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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Dawkins também dedica um
tópico do seu livro para o “Argumento das Escrituras”, onde ele basicamente
apenas repete ad nauseam uma série de
acusações soltas e mentirosas, tentando formar um argumento pelo acúmulo de
informações levantadas, ainda que nenhuma seja tratada com um mínimo de
profundidade. Esta é a parte mais fraca do livro, pois o próprio Dawkins
assumidamente não entende muito de teologia. Por isso os argumentos dele vêm de
terceiros, são mal feitos e mal formulados (geralmente os mesmos argumentos
toscos que encontramos em qualquer blog de quinta na internet) e ele sequer se
preocupa em interagir com os argumentos contrários, isto é, com as refutações
que apologistas cristãos têm dado há séculos a estas falácias. Ele traz à tona
argumentos velhos e já refutados, como se fossem uma novidade espetacular que
detona com o Cristianismo.
A tática que ele se
apropria é conhecida como “metralhadora giratória”, onde algum debatedor
despreparado prefere disparar uma série de acusações, uma atrás da outra, ao
invés de se focar em um ponto e tratá-lo com mais atenção e profundidade,
refutando os argumentos contrários e interagindo com eles (que é a forma
decente de se fazer uma refutação). Embora esta tática fracasse miseravelmente
em livros, ela até funciona bem quando o público-alvo é ignorante do assunto,
ou em um debate. Quantas vezes você já não deve ter visto um debate político
onde o candidato Fulano diz o
seguinte para o candidato Beltrano:
Fulano: Você,
Beltrano, está envolvido com corrupção [e cita um ou mais casos rapidamente], é
apadrinhado por maus políticos, é financiado pelos bancos, é um
fundamentalista, é fascista, governa para as elites, não dá a mínima para os
mais pobres, é contra as minorias, fez declarações preconceituosas [e novamente
cita um ou mais casos de passagem], é contra os direitos das mulheres, onde
você governou aumentou a criminalidade, a violência e a insegurança; você
cortou gastos na educação, fechou [cite um número] hospitais, deixou o
transporte público acabado, aumentou os impostos, abaixou o salário mínimo e é
reacionário!!! Rebata!!!!
Então o coitado do
candidato Beltrano tem no máximo dois minutos para responder tudo isso, o que é óbvio que ele não vai
conseguir. Mesmo se todas as acusações forem completamente falsas, ele só
conseguiria rebater decentemente cada uma delas se tivesse muito mais tempo, o
que ele não dispõe. Então ele no máximo consegue refutar uma ou duas acusações,
e no final o candidato Fulano sai proclamando “vitória”, como se tivesse
“calado” o candidato Beltrano, que “não soube refutar”, ou que “fugiu da
pergunta”, que “não foi capaz de responder”, etc.
Esta tática da
metralhadora giratória é muito usada por comunistas e “revolucionários” em
geral. Como eles sabem que não tem argumento para ser debatido com mais
profundidade (porque todos eles são facilmente destruídos em cinco minutos de
debate inteligente), então eles apelam para o ajuntamento de vários argumentos
mencionados de passagem para dificultar a refutação do outro candidato. Dawkins
faz exatamente isso, mas contra a Bíblia. Não é preciso nem ser teólogo para
desmascarar tantas pérolas juntas, quando dispomos de tempo para analisar cada
uma delas. Comecemos por quando ele fala sobre os evangelhos, dizendo:
“Desde
o século XIX, teólogos acadêmicos vêm defendendo que os evangelhos não são
relatos confiáveis sobre o que aconteceu na história do mundo real. Todos eles
foram escritos muito tempo depois da morte de Jesus, e também das epístolas de
Paulo, que não mencionam quase nenhum dos supostos fatos da vida de Jesus”
Dawkins começa fazendo
questão de dizer que não é ele quem
afirma aquilo, mas alguns “teólogos acadêmicos”. Esta é uma tática muito usada
por pessoas que tem pouco ou nenhum conhecimento sobre um determinado tema, e
com medo de afirmar algo tão categórico em uma coisa que desconhece prefere se
ausentar da discussão e dizer que é tal
pessoa disse tal coisa. É como se estivesse dizendo: “se algo estiver
errado, a culpa é dele!”.
Mas estes tais “teólogos
acadêmicos”, a quem ele se refere, não passam de um punhado de
pseudos-teólogos, que nem merecem o título de “teólogos” de fato, pois fazem
parte de uma minoria anticristã de “liberais” que tem por única finalidade
destruir qualquer coisa que a Bíblia afirme, mesmo sem evidência nenhuma de que
a Bíblia tenha afirmado errado. É o ceticismo pelo ceticismo, a crítica pela
crítica. Não se busca construir algo com base em argumentos, mas somente negar
o que já existe. Em outras palavras, são ateus disfarçados de “teólogos”, que não tem o menor crédito na
comunidade teológica séria.
Qual foi o argumento
oferecido para sustentar a ideia de que os evangelhos foram escritos muito tempo depois da morte de Jesus e
das epístolas de Paulo? Dawkins não deu sequer uma sugestão, muito menos um
argumento, pois ele jogou tudo nas costas dos tais “teólogos acadêmicos” tão
importantes que ele não cita nenhum nome. E o pior é que ele nem mesmo cita
argumentos que estes “teólogos” possuem, porque também não possuem nenhum.
Então basicamente todo o argumento dele neste ponto não passa de um “ouvi
dizer” e de um “é possível”, e o leitor é induzido a crer nisto sem evidência
nenhuma.
Contra a alegação destes
teólogos liberais a quem Dawkins se apoia na defesa da tese de que os
evangelhos foram escritos a partir de 90 d.C, temos o seguinte:
a)
Os próprios evangelhos
atestam que são antigos. Todos eles falam como se o templo e a cidade de
Jerusalém ainda estivessem em pé na época em que foram escritos. Para negar
isso deveria haver um argumento forte de que todos os evangelhos são obras
fraudulentas feitas por inescrupulosos que não mediam esforços para enganar o
povo e fazer parecer que escreviam em uma data quando escreviam em outra, mas
não existe nenhuma evidência disso.
b)
A tese de que os
evangelistas inventaram uma estória é também facilmente refutada. Uma das
evidências é apresentada por Norman Geisler e Frank Turek, que dizem: “Todos
os quatro evangelhos dizem que as mulheres foram as primeiras testemunhas do
túmulo vazio e as primeiras a saberem da ressurreição. Uma dessas mulheres era
Maria Madalena, que Lucas admite ter sido uma mulher possuída por demônios (Lc
8.2). Isso jamais teria sido inserido
numa história inventada. Uma pessoa possessa por demônios já seria uma
testemunha questionável, mas as mulheres
em geral não eram sequer consideradas testemunhas confiáveis naquela cultura do
século I. O fato é que o testemunho de uma mulher não tinha peso num tribunal.
Desse modo, se você estivesse inventando uma história da ressurreição de Jesus
no século I, evitaria o testemunho de mulheres e faria homens – os corajosos –
serem os primeiros a descobrir o túmulo vazio e o Jesus ressurreto. Citar o
testemunho de mulheres especialmente de mulheres possuídas por demônios – seria
um golpe fatal à sua tentativa de fazer uma mentira ser vista como verdade”[1].
c)
Há também várias provas
arqueológicas de que eles foram mesmo escritos antes de 70 d.C, ou seja, dentro
do curto período de uma geração desde a morte de Jesus, e na mesma época das
epístolas de Paulo. Por exemplo, a arqueologia confirmou a correta localização
e a descrição de cinco entradas no tanque de Betesda, tal como João escreveu
(Jo.5:2). Como Geisler e Turek apontam, “escavações realizadas
entre 1914 e 1938 revelaram o tanque, e ele era exatamente como João o havia
descrito. Uma vez que essa estrutura não mais existia depois de os romanos
terem destruído a cidade no ano 70 d.e, é improvável que qualquer outra
testemunha não ocular pudesse tê-lo descrito com tal nível de detalhes”[2].
Há uma infinidade de
evidências de que os evangelistas escreveram antes de 70 d.C e que foram
testemunhas oculares, mas para poupar tempo citarei aqui apenas a lista de
evidências em torno de Atos dos Apóstolos, feita por Colin Hemer (estudioso
clássico e historiador)[3].
Os detalhes e a precisão histórica em torno do livro são tão impressionantes
que somente uma testemunha ocular poderia representá-los com tamanha exatidão,
ainda mais levando-se em conta que depois de 70 d.C Jerusalém foi completamente
destruída e arrasada pelos romanos e que dificilmente alguém com a tecnologia
da época representaria com tanta precisão a cidade, se tivesse vivido longe dos
acontecimentos mencionados no livro.
