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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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No
livro “Em Guarda”, o apologista e filósofo cristão Wiliam Lane Craig afirmou
com razão:
“Há muitos anos Quentin Smith, um
filósofo ateu, sem a menor cerimônia, elegeu o argumento de Stephen Hawking contra
Deus, em ‘Uma breve história do tempo’, como ‘o pior argumento ateísta de toda
a história do pensamento ocidental’. Com o lançamento da obra ‘The God Delusion’ chegou o tempo, assim
creio, de livrar o argumento de Hawking do peso desse título e de passar o
título de pior argumento para a tese de Richard Dawkins”[1]
O
problema de Dawkins não é exatamente falta de inteligência – o que ele tem de sobra – mas falta de compreensão. C. S. Lewis (1898-1963),
embora jamais tenha ouvido falar de Dawkins enquanto vivo, parecia estar
falando dele quando escreveu que “tais pessoas
constroem uma versão de Cristianismo adequada a uma criança de seis anos e
fazem daquela o objeto de seu ataque”[2].
Como estes ataques são em geral vazios e desprovidos de argumentação sólida e
consistente, Dawkins precisa apelar. Como?
Pela força. Ele sabe que pela via intelectual estará fatalmente fadado ao
fracasso, então ele abre o jogo e mostra o seu Plano B, que é a censura e a
perseguição contra os religiosos.
Nada
do que ele escreveu em “Deus, um Delírio” é tão chocante quanto a sua apologia
explícita à repressão e ao cerceamento da liberdade e da livre expressão da
opinião, ao ponto de ele exaltar aqueles que dizem que a doutrinação infantil
deve ser proibida e punida pelo Estado. Ele cita Nicholas Humphrey, a quem
chama carinhosamente de “meu colega”, e
descreve que “ele prosseguiu, entrando em choque
com sua personalidade de liberal, na defesa de uma exceção importante: argumentar a favor da censura no caso
especial da educação moral e religiosa de crianças, e principalmente da
educação que a criança recebe em casa”.
Para
piorar as coisas, ele prossegue dizendo:
“Não devemos permitir que os pais
ensinem os filhos a acreditar, por exemplo, na veracidade literal da Bíblia ou
que os planetas governam sua vida, assim como não permitimos que eles arranquem
os dentes dos filhos ou os tranquem num calabouço”
Eles
defendem a ideia de que o Estado tem que intervir como um legítimo Estado
stalinista-ateu contra todas as formas de expressão religiosa no que tange ao
ensino que os pais cristãos dão aos seus filhos. Essa coação fascista realmente
só tem paralelo nos Estados oficialmente ateus ou no velho império romano que
perseguia os cristãos e vigiavam suas pregações, prendendo e até matando quando
descobriam que alguém estava ensinando o evangelho a outras pessoas. Os cristãos
já sofreram muito nas mãos de imperadores sanguinários e de ditadores
facínoras, e agora Dawkins faz de tudo para restaurar essa monstruosidade em
pleno século XXI, quando pensávamos que os monstros que tinham essa mentalidade
já haviam morrido. Não, eles não morreram. A mentalidade antirreligiosa de
intolerância e perseguição aos cristãos está mais viva do que nunca – eles
estão apenas esperando o momento mais oportuno para agir.
Dawkins
sabe que no campo argumentacional eles não prevalecem. Essa é a razão pela qual
há décadas os humanistas seculares se infiltraram nas escolas, colégios e
universidades para fazer doutrinação marxista e lavagem cerebral ateísta na
cabeça dos alunos, que saem dali pensando horrores do Cristianismo e flertando
com o neo-ateísmo. Até mesmo na teologia eles
se infiltraram, através da teologia liberal, que não crê em nada do que a
Bíblia ensina, e cujos ensinos desprezíveis acabam alienando o ingênuo
estudante de teologia que entrou ali sem entender de que se tratava de ateísmo
disfarçado de Cristianismo, sendo levado a perder a fé.
Mas
os neo-ateus perceberam que apenas a
doutrinação escolar não está sendo suficiente. Por maior que seja a lavagem
cerebral feita nos alunos, a maioria permanece cristã, e o ateísmo permanece
como minoria – em alguns países, uma minoria quase insignificante. Ainda era
preciso algo mais, alguma coisa que
conseguisse superar a doutrinação escolar, e foi aí que eles tiveram a
brilhante ideia de proibir os pais cristãos de educarem seus próprios filhos! Eles não se contentaram em somente tomar
conta das escolas: agora também querem entrar nos lares de cada família cristã
e regular aquilo que pode e o que não pode ser ensinado aos filhos, censurando
os ensinos de que a Bíblia é a Palavra de Deus.
