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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Há mais de duas décadas, John Stott
escrevia o famoso livro cristão “Crer é Também Pensar”, onde demonstrava,
através de inúmeros argumentos e raciocínios bíblicos, que a fé não é algo que
se creia irracionalmente, totalmente desprovido de evidências, mas algo que se
fundamenta e é apoiado também pela razão. Alguns teólogos contestam isso,
sempre sugerindo o texto de João 20:29, em que Jesus diz a Tomé:
“Porque me viu, você
creu? Felizes os que não viram e creram” (João 20:29)
No entanto, Tomé não era alguém que
não tinha evidência nenhuma da ressurreição de Jesus. Ele tinha o testemunho
ocular de todos os outros discípulos,
que haviam radicalmente mudado de ânimo ao verem que Cristo estava vivo. Jesus
não disse para Tomé crer sem
evidência alguma. Da mesma forma, ele não nos pede para crer sem evidências. Em
meu livro anterior, “As Provas da Existência de Deus”, discorri por todo o
capítulo 5 e 6 sobre as evidências da ressurreição de Jesus[1].
Se Jesus não tivesse ressuscitado e
seus discípulos tivessem inventado uma estória sobre a ressurreição, eles não
teriam perdido a primeira oportunidade em que se viram em “apuros” para negar a
fé no Salvador. Ninguém aceita sofrer e
morrer por causa de algo que sabe que é uma mentira. No entanto, os
discípulos sustentaram a crença na ressurreição de Jesus até o último instante
de suas vidas, o que é uma evidência da
honestidade e sinceridade de seus testemunhos sobre a ressurreição de Jesus e
seus vários aparecimentos pós-ressurreto. Se os discípulos de Jesus tivessem
negado a fé nele ao serem perseguidos e condenados à morte, saberíamos que a
ressurreição era meramente uma estorinha inventada.
O que os “céticos” querem que
acreditemos é que uma dúzia de discípulos atravessaram a guarda romana bem
armada, que guardava vigia do túmulo ao custo de sua própria vida, rolaram a
enorme e pesada pedra que fechava o sepulcro, roubaram o corpo de Jesus para
inventarem uma estória da ressurreição e depois sofreram por toda a vida e
morreram por esta mentira fabricada intencionalmente. Não é preciso ser muito
cético para perceber que esta visão não é nem um pouco plausível. A não ser
para quem esteja preso em um pressuposto de que intervenções divinas não são
possíveis, a ressurreição de Jesus é a alternativa mais provável.
Em suma, o que Jesus estava dizendo a
Tomé não era para que este cresse sem evidências,
mas sim que ele não precisava de uma evidência
extraordinária para crer – bastava seguir o curso natural das evidências
que já tinha em mãos. Da mesma forma, nós não vemos Jesus pessoalmente (eu,
pelo menos, nunca o vi!), mas não precisamos vê-lo pessoalmente para crer que
ele existiu historicamente (temos centenas de provas históricas a este
respeito) ou que ele ressuscitou dentre os mortos (temos evidências lógicas e
científicas sobre isso também)[2].
A fé não é antagônica à razão, mas, em um sentido bíblico e cristão, fé é
confiar naquilo que você tem boas razões para crer.
Essa é a grande falácia no sistema
neo-ateísta: eles pensam que é necessário evidências
extraordinárias para crer em Deus. Muitos por aí dizem que creriam se Deus
(ou um anjo, conforme outras versões) aparecesse diante deles, fisicamente. Nós
já vimos que isso é um blefe, porque, mesmo se isto acontecesse, eles
continuariam descrendo do mesmo jeito. Essas mesmas pessoas que dizem que
“creriam se vissem um Ser transcendental pessoalmente” são as mesmas que acusam
de “alucinação” e “delírio” aquelas outras que afirmam terem visto de fato um anjo pessoalmente, ou seja,
mesmo que esses ateus vejam um anjo eles não creriam na existência do anjo, mas
pensariam que se trata de alguma alucinação ou algo do tipo. Logo, o “desafio”
do ateu, no fundo, não passa de um blefe.
Mas há outros problemas com a tese da
“evidência extraordinária”. Isso porque, em primeiro lugar, ela parte do
princípio de que Deus quer se mostrar
pessoalmente a todo mundo, e então, se não o vemos, é porque Ele não existe.
Mas quem disse que Deus iria querer aparecer
a todos, deste jeito? De onde eles tiraram a ideia de que Deus é obrigado a se
mostrar desta forma? E se Deus
simplesmente tivesse boas razões para não querer aparecer tão abertamente deste
jeito? Se Deus aparecesse a todo mundo desta forma tão “extraordinária”,
ninguém poderia honestamente decidir crer ou não crer – esta decisão estaria
pré-determinada, pois seria, na prática, impossível
não crer. O livre-arbítrio do homem seria violado, e este não é o modus operandi da atuação divina. Deus
não costuma violentar o
livre-arbítrio de suas criaturas. Se Deus existe, ele vai se revelar conosco
através das coisas criadas, e não por violação do livre-arbítrio.
De que forma ele vai se revelar
através das coisas criadas? Não estando dentro
delas, o que seria uma contradição de termos. Se o Universo é criação de
Deus, nós não poderíamos encontrar Deus em alguma parte dentro do Universo, da
mesma forma que não encontramos os arquitetos ou engenheiros de uma casa por
meio de suas paredes ou teto, mas nem por isso concluímos que aquela casa não
tem arquitetos e engenheiros! Um ser que cria a matéria não pode ser
contingente a ela. Se Deus criou toda a matéria, ele necessariamente tem que ser
independente dela, assim como o arquiteto é independente de sua obra, e não
parte da parede da casa. Da mesma forma, o pintor não é parte do quadro
pintado. Ele é externo à sua própria criação.
É por isso que Deus é, por definição,
imaterial e transcendental. Essa é a razão pela qual ele teve que se
transformar em um homem (na pessoa de
Jesus) quando veio a terra, ao invés de vir como Deus.