Lucas registra com
exatidão os seguintes pontos que foram confirmados pela pesquisa histórica e
arqueológica:
1. A travessia natural entre
portos citados corretamente (At 13.4,5);
2. O porto correto (Perge)
juntamente com o destino correto de um navio
que vinha de Chipre
(13.13);
3. A localização correta da
Licaônia (14.6);
4. A declinação incomum mas
correta do nome Listra (14.6);
5. O registro correto da
linguagem falada em Listra — a língua licaônica (14.11);
6. Dois deuses conhecidos
por serem muito próximos — Zeus e Hermes (14.12);
7. O porto correto, Atália,
que os viajantes usavam na volta (14.25);
8. A ordem correta de
chegada, a Derbe e depois a Listra, para quem vem da Cilícia (16.1; cf. 15.41);
9. A grafia correta do nome
Trôade (16.8);
10. O lugar de um famoso
marco para os marinheiros, a Samotrácia (16.11);
11. A correta descrição de
Filipos como colônia romana (16.12);
12. A correta localização de
um rio (Gangites) próximo a Filipos (16.13);
13. A correta associação de
Tiatira a um centro de tingimento (16.14);
14. A designação correta dos
magistrados da colônia (16.22);
15. A correta localização
(Anfípolis e Apolônia) onde os viajantes costumavam passar diversas noites
seguidas em sua jornada (17.1);
16. A presença de uma
sinagoga em Tessalônica (17.1);
17. O termo correto
("politarches") usado em referência aos magistrados do lugar (17.6);
18. A correta implicação de
que a viagem marítima é a maneira mais conveniente de chegar a Atenas,
favorecida pelos ventos do leste na navegação de verão (17.14,15);
19. A presença abundante de
imagens em Atenas (17.16);
20. A referência a uma
sinagoga em Atenas (17.17);
21. A descrição da vida
ateniense com debates filosóficos na Agora (17.17);
22. O uso da palavra correta
na linguagem ateniense para Paulo (spermagos, 17.18), assim como para a corte (Areios
pagos, 17.19);
23. A correta representação
do costume ateniense (17.21);
24. Um altar ao "deus
desconhecido" (17.23);
25. A correta reação dos
filósofos gregos, que negavam a ressurreição do corpo (17.32);
26. Areopagíta (RA e RC) como
o título correto para um membro da corte (17.34);
27. Uma sinagoga em Corinto
(18.4);
28. A correta designação de
Gálio como procônsul, residente em Corinto (18.12);
29. O termo bema (tribunal),
superior ao forum de Corinto (18.16s);
30. O nome Tirano, conforme
atestado em inscrições do século I em Éfeso (19.9);
31. Conhecidos relicários e
imagens de Ártemis (19.24);
32. A muito confirmada
"grande deusa Ártemis" (19.27);
33. Que o teatro de Éfeso era
um local de grandes encontros da cidade (19.29);
34. O título correto
grammateus para o principal magistrado (escrivão) de Éfeso (19.35);
35. O correto título de honta
neokoros, autorizado pelos romanos (19.35);
36. O nome correto para
designar a deusa (19.37);
37. O termo correto para
aquele tribunal (19.38);
38. O uso do plural
anthupatoí (procônsules), talvez uma notável referência ao fato de que dois
homens estavam exercendo em conjunto a função de procônsul naquela época
(19.38);
39. A assembleia
"regular", cuja frase precisa é atestada em outros lugares
(19.39);
40. O uso de designação
étnica precisa, beroíaios (20.4);
41. O uso do termo étnico
asíanos (20.4);
42. O reconhecimento
implícito da importância estratégica atribuída à cidade de Trôade (20.7s);
43. O período da viagem
costeira naquela região (20.13);
44. A seqüência correta de
lugares (20.14,15);
45. O nome correto da cidade
como um plural neutro (Patara) (21.1);
46. O caminho correto
passando pelo mar aberto, ao sul de Chipre, favorecido pelos fortes ventos
noroeste (21.3);
47. A correta distância entre
essas cidades (21.8);
48. Um ato de piedade
caracteristicamente judeu (21.24);
49. A lei judaica
considerando o uso que os gentios faziam da área do templo (21.28. Descobertas
arqueológicas e citações de Josefo confirmam que os gentios poderiam ser
executados por entrarem na área do templo. Em uma dessas descrições, pode-se
ler: "Que nenhum gentio passe para dentro da balaustrada e do muro que
cerca o santuário. Todo aquele que for pego será pessoalmente responsável por
sua conseqüente execução");
50. A presença permanente de
uma coorte romana (chiliarch) em Antônia para reprimir qualquer perturbação na
época das festas (21.31);
51. O lance de escadas usado
pelos soldados (21.31,35);
52. A maneira comum de
obter-se a cidadania romana naquela época (22.28);
53. O tribunal ficando
impressionado com a cidadania romana, em vez da tarsiana (22.29);
54. Ananias como sumo
sacerdote daquela época (23.2);
55. Félix como governador
daquela época (23.34);
56. O ponto de parada natural
no caminho para Cesareia (23.31);
57. Em qual jurisdição estava
a Cilícia naquela época (23.34);
58. O procedimento penal da
província naquela época (24.1-9);
59. O nome Pórcio Festo, que
concorda perfeitamente com o nome dado por Josefo (24.27);
60. O direito de apelação dos
cidadãos romanos (25.11);
61. A fórmula legal correta
(25.18);
62. A forma característica de
referência ao imperador daquela época (25.26);
63. A melhor rota marítima da
época (27.5);
64. A ligação entre Cilícia e
Panfília (27.5);
65. O principal porto para se
encontrar um navio em viagem para a Itália (27.5,6);
66. A lenta passagem para
Cnido, diante dos típicos ventos noroeste (27.7);
67. A rota correta para
navegar, em função dos ventos (27.7);
68. A localização de Bons
Portos, perto da cidade de Laséia (27.8);
69. Bons Portos não era um
bom lugar para permanecer (27.12);
70. Uma clara tendência de um
vento sul daquela região transformar-se repentinamente num violento nordeste,
muito conhecido e chamado gregale (27.13);
71. A natureza de um antigo
navio de velas redondas que não tinha opção, senão ser conduzido a favor da
tempestade (27.15);
72. A localização precisa e o
nome desta ilha (27.16);
73. As manobras adequadas
para a segurança do navio nesta situação em particular (27.16);
74. A 14ª noite — um cálculo
notável, baseado inevitavelmente numa composição de estimativas e
probabilidades, confirmada pela avaliação de navegantes experientes do
Mediterrâneo (27.27);
75. O termo correto de tempo
no Adriático (27.27);
76. O termo preciso
(bosílantes) para captar sons e calcular a profundidade correta do mar perto de
Malta (27.28);
77. Uma posição que se
encaixa na provável linha de abordagem de um navio liberado para ser levado
pelo vento do leste (27.39);
78. A severa responsabilidade
dos guardas em impedir que um preso fugisse (27.42);
79. O povo local e as
superstições da época (28.4-6);
80. O título correto protos
tes nesou (28.7);
81. Régio como um refúgio
para aguardar um vento sul para que pudessem passar pelo estreito (28.13);
82. Praça de Ápio e Três
Vendas corretamente definidos como locais de parada da Via Ápia (28.15);
83. Forma correta de custódia
por parte dos soldados romanos (28.16);
84. Condições de
aprisionamento, vivendo "na casa que havia alugado" (28.30,31).
Lucas acertou tudo isso
sem acesso aos mapas ou às cartas náuticas modernos. Diante de tantas provas
contundentes de que Lucas foi uma testemunha ocular dos fatos, o historiador
romano A. N. Sherwin-White disse: "Quanto ao livro de
Atos, a confirmação de sua historicidade é impressionante (...) Qualquer
tentativa de rejeitar sua historicidade básica só pode ser considerada absurda.
