, na pior das hipóteses, um agnóstico ao final de sua vida, mas nunca chegou a se tornar um ateu. Darwin nunca, nem em suas maiores oscilações, chegou ao nível de Dawkins. Dawkins quer usar Darwin em favorecimento de seu ateísmo, quando nem o próprio Darwin era ateu! E o pior é que este argumento é toda a base de sua argumentação em torno da inexistência de Deus, pois ele praticamente não tem argumento nenhum além desse. Embora ele ataque a religião com alguns outros argumentos, este é o único que ele possui em seu ataque à existência de Deus em si.

Em termos simples, toda a credibilidade de seu livro depende da crença de que o darwinismo conduz ao ateísmo – esta é a única base argumentacional para a inexistência de Deus – quando nem o próprio Darwin, i.e, nem o próprio autor do que ele defende como sendo a “prova” da inexistência de Deus, cria que Deus não existe! Usar o darwinismo como “evidência” da inexistência de Deus quando seu autor nunca chegou a esta conclusão é tão desonesto quanto dizer que a ciência refutou Deus quando o maior cientista de todos os tempos não o rejeitou. Dawkins é tão leviano em citar Darwin quanto foi em citar Einstein.

Em suma, o que vemos Dawkins esbravejar como sendo o “argumento central” do seu livro nada mais é senão um aglomerado de factóides mentirosos e deliberadamente exagerados, com interpretações absurdas em torno de coisas simples que poucas pessoas racionais pensariam como ele. Ele chega ao cúmulo de propor que a teoria da evolução, cujo autor não era ateu, só pode ser crida consistentemente por ateus. Então, por este prisma, nem o próprio Darwin poderia crer em sua própria teoria. Que lástima.


Onde fica Deus no darwinismo?

Outro ataque infame constantemente característico em Dawkins é a presunção de que, se a teoria da evolução é verdadeira, Deus é jogado para as bordas do ringue e ninguém mais precisa dele, já que a evolução explica tudo. Isso é totalmente falso, como já mostramos anteriormente com o próprio Alfred Wallace, que explicitamente negou que a seleção natural pudesse explicar o gênio matemático, artístico ou musical; as contemplações metafísicas, a razão, o humor ou a consciência. Darwin também não negou isso, e em momento nenhum tentou explicar estes e outros fenômenos através dos mecanismos evolucionistas.

Wallace atribuía estas coisas a Deus, e, ainda que algum ateu conteste, ele não pode demonstrar o contrário. Ele não pode provar que tudo isso evoluiu naturalmente, através de mutação e seleção natural. Deus continua sendo a melhor explicação para estas coisas, ao passo em que os ateus creem que o “mistério” é a melhor explicação. É por isso que todas as vezes que Dawkins é convidado a debater com alguém sobre assuntos como consciência, livre-arbítrio ou moralidade ele fica em apuros, pois simplesmente não tem qualquer explicação a oferecer além do jargão de que “nós não sabemos ainda, mas um dia saberemos como...”.

No debate com Quinn, por exemplo, ele inicialmente entrou no tema do livre-arbítrio, mas tão logo ao ver que Quinn se sobressaía neste ponto decidiu mudar de assunto, dizendo: “eu não estou interessado em debater sobre o livre-arbítrio”[15]. A razão pela qual Dawkins nunca está interessado em debater assuntos como estes é porque ele não tem qualquer explicação racional a oferecer sobre estes temas, à luz da seleção natural que ele tanto exalta.

Outra coisa que os darwinistas não podem de modo algum responder com os mecanismos evolucionistas é sobre a origem da vida. Isso porque a teoria da evolução inteira fala sobre como a primeira vida evoluiu para as formas de vida que vemos hoje, mas não fala nada sobre como a primeira vida surgiu. Este foi outro aspecto mencionado por Wallace, segundo o qual Deus havia intervido na história para a criação da vida a partir da não-vida (matéria inorgânica). Simplesmente não há nenhuma evidência científica de que matéria inorgânica crie vida, pois a lógica que rege a biologia é de que só a vida gera outra vida.

A teoria da abiogênese já foi refutada desde 1860, quando Louis Pasteur provou que a vida só pode provir de outra vida. Isso faz totalmente sentido à luz do Cristianismo, onde Deus (um ser vivo) concede a vida na Terra, e esta vida, por sua vez, vai se reproduzindo (e evoluindo, caso Darwin esteja certo). Mas não faz sentido nenhum à luz do ateísmo, onde não existe Deus, e, portanto, a vida deve surgir da não-vida, isto é, uma geração espontânea.

Recentemente, um cientista chamado Pasquale Stano, da Universidade de Roma, tentou resolver o mistério da origem da vida a partir de conjuntos de produtos químicos inanimados. Ele e seus colegas de universidade escolheram um conjunto constituído de 83 diferentes moléculas de DNA, programadas para a produção de uma proteína fluorescente verde, que pode ser vista com um microscópio confocal. Tentaram recriar a aglomeração molecular para entender o surgimento da vida, adicionando um produto químico chamado POPC à solução diluída. O site Hype Science contou o que aconteceu:

“Com o estudo, Stano relatou que cinco em cada mil lipossomas tinham todas as 83 moléculas necessárias para a produção da proteína. Estes lipossomas produziram uma grande quantidade da proteína GFP e brilharam verde sob um microscópio. Cálculos computacionais revelam que, mesmo por acaso, cinco lipossomas em mil não poderiam ter juntado todas as 83 moléculas do conjunto – a probabilidade calculada é essencialmente zero, o que significa que algo bastante singular está acontecendo”[16]