Ninguém fala melhor sobre isso do que
C. S. Lewis, quando disse:
“Procurar Deus – ou o
Céu – pela exploração espacial é como ler ou assistir todas as peças de
Shakespeare na esperança de encontrá-lo num dos personagens, ou Stratford num
dos lugares. Shakespeare está de certa forma presente em todos os momentos de
cada peça. Mas nunca está presente da mesma maneira que Falstaff ou Lady
MacBeth (personagens criados por ele). Tampouco está difuso em uma peça como
uma espécie de gás”[3]
Podemos saber que Deus existe, ou que
há uma forte possibilidade dele existir, através de argumentos como o
cosmológico, o teleológico, o moral, as profecias cumpridas na Escritura, as
evidências da ressurreição de Jesus e a própria intuição que nos diz que há um
Deus e que este Universo é um projeto, e
não um fruto do acaso ou sorte – mas não podemos encontrá-lo literalmente em
alguma parte do Universo, razão pela qual ele nunca vai aparecer, como Deus, a alguma pessoa da terra.
Para além disso, podemos dizer que Deus de fato já apareceu física e
pessoalmente entre nós, na pessoa de Jesus Cristo. Aqueles que vivam na época
viram os milagres, e nós que vivemos hoje podemos confirmar que estes milagres
aconteceram porque as testemunhas oculares destes milagres não hesitaram em
permanecer firmes nestes testemunhos mesmo diante da perseguição e morte.
Deus, portanto, se revela (não-fisicamente)
na natureza (argumento cosmológico e teleológico), se revela em nossos corações
(argumento da lei moral), se revela nas Escrituras (argumento das profecias
cumpridas) e se revela na pessoa de Jesus Cristo (argumento da historicidade e
ressurreição de Jesus). O que mais os ateus querem? Seja lá o que for, de uma
coisa podemos ter certeza: eles não tem desculpas para a descrença, pois não é
por falta de evidências que eles não creem. Eles estão, como já dizia o
apóstolo Paulo, “indesculpáveis” (Rm.1:20).
Como se tudo isso não fosse
suficiente, compare essas coisas com as possibilidades do inverso delas ser verdadeiro. Isso mesmo: inverta o quadro, e faça
o ceticismo deles se voltar contra eles mesmos. Seja cético em relação às
teorias dos céticos. Este é o maior problema dos neo-ateus: eles não são
suficientemente céticos. Eles são demasiadamente céticos em relação às crenças
cristãs, mas nem um pouco céticos em
relação às suas próprias crenças. Quem,
em sã consciência e em juízo perfeito, sem nenhuma influência externa ou
pressupostos, iria realmente acreditar que todo o Universo, ou qualquer coisa
que seja, foi criado do nada? Quem,
honestamente falando, iria pensar que “era uma vez o nada... e, de repente, Bang –
uma matéria surgiu!”? Ninguém. Se isso já é ridículo pensando no senso comum de “nada” (i.e, um “espaço
vazio”), imagine então com aquilo que realmente
a ciência entende por “nada” – i.e, sem tempo, sem espaço, sem matéria! Crer
que o Universo surgiu disso é,
realmente, um delírio!
Ou então pense no argumento
teleológico, mais uma vez. Com tantas constantes antrópicas (que vimos no
capítulo 6), qual é a chance matemática de
tudo ter sido fruto do “acaso” ou de “muita sorte”? Nós vimos que a chance é,
literalmente, zero. Ou, se você preferir, uma chance de uma em zilhões. Mesmo assim, os ateus são
céticos em relação à crença em um Projetista, mas são extremamente crédulos em
relação às suas próprias crenças cegas no acaso. Se os “céticos” fossem céticos
para com as suas próprias teses, eles seriam os primeiros a perceber o quão
estúpidas elas são, e seriam também os primeiros a admitir que a crença em Deus
é mais racional.
Mas eles estão cegos, porque exercem
ceticismo somente para um lado, e nenhum ceticismo
para com o outro. Isso faz com que eles rejeitem as evidências para o
Cristianismo e adotem crenças que não tem qualquer evidência, e que realmente
não tem cabimento nenhum no campo da razão. Um diálogo fictício entre um ateu e
um cristão publicado na internet resume isso na seguinte fala do ateu:
“Eu acredito que houve
uma explosão espontânea, que não sabemos o que a gerou, e que a energia dessa
explosão se converteu em matéria, de uma maneira que ainda não sabemos, e que a
força aleatória geral deu origem a pequenos sistemas de ordem, de uma maneira
que ainda não sabemos, e que esses pequenos sistemas de ordem se reuniram, não
sabemos como, para formar essa perfeita harmonia, que ainda não sabemos como
funciona”[4]
Você pode fazer o mesmo com todos os
outros argumentos presentes neste livro, e verá sempre uma possibilidade, no
mínimo, de 50% para mais a favor da fé cristã, e de menos de 50% para o contrário ao que está sendo argumentado.
Na vida real, ninguém precisa de evidências “extraordinárias” para crer em
algo. Basta que este algo seja mais lógico e coerente, com mais chances de
existir do que o que está em oposição a isso, que nós já aceitamos por ser o
mais plausível. Por exemplo, quando você está fazendo uma prova de vestibular,
você marca uma opção mesmo quando não tem 100% de certeza que ela é a correta.
Se você está em dúvida entre a alternativa “A” (com 70% de chances) e a “B” (com
30% de chances), você não fica sem marcar e nem corre para marcar a “B” por não
estar 100% seguro quanto à alternativa “A”. Você simplesmente marca a “A”.
Se você parar para pensar, verá que em
tudo nessa vida você opta por aquilo que é mais
provável, ao invés de optar pelo “menos provável” ou por deixar de optar
quando “não tem certeza” de algo. Isso é muito comum na teologia também. Há
muitos textos bíblicos que são passíveis de duas ou mais formas diferentes de
interpretação, e neste caso cabe ao intérprete analisar ambos os argumentos e
decidir pela exegese mais provável. Ele segue as evidências, mesmo quando as
evidências não são “esmagadoras”, ou quando não há unanimidade a respeito. Eu
penso que há realmente evidências esmagadoras a favor da existência de Deus
pelo campo da razão, mas, mesmo que essas evidências não chegassem a 100%, elas
ainda assim estariam bem acima dos 50% e, por isso, seria mais plausível crer em Deus do que não crer.