Historiadores romanos já desprezaram o livro por muito tempo”[4]. Até
mesmo o cético William M. Ramsay, especialista clássico e arqueólogo, foi
obrigado a admitir:
“Comecei tendo um
pensamento desfavorável a ele [o livro de Atos] (...) Eu não tinha o propósito
de investigar o assunto em detalhes. Contudo, mais recentemente, vi-me muitas
vezes sendo levado a ter contato com o livro de Atos vendo-o como uma
autoridade em topografia, antiguidade e sociedade da Ásia Menor. Fui
gradualmente percebendo que, em vários detalhes, a narrativa mostrava verdades
maravilhosas”[5]
Geisler e Turek ainda
questionam: “O que
mais ele [Lucas] poderia ter feito para provar
sua autenticidade como historiador?”[6]. A
situação fica ainda pior para os céticos ateus quando vemos que Atos, o livro
que Lucas (como testemunha ocular) escreveu em torno de 62 d.C foi o seu segundo livro a Teófilo, posterior ao evangelho de Lucas
(At.1:1-2; Lc.1:1-4), o que significa, é claro, que o evangelho de Lucas é
ainda mais antigo que 62 d.C. Por
fim, ao lermos as epístolas de Inácio, Policarpo e Clemente (três líderes
cristãos posteriores aos apóstolos, que escreveram no final do primeiro
século), os vemos citando várias partes do NT, o que implica, evidentemente,
que a obra citada é ainda mais antiga[7]:
DOCUMENTOS DO NOVO TESTAMENTO CITADOS POR:
|
||
Clemente, escrevendo
de Roma (c. 95 d.C.)
|
Inácio,
escrevendo de
Esmirna,
na Ásia
Menor
(c. 107)
|
Policarpo, escrevendo
de Esmirna, na Ásia
Menor (c. 110)
|
Mateus
|
Mateus
|
Mateus
|
Marcos
|
Marcos
|
Marcos
|
Lucas
|
Lucas
|
Lucas
|
Romanos
|
João
|
João
|
l Coríntios
|
Atos
|
Atos
|
Efésios
|
Romanos
|
Romanos
|
1 Timóteo
|
l Coríntios
|
l Coríntios
|
Tito
|
2 Coríntios
|
2 Coríntios
|
Hebreus
|
Gálatas
|
Gálatas
|
Tiago
|
Efésios
|
Efésios
|
l Pedro
|
Filipenses
|
Filipenses
|
Colossenses
|
Colossenses
|
|
1 Tessalonicenses
|
2 Tessalonicenses
|
|
l Timóteo
|
l Timóteo
|
|
2Timóteo
|
2 Timóteo
|
|
Tito
|
Hebreus
|
|
Filemom
|
l Pedro
|
|
Hebreus
|
l João
|
|
Tiago
|
||
l Pedro
|
||
2 Pedro
|
||
l João
|
||
3 João
|
||
Apocalipse
|
Geisler e Turek ainda ponderam: “Uma vez
que Clemente estava em Roma e Inácio e Policarpo estavam a centenas de
quilômetros de distância, em Esmirna, os documentos originais do NT precisariam
ter sido escritos muito tempo antes, caso contrário não poderiam ter circulado
por todo o mundo antigo daquela época”[8]. É claro
que Dawkins desconsidera tudo isso, porque confia nos tais “teólogos
acadêmicos” tão confiáveis que ele sequer cita o nome, nem menciona qualquer
argumento destes teólogos tão renomados.
Por fim, o fato de Paulo não
fazer menção a muitos aspectos da vida de Jesus (como fazem os evangelhos) em
nada tem a ver com a credibilidade bíblica, pois o objetivo era distinto. Enquanto os quatro evangelistas tinham o
objetivo de relatar a vida de Jesus, o objetivo de Paulo era o de instruir as
igrejas cristãs da época na doutrina cristã.
Por isso Paulo não tinha o menor interesse em contar histórias ou fazer biografias,
mas apenas em instruir os cristãos naquilo que se deve ou não se deve fazer,
naquilo que é doutrinariamente certo e naquilo que é heresia. Como o objetivo é
diferente, é lógico que vai mudar o tema.
Tome como exemplo o apóstolo
João, que escreveu um evangelho, três epístolas e o Apocalipse. O evangelho é
todo dedicado a falar da vida de Jesus. As epístolas são todas dedicadas a
instruir os cristãos na doutrina e a fugirem da heresia da época, a do
gnosticismo. E o Apocalipse também se difere completamente do evangelho e das
epístolas, pois tem o objetivo de passar no papel as visões que ele recebeu, e
escrevê-las em forma de profecia.
Mas Dawkins ainda prossegue seus
ataques à Escritura, dizendo:
“Todos
eles foram copiados e recopiados, ao longo de muitas ‘gerações de telefones sem
fio’, por escribas sujeitos a falhas e que, por sinal, tinham suas próprias
agendas religiosas”
E o que é que isto tem a ver com
falta de credibilidade? O que Dawkins e outras pessoas que não entendem nada de
crítica textual pensam é que, se não temos o original em mãos, então todo o
conteúdo original se perdeu e não pode ser reconstruído com confiabilidade.
Isso é tão falacioso que, se fosse levado a sério, não deveríamos crer em absolutamente nada da história antiga, pois
tudo aquilo que conhecemos do passado são de cópias dos manuscritos originais. Mas eu duvido que Dawkins e os
neo-ateus descrêem em toda a história
antiga e em todos os livros antigos
escritos pelos mais diversos autores que conhecemos hoje, como Platão,
Heródoto, Josefo, Tácito, Aristóteles, Plínio, etc.
Para chegarmos ao original com
precisão, basta termos um bom número de cópias (para compará-las) e, de
preferência, com uma breve diferença em relação ao original. O problema dos
neo-ateus é que o Novo Testamento ganha disparado de qualquer outro
documento da história antiga, tanto em um quesito quanto no outro. Compare, por
exemplo, o intervalo em anos entre o original e a cópia mais antiga nos autores
mais renomados da antiguidade, e também o número de cópias que possuímos deles:
Autor
|
Data do Original
|
Cópia mais Antiga
|
Intervalo em Anos
|
Número de Cópias
|
César
|
100-44
a.C
|
900
d.C
|
1000
|
10
|
Platão
(Tetralogias)
|
427-347
a.C
|
900
d.C
|
1200
|
7
|
Tácito
(Anais)
|
60-100
d.C
|
900
d.C
|
800
|
1
|
Plínio,
o Jovem
|
61-113
d.C
|
850
d.C
|
750
|
7
|
Tucídedes
|
460-400
a.C
|
900
d.C
|
1300
|
8
|
Suetônio
|
75-100
d.C
|
950
d.C
|
800
|
8
|
Heródoto
|
480-425
a.C
|
900
d.C
|
1300
|
8
|
Sófocles
|
496-406
a.C
|
1000
d.C
|
1400
|
193
|
Lucrécio
|
75-160
d.C
|
1200
d.C
|
1100
|
2
|
Cátulo
|
54
a.C
|
1550
d.C
|
1600
|
3
|
Eurípides
|
480-406
a.C
|
1100
d.C
|
1300
|
200
|
Desmóstoles
|
383-322
a.C
|
1100
d.C
|
1300
|
200
|
Aristóteles
|
384-322
a.C
|
1100
d.C
|
1400
|
49
|
Aristófanes
|
450-385
a.C
|
900
d.C
|
1200
|
10
|
Em comparação, o Novo Testamento
tem uma diferença mínima inferior a 200
anos entre a cópia completa mais
bem preservada e o original, e de décadas
entre o original e o fragmento mais antigo. A diferença fica ainda mais
esmagadora quando vemos que possuímos 25
mil cópias antigas do Novo Testamento, em comparação com algumas dezenas
(ou nem isso) dos outros autores da antiguidade. A conclusão é óbvia para um
bom entendedor: se existe obra antiga
confiável, a Bíblia com certeza encabeça a lista.
Mesmo os maiores críticos da
Bíblia não usam de critério ao rejeitarem a credibilidade do Novo Testamento,
pois eles creem que obras muito menos bem preservadas foram “bem preservadas”,
enquanto negam o mesmo patamar ao Novo Testamento. Um exemplo claro disso é
Bart Ehrman, também citado em The God
Delusion como alguém que “passou de crente
fundamentalista na Bíblia para cético ponderado”, que é tão “ponderado” ao ponto
de dizer que o evangelho apócrifo de Pedro foi “bem preservado”, enquanto nega
o mesmo título ao Novo Testamento. Marcelo Berti apontou esta flagrante
contradição e disse:
“Há alguns anos atrás nos
tínhamos um pedaço do Evangelho de Pedro que não sabíamos bem o que
significava. Era um fragmento do tamanho de um cartão de crédito. No século
passado foi descoberta uma cópia maior, com páginas do texto. Eles compararam
aquilo que tinha naquele evangelho com aquilo que foi encontrado recentemente,
e Ehrman diz em seu livro: ‘ficou claro que o Evangelho de Pedro foi bem
preservado’. Isso com duas cópias, uma do tamanho de um cartão de crédito e
outra com algumas páginas. Ou seja: para Ehrman, o Evangelho de Pedro foi bem
preservado – com poucas evidências – mas
o Novo Testamento, repleto de evidências (mais de 5 mil), foi ‘mal guardado’!”[9]
É este tipo de “cético ponderado”
que Dawkins exalta em seu livro e glorifica de pé, faltando apenas bradar:
“Aleluia!!!”. Incrível também que Dawkins tenha apenas citado um único teólogo que abandonou o
Cristianismo por causa da crítica textual, sem citar os milhares de teólogos que se tornaram cristãos ainda mais convictos
e devotos depois do estudo do mesmo – e até ateus que se converteram por causa
disso. Dawkins claramente não está preocupado em expor a verdade, mas sim em distorcer a verdade e expô-la de forma
tendenciosa ao público, de maneira que represente com fidelidade seu neo-ateísmo.