Em 2006, outros cientistas, da Universidade da Califórnia, tentaram realizar testes em poças vulcânicas, mas concluíram que estas não davam condições para permitir o surgimento da vida, invalidando a teoria darwinista de que a vida teria tido início em uma poça morna. O químico David Deamer, chefe da equipe, declarou:

"Já faz 140 anos desde que Darwin sugeriu que a vida pode ter começado em uma 'poça morna'. Estamos testando a ideia dele em pequenas poças em regiões vulcânicas em Kamchatka, na Rússia, e Mount Lassen, na Califórnia. Os resultados são surpreendentes e, de certa forma, frustrantes. Parece que as águas ácidas quentes da lama não fornecem as condições adequadas para que componentes químicos se transformem em 'organismos pioneiros’"[17]

Deamer disse também que os aminoácidos e DNA (componentes básicos para formação da vida) e o fosfato se prendem à superfície de partículas do barro nas poças vulcânicas:

"Isso é significativo porque havia a pressuposição de que barro promove interessantes reações químicas ligadas à origem da vida. Entretanto, nos nossos experimentos, os componentes orgânicos ficaram tão grudados às partículas de barro que não poderiam fazer parte de qualquer reação química[18]

Não é interessante que ainda existam pessoas que achem que a vida surgiu espontaneamente sem qualquer interferência de um ser inteligente, sendo que nem mesmo os próprios cientistas conseguem criar vida a partir de reações químicas? Em outras palavras, se seres inteligentes com tecnologia avançada não conseguem criar vida, como é que o acaso cego e a sorte, sem qualquer interferência de um ser inteligente (como Deus), iria conseguir? Eles admitem que seres inteligentes (cientistas) não conseguem criar vida, mas paradoxalmente creem que a vida teria surgido espontaneamente (sem inteligência), o que é imensuravelmente mais difícil e improvável.

Até mesmo os mais céticos em relação à existência de Deus reconhecem a impossibilidade lógica de a vida ter sido criada espontaneamente, sem nenhuma intervenção externa ou sobrenatural. O microbiologista ateu Michael Denton assumiu este problema ao dizer:

“A complexidade do tipo mais simples de célula é tão grande que é impossível aceitar que tal objeto possa ter sido reunido repentinamente por algum tipo de acontecimento caprichoso ou altamente improvável. Tal ocorrência seria indistinguível de um milagre[19]

O famoso agnóstico Carl Sagan não fica por menos. Ele concluiu que a chance da vida ter surgido por acaso em apenas um planeta qualquer é algo da ordem de uma chance contra 10 seguidos de 2 bilhões de zeros, mesmo partindo da premissa de que se trata da vida em uma forma mais simples que uma ameba[20]. Não é nem preciso ser expert para perceber que este número representa algo impossível.

A Revista Nature, em outubro de 1969, publicou um cálculo do Dr. Frank Salisbury, onde ele tenta descobrir a probabilidade de que uma única molécula de DNA se formasse, de um tipo específico, assumindo que a vida já existisse, e que as matérias primárias necessárias já estivessem formadas, e que fosse necessário somente que ocorresse a combinação dessas matérias por acaso. Os cálculos foram:

• Existem 100.000.000.000.000.000.000 planetas onde essa reação é possível.

• Estima-se que há 4.000.000.000 de anos disponíveis (tempo).

• Pelos métodos da Teoria da Probabilidade e Estatísticas, concluiu que há uma chance contra 10415. Isso significa que a chance de uma única molécula desejada se combinasse por acaso em um destes planetas era de uma contra 10 seguidos de 415 zeros!

O famoso escritor e bioquímico Isaac Asimov, através de cálculos semelhantes, concluiu que o Universo teria que ter mais de dez bilhões de vezes a idade que os cientistas afirmam ter hoje, para que fosse possível a combinação de proteínas semelhantes à insulina, se fosse produzida uma dessas proteínas a cada segundo. O problema era que sequer teria sido possível ter uma amostra de cada uma dessas combinações, já que o total de átomos no Universo conhecido é de 1078. Se fossem produzidas 10100 combinações por segundo, seria consumida a matéria equivalente a cerca de 10 sextrilhões de universos a cada segundo, por um período de dez trilhões de trilhões de anos para produzir todas as combinações de hemoglobina[21].

De fato, o próprio Richard Dawkins admitiu que a mensagem encontrada apenas no núcleo de uma pequena ameba é maior do que os trinta volumes da Enciclopédia Britânica juntos, e a ameba inteira tem mais informações em seu DNA do que mil conjuntos complexos da mesma enciclopédia! Ou seja: se você quisesse ler todos os A, T, C e G na “ameba primitiva” dos darwinistas, as letras encheriam mil conjuntos completos de uma enciclopédia[22]!