É como demonstrado no quadro abaixo:
OPÇÃO RACIONAL
(Mais Plausível)
|
OPÇÃO IRRACIONAL
(Um Delírio)
|
Algo criou
o Universo
|
Nada criou
o Universo
|
Nada
vem do nada
|
O
Universo inteiro veio do nada
|
Toda
a complexidade e perfeição do Universo atestam a existência de um Projetista
|
É
tudo fruto do acaso, ou existem infinitos universos paralelos e nós tivemos a
sorte de estarmos no “universo certo”!
|
As
centenas de profecias bíblicas que se cumpriram se cumpriram porque Deus
preza pelo cumprimento da Sua Palavra
|
Todas
as profecias bíblicas cumpridas se cumpriram por acaso e sorte
|
A
moralidade objetiva existe, e ela é reflexo da natureza imutável de Deus
|
A
moralidade é subjetiva e fabricada pelos caprichos do homem
|
A
vida surgiu de outra vida (Deus)
|
A
vida surgiu da não-vida
|
Seres
conscientes e racionais foram criados por um Ser consciente e racional
|
A
consciência e a racionalidade “evoluíram” da matéria inorgânica e
completamente irracional
|
Os
discípulos deram a vida pelo evangelho porque viram o Jesus ressurreto
|
Os
discípulos inventaram uma estória da ressurreição para depois sofrerem e
morrerem por ela
|
À luz destas e de outras comparações que poderíamos fazer, quem está delirando? Qual das duas visões um verdadeiro cético deveria ter desconfiança? Os céticos “autointitulados” tem razões para permanecerem “céticos” em relação ao Cristianismo, quando o que defendem é indiscutivelmente mais irracional? Qual das duas visões exige mais fé?
Assim como Geisler e Turek, eu não tenho fé suficiente para ser ateu! Sou
também obrigado a concordar com Robertson quando ele diz que “ser ateu exige uma grande dose de fé”[5]!
A “evidência extraordinária”, como vemos, não está na conta dos cristãos, mas
dos ateus. É mais “extraordinário” crer que algo vem do nada do que crer que
vem de um Ser eterno e não-causado. Se alguma coisa precisa de uma “evidência
extraordinária” é a alegação dos ateus, e não a nossa! Deus é a hipótese mais
simples se comparado com a sua
negação.
Este é o problema dos ateus: eles
consideram apenas Deus em si, e não Deus em
relação com aquilo que está em oposição a ele. Alguém que só viveu no
deserto e nunca viu o gelo na vida poderia considerar uma “alegação
extraordinária” demais se alguém lhe dissesse que existem enormes espaços
geográficos totalmente cobertos de gelo, mas, se alguém lhe mostrasse uma
evidência (fotos, vídeos, testemunhas oculares, etc), a crença em um Pólo Sul,
apesar de lhe parecer “extraordinária” demais, lhe seria mais provável em relação à sua negação, onde se veria
forçado a negar todas as fotos, vídeos, testemunhos, etc.
Da mesma forma, a crença em Deus pode
parecer “extraordinária”, mas é menos extraordinária
do que seria imaginar que tudo o que vemos veio do nada, que a nossa
consciência simplesmente “surgiu” (sabe-se lá como) da matéria inorgânica, ou
na possibilidade matemática de todas as profecias bíblicas terem se cumprido
por puro acaso. Deus se torna mais simples em
relação à hipótese oponente, e é isso o que importa. No fim das contas, os
dois – cristão e ateu – têm fé em algo, mas o cristão tem uma fé racional, enquanto o ateu tem uma fé irracional no “acaso”, que chega a ser quase uma birra para
aceitar qualquer coisa que não implique na existência de Deus, ou, como disse
Robertson, o “TMD”: Tudo-menos-Deus!
Você pode perceber isso sempre que assiste
a um programa de televisão em que algum neo-ateu é entrevistado. Quando alguém
pergunta: “O que existia antes do Universo existir?”, o ateu logo responde:
“Não sei”. Mas, na verdade, esse “não sei” é uma resposta falsa, pois o que ele
realmente crê é que “não sei, mas com
certeza não foi Deus!”. Eles fingem ser somente ignorantes, quando na
verdade são tendenciosos também: eles se fecham a qualquer possibilidade de
Deus estar envolvido. São os pressupostos
deles (de que Deus não existe) que os fazem responder “não sei” a esta
pergunta e ainda assim dizer com tanta convicção que “não foi Deus” (de outra
forma não seriam ateus, que significa
“não-Deus”!).
Em termos simples, o ateu é alguém que
mantém uma fé irracional em qualquer
coisa contanto que esta coisa não seja Deus, enquanto o teísta é simplesmente
alguém que, seguindo todas as evidências, conclui que o Universo surgiu por uma
causa eterna, não-causada, e também racional, que explica a racionalidade do
próprio Universo e a consciência dos seres criados. Isso é o teísmo. Essa é a fé racional.
Mas como chegamos ao Deus cristão, revelado em Jesus Cristo
na cosmovisão cristã? Por que Deus não seria somente alguém que criou o
Universo com todas as suas leis, que depois nos criou e se ausentou da criação,
deixando as coisas como estão, sem intervir em nada? Por que o “Deus
verdadeiro” teria que ser o de uma religião específica, e não o Deus dos
deístas, que na descrição de Dawkins...
“O
Deus deísta é um físico que encerra toda a física, o alfa e ômega dos
matemáticos, a apoteose dos projetistas; um hiperengenheiro que estabeleceu as
leis e as constantes do Universo, ajustou-as com uma precisão e uma antevisão
extraordinárias, detonou o que hoje chamamos de big bang, aposentou-se e ninguém nunca mais soube dele”
Por que esse não seria o “verdadeiro Deus”?
Porque é irracional crer que alguém
teria o trabalho de fazer tudo aquilo para depois “se aposentar e ninguém nunca
mais saber dele”. Em termos gerais, coisas criadas por alguém são coisas cuidadas por alguém. Você não apenas
compra ou adota um cachorro ou gato de estimação para depois largá-lo na rua;
ao contrário, você cuida dele com o
carinho de um pai. Ou então, se você for um empreendedor que decide abrir um
negócio, você não vai abrir o negócio e depois abandoná-lo e não querer nem
saber mais dele; ao contrário, você irá se
envolver com este negócio, ainda que nomeie outros para administrarem a
empresa.