Eu não entrarei mais a fundo na
questão da crítica textual, pois, como disse na introdução do livro, os
assuntos que foram tratados com abrangência em meu livro anterior (As Provas da Existência de Deus) não
serão repetidos aqui, e por essa razão recomendo a todos os que quiserem ler
uma abordagem mais completa do tema que se dirijam ao capítulo 7 do livro
anterior, que é inteiramente dedicado a refutar Ehrman e suas conclusões
completamente equivocadas em torno da credibilidade do Novo Testamento.
Incansável, Dawkins ainda alega:
“Um bom
exemplo da cor acrescentada pelas agendas religiosas é a tocante lenda do
nascimento de Jesus, em Belém, seguida do massacre dos inocentes por Herodes.
Quando os evangelhos foram escritos, muitos anos depois da morte de Jesus,
ninguém sabia onde ele tinha nascido. Mas uma profecia do Antigo Testamento
(Miquéias 5, 2) tinha levado os judeus à expectativa de que o esperado Messias
nasceria em Belém. À luz dessa profecia, o Evangelho de João afirma
textualmente que seus seguidores ficaram surpresos com o fato de ele não ter
nascido em Belém: ‘Outros diziam: Ele é o Cristo; outros, porém, perguntavam:
Porventura, o Cristo virá da Galileia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da
descendência de Davi e da aldeia de Belém, donde era Davi?’ (Jo.7:41-42)”
Dawkins cita João de forma
completamente descontextualizada. João não estava dizendo que ele cria que Jesus não tinha nascido em
Belém, e muito menos que seus seguidores achavam
isso. Se ele se desse ao trabalho de ir consultar o contexto do texto bíblico
em questão ao invés de copiar argumentos fracassados escritos por terceiros
iria perceber que estes que pensavam que Jesus não tinha nascido em Belém eram
os descrentes de Jerusalém que
estavam ali por acaso, por ocasião da festa judaica dos tabernáculos:
“No último e mais importante dia da festa, Jesus levantou-se e disse
em alta voz: ‘Se alguém tem sede, venha a mim e beba’” (João 7:37)
Jesus se dirigiu a Jerusalém por
causa desta festa, entrou no templo onde estavam peregrinos de toda Jerusalém e
de outras cidades judaicas, e ali,
para os descrentes e não para os seus
seguidores, ele disse aquelas coisas e foi rechaçado. Os evangelistas são
claros ao dizer que, quando Jesus entrou em Jerusalém por esta ocasião, eram
poucos os que o conheciam, pois o ministério dele era mais voltado à região da
Galileia:
“Quando Jesus entrou em
Jerusalém, toda a cidade ficou agitada e perguntava: ‘Quem é este?’ A multidão respondia: ‘Este é Jesus, o profeta de
Nazaré da Galiléia’” (Mateus 21:10-11)
Ou seja: a multidão em Jerusalém não conhecia Jesus, e seus
discípulos e seguidores precisaram explicar
para eles de onde ele vinha, ou seja, da Galileia, que era onde ele
costumava pregar e de onde ele havia saído para entrar em Jerusalém. Então esta
multidão de incrédulos que não conhecia nada de Jesus a não ser o relato de que
ele pregava na Galileia presumiu que
ele havia nascido por lá, e não em Belém. Dawkins de forma traiçoeira faz
parecer que eram os próprios discípulos e seguidores de Jesus (ou o próprio
João) que pensavam que Jesus não havia nascido em Belém, quando o contexto em
seu devido contexto não fala nada disso.
Mas Dawkins, em sua ignorância,
continua, dizendo:
“Mateus e
Lucas lidaram com o problema de outra forma, concluindo que Jesus devia ter
nascido em Belém, no fim das contas. Mas eles chegaram a essa conclusão por
caminhos diferentes. Mateus coloca Maria e José em Belém desde sempre, tendo
mudado para Nazaré só muito tempo depois do nascimento de Jesus, na volta do
Egito, para onde tinham fugido do rei Herodes e do massacre dos inocentes.
Lucas, por outro lado, admite que Maria e José moravam em Nazaré antes de Jesus
nascer”
Pura mentira! Mateus não diz que Maria e José
estiveram em Belém “desde sempre”, ou seja, desde antes de Jesus nascer. Mateus
simplesmente não entra nesta questão, e por isso a primeira vez em que a
palavra “Belém” aparece no evangelho de Mateus é já depois de Jesus ter
nascido, e não antes. Ela se encontra em Mateus 2:1, que diz:
“Depois que Jesus
nasceu em Belém da Judéia, nos dias do rei Herodes, magos vindos do Oriente
chegaram a Jerusalém” (Mateus 2:1)
Em síntese, Mateus não fala nada
sobre onde José e Maria moravam antes do nascimento de Jesus (este é um
aspecto que somente Lucas faz questão de ressaltar), ele se limita apenas a
dizer que Maria e José estiveram em Belém depois
do nascimento de Jesus, não fala nada sobre se estavam em Belém antes, nem quanto tempo antes. Estas “conclusões” precipitadas feitas em cima
do texto bíblico são dawkinianas e
pseudo-exegéticas, e não fruto de um exame sério da Bíblia.
Onde José e Maria estiveram
segundo os evangelhos:
Antes de Jesus nascer
|
Nos dias do nascimento de Jesus
|
Tempos depois do nascimento de Jesus
|
Nazaré
|
Belém
|
Nazaré
|
Lucas 1:27
|
Mateus 2:1; Lucas 2:4
|
Mateus 2:23; Lucas 2:39
|
Dawkins confunde relatos complementares com relatos contraditórios. Contradição só haveria
se Mateus dissesse que Jesus esteve em Belém antes de Jesus nascer (o que contrariaria Lucas), ou se eles
entrassem em contradição um com o outro sobre onde Jesus nasceu ou sobre onde
esteve tempos depois do nascimento, mas não ocorre nada disso. Ao invés de uma
contradição, o que vemos são relatos que se completam, o que é muito típico em
uma reconstrução histórica.
Note que nem Marcos nem João dão
atenção sobre a infância de Jesus (eles começam narrando a história com Jesus
já adulto), mas isso não significa que Jesus não nasceu em lugar nenhum, ou que
ele tenha vindo ao mundo já adulto. O que João e Marcos não disseram é complementado
por aquilo que os outros evangelistas disseram, e assim ligamos todas as partes do quebra-cabeça que se
encaixa perfeitamente bem.
Mas Dawkins continua seus
ataques, dizendo:
“Lucas diz
que, na época em que Quirino era governador da Síria, César Augusto ordenou a
realização de um censo, com fins tributários, e todo mundo tinha que ir ‘para a
sua cidade’. José era ‘da casa e da linhagem de Davi’ e portanto tinha de ir
para a ‘cidade de Davi, que é chamada de Belém’. Deve ter parecido uma boa
solução. Tirando o fato de que, do ponto de vista histórico, ela é
completamente absurda”
Dawkins mostra aqui que, além de
tudo, ainda é desinformado em termos de história. Sua alegação é fruto de pura
ignorância, pois é fato histórico que
os romanos faziam recenseamento da forma prevista na Bíblia. Segundo o Monumentum Ancyranun[10],
Augusto realizou três recenseamentos no império romano, nos anos de 726, 746 e
767 desde a fundação de Roma, i.e, nos anos 28 a.C, 8 a.C e 14 d.C do nosso calendário gregoriano[11].
O recenseamento presente em Lucas
é exatamente este realizado em 8 a.C, o mesmo que os historiadores dizem ter
ocorrido quatro anos antes da morte de Herodes, que se passou em 4 a.C. Mas os
judeus dificultaram a tentativa dos romanos em contarem todo o povo, razão pela
qual nas terras judaicas esse recenseamento só ocorreu tempos mais tarde.
Em 1880 foi encontrada uma
inscrição que fala claramente de um recenseamento ocorrido na Síria por ordem
de Quirino. O texto em latim diz:
"Q. Aemilius Q. F. Pai. Secundus... iussu Quirini censum egi
Apamenae civitatis millium hominum, civium CXVH"
O texto latino se encontra no Corpus Inscriptionum Latinarum (Th.
Mommsen) Ill, 1, Suplemento n. 6687,9. Papiros também mostram que, no Egito, de
14 em 14 anos se realizava um recenseamento, prática esta que durou até o
terceiro século d.C.