Geisler e Turek abordam isso nestes termos: 

“Precisamos enfatizar que essas mil enciclopédias não consistem em letras aleatórias, mas em letras numa ordem muito específica – tal como as enciclopédias reais. Portanto, aqui está a principal pergunta para os darwinistas como Dawkins: se mensagens simples como ‘Leve o lixo para fora – Mamãe’, ‘Mary ama Scott’ e ‘Beba Coca-Cola’ exigem um ser inteligente, então por que a mensagem dessas mil enciclopédias não exigiria um também? (...) Infelizmente, os darwinistas definem as regras da ciência de maneira tão estreita que a inteligência é eliminada logo de início, deixando as leis naturais como o único fator a ser considerado”[23]

O prof. Adauto Lourenço expõe isso em forma de analogia:

“Se você quiser ter uma noção do que é isso, pegue uma Enciclopédia Britânica, daquelas impressas, com 32 volumes, tire uma cópia de cada uma das páginas, recorte cada uma das letrinhas, coloque todo este monte de letras recortadas dentro de um saco de lixo grande, suba em um prédio alto da cidade, no último andar, quando não tiver ninguém andando na rua, e jogue este negócio lá de cima. Sabe o que vai acontecer? As letrinhas vão cair lá de cima, vão se organizar e vão formar totalmente todas as páginas de todos os volumes da Enciclopédia Britânica. Isso é apenas um milésimo da probabilidade do DNA de uma ameba ter surgido por conta própria”[24]

A fascinante complexidade do DNA foi uma das razões que levaram o ateu mais famoso do século passado a crer em Deus. Antony Flew escreveu sobre isso dizendo:

“O material do DNA mostra, pela quase inacreditável complexidade das combinações necessárias para produzir a vida, que uma inteligência deve estar envolvida no processo de fazer com que esses extraordinariamente diversos elementos funcionem em conjunto. É extrema a complexidade do número de elementos, e enorme a sutileza com que eles funcionam juntos. A chance de essas duas partes encontrarem-se no momento certo, por puro acaso, é simplesmente insignificante. É tudo uma questão da enorme complexidade pela qual os resultados foram alcançados, o que me parece obra de uma inteligência”[25] 

No mesmo livro, Roy Abraham Varghese ponderou:

“Imagine estar diante de uma mesa de mármore. Você acha que, após um trilhão de anos, ou mesmo um tempo infinito, aquela mesa poderia tornar-se, repentina ou gradualmente, consciente, ciente do ambiente que a circunda, de sua própria identidade, da mesma forma que você? É simplesmente inconcebível que tal coisa viesse ou pudesse vir a acontecer. E o mesmo é verdade para qualquer tipo de matéria. Uma vez que você compreende a natureza da matéria, da relação massa-energia, percebe que, por sua própria natureza, a matéria nunca poderia tornar-se ‘ciente’, nunca poderia ‘pensar’, nunca poderia vir a pronunciar ‘eu’.
Mas a posição ateísta é a de que, em algum ponto da história do Universo, o impossível e o inconcebível aconteceram. Matéria não diferenciada – e aqui nós incluímos energia –, em algum ponto do tempo, tornou-se ‘viva’, depois consciente, depois conceitualmente proficiente e finalmente um ‘eu’. Mas voltando a nossa mesa, vemos que tal ideia é simplesmente ridícula. A mesa não tem nenhuma das propriedades de um ser consciente e, dado um tempo infinito, não pode ‘adquirir’ tais propriedades.
Mesmo que se recorra a algum cenário absurdo sobre a origem da vida, será necessário abrir mão da própria razão para sugerir que, dadas certas condições, um pedaço de mármore poderia passar a produzir conceitos. E, num nível subatômico, aquilo que é válido para a mesa é válido para toda a matéria restante do universo”[26]

David Robertson expõe estas questões da seguinte maneira:

“A questão é: como obtivemos as condições para a evolução? Acho que argumentará que somos muito, muito, muito sortudos – sortudos ao ponto de um em dez mil milhões de milhões. Isso exige uma quantidade enorme de fé”[27]

Na verdade, Robertson foi muito generoso ao dizer que a chance de geração espontânea era de um em dez mil milhões de milhões. A verdade é que a tal chance é muito menor que isso. É de efetivamente zero. Exigiria um verdadeiro milagre. Exigiria muito mais fé do que qualquer cristão é capaz de crer. É por isso que eu não tenho fé suficiente para ser ateu.

Como Dawkins reage a este problema? Ele tenta lidar com esta questão de uma forma totalmente falaciosa, calculando a probabilidade da vida surgir em outros planetas baseando-se no fato da vida ter surgido na Terra. Assim, ele calcula a quantidade de planetas que provavelmente existem no Universo, e em cima disso a quantidade de planetas com condições semelhantes à Terra. O resultado é de milhares de planetas “habitáveis”, ou seja, com as mesmas condições propícias à vida que o nosso planeta tem, e com isso ele pensa estar liquidando o argumento da primeira vida.

Este raciocínio circular e falacioso pode até conseguir enganar alguns, mas basta uma observação mais precisa dos fatos para identificar onde está a falácia e derrubar o argumento. Basta notar que Dawkins parte de um pressuposto, que é o pressuposto de que, como as condições “x” favoreceram a vida na Terra, então estas mesmas condições “x” conduzirão com certa probabilidade à existência da vida em outros planetas similares à Terra. Mas se o surgimento da vida na Terra foi literalmente um milagre, e se as chances de isso ter acontecido de uma forma não-intervencionista foi de efetivamente zero (e não de “quase” zero), então é totalmente inútil qualquer tentativa neste sentido.