Com Deus é a mesma coisa. Ele cuida de
nós como um pai, e se envolve em seu projeto assim como o dono de uma empresa
interage com os seus liderados. Nós somos os administradores desta terra, assim
como os gerentes administram uma empresa, mas isso não significa que o dono não
queira saber da empresa ou a tenha abandonado! Dizer que Deus criou todo o
Universo e as criaturas, para depois deixá-los a esmo, seria como dizer que
Bill Gates, após criar a Microsoft, chutou o balde e não ficou nem aí com a
continuidade deste projeto. Mas se é ridículo pensar isso sobre Bill Gates,
quanto mais seria pensar isso de Deus, que criou algo tão imensuravelmente
maior e mais importante, e que tem muito mais condição de cuidar da sua própria
criação!
Se nós temos um forte instinto de
cuidar daquilo que é nosso e de administrar aquilo que nós criamos, então com
toda a probabilidade Deus não é alguém ausente que não se importa com a sua
criação, mas sim um Pai que cuida com amor e se envolve de alguma maneira com o
seu projeto. Isso, junto ao argumento da moralidade (que já vimos no capítulo 7
deste livro), nos leva à crença de que Deus é mais que um Projetista: ele é um
ser pessoal. E, se Deus é um ser
pessoal, nós deveríamos esperar que ele se relacionasse com a criação de alguma
forma que não ficasse ausente. É daí que surgem as religiões, cada qual
afirmando possuir este meio de transmissão das palavras de Deus para com o
coração do homem.
Mas como podemos saber que o
Cristianismo é a religião verdadeira, e não tantas outras milhares de religiões
que já existiram ou que ainda existem no mundo? É aí que regressamos ao ponto
já exposto na introdução ao capítulo 9 deste livro: o Cristianismo é a única
religião que pode realmente ligar o
homem a Deus. É inegável que o ser humano se afundou no pecado e que caminha
para a morte. Deus poderia ter deixado as coisas por isso mesmo, mas, se o
fizesse, não seria onibenevolente. Deus deu uma opção ao homem, o homem optou
errado, mas Deus lhe dá uma chance de reverter esta condição espiritual.
Mas, agora que o homem já havia decidido ficar longe de Deus, o próprio
homem em si perdeu a possibilidade de se religar com o Criador por seus
próprios meios. A humanidade já fez a sua escolha, e essa escolha é pelo pecado.
Nós pecamos todos os dias. Se há alguma religação
(religião) a ser feita, ela deve
partir de Deus para com o homem, e não do homem para com Deus. É por isso
que Deus teve que enviar Jesus e condicionar a salvação unicamente à fé nele:
porque, se não fosse por isso, não haveria outro jeito. Se alguma religião é
verdadeira, essa religião tem que ser o Cristianismo – todas as outras partem
de baixo para cima, no que o homem pode
fazer para Deus (salvação por obras), e não no que Deus fez para com os homens (salvação pela fé).
A salvação não pode ser pelas obras
porque, por melhor que nossas obras sejam, elas nunca serão perfeitas para nos
ligar a um Deus perfeito. As obras não são capazes de fazer este elo. Todos nós
pecamos, e pecamos todos os dias. Mesmo alguém que vive de fazer caridade e que
não comete nenhuma falha grave, também perde a cabeça de vez em quando, e com
certeza já mentiu, já xingou alguém, já julgou o próximo, já roubou coisas
pequenas e já cometeu delitos que são suficientes para obstruir este canal das
boas obras que nos levam a Deus. Por melhor que as nossas obras possam ser,
elas nunca serão totalmente perfeitas, pois estamos sempre mesclando nossas
boas ações com más ações. Talvez estas obras imperfeitas fossem suficientes
para nos ligar a um Deus imperfeito, mas somente obras perfeitas podem nos ligar a um Deus perfeito.
Pense de outra maneira. Norman Geisler
e Frank Turek deram uma ilustração muito boa no livro “Não tenho fé suficiente
para ser ateu”. Eles escrevem:
«Um jovem é levado
diante de um juiz por dirigir embriagado. Quando seu nome é anunciado pelo
meirinho, percebe-se um suspiro no tribunal – o réu é o filho do juiz! O juiz
espera que seu filho seja inocente, mas a evidência é irrefutável. Ele é
culpado.
O que o juiz pode fazer?
Ele é pego num dilema entre a justiça e o amor.
Uma vez que seu filho é
culpado, merece punição. Mas o juiz não deseja punir seu filho por causa do
grande amor que tem por ele.
Relutantemente anuncia:
– Filho, você pode
escolher entre pagar uma multa de R$ 5.000,00 ou ir para a cadeia — o filho
olha para o juiz e diz:
– Mas, pai, eu prometi
que vou ser bom de agora em diante! Serei voluntário no programa de
distribuição de sopa aos necessitados. Vou visitar uma pessoa de idade. Vou
abrir uma casa para cuidar de crianças que sofreram abuso. Nunca mais vou fazer
outra coisa errada de novo! Por favor, deixe-me ir, implora o filho. Nesse
momento, o juiz pergunta:
– Você ainda está
bêbado? Você não consegue fazer tudo isso. Mas mesmo que pudesse, os seus atos
bondosos futuros não podem mudar o fato de que você já é culpado por ter
dirigido embriagado.
De fato, o juiz percebe
que boas obras não podem cancelar más obras!
A justiça perfeita exige que seu filho seja punido por aquilo que fez. Sendo
assim, o juiz repete:
– Sinto muito, meu
filho. Assim como eu gostaria de permitir que você fosse embora, estou atado
pela lei. A punição para esse crime é pagar R$ 5.000,00 ou ir para a cadeia –
diz o juiz. O filho apela a seu pai:
– Mas pai, você sabe que
eu não tenho R$ 5.000,00. Deve existir outra maneira de evitar a cadeia!
O juiz levanta e tira
sua toga. Desce do seu lugar elevado e chega no mesmo nível em que está seu
filho. Olhando bem direto em seus olhos, põe a mão no bolso, tira R$ 5.000,00 e
estende ao filho. O filho está surpreso, mas ele entende que existe apenas uma
coisa que pode fazer para ser livre: aceitar o dinheiro. Não há nada mais que
possa fazer. Boas obras ou promessas de boas obras não podem libertá-lo.