Além disso, como conferimos
anteriormente, o próprio livro de Lucas é
uma evidência histórica, já que o autor tem sido exaltado pelos críticos em
função de sua excelência como historiador e a precisão e detalhes com os quais
narrava os acontecimentos – coisas extremamente improváveis de acontecer com
alguém que está inventando uma estória – além da confirmação paralela de outras
fontes históricas e da arqueologia moderna. Se não fosse pelo fato de Lucas ser
cristão e ter escrito livros bíblicos, ninguém iria levantar objeções como
fazem hoje, por puro preconceito em
se aceitar algo que está na Bíblia, pela
única razão de não crerem na Bíblia.
Portanto, a única coisa absurda
do ponto de vista histórico são as alegações infundadas de Dawkins, que ainda
continua:
“Davi, se
existiu, viveu quase mil anos antes de Maria e José. Por que diabos os romanos
teriam exigido que José voltasse para a cidade onde um ancestral remoto havia
vivido um milênio antes? É como se eu fosse obrigado a especificar, digamos,
Ashby-de-la-Zouch como minha cidade no formulário do censo, se por acaso eu
conseguisse rastrear minha ascendência até o Seigneur de Dakeyne, que chegou
junto com Guilherme, o Conquistador, e ali se estabeleceu”
Em primeiro lugar Dawkins não
deveria dizer: “Davi, se existiu...”,
pois Davi é um personagem bíblico comprovado pela arqueologia. A descoberta da
Estela de Tel Dã, em 1993, provou a existência de Davi e seu reinado. Trata-se
de uma placa comemorativa que traz a inscrição legível da “casa de Davi”, dizendo:
“Eu matei Jeorão, filho de
Acabe, Rei de Israel, e matei Acazias, filho de Jeorão, rei da casa de Davi”
No hebraico:
כב.ואלפי.פרש.[קתלת.אית.יהו]רם.בר[אחאב.]
מלך.ישראל.וקתל[ת.אית.אחז]יהו.בר[יהורם.מל]
ך.ביתדוד.ואשם.[אית.קרית.הם.חרבת.ואהפך.א]
Em segundo lugar, o argumento de
Dawkins é uma falácia conhecida como reductio
ad absurdum, que é quando se tenta provar que algo é errado por ser
“ridículo demais”. É inegável que a ideia de um recenseamento como foi feito é
algo ridículo, mas isso é um argumento para
se negar que o fato ocorreu? Será que Dawkins faz ideia de quantas coisas
ridículas os romanos costumavam fazer? Pense em Nero, que ateou fogo em Roma,
em seu próprio império. Isso era o mesmo que Barack Obama ser eleito presidente
dos EUA e logo depois sair ateando fogo em toda a cidade de Nova York para
comemorar o feito. É ridículo, sim. Mas é atestado historicamente, por fontes
da época.
Quer outra coisa ridícula que
realmente aconteceu entre os romanos? Já imaginou um cavalo, isso mesmo, um cavalo ser senador? Pois foi isso o que
Calígula, imperador romano, fez com seu cavalo Incitatus. O cavalo se tornou
senador “de respeito” e seu voto tinha peso “dois”, enquanto o voto dos demais
senadores tinha peso “um”. O cavalo-senador ainda tinha 18 assessores, ganhava
uma fortuna e usava mantas nas cores reservadas ao imperador. Pelo menos ele
era ficha limpa. Foi tão bom senador que foi um dos únicos que nunca se
envolveu em corrupção e não aceitava dinheiro sujo. Um homem – quero dizer, um cavalo – digno de respeito.
Diante destas e de outras várias
maluquices do império romano, o recenseamento de Augusto foi fichinha[12].
Dawkins jamais deveria usar o reductio ad
absurdum, ainda mais em se tratando de imperadores romanos, como um
“argumento” contra a autenticidade da declaração de Lucas. Além disso, há
documentos que provam que era comum
o império romano obrigar os habitantes das províncias a fazerem o recenseamento
em sua região nativa, como mostra o decreto de Gaio Víbio Máximo, Prefeito do
Egito, datado de 104 d.C, que obrigava a "todos os que habitassem
fora das suas regiões nativas, voltassem ao seu recanto natal para cumprir a
disciplina habitual do recenseamento".
Dom Estêvão Bettencourt
acrescenta:
“Este preceito vigente no Egito
devia também aplicar-se à Palestina, visto que no Oriente a pertença à família
ou estirpe era de importância capital; todo cidadão sabia a que estirpe
pertencia. O povo de Israel constava de tribos e famílias bem definidas – o que
muito facilitava a realização do censo segundo as normas habituais. Maria
acompanhou seu esposo a Belém, porque também ela era de estirpe régia (ou da
casa de Davi); cf. Rm 1,3; Lc 1,31s. Além do quê, as mulheres deviam estar
sujeitas ao recenseamento na Palestina como no Egito. Mais: pode-se crer que
Maria era filha única e, por conseguinte, filha herdeira - o que mais a
obrigava ao recenseamento”[13]
Por fim, nos Archiva Romana (Arquivos Romanos) há a descrição de que foram
efetuados recenseamentos na Judeia sob Augusto por obra de Sêncio Saturnino,
Prefeito da Síria entre 9 e 6 a.C. Isso também consta na obra Contra Marcião, de Tertuliano[14].
É verdade que Tertuliano era um autor cristão (que escrevia no segundo século
d.C), mas ele estava debatendo com um descrente, e não iria colocar todo o seu
argumento a perder pela inclusão de uma “informação falsa”, se fosse mesmo
falsa.
Ele desafiou Marcião a consultar
os Arquivos Romanos, da mesma forma que um cristão nos dias de hoje desafiaria
um ateu a consultar, por exemplo, a obra Antiguidades Judaicas (de Flávio
Josefo), que prova a existência histórica de Jesus. Ninguém que esteja mentindo
desafiaria o adversário desta maneira, citando fontes conhecidas da época, que
com um mínimo de esforço o oponente poderia averiguar que a informação é falsa
e derrubaria por inteiro a credibilidade de toda a argumentação. É óbvio que
Tertuliano sabia que a informação era
verdadeira, e presumivelmente o próprio Marcião também, que em momento nenhum o
contra-argumentou neste ponto.
Mas Dawkins continua:
“Robert
Gillooly mostra como todas as características mais essenciais da lenda de
Jesus, incluindo a estrela de Belém, a virgindade da mãe, a veneração do bebê
por reis, os milagres, a execução, a ressurreição e a ascensão são empréstimos
– cada uma delas – de outras religiões que já existiam na região do
Mediterrâneo e do Oriente próximo”
Este é com toda a certeza o
parágrafo mais mentiroso de todo o livro. Mais uma vez Dawkins não tem nenhum
conhecimento de causa e joga toda a credibilidade de seu argumento nas costas
de um tal de Robert Gillooly, um ilustre anônimo cuja única informação que se
pode obter sobre ele em toda a internet é que ele foi mencionado neste livro, e
mesmo assim Dawkins o cita como “autoridade” no assunto! Essa série de afirmações
falsas foram claramente copiadas do risível filme Zeitgeist, que já foi refutado trezentas mil vezes pelos mais
diversos acadêmicos cristãos e até pelos ateus mais sérios.
Como eu disse na introdução deste
livro, eu não vou repetir aqui o que já foi devidamente refutado em meu outro
livro (As Provas da Existência de Deus),
onde eu dedico dezenas de páginas exclusivamente para refutar ponto por ponto
das alegações mentirosas que os neo-ateus inventaram em torno de Jesus ter sido
um “plágio” de mitos pagãos. Quem estiver interessado, consulte a refutação
completa no livro[15],
ou a refutação resumida presente em meu site[16].
E Dawkins continua vomitando
desinformação ao dizer:
“Um
literalista não devia se preocupar com o fato de Mateus rastrear a descendência
de José do rei Davi por 28 gerações intermediárias, enquanto Lucas fala em 41
gerações? O pior é que quase não há coincidências nos nomes das duas listas!”
Duas coisas que Dawkins deveria
saber aqui. A primeira é que a genealogia de Mateus é registrada pela linha de
José, enquanto a genealogia de Lucas é pela linha de Maria, da seguinte forma:
Davi
Salomão
|
Roboão
|
Abias
|
Asa
|
Josafá
. . .
|
José - Maria - esposa legal (pai legal)
|
Jesus
|
Davi
|
Nata
|
Matará
|
Mená
|
Meleá
|
Eliaquim
. . .
|
Heli
|
José - Maria - mãe de fato (marido legal)
|
Jesus
|
Como Mateus e Lucas traçam suas
genealogias partindo de pontos diferentes (Lucas vai de Maria a Adão, enquanto
Mateus de José a Abraão), é óbvio que nós não deveríamos encontrar os mesmos
nomes mesmo. A segunda coisa que Dawkins deveria saber é que Mateus usa o termo
grego gennao (gerou) em um sentido
mais amplo, que significa “antepassado de”. Essa palavra é derivada de outra
palavra grega, genos, que tem como um
de seus significados possíveis o de “descendência de um pessoa em
particular”[17]. Não há,
portanto, necessidade que haja o
mesmo número de “gerações” na lista de Mateus e na lista de Lucas, quando Lucas
o usa em sentido estrito, e Mateus em sentido mais amplo[18].