Assim
você começa a perceber quem são os verdadeiros intolerantes, opressores e
fascistas nessa história toda. Os cristãos nunca tentaram impedir que os pais
ateus educassem seus filhos da maneira que bem entendessem, inclusive na crença
de que Deus não existe, caso assim desejassem. Eu nunca vi um cristão
esclarecido escrevendo um livro apregoando que o Estado deve censurar a
educação dos pais ateus para impedir que os seus filhos se tornem ateus como
eles. Mas, do outro lado, o maior ícone do ateísmo contemporâneo ensina isso
explicitamente. Dawkins não vê problema nenhum na doutrinação ateísta das crianças,
mas morre de medo da doutrinação cristã. Embora a doutrinação cristã seja
moralmente insuperavelmente superior à doutrinação ateísta, Dawkins quer que o
Estado dê um jeito nestes pais que insistem em pregar o amor de Jesus e a
moralidade cristã aos seus filhos!
Imagine
milhares, senão milhões, de mães e pais sendo presos pelo Estado por ensinarem
a verdade do evangelho a seus filhos. Este mundo tenebroso parece surreal, mas
foi realidade nos primeiros séculos de Cristianismo, foi realidade na União
Soviética ateísta, e continua sendo a
realidade em muitos países radicalmente muçulmanos. Nada do que Dawkins escreve
já não foi testado um dia. O diabo não tem criatividade, ele tem remakes. Tudo aquilo que os neo-ateus
sonham para o mundo de hoje já foi colocado em prática e sempre resultou em
terror, repressão e genocídio. Todos estes regimes terminaram no fracasso
moral, social e econômico, culminando em uma ruína total.
Só
um ignorante não percebe que Dawkins não tem ideias originais, mas somente uma
reprise de ideias tenebrosas que
levaram o mundo aos seus dias mais sombrios. Dawkins precisa tentar restaurar essas ideias fracassadas, porque sabe que
é somente deste jeito – na base da
força e da coerção – que pode conseguir calar a maioria religiosa, e fazer com
que o mundo se curve aos interesses de uma minoria neo-ateísta. Esse nível
máximo da apelação não seria necessário se eles não estivessem realmente
desesperados. Eles já fizeram de tudo e não conseguiram, e é por isso que
precisam atacar a família de uma vez.
Os
mais notáveis ateus do início do século passado previam que, dentro de uma ou
duas gerações, o mundo veria o despertar de uma nova era, em que deixaria o
“delírio” da fé de lado e caminharia para o ateísmo. Um século se passou desde
então, e o mundo de hoje é tão religioso quanto o mundo de ontem. As previsões
ateístas falharam miseravelmente. Foi assim que eles entenderam que a
doutrinação não basta: é preciso a repressão pelas mãos do Estado. Dawkins faz
parte desta nova geração que passou da fase um para a dois, que não apela
somente para a doutrinação, mas também para a coerção.
Eles
já aprenderam a lição de que somente no campo dos argumentos não prevalecem. Precisam
igualar a religião com o abuso infantil, como
Dawkins faz frequentemente em seu livro, sustentando que a educação religiosa
que os pais dão aos filhos é pior do
que um estupro literal que uma criança sofre sexualmente. Qual a finalidade
disso? Simples: se a educação cristã é pior
do que o estupro de crianças, e o estupro de crianças é punível com a
prisão, então os pais que doutrinam seus filhos no Cristianismo devem ser
presos também. A lógica ateísta é impecável.
Ainda
não vemos pais sendo presos acusados de “abuso infantil” por ensinarem aos seus
filhos o amor de Jesus, mas só porque os neo-ateus ainda são minoria e não tem
todo o poder político necessário para isso. Dê poder a eles, e você verá este
país se transformar em uma nova ditadura stalinista, nos mesmos moldes daquela
que queimou mais de 40 mil igrejas cristãs dentro de poucas décadas.