Somente a aceitação do presente gratuito de seu pai pode salvá-lo da punição
certa.
Deus está numa situação
similar à daquele juiz – ele está preso num dilema entre sua justiça e seu
amor. Uma vez que todos nós pecamos em algum momento de nossa vida, a infinita
justiça de Deus exige que ele puna aquele pecado. Mas por causa do seu amor
infinito, Deus deseja encontrar uma maneira para evitar nos punir.
Qual era a única maneira
de Deus permanecer justo mas não nos punir por nossos pecados? Ele deve punir
um substituto sem pecado que voluntariamente aceita a punição que nos é devida
(sem pecado significa que o substituto deve pagar por nossos pecados, e não
pelos seus próprios; voluntário porque seria injusto punir um substituto contra
sua vontade). Onde Deus pode encontrar um substituto sem pecado? Não na
humanidade pecaminosa, mas apenas em si mesmo. Na realidade, o próprio Deus é o substituto. Assim
como o juiz desceu de seu lugar para salvar seu filho, Deus desceu dos céus
para salvar você e eu da punição. Todos nós merecemos a punição. Eu mereço.
Você merece.»
Este é o ponto em questão: boas obras
não cancelam más obras. O homem ainda seria merecedor da morte ainda que
tivesse cometido um único pecado contra Deus em toda a vida – e sabemos
perfeitamente bem que cometemos muito
mais erros do que isso! Portanto, se existe um Deus perfeito, nós só
podemos chegar até ele através de um caminho perfeito. Não por nossas próprias
obras, porque nossas obras não são perfeitas. Isso descarta logo de cara todas
as religiões que ensinam salvação por obras (na prática isso significa todas, exceto o Cristianismo). Ensinar
salvação por obras é dizer que podemos fazer por nós mesmos aquilo que jamais
poderíamos fazer por nós mesmos.
Mas, se não é por obras, como seria? O
que poderia ser este canal perfeito que nos ligaria a Deus? A resposta é curta
e objetiva: Jesus. Nossas próprias obras não são perfeitas para nos ligar a
Deus, mas as dele foram. Cristo pagou
o preço em nosso lugar, e é, portanto, somente pela fé nele que podemos ser
salvos. Jesus, ao descer à terra e viver uma vida perfeita, nos deu o presente
da salvação, e agora cabe a nós somente aceitarmos
este presente, pela fé nEle. Essa fé não é uma “boa obra”, é somente a não rejeição ao sacrifício de Cristo em
nosso favor. Ninguém, portanto, pode se ensoberbecer pensando que conseguiu a
salvação pelo esforço próprio.
Roger Olson faz a seguinte analogia:
“Imagine
um aluno que esteja passando fome e prestes a ser despejado de seu dormitório
por falta de dinheiro. Um professor bondoso dá a esse aluno um cheque de R$
1.000,00 - o suficiente para que ele pague seu aluguel e coloque uma boa
quantidade de comida em sua dispensa. Imagine, pensando mais além, que o aluno
que foi resgatado leve o cheque até o banco, assine e deposite o cheque em sua
conta (o que faz com que seu extrato fique com R$ 1.000,00 positivos). Imagine
também que o aluno então começa a andar pelo campus se gabando de que ele
mereceu receber a quantia de R$ 1.000,00. Qual seria a resposta das pessoas
caso soubessem a verdade acerca da situação? Eles acusariam o aluno de ser
miserável e ingrato. Mas suponha que o aluno diga: ‘Mas o fato de eu endossar o
cheque e o depositar em minha conta é o fator decisivo para que eu conseguisse
o dinheiro, então eu fiz uma boa obra que mereceu, ao menos, parte do dinheiro,
não mereci?’ Ele seria ridicularizado e possivelmente ainda seria ignorado
pelos demais por ser uma pessoa insensata”[6]
Essa doutrina da substituição penal é
rechaçada pelos neo-ateus, que não conseguem entender o conceito de salvação
pela graça (através da fé), e não
pelo merecimento (através das obras).
Christopher Hitchens mostrou não entender nada do conceito cristão de “perdão”
ao escrever:
“Em meu livro, argumento
que posso pagar sua dívida ou até mesmo ir para a prisão em seu lugar, mas não
posso absolvê-lo do que você fez. Infelizmente, essa fantasia exorbitante
chamada ‘perdão’ anda de mãos dadas com uma advertência igualmente extrema – a
saber, a rejeição de uma oferta tão sublime”[7]
Às pessoas como Hitchens, C. S. Lewis
já respondia:
“A que a maioria das
pessoas conhecem é a que já mencionei – a de que fomos absolvidos do castigo
porque Cristo se ofereceu para ser castigado em nosso lugar. Ora, à primeira
vista, parece uma teoria bastante tola. Se Deus estava disposto a nos perdoar,
por que não nos perdoou de antemão? E por que, além disso, castigou um inocente
em lugar dos culpados? Se pensarmos o castigo na acepção policial e judicial da
palavra, isso não tem sentido nenhum. Por outro lado, se pensarmos numa dívida,
é muito natural que uma pessoa, possuindo bens, salde os compromissos daquela
que não os possui. Ou, se tomarmos a expressão ‘cumprir a pena’ não no sentido
de ser punido, mas sim no de ‘aguentar as consequências’ e ‘pagar a conta’ -
ora, todos sabem que, quando uma pessoa cai num buraco, o problema de tirá-la
de lá geralmente recai sobre os ombros de um bom amigo. Em que tipo de ‘buraco’
caíra o homem? Ele procurara ser auto-suficiente e se comportara como se
pertencesse a si mesmo. Em outras palavras, o homem decaído não é simplesmente
uma criatura imperfeita que precisa ser melhorada; é um rebelde que precisa
depor as armas. Depor as armas, render-se, pedir perdão, dar-se conta de que
tomou o caminho errado, estar disposto a começar uma vida nova do zero – só
isso pode nos ‘tirar do buraco’. Esse processo de rendição, movimento de marcha
a ré a toda velocidade, é o que o Cristianismo chama de arrependimento”[8]
Sendo o Cristianismo a única religião
que pode efetivamente religar o homem
a Deus (que é o significado de “religião”), o Cristianismo é, portanto, a única
religião verdadeira, o que significa nada a mais do que dizer que o
Cristianismo é a única forma de realmente
religar o homem a Deus. Todas as outras religiões são tentativas
(frustradas) para fazer a mesma coisa por outros meios, que começam pelo homem
e não por Deus. Dizer que as outras religiões são “falsas” não significa dizer
que elas não sejam religiões, ou que elas não tenham algo de bom, significa
simplesmente dizer que elas não funcionam
quando o assunto é salvação, ainda
que possam trazer algo de bom em outras áreas. Assim como há várias chaves numa
casa, mas só uma funciona para abrir a fechadura da porta da sala, assim também
Jesus é a única “chave” que nos abre a porta da salvação – nenhuma outra
funciona. É por isso que Jesus disse:
“Eu sou o caminho, a
verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, a não ser por mim” (João 14:6)
Jesus é o canal perfeito. Jesus é a
chave que abre a porta. Jesus é o caminho que nos leva a Deus. Jesus é aquele
que nos livra da morte, pois morreu para que nós pudéssemos viver. Ele pagou o
preço do pecado para que aqueles que nele creem não pereçam, mas tenham a vida
eterna. Quanto, porém, àqueles que deliberadamente escolheram rejeitá-lo, só há
um preço a pagar pelos seus pecados: a morte. A morte é o salário do pecado
(Rm.6:23), é o curso natural de todo ser humano que tenta alcançar a Deus por
meio de si mesmo (obras imperfeitas), e não por meio de Cristo (obras
perfeitas).