Mas Dawkins prossegue:
“Os quatro
evangelhos que chegaram ao cânone oficial foram escolhidos, mais ou menos de
forma arbitrária, dentre uma amostra maior de pelo menos uma dúzia, incluindo
os evangelhos de Tomás, Pedro, Nicodemo, Felipe, Bartolomeu e Maria Madalena”
Dawkins comete aqui um erro
elementar muito constante em críticos da Bíblia, que é a crença de que um
concílio (geralmente apontado como o Concílio de Niceia, embora Dawkins tenha
se prevenido de cair no mesmo erro e não cita nenhum) tenha arbitrariamente
escolhido quais livros permaneceriam no
cânon e quais seriam retirados dali,
e no final decidiram deixar os quatro evangelhos que conhecemos hoje, e
arrancado do cânon os que eles não gostaram. Isso é completamente ridículo, não
possui nenhuma fonte séria de apoio e é impressionante como é perpetuado por
pessoas ingênuas que ao invés de estudar a história cristã preferem crer em
mitos populares e em teorias da conspiração.
Não, não houve concílio que
“escolheu” os quatro evangelhos, nem que “retirou” os outros (os apócrifos),
isso porque desde sempre os cristãos aceitaram os quatro evangelhos e nunca
houve um momento em que qualquer cristão tenha crido mesmo que por um segundo
que algum evangelho apócrifo fosse verdadeiro. Já mencionamos aqui como
Clemente, no final do primeiro século, cita Mateus, Marcos e Lucas em sua carta aos coríntios, e como Inácio e
Policarpo (da mesma época) citaram todos os quatro: Mateus, Marcos, Lucas e João. Irineu, anos mais tarde, citaria os
quatro como autoridade de fé em sua obra “Contra as Heresias”.
Por que eles não fizeram qualquer
menção aos evangelhos apócrifos?
Simples: porque não existia
nenhum. Todos os evangelhos apócrifos que conhecemos começaram a ser escritos a
partir da segunda metade do segundo século d.C, e neste ponto é necessário
explicarmos brevemente como eles surgiram. Se o leitor fizer uma pesquisa
rápida sobre cada um deles, verá que quase todos foram escritos por gnósticos.
Quem eram os gnósticos? Os gnósticos eram falsos cristãos que queriam ostentar
este rótulo, mas que não criam em nenhuma das doutrinas fundamentais do Cristianismo
(por exemplo, eles não criam que Jesus veio em carne, nem que existe
ressurreição).
A doutrina gnóstica como um todo
é extremamente complexa e quem estiver interessado em saber mais sobre ela eu
recomendo a leitura da obra “Contra as Heresias”, de Irineu de Lyon (130-202
d.C), um cristão do segundo século que já tinha que defender a fé cristã dos
ataques deles. Mas as primeiras formas de gnosticismo surgiram desde cedo, pois
vemos o apóstolo Paulo escrevendo contra “aquilo que é falsamente
chamado ‘conhecimento’ [gnosticismo][19]” (1Tm.6:20),
e as três epístolas de João são quase inteiramente feitas para refutar esta
heresia, onde João os chama de “anticristos” por negarem que Jesus veio em
carne (2Jo.1:7).
Os gnósticos do segundo século
d.C tiveram então que conviver com este difícil problema: embora quisessem ser
chamados “cristãos” e se infiltrar em meio a eles, as epístolas dos apóstolos e
os evangelhos dos cristãos claramente repudiavam as suas doutrinas. O que
fazer? Foi aí que tiveram a ideia de criarem eles mesmos seus próprios
“evangelhos”, em nome dos apóstolos de Jesus, para competir com os evangelhos
legítimos dos cristãos[20].
Escrevendo obras tardias e falsamente as atribuindo aos discípulos de Jesus,
eles pensaram com isso estar justificando suas próprias crenças e “provando”
que os apóstolos criam nas doutrinas inventadas por eles.
Foi assim que eles quiseram
competir com os cristãos da época, que já obedeciam há muito tempo as
Escrituras cristãs. Se um cristão citava o Evangelho de Mateus (legítimo) para
combater uma doutrina herética dos gnósticos, eles contra-atacavam citando a
obra recente e farsante do “Evangelho de Tomé”, que contêm suas doutrinas. Isso
não deu muito certo, pois até hoje não existe relato histórico de um único cristão
importante nos primeiros séculos, dentre os inúmeros Pais da Igreja que já
existiram, que tenha dado qualquer valor a estes apócrifos. Eles desde sempre
identificaram estas obras como sendo apócrifas (falsas) e continuaram crendo
nos quatro evangelhos que os cristãos sempre creram.
Os concílios que vieram mais
tarde apenas confirmaram isso, eles reiteraram aquilo que já era
universalmente aceito, não inventaram nem mudaram nada. Qualquer um que leia as
obras dos cristãos que sucederam os apóstolos no final do primeiro século e no
segundo pode conferir facilmente que eles já aceitavam quatro, e somente quatro
evangelhos. Os apócrifos nunca foram um problema para os cristãos, e este
assunto só passou a ser “polêmico” depois que desinformados e teóricos da conspiração
no século passado começaram a procurar desesperadamente por qualquer informação
que colocasse o Cristianismo em perigo. Uma tentativa inútil para quem tem
algum conhecimento, mas que é suficiente para enganar mentes fracas e
desprevenidas, como um lobo que ataca uma ovelha indefesa.
Mas Dawkins supera todos os
níveis de ignorância conhecidos pelo homem ao dizer o seguinte:
“É até
possível montar uma argumentação histórica séria, embora ela não conte com
apoio total, para defender que Jesus nem
chegou a existir, como já fez, entre outras pessoas, o professor G. A.
Wells, da Universidade de Londres, em vários livros, como Did Jesus exist? Embora
Jesus provavelmente tenha existido, acadêmicos bíblicos respeitados em
geral não acreditam que o Novo Testamento (e, obviamente, tampouco o Antigo
Testamento) seja um registro confiável do que realmente aconteceu na história,
e já não considerarei mais a Bíblia evidência da existência de qualquer tipo de
divindade”
Esta é provavelmente a parte mais
engraçada do livro, onde Dawkins desacredita em seu próprio argumento! Se nos
pontos anteriores, onde Dawkins afirmava certas coisas tão categoricamente e
mesmo assim uma análise mais meticulosa dos fatos nos mostrava o contrário,
imagine neste ponto onde ele argumenta algo que nem ele mesmo crê! Para algum
ataque ao Cristianismo ser tão fraco ao ponto do próprio Dawkins, um dos
maiores inimigos da fé cristã, dizer que o argumento é “provavelmente falso”, o
leitor já deve ter ideia de como o argumento é realmente miseravelmente ruim.
Se nem os neo-ateus dão apoio
total à tese de que Jesus nunca existiu, só podemos concluir que esta tese é
tão podre que não conta com o apoio nem daqueles que estão mais inclinados a
engolir incondicionalmente qualquer ataque à fé cristã como sendo verdadeiro, e
muito menos convenceria um cristão,
que não tem a tendência de aceitar fácil qualquer ataque à fé. A verdadeira
razão para a qual nem o próprio Dawkins ache que Jesus não existiu é porque
isso só passou a ser questionado seriamente a partir de meados do século XX,
sendo tal tese sustentada somente pelos ateus mais doentes e fanáticos nas
últimas décadas – um nível de fanatismo e cegueira tão alto que não convence
nem o próprio Dawkins.
A própria Enciclopédia britânica
emprega vinte mil palavras para descrever a pessoa de Jesus. Essa descrição
supera em larga medida a dedicada a Aristóteles, Buda, Júlio César, Alexandre o
Grande, Maomé ou Napoleão. Após analisar as múltiplas fontes independentes que
atestam a historicidade de Jesus, ela registra:
“Esses relatos independentes
comprovam que nos tempos antigos até mesmo os adversários do Cristianismo
jamais duvidaram da historicidade de Jesus, a qual, pela primeira vez e em
bases inadequadas, veio a ser questionada por vários autores do fim do século
dezoito, do século dezenove e do início do século vinte"
O espaço não permite aqui uma
análise extensa do tema, que já foi abordado com profundidade em meu outro
livro (As Provas da Existência de Deus),
mas basta dizer que nos primeiros séculos até os não-cristãos atestavam a existência de Jesus e dos cristãos, de
modo que podemos provar a existência histórica de Jesus Cristo mesmo sem citar
nenhuma fonte cristã da época! Alguns que afirmaram a existência de Cristo
foram:
• Flávio
Josefo (37-100 d.C)
“Naquela época vivia Jesus, homem sábio,
de excelente conduta e virtude reconhecida. Muitos judeus e homens de outras
nações converteram-se em seus discípulos. Pilatos ordenou que fosse crucificado
e morto, mas aqueles que foram seus discípulos não voltaram atrás e afirmaram
que ele lhes havia aparecido três dias após sua crucificação: estava vivo.