Imagine
um mundo que é exatamente aquilo que os neo-ateus defendem. Um mundo onde as
festividades religiosas (natal, páscoa, etc) são abolidas, onde os feriados
religiosos são eliminados, onde qualquer símbolo religioso na esfera pública é
aniquilado, onde há doutrinação escolar antirreligiosa nas escolas públicas,
onde as igrejas são fechadas ou até queimadas para não haver mais “abusadores
de crianças”, onde os pais cristãos são proibidos de expressar sua fé aos seus
próprios filhos, onde o Estado vigia e regula a vida privada de cada cristão e
censura as suas ideias e opiniões. Você pode pensar que estamos falando do
mundo utópico de Dawkins, mas esta é precisamente a descrição da União
Soviética de Stalin. Os neo-ateus sonham hoje com o mesmo mundo que já deu
errado ontem.
Se
os ateus pudessem colocar suas ideias
em prática hoje, eles fariam
exatamente o mesmo que os comunistas ateus fizeram no século passado. Uma
conversa em um grupo ateísta na internet chamado “O Ateu Responde” provou bem
este ponto. O moderador perguntou aos demais ateus:
“Se tivessem poder legislativo em assuntos de natureza
religiosa e de liberdade religiosa (seja o que for que se entenda por liberdade
religiosa), o que mudariam, alterariam, sugeririam?”[3]
As
respostas foram das mais esclarecedoras até as mais espantadoras:
Ateu 1 – “Proibira a religião”.
Ateu 2 – “Primeiro, acabava com a educação religiosa na escola pública.
Segundo, acabava com os privilégios e com os apoios do Estado às confissões
religiosas”.
Ateu 3 – “Uma vez que como espécie sofremos de falta de
disciplina e respeito pelo outro, proibiria qualquer manifestação de
religiosidade em local público”.
Ateu 4 – “Impor imposto sobre as celebrações religiosas”.
Ateu 5 – “Queimava a Concordata, tirava os subsídios e
benefícios fiscais às igrejas, acabava com os feriados religiosos ridículos, secularizava
no natal, proibia religião moral na escola, apenas para começar”.
Ateu 6 – “Eu metia a doutrinação como crime de 10 anos de
prisão”.
Ateu 7 – “A doutrinação infantil devia ser ilegal
definitivamente” (os pais não poderiam educar seus próprios filhos, e sim o
Estado ateu, para que eles não se tornassem cristãos quando crescessem).
Ateu 8 – “Iniciava um processo de desintoxicação da
sociedade, dada a intoxicação religiosa que ainda se faz sentir”.
Se
você pegar estes discursos reais, de ateus reais em uma página ateísta séria, e
colocá-los lado a lado com o discurso dos comunistas ateus do século passado
(que já vimos no capítulo 9 do livro), que queimaram dezenas de milhares de
igrejas e assassinaram dezenas de milhões de cristãos, não verá difereça alguma
– exceto, talvez, pelo fato de os militantes ateístas de hoje serem ainda mais
raivosos do que os de ontem. O discurso que está na boca de ambos é o mesmo. A
filosofia de ensino é a mesma. E a metodologia também tem de tudo para ser a
mesma – basta darmos poder a eles, que eles farão neste país a mesma coisa que
fizeram nos países onde tiveram este poder.
A
diferença entre Dawkins e Stalin é que Dawkins é um ateu antirreligioso que não pode colocar todas as suas ideias em
prática, ao passo em que Stalin era um ateu antirreligioso que pôde colocar todas as suas ideias em
prática.
David
Robertson sabiamente respondeu:
“Acusar os pais que buscam criar seus filhos no amor e na paz
de Cristo de serem abusadores de
crianças é desprezível (...) Eu ensino e continuarei a ensinar a meus filhos
que a Bíblia é verdadeira e o senhor ora me acusa de fazer-lhes mais mal do que
se eu abusasse sexualmente deles. Talvez no Impávido Mundo Novo do Estado Ateu
a polícia do pensamento religioso será mandada para rondar e se assegurar de
que a meus filhos estão sendo ensinados pensamentos ‘corretos’. Se é certo o
Estado arrebatar as crianças de pais que abusarem delas sexualmente, e se você
crê que educar um filho na fé cristã é mais abusivo, então logicamente deve
acreditar que o Estado devia ter o direito de remover os filhos de semelhantes
situações abusivas”[4]
Na
Arábia Saudita existe a “polícia religiosa”, que faz o seguinte: se você for
flagrado comemorando o natal, você vai preso; se você for pego comendo um
pedaço de bacon na sua casa, você vai preso; se você questiona o Alcorão ou
“blasfema” contra o Profeta, você vai mais
do que preso. Dawkins seguramente deve ser contra esta polícia religiosa
muçulmana da Arábia Saudita, mas parece não se tocar para o fato de que o que
ele propõe é muitíssimo semelhante a isso, com a diferença de que temos uma
polícia atéia ao invés de uma polícia muçulmana fiscalizando os cristãos.