As outras chaves podem até servir para
abrir outras portas, mas aquela porta
é só aquela chave que abre. Da mesma
forma, há muitas religiões que estimulam o homem a fazer o bem ao próximo e que
servem para muitas coisas declaradamente boas – e nenhum cristão contesta isso
–, mas só há uma religião que possa ligar o homem a Deus na questão de
salvação, que é a fé em Jesus Cristo, onde está fundamentado aquilo que
conhecemos como Cristianismo. Uma vez que Deus decidiu perdoar o mundo através
de Jesus, os que forem condenados serão condenados pelo perdão que recusaram. O
prof. Rodrigo Silva ilustrou isso com uma parábola, onde diz:
«Uma
vez, nos Estados Unidos, durante a época do faroeste, um homem foi condenado à
forca porque lutou contra um outro e o matou. Aquele homem foi condenado e
alguns da cidade pediram clemência por aquele homem e escreveram uma carta ao
governador, dizendo:
–
Perdoe este homem, por favor.
O
governador falou:
– Eu
acho que eu vou perdoá-lo, mas antes de perdoá-lo deixe-me levar o perdão
dentro de uma Bíblia e ver quem eu estou perdoando.
O
governador então se disfarçou de padre (ou de pastor, segundo outras versões),
colocou a carta de perdão dentro da Bíblia e foi até a cadeia. Quando ele
chegou na cadeia, o homem começou a gritar lá do fundo:
–
Saia daqui! Eu não tenho nada pra te ouvir!
O
governador respondia:
–
Calma, meu amigo. Eu tenho algo interessante para você aqui.
Mas
o prisioneiro continuava gritando:
–
Suma daqui! Eu cuspo em você e nesse Deus!
–
Calma, meu filho. Deixe eu te mostrar o que eu tenho aqui dentro.
–
Eu não quero saber de você! Se você vier aqui eu jogo alguma coisa em você!
E
aquele líder religioso, que na verdade era o governador, tristemente deu as
costas e saiu. Quando ele se afastou, o carcereiro chegou ao prisioneiro e
disse:
–
Você é um louco! Você é um louco!
–
Por quê?
–
Aquele cara que você mandou embora não era um líder religioso. Sabe quem era
aquele homem? Ele era o governador do estado, e ali dentro estava a sua carta de
perdão. Você ia estar solto!
No
dia da execução, deixaram o prisioneiro falar suas últimas palavras. Ele olhou
para a multidão e disse:
–
Eu quero apenas dizer nesta manhã que eu não estou sendo condenado aqui à morte
por causa do crime que eu cometi. Eu estou sendo condenado por causa do perdão
que eu recusei.
Quando
a condenação ocorrer, ninguém será condenado por causa dos pecados que cometeu,
mas sim pelo perdão que recusou»[9]
Quando queremos transmitir uma
mensagem a alguém, geralmente fazemos isso através de duas maneiras: falando com ela pessoalmente, ou escrevendo
uma carta a ela. Deus fez as duas coisas: ele enviou Jesus, que é “a imagem do Deus invisível” (Cl.1:15), e também
a Bíblia, que é a carta escrita de Deus para nós, onde está registrada as
próprias coisas que foram ensinadas por Jesus enquanto ele esteve entre nós. É
por isso que faz sentido acreditar na Bíblia: ela é a única forma de
transmissão das palavras de Deus, razão pela qual ela mesma tem sido chamada de
a “Palavra de Deus”. A lógica segue como demonstrada a seguir:
(a) Deus existe.
(b) Deus é um ser
pessoal, que deseja interagir com os seres criados.
(c) Ele fez isso
pessoalmente através de Jesus e também pelas Escrituras.
(d) Se Deus é
perfeito, seus meios de interação devem ser perfeitos.
(e) Portanto, Jesus e
a Bíblia são perfeitos (livres de erros).
Negar que o meio de transmissão da
palavra divina (Escrituras) seja perfeito é o mesmo que dizer que Deus, um ser
perfeito, não teve a capacidade de transmitir sua mensagem com exatidão. É por
isso que cremos que, embora a Bíblia seja um livro humano e escrito por homens,
ela é também um livro divino e inspirado por Deus. Em outras palavras, Deus
respeitou o estilo e personalidade de cada escritor sacro, mas preservou a Sua
Palavra de conter erros teológicos, ou seja, de obstruir este canal pelo qual o
homem pode ter conhecimento de Deus e das coisas divinas. É, portanto,
logicamente consistente crer na inspiração da Bíblia, uma vez que se crê na
existência de Deus e na sua revelação através de Jesus.