Talvez ele fosse o Messias sobre o qual os profetas anunciaram coisas
maravilhosas”[21]
“Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia a
função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional
ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos,
eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano
concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia
morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes,
perante o qual trouxe Tiago, irmão de
Jesus chamado Cristo, junto com alguns outros, e, tendo-os acusado de
infração à lei, entregou-os para serem apedrejados”[22]
• Tácito
(55-120 d.C)
“Para destruir o boato (que o acusava do incêndio de
Roma), Nero supôs culpados e infringiu tormentos requintadíssimos àqueles cujas
abominações os faziam detestar, e a quem a multidão chamava cristãos. Este nome lhes vem de Cristo, que, sob o
principado de Tibério, o procurador Pôncio Pilatos entregara ao suplício.
Reprimida incontinenti, essa detestável superstição repontava de novo, não mais
somente na Judeia, onde nascera o mal, mas anda em Roma, pra onde tudo quanto
há de horroroso e de vergonhoso no mundo aflui e acha numerosa clientela”[23]
• Luciano de
Samosata (125-181 d.C)
“Foi então que ele [Proteus] conheceu a maravilhosa doutrina dos cristãos, associando-se a
seus sacerdotes e escribas na Palestina. (...) E o consideraram como protetor e
o tiveram como legislador, logo abaixo do outro [legislador], aquele que eles
ainda adoram, o homem que foi
crucificado na Palestina por dar origem a este culto (...) Os pobres
infelizes estão totalmente convencidos que eles serão imortais e terão a vida
eterna, desta forma eles desprezam a morte e voluntariamente se dão ao
aprisionamento; a maior parte deles. Além disso, seu primeiro legislador os
convenceu de que eram todos irmãos, uma que vez que eles haviam transgredido,
negando os deuses gregos, e adoram o
sofista crucificado vivendo sob suas leis”[24]
“Os cristãos,
vocês sabem, adoram um homem neste dia – a distinta personagem que lhes
apresentou suas cerimônias, e foi
crucificado por esta razão”[25]
• Plínio, o
Jovem (61-114 d.C)
“É meu costume, meu senhor, referir a ti tudo aquilo
acerca do qual tenho dúvidas... Nunca presenciei a julgamento contra os cristãos... Eles admitem que toda sua
culpa ou erro consiste nisso: que se reúnem num dia marcado antes da alvorada,
para cantar hino a Cristo como Deus...
Parecia-me um caso sobre o qual devo te consultar, sobretudo pelo número dos
acusados... De fato, muitos de toda idade, condição e sexo, são chamados em juízo
e o serão. O contágio desta superstição invadiu não somente as cidades, mas
também o interior; parece-me que ainda se possa fazer alguma coisa para parar e
corrigir”[26]
• Imperador
Trajano (53-117 d.C)
“Nenhuma pesquisa deve ser feita por essas pessoas,
quando são denunciados e culpados devem ser punidos, com a restrição, porém,
que quando o partido nega-se a ser um cristão,
e deve dar provas de que ele não é (que é adorando nossos deuses), ele será
absolvido no chão de arrependimento, embora ele possa ter anteriormente
efetuadas suspeitas”[27]
“No exame de denúncias
contra feitos cristãos, querido Plínio, tomaste o caminho acertado. Não
cabe formular regra dura e inflexível, de aplicação universal. Não se pesquise.
Mas se surgirem outras denúncias que procedam, aplique-se o castigo, com essa
ressalva de que se alguém negar ser cristão e, mediante a adoração dos deuses,
demonstrar não o ser atualmente, deve ser perdoado em recompensa de sua emenda,
por muito que o acusem suspeitas relativas ao passado. Não merecem atenção
panfletos anônimos em causa alguma; além do dever de evitarem-se antecedentes
iníquos, panfletos anônimos não condizem absolutamente com os nossos tempos”[28]
• Suetônio
(69-141 d.C)
“O Imperador Cláudio expulsou de Roma os Judeus que
viviam em contínuas desavenças por causa
de um certo Cresto[29]”[30]
“Os cristãos,
espécie de gente dada a uma superstição nova e perigosa, foram destinados ao
suplício”[31]
“Nero infligiu castigo
aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica”[32]
• Mara
Bar-Serapião (73 d.C)
“Que vantagens os atenienses obtiveram em condenar
Sócrates à morte? Fome e peste lhes sobrevieram como castigo pelo crime que
cometeram. Que vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao pôr fogo em
Pitágoras? Logo depois sua terra ficou coberta de areia. E que vantagem os
judeus obtiveram com a execução de seu
sábio Rei? Foi logo após esse acontecimento que o reino dos judeus foi
aniquilado[33]”[34]
• Talmude
(Século I d.C)
“Na véspera da
páscoa, eles penduraram Yeshua [Jesus] de Nazaré, sendo que o arauto esteve
diante dele por quarenta dias anunciando (Yeshua de Nazaré) vai ser apedrejado
por ter praticado feitiçaria e iludido e desencaminhado o povo de Israel. Todos
os que sabiam alguma coisa em sua defesa vieram e suplicaram por ele. Mas nada
encontraram em sua defesa e ele foi pendurado à véspera da páscoa”[35]
“Mestre, tu deves ter ouvido uma palavra de minuth (heresia); essa palavra deu-te
prazer, e foi por isso que foste preso. Ele (Eliezer) respondeu: Akiba, tu
fizeste-me recordar o que se passou. Um dia que eu percorria o mercado de
Séforis, encontrei lá um dos discípulos
de Jesus de Nazaré; Tiago de Kefar Sehanya era o seu nome. Ele disse-me:
está escrito na vossa lei (Deuteronômio 23.18): Não trarás salário de
prostituição nem preço de sodomita à casa do Senhor teu Deus por qualquer voto.
Que fazer dele? Será permitido usá-lo para construir uma latrina para o Sumo
Sacerdote? E eu não respondi nada. Disse-me ele: Jesus de Nazaré ensinou-me
isto: o que vem de uma prostituta, volte à prostituta; o que vem de um lugar de
imundícies, volte ao lugar de imundícies. Esta palavra agradou-me, e foi por
tê-la elogiado que fui preso como Minuth (herege)”[36]
• Rei Abgar V
(4 a.C – 50 d.C)
“Abgar, toparca da cidade de Edessa, a Jesus Cristo, o excelente médico que
surgiu em Jerusalém, salve! Ouvi falar de ti e das curas que realizas sem
remédios. Contam efetivamente que fazes os cegos ver, os coxos andar, que
purificas os leprosos, expulsas os demônios e os espíritos imundos, curas os
oprimidos por longas doenças e ressuscitas os mortos. Tendo ouvido falar de ti
tudo isso, veio-me a convicção de duas coisas: ou que és Filho daquele Deus que
realiza estas coisas, ou que és o próprio Deus. Por isso escrevi-te pedindo que
venhas a mim e me cures da doença que me aflige e venhas morar junto a mim. Com
efeito, ouvi dizer que os judeus murmuram contra ti e te querem fazer mal.
Minha cidade é muito pequena, é verdade, mas honrada e bastará aos dois para
nela vivermos em paz”[37]
Isso tudo sem mencionar as
declarações de Talo e Flêgão sobre o eclipse que ocorreu na hora da
crucificação de Cristo, ou Celso em sua discussão com Orígenes, ou o ossuário
de Tiago, o irmão de Jesus, que foi comprovado
verdadeiro em julgamento. Tudo isso é abordado com mais detalhes em meu
outro livro, e aqui eu não estou considerando nenhuma fonte cristã da época
(como a Bíblia ou os Pais da Igreja), o que elevaria o número enormemente, uma
vez que quase todas as fontes que possuímos dos personagens da antiguidade são
de seguidores (Sócrates, por exemplo, possui poucas referências antigas além de
Platão, Aristóteles e outros seguidores de sua filosofia).
A situação fica ainda mais
crítica para os neo-ateus quando comparamos as fontes que atestam a
historicidade de Cristo com as que atestam a historicidade de outros
personagens antigos que são aceitos totalmente pelos neo-ateus, que não colocam
objeções à sua historicidade. Alexandre, o Grande, só possui registros que
datam de 300 a 500 anos após sua morte, e mesmo assim os ateus creem fielmente
que Alexandre existiu, embora nem todos creiam que Jesus – excepcionalmente
mais citado que Alexandre – tenha existido.