Isso seria o mesmo que afirmar que, já que Jesus ressuscitou em uma manhã de domingo depois de ter ficado três dias em um túmulo vigiado por soldados romanos, então toda vez que alguém morrer e ficar três dias em um túmulo vigiado por soldados romanos há uma possibilidade de que ressuscite. Há uma falha lógica aqui: não se provou que a ressurreição foi não-intervencionista, nem que a ressurreição seja possível por meios naturais, e portanto qualquer comparação por simetria estaria anulada na raiz. Qualquer outra ressurreição seria somente por qualquer outro milagre, e não por probabilidade estatística natural.

Do ponto de vista científico, a vida ter surgido da matéria inorgânica é tão impossível quanto um corpo de alguém que já morreu há três dias ressuscitar dos mortos. Ambos são cientificamente impossíveis, pois até hoje não se demonstrou o contrário, nem ao menos que isso seja possível. Então, se aconteceu, foi por intervenção divina – o que chamamos de milagre – tanto no caso do surgimento da vida, quanto no caso da ressurreição de Jesus[28].

Se as chances de a vida na Terra ter surgido da não-vida são de efetivamente zero (como as evidências indicam), então qualquer comparação com a Terra deveria dar valor zero também. Qualquer principiante em matemática já sabe disso. Dawkins primeiro deveria provar que há uma chance probabilística de a vida na Terra ter surgido de forma não-intervencionista (geração espontânea), e só depois calcular as possibilidades de o mesmo processo ter ocorrido em outros planetas similares à Terra, calculando a probabilidade do surgimento da vida na Terra em relação à quantidade de planetas similares ao nosso.

Mas Dawkins não dá sequer um palpite para crermos que isso possa ser possível. Da forma que ele argumenta, seríamos no máximo levados a crer que depois que a vida surgiu na Terra (intervencionisticamente) há uma chance “x” de o mesmo evento se repetir por intervenção. Ele não prova que a vida não surgiu por intervenção, nem que possa não ter surgido assim. É a velha confusão de que “onde tem água tem vida”, quando, na verdade, o lema certo seria que “onde tem vida tem água”. Não é a existência de água que leva à existência de vida, mas é a existência de vida que precisa da existência de água.

Dawkins parece perceber a profundidade deste problema ao ser entrevistado por Ben Stein para o polêmico documentário “Expelled: No Intelligence Allowed”, onde o autor defende o design inteligente. O diálogo entre eles é interessante, pois Dawkins se viu na incômoda situação de ter que explicar sobre a origem da vida – e admitiu que a teoria da evolução não faz nada para explicar isso. Não apenas isso, mas ele ainda propôs surpreendentemente que a vida surgiu por um projeto inteligente, embora não por Deus[29]:

Ben Stein – Bem, como é que começou?

Richard Dawkins – Ninguém sabe como é que começou. Sabemos o tipo de acontecimento que deve ter sido para a origem da vida.

Ben Stein – Qual foi?

Richard Dawkins – Foi a origem da primeira molécula auto-replicativa.

Ben Stein – Certo. E como é que isto aconteceu?

Richard Dawkins – Já lhe disse, não sabemos.

Ben Stein – Então não faz a menor ideia de como começou?

Richard Dawkins – Não, não. Nem eu nem ninguém.

Ben Stein – Qual é que pensa ser a possibilidade de o “design inteligente” poder se tornar a resposta para algumas das questões em genética ou na evolução?

Richard Dawkins – Pode ser que venha a se concretizar da seguinte forma: pode ser que num dado momento, nos primórdios, algures no Universo, uma civilização tenha evoluído por algum processo darwiniano até um elevado, muito elevado nível de tecnologia, e tenha desenhado uma forma de vida que tenham semeado, talvez, neste planeta. Agora, esta é uma possibilidade e uma possibilidade intrigante, e penso que é possível obter alguma evidência para isso. Se olharmos para os detalhes da bioquímica e da biologia molecular, poderemos encontrar a assinatura de alguma espécie de desenhista, e este desenhista pode ser uma inteligência superior de um outro lugar no Universo. Mas essa inteligência superior teria ela própria que ter surgido por algum processo explicável em última instância. Não poderia ter surgido em existência por um salto espontâneo. Esta é a questão.

Stein então conclui em seu documentário:

“Então o professor Dawkins não é contra o design inteligente, mas apenas contra algumas espécies de desenhistas, tais como Deus”[30]

Sem perceber, Dawkins dá um golpe em sua própria teoria da geração espontânea e da inexistência de um criador por detrás da evolução. Ele admite que podemos encontrar a assinatura de um criador nos detalhes da bioquímica e da biologia molecular, mas se recusa a acreditar que este criador tenha sido Deus, preferindo acreditar que foram seres extraterrestres excepcionalmente inteligentes e evoluídos. Mas isto suscita mais perguntas do que respostas.

Em primeiro lugar, quem teria criado estes extraterrestres? Dawkins se recusa a cogitar a hipótese de que a vida possa ter surgido por um “salto espontâneo”, o que nos levaria a um regresso ad infinitum no processo de criação e criador, a não ser que creiamos em uma Causa primeira, que necessariamente deve ser eterna (não-criada) e que é o ponto de partida para a criação de todas as demais coisas. Mas Dawkins obviamente rejeita isso, porque esta é exatamente a definição de Deus, o qual ele nega com todas as forças. Mas sem esta Causa primária (Deus) o esquema de Dawkins jamais iria funcionar. Ele sempre teria que apelar para uma causa anterior que também teria que ser causada, o que não resolveria nada, apenas aumentaria os problemas.