Mas por que deveríamos crer em tudo? Por que não pegamos simplesmente
as partes que gostamos na Escritura, e rejeitamos as que não gostamos? Afinal,
não é exatamente isso o que os teólogos liberais tem feito nos últimos séculos?
É aí que entra a fé, mas, novamente,
uma fé que não vem desprovida de razão. Se
a Bíblia é a Palavra de Deus, e Deus é inteiramente perfeito, então a Bíblia
deve ser inteiramente perfeita, e não “perfeita em partes”. Em outras palavras,
não existe a “Palavra de Deus dentro das
Escrituras”; ao contrário, a Palavra de Deus é a Escritura! Por isso, embora seja absolutamente impossível
termos confirmações históricas ou arqueológicas de todas as [milhares de] coisas que a Bíblia narra, sabemos que tudo
o que a Bíblia narra é a verdade, porque é a palavra de Deus.
Como vimos brevemente no capítulo 3,
absolutamente tudo o que a arqueologia já descobriu confirmou os relatos bíblicos, e não houve até hoje uma única
descoberta arqueológica que contradissesse
a Bíblia. Mesmo assim, é virtualmente impossível que os arqueólogos
descubram tudo sobre a Bíblia, da
mesma forma que nem os evolucionistas têm todos
os fósseis de todas as espécies
de transição, mas creem na existência destes fósseis mesmo assim. Nós não temos
evidências de tudo, mas o que temos
de evidências nos assegura a confiabilidade daquilo que ainda não temos.
Por exemplo, nós não temos alguma
“prova” de que Jesus vai voltar, mas a volta de Jesus faz parte das profecias
de Daniel, que acertou todas as
outras profecias sobre tudo aquilo
que profetizou (v. cap. 3). Se Daniel acertou nas profecias de todas as outras
coisas que profetizou, por que deveríamos duvidar desta profecia em especial? Pense na seguinte analogia: se alguém
no século XV tivesse predito a ascensão de Hitler, o nazismo, o comunismo, a
queda do muro de Berlim (na data certa), a destruição das Torres Gêmeas e o fim
do mundo para 2100, alguém que viveu naquela época iria desdenhar (e com razão)
da veracidade destas profecias, mas alguém que vivesse no século XXI e tivesse
testemunhado o cumprimento de todas as
outras predições estaria certamente mais atento – para dizer o mínimo – sobre a
profecia final (futura).
Da mesma forma, Daniel previu com
exatidão todos os acontecimentos já detalhados no capítulo 3 deste livro, os
quais se cumpriram com perfeição, e também
previu a volta do Messias, no final da “septuagésima semana”. Se as outras
predições de Daniel tivessem falhado, os ateus teriam razões de sobra para
questionar também o cumprimento da última e mais importante de todas as
profecias. Mas como todas elas acertaram, são os cristãos que tem excelentes razões para confiarem no cumprimento da
profecia.
De certa forma, os cientistas
(inclusive os cientistas ateus) também trabalham com certo conceito de “fé”.
Não é possível provar, cientificamente
falando, que as leis do Universo se aplicam em todo o Universo e desde o início dos tempos. A ciência não
conseguiu explorar todas as partes do
Universo para descobrir isso, e nem existe desde sempre para nos revelar tudo com
precisão sobre o passado. Isso é tomado como verdade a priori para a ciência ter fundamento, ou, em outras palavras, é
uma fé racional. Funciona basicamente
assim: se esta parte do Universo
funciona deste jeito neste lugar, então
presumivelmente este padrão se aplica às outras partes do Universo também.
Da mesma forma, os cristãos não têm
“provas”, por exemplo, de que uma virgem deu à luz ao Messias, mas se o padrão da Escritura é revelar a verdade,
então este relato deve ser verdade também. Absurdo por absurdo, nós e os ateus
estamos no mesmo patamar: da mesma forma que ninguém nunca viu uma virgem dar a
luz, também ninguém até hoje viu alguma coisa surgir do nada. Mas os ateus
creem no absurdo de que todo o Universo veio do nada, e ao mesmo tempo zombam
do outro “absurdo” da virgem dar à luz! Eles zombam dos “absurdos cristãos”,
mas eles mesmos creem em seus próprios “absurdos”. Se fôssemos crer ou descrer
em algo somente pelo quanto que este algo parece ser “absurdo”, jamais
sairíamos do zero a zero.
Mas há uma coisa que desempata o jogo:
os milagres. Os ateus não creem em milagres (violação das leis naturais), e
portanto não podem explicar seus próprios “absurdos”. Em outras palavras, o
ateu se vê obrigado a aceitar seus absurdos por fé, mesmo não crendo em “fé”;
ele tem que crer em um “milagre”, mas não crê em milagres. O cristão, por outro
lado, por crer em Deus, aceita a possibilidade de milagres existirem, pois, se
Deus existe, milagres são possíveis. Não há, portanto, um “paradoxo” para o
cristão: tudo se desvenda quando passamos a crer que é possível que “absurdos” aconteçam de vez em quando.
Um programa de computador tem certos
padrões bem fixos e que não mudam, mas se o dono
ou o programador deste programa decidir mudar o sistema criado por ele, ele
pode fazer isso quando quiser e como quiser. Da mesma forma, o Universo
apresenta certos padrões fixos (dentre os quais certamente incluímos que
virgens não dão à luz!), mas o criador de toda a matéria tem o poder de alterar
os padrões em situações extraordinárias, e é a esse desvio do “padrão” que damos
o nome de “milagre”. Em outras palavras, as possibilidades de uma virgem dar à
luz é a mesma de a vida ter surgido ao acaso ou do nada criar algo: a diferença
é que eu creio em milagres porque acredito em Deus, tornando isso possível, e
os ateus não creem em Deus, permanecendo na impossibilidade – mas crendo assim
mesmo.
