quinta-feira, 2 de abril de 2015

Por que existem ateus?


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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Diante do fato demonstrado de que nós nascemos intuitivamente teístas, devemos perguntar: Por que existem ateus? Do lado ateu, já mencionamos que há uma vantagem terrena não crer em Deus: você pode fazer o que quiser nesta vida sem ter que prestar contas a ninguém. Ao tirar Deus do jogo, você é o deus de si mesmo. Como disse Dostoiévski, “se Deus não existe, tudo é permitido”. Você não precisa seguir um código moral extraído de um livro como a Bíblia ou qualquer outro, nem tem obrigações sociais para com o próximo, nem a necessidade de se manter na linha e domar a si próprio: você pode ser aquilo que quiser ser. É deste princípio que surgiram os regimes mais genocidas da história da humanidade (especialmente os regimes comunistas-ateus). Eles simplesmente faziam tudo o que queriam fazer, e doa a quem doer. Tudo era permitido.

Por outro lado, creio que a maior parte da culpa que justifica a existência de ateus no século XXI é dos próprios cristãos, ou pelo menos de pessoas que se dizem cristãs. São atos vergonhosos como inquisição, cruzadas, venda de indulgências e de “relíquias” sagradas, sem falar em padres pedófilos e em televangelistas que ficam o dia inteiro pedindo dinheiro na televisão, que mancham a imagem do Cristianismo ao público externo, que decide ficar bem longe de tudo isso. Coisas como essas vão afastando as pessoas do evangelho de Jesus Cristo, embora elas não sejam o verdadeiro evangelho, mas uma réplica bem mal feita.

Na verdade, a grande maioria dos neo-ateus são apenas teístas com falta de respostas. São pessoas comuns, como eu e você, que também tem a tendência de crer em Deus, mas que não encontraram todas as respostas no Cristianismo, e por isso migraram para o ateísmo. São pessoas carentes de resposta, e essa carência não é culpa delas, é nossa, por darmos tão pouco valor à apologética em nosso cotidiano.

Você pode perceber isso facilmente apenas conversando com um ateu ou visitando uma página ateísta na internet. Você seguramente não vai encontrar um único argumento contra a existência de Deus, porque eles realmente não têm nada, mas irá ver ataques à Bíblia por todos os lados, sendo que a grande maioria destes ataques são somente concepções erradas ou falhas de interpretação no texto sagrado. Você então compreende que ele não é ateu porque tem argumentos a favor de seu ateísmo, mas sim porque não entende a Bíblia direito, e ao invés de deixar as coisas como estão prefere chutar o balde de um vez e virar ateu. Se as dúvidas fossem esclarecidas, eles não teriam nenhuma razão para serem ateus, e, de fato, não seriam.

Mas eu insisto em dizer que boa parte da culpa disso ocorrer não é do ateu em questão, que tem todo direito de rejeitar o Cristianismo caso o Cristianismo não ofereça respostas que lhes sejam satisfatórias e que sanem suas dúvidas na fé. O problema é que a Igreja cristã não dá respostas suficientes, e muitas vezes dá respostas erradas, que apenas servem para piorar as coisas. São essas respostas erradas que levam as pessoas a perder cada vez mais a fé em Deus, ou que chegam até mesmo a desconfigurá-lo, retratando-o como um monstro e não como um Deus de amor e justiça revelado nas Escrituras.

Eu já falei muito sobre isso em meu livro “Calvinismo ou Arminianismo – Quem está com a Razão?”[1], e nem de longe este é um local adequado para voltar a este debate que já leva séculos, mas volto a mencionar que o calvinismo, caso seja seguido à risca, danifica a figura de Deus como um Pai de amor e o apresenta de uma forma que faz com que entendamos por que existem tantos ateus. Calvino afirmava, sem medo, que todo o mal que acontece no mundo foi pré-ordenado por Deus, fazendo de Deus a causa final de todas as pestes, toda a fome, toda a dor e todo o sofrimento da humanidade. Alguns teólogos calvinistas chegam até a distorcer alguns versículos para passar a ideia de que Deus criou o mal!

Essa visão fria e desumana sobre Deus também prevalece na interpretação deles quanto ao destino daqueles que nunca ouviram falar de Jesus. Para eles, todos os índios que nunca ouviram falar do evangelho já estão fadados ao inferno. Isso também é parte daquilo que eles chamam de predestinação individual incondicional à salvação, ou seja, de que Deus elege uns para a salvação e outros para a condenação antes da fundação do mundo, como quem brinca de “bem-me-quer; mal-me-quer”. Há inclusive uma multidão de teólogos calvinistas que ensinam que Deus só ama os eleitos (se você não é um eleito, que pena), e que o texto de João 3:16, que diz que “Deus amou o mundo de tal maneira...” na verdade significa que “Deus amou os eleitos de tal maneira...”, e que dizem que Jesus só morreu pelos eleitos (expiação limitada).

Para eles, um texto como o de 1ª João 2:2, que diz que Jesus é “a propiciação pelos nossos pecados, e não somente pelos nossos, mas também pelos de todo o mundo”, na verdade quer dizer apenas que “ele é a propiciação pelos pecados dos eleitos, e não somente dos eleitos, mas de todos os eleitos...”. Pode parecer cômico, se não fosse trágico. Imagine um missionário pregando a um não-convertido “não-eleito”, e dizendo-lhe que Deus não lhe ama e que Jesus não morreu por ele! Tudo isso acaba, por razões óbvias, passando uma imagem de um Deus injusto, arbitrário e até mesmo mau. É óbvio que não é isso o que a Bíblia ensina (como foi demonstrado ao longo das 586 páginas em dois volumes do meu livro sobre o tema), mas é essa a imagem que acaba sendo transmitida a milhões de cristãos que acabam mergulhando em dilemas espirituais intransponíveis e, muitas vezes, migrando ao ateísmo como consequencia.