Em segundo lugar, ao admitir a existência de inteligência e design na origem da vida ele derruba o seu próprio argumento de que a teoria da evolução explica tudo sozinha e dispensa a existência de um criador. Ela não explica a primeira vida, e o próprio Dawkins abre espaço à possibilidade de a vida ter sido projetada inteligentemente, e que há evidências disso. Independentemente de qual seja o criador, o fato é que há um criador, pois as possibilidades de a vida ter surgido ao acaso é efetivamente zero. E, se há um criador que originou a vida na Terra, o que impede que este criador tenha sido Deus?

Dawkins não responde a isto, pois neste ponto não cabe seu argumento anterior de que a teoria da evolução refuta a crença em Deus, pois não estamos mais falando sobre o que aconteceu depois da primeira vida, e sim antes dela. Dizer que Deus não pode ter criado a vida na Terra porque a evolução (que vem depois) o “refuta” é completamente ridículo. No máximo isso tiraria Deus do processo evolutivo, mas não da origem do processo. Dawkins precisaria de um outro argumento que prove que Deus não possa ter criado a vida, algo que ele não tem.

Finalmente, Dawkins também confunde alhos com bugalhos quando tenta inferir que Deus surgiu por salto espontâneo. Nenhum cristão crê nisso. Deus não surgiu espontaneamente porque ele não “surgiu” em momento nenhum – ele simplesmente sempre foi. Como a Bíblia o descreve com exatidão, “Eu Sou o que Sou” (Êx.3:14). Deus não “era” nem “será”, ele é – Ele está em um eterno “agora”. Assim, nós realmente não devemos crer que Deus surgiu espontaneamente “do nada” (como os ateus creem que ocorreu com o Universo e com a vida na Terra), mas simplesmente que ele sempre existiu.

Quando paramos para analisar melhor o que Dawkins diz, vemos ele descrevendo Deus com perfeição como sendo o criador da vida, embora ele negue. Ele rejeita a vida surgindo espontaneamente, propõe que ela tenha surgido por um criador inteligente e defende que este criador, por sua vez, também não pode ter surgido espontaneamente. Isso é exatamente o que os cristãos sempre creram. A vida não surgiu do nada, mas por um Criador (Deus), que também não surgiu do nada, porque sempre existiu.

Infelizmente, Dawkins não consegue admitir isso, por seu viés à religião e sua obstinação contra Deus, preferindo, no lugar, supor coisas que não ajudam a resolver nada, mas apenas aumentam os seus problemas em não admitir o mais óbvio – que existe uma Causa primeira e eterna, que é a causa primária e a explicação da matéria e da vida.

Finalmente, a insistência de Dawkins em tirar Deus do processo não é justificável. Dawkins pode provar a seleção natural, mas não pode provar que a seleção natural não foi um mecanismo criado por Deus exatamente com a finalidade evolutiva. Em outras palavras, Dawkins diz o que explica o darwinismo, mas cobre de mistério sobre como os mecanismos darwinistas surgiram, porque a resposta é exatamente aquilo que ele tanto luta contra: o acaso cego. Roy Abraham Varghese mostrou a incoerência daqueles que, como Dawkins, parecem atribuir finalidade e inteligência à seleção natural:

“Os teístas simplesmente argumentam que a existência da racionalidade que nós inequivocamente percebemos – desde as leis da natureza até nossa capacidade de pensamento racional – não pode ser explicada se não estiver baseada em um substrato definitivo, que não pode ser nada menos do que uma Mente infinita. ‘O mundo é racional’, afirmou o grande matemático Kurt Gödel. A relevância dessa racionalidade é que ‘a ordem do mundo reflete a ordem da mente suprema que o governa’. A realidade da racionalidade não pode ser evitada com qualquer apelo à seleção natural. A seleção natural pressupõe a existência de entidades físicas que interagem de acordo com leis específicas e de um código que rege os processos da vida. Falar de seleção natural é assumir que há alguma lógica naquilo que acontece na natureza – adaptação –, e que nós somos capazes de compreender essa lógica”[31]

Diante dos fatos científicos, se realmente a evolução existiu, ela com certeza só pôde ter existido por intervenção inteligente no processo – ou então por um acaso tão gigantesco que reduz as possibilidades não-intervencionistas a virtualmente zero. William Lane Craig discorreu sobre isso em seu debate com Christopher Hitchens, dizendo:

“Ela [a teoria da evolução] requer uma sequencia fantasticamente improvável de eventos. Barrow e Tipler, dois físicos, no livro ‘The Anthropic Cosmological Principle’ listam dez passos ao longo do curso da evolução humana, cada um tão improvável que antes de acontecer o Sol deixaria sua fase principal de estrela e iria incinerar a Terra! Por exemplo, eles calcularam que a probabilidade do genoma humano ter aparecido naturalmente é de 4 elevado a -180, elevado a 110.000 e 4 elevado a 360, elevado a 110.000! Ou seja, se a evolução natural realmente ocorreu neste planeta foi literalmente um milagre! Logo, uma evidência para a existência de Deus![32]

E, diante dos aplausos instantâneos da plateia, ele conclui:

“Logo, eu não acho que seja um argumento para o ateísmo, muito pelo contrário, isto nos dá um bom suporte para afirmar que Deus atuou durante o processo evolutivo. Os cristãos estão abertos às evidências para seguir para onde elas apontarem. Em contraste, como afirmou Alvin Plantinga: ‘Para o naturalista, a evolução é a única alternativa disponível, não importa o quanto improvável sejam as chances contra ela... ela tem que ser verdade, porque não há um projetista inteligente por trás dela’. De certa forma temos um pesar pelos ateus, pois eles realmente não podem seguir as evidências para onde elas apontarem. Os pressupostos deles já determinam no que eles vão acreditar no fim. Por outro lado, se existe um Projetista e Criador do Universo, logo ele pôde colocar, nas condições iniciais do Big Bang, toda sintonia necessária para permitir a evolução da vida inteligente”[33]

Craig repete isso constantemente em seus debates públicos com ateus e até hoje não houve nenhum que conseguisse provar que a evolução de fato é uma prova da inexistência de Deus, ou que Deus tenha que estar fora do processo. Pense como se isso fosse um jogo de Age of Empires 3, onde você, como o jogador, tem a liberdade de escolher entre começar na Era Nômade e ir evoluindo lentamente, passo a passo, até as eras futuras, ou começar direto na Era Pós-Imperial, com tudo pronto. O fato de você escolher criar uma civilização de forma gradual e evolutiva ou de forma pronta e completa, não muda em nada o fato de que você é o “projetista”, o ser inteligente por detrás da civilização criada. 


A Bíblia contradiz a teoria da evolução?

Se a pergunta fosse: “A Bíblia afirma a teoria da evolução?” eu iria responder: “Mas é lógico que não!”. Contudo, o fato de a Bíblia não afirmar algo não significa que ela contradiz isso. A Bíblia também não afirma a teoria da relatividade, mas isso não significa que ela a contradiz. Como já escrevi no capítulo 1 deste livro, a Bíblia não é um livro científico, embora tenha algumas afirmações de cunho científico, todas elas provadas verdadeiras mais tarde. Então a pergunta que deve ser feita é se a Bíblia efetivamente permite uma interpretação mais alegórica do Gênesis, ou se, como alguns afirmam, isso é impossível.

Primeiro, é necessário esclarecer que faz sentido dizer que não podemos arbitrariamente escolher uma parte da Bíblia e considerá-la “alegórica” ao nosso bel-prazer, fazendo da Bíblia um “bem-me-quer” e “mal-me-quer”. Eu também não concordo com isso. É lógico que existem muitas passagens alegóricas na Bíblia, mas a grande maioria é literal e para identificarmos as passagens alegóricas é necessário respeitarmos os princípios da exegese, ao invés de alegorizarmos os versos à nossa própria vontade. A questão aqui então é: uma interpretação não-literal dos dias do Gênesis é necessariamente falsa? Existe alguma evidência de que os dias podem não ser literais?

Se não existisse evidência nenhuma, isso seria corromper a exegese. Mas há algumas coisas que pelo menos indicam que os dias do Gênesis podem não ter sido dias literais (de 24h). Norman Geisler e Thomas Howe, teólogos ortodoxos que defendem a inerrância e inspiração da Bíblia, apontam algumas destas evidências no “Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia”:

1. Os dias de Gênesis 1 podem ter tido um período de tempo antes da contagem dos dias (antes de Gênesis 1:3), ou um intervalo de tempo entre os dias. Há intervalos em outras partes da Bíblia (como em Mateus 1:8, onde três gerações são omitidas, em comparação com 1ª Crônicas 3:11-14).

2. A mesma palavra hebraica para "dia" (yom) é empregada em Gênesis 1 e 2 como um período de tempo maior que 24 horas. Por exemplo, Gênesis 2:4 faz uso desta palavra no sentido do período total da criação de seis dias.

3. Às vezes a Bíblia emprega a palavra "dia" para longos períodos de tempo: "Um dia é como mil anos" (2 Pe 3:8; cf. SI 90:4).

4. Há alguns indícios em Gênesis 1 e 2 de que os dias poderiam ser períodos maiores que 24 horas:

a) No terceiro "dia" as árvores cresceram da semente à maturidade, e produziram semente segundo a sua espécie (1:11-12). Esse processo normalmente leva meses ou anos.

b) No sexto "dia" Adão foi criado, foi dormir, deu nome a todos os (milhares de) animais, procurou por companhia, foi dormir, e Eva foi criada de sua costela. Tudo isso parece exigir um tempo bem maior que 24 horas.

c) A Bíblia diz que Deus "descansou" no sétimo dia (2:2), e que ele ainda está no seu descanso da criação (Hb 4:4). Assim, o sétimo dia já tem tido uma duração de milhares de anos. Dessa forma, os outros dias bem que poderiam ter tido milhares de anos também.

5. Êxodo 20:11 pode estar fazendo simplesmente uma comparação de unidade por unidade dos dias de Gênesis com uma semana de trabalho (de 144 horas), e não uma comparação minuto a minuto.

Geisler e Howe concluem dizendo:

“Não se demonstra contradição alguma em fatos, entre Gênesis 1 e a ciência. Há apenas um conflito de interpretações. Ou os cientistas de hoje em sua maioria estão errados ao insistirem que o mundo tem bilhões de anos, ou então alguns dos intérpretes da Bíblia estão equivocados ao insistirem em dizer que foram apenas 144 horas que durou a criação, ocorrida há alguns milhares de anos antes de Cristo, sem intervalos de tempo correspondentes a milhões de anos. Mas, em qualquer dos casos, não se trata de uma questão de inspiração das Escrituras, mas de sua interpretação (em relação a dados científicos)”[34]

Outra coisa que se deve observar é que não há nenhum registro bíblico da idade da Terra. Isso é presumido por alguns teólogos por causa das listas de genealogia do Gênesis, que começam por Adão e vão indo adiante. Mas da mesma forma que Mateus usou o termo “gerar” em um sentido mais amplo, como “antepassado de”, o autor do Gênesis poderia ter feito o mesmo, o que deixaria implícito um número indefinido de gerações intercaladas.