O “absurdo” ateísta continuará
“absurdo” para sempre e nunca deixará de ser “absurdo”, porque eles tiram
“Deus” do jogo. O “absurdo” cristão pode continuar a ser “absurdo” diante dos padrões naturais, mas existe
a possibilidade de acontecer pela intervenção
sobrenatural aos padrões naturais, porque existe um Deus que faz com que
milagres (intervenções) sejam possíveis. O “impossível” ateísta nunca deixará
de ser “impossível”, mas, se Deus existe, “tudo é
possível para aquele que crê” (Mc.9:23). Essa é a diferença entre o
cristão e o ateu: a fé torna possível os “impossíveis” do teísta, mas o
impossível para ateu continua sendo impossível para sempre, e ele mesmo assim é
obrigado a continuar crendo nisso que é impossível!
Alguns ateus ainda questionam a Bíblia
dizendo: “Mas você crê em um livro velho escrito por homens? Você acredita em
um pedaço de papel?”. Eles não têm ideia de quão ridícula que é essa afirmação.
Todos os livros ateístas que eles seguem também foram escritos por homens – e
“A Origem das Espécies” está se tornando mais velha a cada dia. Isso não
significa que seja errado seguir estes livros ou que estes livros
necessariamente não contenham a verdade – da mesma forma que a Bíblia, também escrita
por homens e há muito tempo atrás, tem que ser avaliada pelo seu conteúdo, e
não por argumentos simplórios e superficiais.
Em uma de suas palestras, o prof.
Adauto Lourenço contou:
“Se
eu lhe perguntasse: ‘Qual é a sua idade?’, você iria dizer quantos anos você
tem. Mas se eu lhe perguntasse: ‘Por favor, me prove!’, você poderia pegar sua
certidão de nascimento, sua cédula de identidade ou sua carteira de motorista e
falar: ‘Aqui está a evidência’. E eu diria o seguinte: ‘Você acredita em um
pedaço de papel? Você está dizendo que toda a evidência que você tem da sua
idade é um pedaço de papel?’. Então você responde: ‘Também tem meu pai e minha
mãe’. E eu responderia: ‘Pior ainda, então você crê em testemunhos também!’. Você acredita em um pedaço de papel e
acredita em testemunhas. Por que então tem tanta dificuldade em crer na Bíblia,
que também é um pedaço de papel e foi escrita por testemunhas?”[10]
O que deve ser levado em consideração
não é se a Bíblia é “um pedaço de papel”, se foi escrita por homens ou se é um
livro velho. O que importa é o seu conteúdo, e seu conteúdo revolucionou todo o
mundo moderno tanto moral quanto socialmente, transformou milhões de vidas para
melhor, trouxe consolo aos que estavam sem esperança, trouxe vida aos que estavam
desanimados, trouxe amparo para os que estavam aflitos, mudou a perspectiva do
mundo no que tange a assuntos globais como escravidão, opressão de mulheres,
opressão aos pobres, preconceito racial, infanticídio e imoralidade, e seus
ensinamentos sobre amar ao próximo como a si mesmo e de dar a outra face
modificaram totalmente a forma de pensar até então, e criaram uma base sólida
para a moralidade e prosperidade do século XXI, que agora está sendo ameaçada
pelos humanistas neo-ateus. Se esse for o pedaço de papel em
questão, então sim, eu tenho muito orgulho em seguir um livro velho, escrito
por homens e incomparável a qualquer outra obra já escrita pelo homem.
Dawkins ainda diz em seu livro:
“Existem
coisas estranhas (como a Trindade, a transubstanciação, a encarnação) que não
nos cabe compreender. Nem tente entendê-las, porque a tentativa pode
destruí-las. Aprenda a se satisfazer chamando-as de mistérios”
É interessante notar que,
ironicamente, quem realmente “aprende a se satisfazer chamando de mistérios”
são os ateus. O próprio Dawkins costuma declarar sempre que o que havia antes
do Big Bang é um “mistério”, que a forma pela qual a primeira vida surgiu é um
“mistério”, que a existência de múltiplos universos é “possível, mas não sabemos”, e sempre quando é
inquirido sobre temas como livre-arbítrio (que é negado por deterministas como
ele) responde dizendo que “não sei”, ou que “não sabemos” (como se ele falasse
por toda a comunidade científica!), ou a mais clássica de todas as desculpas:
“eu não estou interessado em debater sobre isso no momento”!
Na verdade, todo o ateísmo é um enorme e gigantesco mistério. Os ateus são os
mais crentes que existem, pois mesmo sem saber nada sobre coisa alguma, ainda
assim dizem com tanta segurança que Deus
não existe! O que pode explicar tanta certeza, mesmo sem saber nada sobre
nada? É simples: a fé. Os ateus têm fé, e
somente fé, de que Deus não existe, e
então, mesmo sem saber nada sobre qualquer assunto relevante, colocam essa fé ateísta
em ação para encher o peito e dizer: “Deus não existe”! A diferença é que o
cristão não hesita na hora de dizer que tem fé em alguma coisa, ele é
suficientemente honesto para reconhecer isso. O ateu, em contrário, é um crente
dissimulado, que não confessa sua própria fé, e nem quer admitir para os outros
que é ateu somente porque tem fé que Deus não existe, e por nenhuma razão além disso.
[1] No parágrafo seguinte farei uma exposição bastante
breve do argumento, que, é lógico, suscitará contra-argumentações, pois não é
possível abordar algo tão complexo dentro de tão poucas linhas. É por essa
razão que recomendo a leitura dos argumentos dentro de seu contexto mais amplo,
lendo a obra indicada ou acessando diretamente o conteúdo em meu blog sobre
ateísmo, nos seguintes links:
1) http://ateismorefutado.blogspot.com.br/2014/12/as-evidencias-da-ressurreicao-de-jesus.html
2) http://ateismorefutado.blogspot.com.br/2014/12/as-provas-da-autenticidade-do-sudario.html
1) http://ateismorefutado.blogspot.com.br/2014/12/as-evidencias-da-ressurreicao-de-jesus.html
2) http://ateismorefutado.blogspot.com.br/2014/12/as-provas-da-autenticidade-do-sudario.html
[2] Ver links acima.
[3] C. S. Lewis, Cristianismo
Puro e Simples.
[5] David Robertson, Cartas
para Dawkins, Segunda Carta.
[6]
Roger Olson, Contra o Calvinismo.
Editora Reflexão: 2013, p. 255-256.
[7] Christopher Hitchens, O Cristianismo faz bem para o mundo?
[8] C. S. Lewis, Cristianismo
Puro e Simples.
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