Ou nada melhor que compararmos
Jesus com o imperador romano da época,
Tibério César. Enquanto temos no mínimo 15 fontes não-cristãs de conhecidos
escritores mencionando Jesus em um período de até 150 anos depois de sua morte,
para Tibério temos apenas nove
fontes não-cristãs que abrangem essa mesma época! Se contássemos
as fontes cristãs desta mesma época, os que mencionam Jesus superam de goleada
os que mencionam Tibério, em uma proporção de 43 para 9! Mas é claro que os
neo-ateus dão total credibilidade à historicidade de Tibério, enquanto
questionam a existência de Jesus.
Possuímos muito mais provas da
existência de Jesus do que temos de Sócrates, Pitágoras, Platão, Aristóteles,
Alexandre, Tibério ou praticamente todos os grandes nomes da época, mas os
ateus não pensam duas vezes na hora de crer na existência dos outros, e de questionarem a existência de Jesus. Infelizmente alguns pensam que a confirmação histórica de
um personagem é simples, quando não é. Nem todos da época sabiam escrever
(muitos eram analfabetos), e a possibilidade de um escrito da época se
preservar até hoje é difícil – tal coisa só aconteceu com os mais notórios e
famosos escritores da época, e muitos deles tiveram muitos manuscritos perdidos
com o tempo.
Nós só temos uma única cópia de
Tácito, e se esta uma única cópia não tivesse se preservado ninguém teria nada
para falar sobre ele, e logicamente não saberíamos que ele falou de Jesus em
seus escritos. E ele pode ter falado muito mais em outros escritos, que nós não
temos acesso porque se perderam com o tempo. Até mesmo do famoso Platão, nada
mais temos senão sete cópias de seus escritos. Ele certamente escreveu muito
mais, mas a maior parte se perdeu, e se não fosse essas sete preservadas nós
não teríamos quase nada a falar sobre Platão. E mesmo com a enorme dificuldade
de uma cópia antiga se preservar em longo prazo, nós temos dezenas de
evidências da existência de Jesus, muito mais do que possuímos dos personagens
antigos que os ateus acreditam terem mesmo existido.
Em síntese, tudo o que Dawkins
faz em seus ataques à Escritura é reafirmar argumentos antigos – e
ultrapassados – contra a Bíblia, alguns dos quais nem ele mesmo acredita, e
outros que ele sequer sente segurança em afirmar como sendo assim, preferindo
dizer que alguns “teólogos acadêmicos” creem deste jeito, ou citar um ou outro
nome isolado (como o de Ehrman) para dizer aquilo que ele mesmo não é capaz de afirmar por conta própria, por não ter um
mínimo de conhecimento teológico que seria necessário para sustentar tais
alegações como sendo verdadeiras ou falsas.
Dawkins cita em seu favor
os “teólogos” A. N. Wilson e Robin Lane Fox, que são tão inexpressivos que
ninguém da comunidade teológica os leva a sério. Como Robertson assinala, “usar
Free Inquiry, A. N. Wilson e Robin
Lane Fox como suas fontes sobre material bíblico é como me sugerir que aqueles
que querem descobrir acerca da evolução devem apenas ir ao website Answers in Genesis[38]”[39].
Wilson e Fox representam uma minoria insignificante e tendenciosa de teólogos,
que para nós tem tanta relevância quanto o Answers
in Genesis tem para os evolucionistas, mas Dawkins os cita como fossem os
supra-sumo da teologia, como se fossem os teólogos mais sérios e qualificados, apenas porque concordam com a sua opinião
infundada.
Mesmo sem conhecimento de causa,
Dawkins prefere se lançar no vazio e crer
(pela fé) que estes argumentos vão colar bem para os seus leitores. E, se
não colar, a culpa não é dele: é dos “teólogos acadêmicos”, é de Bart Ehrman, é
do tal de Robert Gillooly que ninguém conhece, é do “famoso” professor G. A.
Wells que descrê na existência de Jesus e que não é acreditado nem pelo próprio
Dawkins. É de se impressionar que isto seja considerado o melhor que os ateus
são capazes de fazer.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")
- Veja uma lista completa de livros meus clicando aqui.
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[1]
Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho
fé suficiente para ser ateu.
[2] ibid.
[3] Colin Hemer, The Book o/ Acts in the Setting o/ Hellenistic History (Winona
Lake, Ind.:
Eisenbrauns,1990).
[4] Roman Society and Roman Law in the New
Testament. Oxford: Clarendon, 1963, p. 189.
[6]
Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho
fé suficiente para ser ateu.
[7]
O quadro abaixo foi elaborado por Geisler e Turek no livro acima mencionado.
[8]
Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho
fé suficiente para ser ateu.
[9]
Marcelo Berti. O que Ehrman disse? O que
Ehrman não disse? Disponível em:
http://vimeo.com/9831765
[10]
D. Diehl, Res gestae Divini Augusti. Das Monumentum Ancyranum. Kleine Texte für theologische und
philologische Vorlesungen und Hebungen (H. Lietzmann). BonnXXIXs
1918, 10-13.
[11]
Ver também: Tito Lívio, Epístola 137;
Tácito, Anais 1, 31, 33.
[12]
Na verdade, leis estúpidas e estranhas existem até hoje.
A Lei Municipal 1840/95 (Barra do Garças, MT) de 5 de setembro de 1995 criou um
aeroporto alienígena como reserva para pouso de OVNIs. O leitor pode ver outras
leis “estranhas” aqui: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/quais-sao-as-leis-mais-estranhas-do-brasil
[14]
Contra Marcião, Livro IV, 7.
[17]
Concordância de Strong, 1805.
[18]
Mateus quis resumir a genealogia de
modo a dar 14 gerações de Abraão até Davi, de Davi até a deportação para a
Babilônia e da deportação para Jesus (Mt.1:17). Lucas, por outro lado, preferiu
elaborar uma lista mais completa, que remetesse desde Adão até Jesus.
[19]
“Gnose” (de onde vem o termo “gnósticos”) significa “conhecimento”.
[20]
Algumas das doutrinas inventadas pelos gnósticos e escritas em seus livros a
partir do século II d.C são: (1) Jesus era “casado” ou “teve um caso” com Maria
Madalena; (2) Não existe ressurreição física dos mortos; (3) Jesus não veio em
carne, mas era um espírito; (4) A salvação não é através da fé em Jesus Cristo,
mas por meio do conhecimento; (5) O Deus do AT não é o mesmo Deus do NT; (6) A
natureza humana é dualista (criam em um espírito ou alma imortal que
supostamente habita no corpo humano de cada um de nós). O mais impressionante é
que as doutrinas gnósticas, ou boa parte delas, continuam sendo cridas por
parte dos que se dizem cristãos, que ainda mordem a isca lançada pelos
gnósticos no século II. Teorias da conspiração, crendices baseadas em apócrifos
escritos mais de um século depois da morte de Cristo e doutrinas
pseudo-bíblicas ainda são vez por outra ensinadas nas igrejas ou aceitas pelo
povo em geral.
[21]
Antiquites, VIII, III.
[22]
Antiguidades, 20.9.1.
[23]
Tácito, Anais , XV, 44 trad. 1 pg. 311; 3.
[24]
Passagem do Peregrino, 11 e 13.
[25]
A Morte do Peregrino, 11-13.
[26]
Epístola X, 97.
[27]
Plínio, o Jovem, L, 10:97.
[28]
“Documentos da Igreja Cristã” (p.30).
[29]
“Cresto” era um erro ortográfico comum do nome “Cristo”. Este acontecimento (da
expulsão dos judeus de Roma por causa de Cristo) também foi narrado por Lucas
no livro de Atos dos Apóstolos (At.18:2).
[30]
A Vida dos Doze Césares.
[31]
Suetônio, Vida dos doze Césares, n. 25, p. 256-257.
[32]
ibid.
[33]
O acréscimo que diz que “logo depois deste acontecimento o reino dos judeus foi
aniquilado” não deixa dúvidas em torno da questão do “sábio Rei” ser Jesus,
pois de fato poucos anos após a morte de Cristo os judeus foram destruídos
pelos romanos, em 70 d.C, e não há qualquer outro registro histórico de algum
outro importante judeu que tenha sido considerado “rei” e que tenha sido
executado próximo a 70 d.C – além de Jesus.
[34]
Em um carta escrita a seu filho, que está guardada no Museu Britânico.
[35]
Sinédrio da Babilônia, 43ª.
[36]
Sanhedrim 43ª.
[37]
GHARIB, Os Ícones de Cristo, p. 43.
[38]
Answers in Genesis é o maior website criacionista nos Estados Unidos.
[39]
David Robertson, Cartas para Dawkins, Carta
5.
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