Além disso, o fato de a Bíblia não contradizer a teoria da evolução também não significa que tudo no relato da criação é alegórico. Mesmo se a teoria evolucionista for verdadeira, Adão e Eva poderiam ser personagens reais, como os primeiros Homo sapiens, ou os dois únicos remanescentes de gerações anteriores. A ciência sabe hoje, pela Eva Mitocondrial, que toda a humanidade descende de uma única mulher. Os cientistas construíram uma árvore genealógica para o gênero humano, na base da qual estava a Eva Mitocondrial, a grande avó de todos os humanos. Esta pode perfeitamente ter sido a Eva bíblica.

Por fim, para aqueles que ainda se recusam a crer que Adão não possa ter sido um personagem literal que viveu há 6500 anos, o fato de outras espécies terem evoluído não significa necessariamente que o ser humano não possa ter sido uma exceção, como uma criação especial. Ainda hoje não há registro fóssil seguro de intermediários humanos, e, se a criação do homem foi uma criação especial, Adão e Eva permanecem sendo personagens literais.

De um jeito ou de outro, seja Adão um personagem literal ou alegórico, e de que forma que ele existiu no passado, isso é algo que não contradiz a Bíblia, pois há base bíblica suficiente para crer que o relato de Gênesis pode não ser totalmente literal, sem corromper a exegese em função disso. Craig também abordou isso em seu debate com Hitchens, afirmando:

“A teoria biológica da evolução é simplesmente irrelevante para a veracidade do teísmo cristão. Gênesis 1 admite várias interpretações e não está comprometido de nenhuma forma com uma interpretação criacionista de 6 dias literais. Howard Van Till, professor emérito de física e astronomia no Calvin College, escreve: ‘O conceito de criação em seis dias é requerido de quem acredita no Deus criador descrito nas Escrituras? A maioria dos cristãos em minha área de estudos e que se engajaram em seus estudos bíblicos ou científicos concluíram que esta visão criacionista especial do mundo não é um componente necessário à fé cristã”[35]

Ele adiciona para aqueles que pensam que tal posição é um “recuo” do Cristianismo em relação à ciência moderna, que o próprio Agostinho (354-430 d.C), um dos maiores expoentes da fé cristã que já existiu, já escrevia há mais de um milênio e meio que os dias da criação não precisam ser interpretados literalmente, nem a criação necessariamente ocorreu há apenas alguns milhares de anos. Ele sugere que Deus criou o mundo em etapas que vão se desenrolando e desenvolvendo gradualmente ao longo do tempo[36]. Esta interpretação ocorreu 1500 anos antes de Darwin.

E, mesmo se fosse um “recuo” diante do avanço científico, e daí? Os próprios cientistas já estiveram enganados sobre muita coisa ao longo dos séculos, e só no último século já mudaram de opinião em dezenas de coisas, incluindo na questão mais importante de todas, a de que o Universo não é infinito. Se os cientistas podem se enganar e mudar de opinião, por que os cristãos não podem?

Talvez o maior problema em torno deste debate esteja nos termos evolucionismo e criacionismo como antagônicos. Eles não necessariamente o são. A evolução pode existir por meio de uma criação. Alguém cria, e então esta criação evolui, ou então alguém cria mediante um processo evolutivo.

A “contradição” está no fato de que “criacionismo” virou sinônimo de criação completa de uma só vez, o que excluiria um processo evolutivo. É por essa razão que os cristãos evolucionistas preferem se chamar de “evolucionistas teístas” do que de “evolucionistas criacionistas”. Não haveria conflito algum, todavia, se pelo termo criacionismo nada mais se inferisse além de alguém criar alguma coisa – algo que o próprio Dawkins cogitou, ao dizer que extraterrestres evoluídos teriam semeado a vida em nosso planeta.

Isso não significa necessariamente que de fato a Bíblia ensina o evolucionismo, nem que o evolucionismo é de fato verdadeiro, mas significa que, se o evolucionismo for mesmo verdadeiro, ele não contradiz a Bíblia (que deixa ambas as possibilidades em aberto) nem serve de prova da inexistência de Deus.

O argumento central do livro de Dawkins, portanto, fracassa miseravelmente, porque:

O próprio autor da teoria (Charles Darwin) não era ateu.

O precursor da teoria (Alfred Wallace) era evolucionista teísta.

O primeiro a propor a ideia de evolucionismo (Tales de Mileto) cria em Deus.

Um dos maiores paleontólogos evolucionistas que já existiu (Pierre Teilhard de Chardin) era teísta.

Os responsáveis pela síntese moderna do evolucionismo (Ronald Fisher e Theodosius Dobzhansky) eram teístas.

O autor do livro didático de biologia mais usado nas escolas de língua inglesa (Kenneth Miller) é cristão.

Um dos maiores senão o maior cientista da atualidade (Francis Collins), também evolucionista, é cristão.

Inúmeros teólogos cristãos dos mais proeminentes também são evolucionistas teístas.

Uma pesquisa recente mostrou que 65% dos médicos evangélicos dos Estados Unidos creem na teoria da evolução[37], e não deixaram de ser evangélicos por causa disso.