Os
pais devem ter o direito de educar seus filhos e ensinar a eles aquilo que bem
entenderem, e não cabe a um neo-ateu discriminar aquilo que é “bom” daquilo que
é “ruim” de ser ensinado (se um neo-ateu pensa ser “ruim” o ensino cristão aos
seus filhos, um cristão pode pensar a mesma coisa a respeito do ensino ateu aos
filhos dele). Da mesma forma que temos o direito de educar nossos filhos sobre
os valores de vida, sobre boas maneiras, sobre matérias escolares e até mesmo
sobre time de futebol, também temos o direito de educá-los sob nossa própria
cosmovisão – o ateu tem o direito de ensinar a seus filhos a cosmovisão ateísta,
os pais baudistas a cosmovisão budista, os pais agnósticos a cosmovisão
agnóstica, os pais cristãos a cosmovisão cristã, e assim por diante. Pais
servem para isso; se não podem educar seus filhos sob sua perspectiva, não
servem para nada (o pai e a mãe se resumiriam ao papel de incubadores). Se os
filhos vão decidir seguir nesta cosmovisão quando crescerem e atingirem a
maturidade, aí é outra história – e eles também devem ter todo o direito de
mudarem de cosmovisão caso assim entendam ser necessário.
Por
fim, Dawkins cai no mais cúmulo do ridículo ao propor uma aberração dessas,
porque se seus argumentos (e dos neo-ateus em geral) fossem bons mesmo ele não se preocuparia com a educação
cristã às crianças, porque estas crianças cresceriam e se “libertariam” desta
“superstição” ao se depararem com os maravilhosos e impecáveis “argumentos”
neo-ateístas! Por exemplo, nenhum ateu tem medo que os pais ensinem seus
filhos que o Papai Noel existe (e muitos fazem isso realmente), porque eles
sabem que não há a mínima chance que a criança, ao crescer, continue crendo
nesta bobagem, porque as evidências de que o Papai Noel não existe são
esmagadoras. Se alguma criança acredita em Papai Noel, basta deixar o tempo
passar e ela crescer que fatalmente mudará de opinião, sem nenhum esforço. Não
é preciso o uso da força, nem da polícia, nem sequer de argumentos!
Se
Deus fosse um delírio e se a religião cristã fosse mesmo uma “superstição”,
como ele diz que é, então ele deveria ser o último a se preocupar com uma coisa
dessas. Ele deveria deixar que os pais ensinassem o Cristianismo a seus filhos
assim como deixa que ensinem sobre o Papai Noel, e bastaria deixar o tempo
passar que essas crianças, ao terem contato com a realidade e ao atingirem a
idade da razão, iriam abandonar o Cristianismo independentemente de quanta
doutrinação receberam em casa, da mesma forma que abandonam o Papai Noel ainda
que seus pais as tenham ensinado isso por toda a vida. Se Dawkins se preocupa
com isso, é porque ele não confia em seus próprios argumentos, que não são
suficientemente capazes de mostrar que “Deus é um delírio” a uma pessoa na
idade da razão, que já tem capacidade de rejeitar uma crença crida até então.
Será
que os argumentos ateístas são tão fracos que não são capazes nem de mostrar a
um adolescente na idade da razão que suas crenças cristãs são falsas, e que
seus pais o ensinaram errado até então? Se sim, então Deus não é um delírio,
pois qualquer delírio pode ser facilmente refutado por um bom argumento. Se
não, então eles não precisariam se preocupar com a “doutrinação infantil”,
porque estas mesmas crianças mudariam fatalmente de opinião ao atingirem a
idade da razão e conhecerem os “argumentos” ateístas, de modo que qualquer
doutrinação dos pais se tornaria inútil. A verdade nua e crua é que esses ateus
não confiam no taco deles, e por isso pensam que é mais fácil calar o outro na
força do que convencê-lo pela razão.
Ótimo texto,Lucas banzoli!!
ResponderExcluirObrigado :)
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