Não há nada na Bíblia que definitivamente impeça uma interpretação do Gênesis compatibilista (que une criação e evolução).

Não há nada que prove que Deus não poderia ter agido no processo de evolução, e, mesmo se tudo tivesse ocorrido ao acaso, isso também não prova que Deus não existe (os deístas, por exemplo, não creem que Deus agiu no processo, mas não deixam de crer nele por causa disso).

Até mesmo reconhecidos cientistas ateus (como Stephen Gould e Richard Feynman) reconheceram que é possível e consistente ser cristão e ao mesmo tempo ser evolucionista.

O curioso é que até mesmo um dos sites mais ateus da internet e que está frequentemente atacando os cristãos e o Cristianismo também rejeita a estúpida falácia de Richard Dawkins, segundo o qual não se pode crer na TE (teoria da evolução) e em Deus. Eles escreveram:

“Para aceitar a evolução, não é necessário abandonar Deus. Sim, os ateus são evolucionistas, mas a recíproca não é verdadeira. Ou seja, a TE não prevê nem a existência, nem a inexistência de Deus. A TE não fala nada acerca de Deus. Logo, ele poderia existir paralelamente à TE. A pessoa pode inclusive ser cristã, e ser evolucionista (...) Há numerosos cientistas que aceitam tanto a evolução quanto Deus. Eles acreditam não só em Deus como criador do Universo onde a evolução ocorre naturalmente, mas também acreditam que Deus atua constantemente nas suas vidas. Dizer o contrário é uma enorme falta de respeito com as crenças religiosas dos outros. Uma arrogância sem tamanho”[38]

O autor também rebate a afirmação de que se Deus não agiu na evolução das espécies então ele não existe:

“Para esse tipo de raciocínio ser coerente não deveria se resumir apenas à evolução. Qualquer um que ache que Deus não interfere nas órbitas dos planetas, nos ventos, nas marés, nas ondas sonoras e eletromagnéticas, etc, deveria ser ateísta também, o que é um absurdo”[39]

Os argumentos de Dawkins tentando refutar Deus com a teoria da evolução são lamentavelmente pífios, não seguem uma mínima lógica interna ou coerência, são totalmente non sequitur e nonsense. A tese de que somente os ateus podem ser consistentemente evolucionistas não passa de um truque para enganar crentes, sendo desenvolvido por pessoas que, realmente, estão delirando. Ninguém precisa deixar de crer em Deus ou na Bíblia para crer na teoria da evolução. Ambas são totalmente compatíveis.

Infelizmente, Dawkins precisa crer que a teoria da evolução prova que Deus não existe, porque foi desta forma que ele se tornou ateu em sua adolescência. O problema é que ele continua pensando assim mesmo depois deste conceito ter sido violentamente derrubado com o tempo pelos mais diversos argumentos, o que mostra que ele não amadureceu, nem tentou buscar argumentos melhores para substituir a teoria da evolução como a “prova” de que Deus não existe. Em vez disso, continua usando o mesmo argumento ultrapassado, numa vã esperança de convencer adolescentes tão instáveis na fé quanto ele mesmo era.

Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


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[1] “Provar” no mesmo sentido de “fornecer evidência”.
[2] Francis Collins, A Linguagem de Deus.
[5] ibid.
[6] ibid.
[8] Em carta enviada a Charles Lyell.
[11] Como vimos no capítulo 1 deste livro.
[12] The Life and Letters of Charles Darwin (New York, D. Appleton and Co., 1905, 274.
[13] Charles Darwin, citado em Finding Darwin’s God, de Kenneth R. Miller.
[14] A Vida e a Correspondência de Charles Darwin, 1887, publicado por seu filho Francis Darwin.
[18] ibid.
[19] Evolution: A Theory in Crisis. Bethesda, Md.: Adler & Adler, 1985, p. 264.
[20] Carl Sagan, Communication With Extra-Terrestrial Intelligence; citado também por Clifford Wilson e John Weldon em Close Encouters.
[21] Issac Asimov, The Genetic Code, p. 92.
[22] De acordo com Norman Geisler e Frank Turek no livro: Não Tenho fé Suficiente para ser Ateu.
[23] ibid.
[25] Antony Flew, Um Ateu Garante: Deus Existe.
[26] Roy Abraham Varghese em “Um Ateu Garante: Deus Existe” (Apêndice A).
[27] David Robertson, Cartas para Dawkins, Carta 6.
[28] É óbvio que este não é um argumento em favor da ressurreição de Jesus, mas somente uma analogia. Os argumentos para a ressurreição de Jesus foram tratados em meu outro livro, “As Provas da Existência de Deus”. Não tratarei este assunto aqui porque este é um livro refutando o de Dawkins, e Dawkins não tocou neste tema.
[29] Todo o diálogo a seguir está presente no documentário, que pode ser assistido aqui: http://www.youtube.com/watch?v=V5EPymcWp-g
[30] ibid.
[31] Roy Abraham Varghese em “Um Ateu Garante: Deus Existe” (Apêndice A).
[33] ibid.
[34] Norman Geisler e Thomas Howe, Manual Popular de Dúvidas, Enigmas e ‘Contradições’ da Bíblia.
[36] Comentário ao Gênesis.
[39] ibid.

1 comentários:

  1. Richard Dawkins é um grande babaca....o que sobra de arrogância falta em caráter.

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