Há algumas semanas eu estava assistindo a um debate televisivo sobre batismo. Até aí, nada de mais. Pensei que fosse um daqueles típicos debates entre “imersão vs aspersão”, ou sobre o “batismo infantil”, mas me assustei quando vi que o debate, na verdade, era sobre se os bebês que morreram antes de ser batizados iriam ou não para o inferno! E para cair da cadeira de uma vez, tinha um pastor defendendo que sim, que os bebês não-batizados que morrem ainda bebês vão para o inferno, para serem atormentados “pelos séculos dos séculos”! Eu não quis nem assistir o resto do debate e não me interesso por nada do que o pastor calvinista possa ter usado para justificar essa aberração, também não dou a mínima para quais versículos bíblicos ele possa eventualmente ter usado e deturpado – isso é uma aberração moral e ponto final. Para o lixo qualquer argumento.

É lógico que nem todos os cristãos evangélicos (e, para dizer a verdade, nem todos os calvinistas também) acreditam que um bebezinho “não eleito” morra e vá para o inferno, onde sofrerá penas eternas de tormento – o que é o ápice da aberração, e me surpreende que ainda haja pessoas que creem nisso sem cauterizar sua própria consciência moral. No entanto, deixe por um momento de pensar sobre isso na perspectiva de “cristão esclarecido” e comece a pensar sobre isso na perspectiva de um ateu que estivesse ocasionalmente assistindo aquele canal naquele momento, e que pensasse que a teologia bíblica-cristã realmente dá base a uma insanidade dessas, onde bebês são lançados a um lago de fogo literal chamado de “inferno”, para ali serem atormentados para sempre, por terem tido a infelicidade de que seus pais não fossem cristãos! Esse ateu certamente sairia dali pensando que poderia se tornar qualquer coisa um dia, menos cristão. E eu ousaria dizer que ele está certo – exceto pelo fato de aquilo ali não ser Cristianismo, mas uma réplica mal feita.

Outra doutrina que tem afastado muitos cristãos piedosos da fé e que tem servido como alicerce ao ateísmo é a do inferno eterno, segundo a qual todos os que não creram em Jesus passarão por sucessivos tormentos infindáveis em um verdadeiro e literal lago de fogo e enxofre onde há choro e ranger de dentes eternamente, que colocaria no chinelo qualquer coisa que um grupo terrorista como o ISIS já possa ter feito ao queimar pessoas temporariamente, e, mais uma vez, impressiona muito que ainda existam cristãos que levem ao debate sério uma doutrina que só pode ser aceita por quem não pensa muito nela ou nas suas consequencias.

Tente ver uma pessoa queimando de verdade por dois minutos, e você não terá estômago para conseguir continuar vendo aquela pessoa sofrendo terrivelmente nem por dez segundos, enquanto as chamas devoram o seu corpo. Mesmo assim, boa parte dos cristãos não vê problemas em aceitar uma crença em que o tormento com fogo não é temporário, mas eterno, mesmo para aqueles que nunca ouviram falar de Jesus, ou que estão ali por não terem sido batizados, ou por não terem sido “eleitos desde antes da fundação do mundo”. Robert Leo Odom certa vez disse:

"Suponha, por exemplo, que o juiz de sua comarca sentenciasse um homem declarado culpado de assassinato a ser torturado continuamente dia e noite com água escaldante e ferros em brasa, a fim de mantê-lo sofrendo constantemente a mais torturante dor. O que os meios de comunicação teriam a dizer sobre isso? Qual seria a reação das pessoas em geral para com esse tipo de punição? Faz sentido dizer que o nosso Criador, que é um Deus de justiça e amor, poderia ser um monstro de crueldade pior do que o mencionado?"[2]

A situação chega a ser tão constrangedora que até Norman Geisler e Frank Turek, dois dos maiores expoentes da doutrina do tormento eterno, escreveram dizendo que “nós certamente não gostamos daquilo que a Bíblia diz sobre o inferno. Gostaríamos que não fosse verdade”[3]. Você tem que ler isso de novo: “Nós certamente não gostamos daquilo que a Bíblia diz sobre o inferno... gostaríamos que não fosse verdade. Sim, é isso mesmo. Eu também fiquei chocado com tamanha honestidade intelectual da parte deles. São poucos os imortalistas que admitem isso. Para que um dos maiores apologistas cristãos de todos os tempos afirmasse explicitamente que há algo na Bíblia que ele certamente não gosta e que ainda gostaria que não fosse verdade, essa coisa em questão deve ser realmente terrível!

Um teólogo de plantão logo poderia protestar, alegando que “o inferno é bíblico”. Certo. Mas que tipo de inferno que é bíblico? O advogado do “tormento eterno” terá dezenas e dezenas de passagens que falam da existência do inferno (algo que nenhum aniquilacionista questiona!), mas, acredite se quiser, ele só terá dois versículos que aparentemente falam de tormento eterno! Um está no livro do Apocalipse (20:10), que é caracteristicamente extremamente hiperbólico e figurado, e que de nenhuma maneira retrata os acontecimentos de forma literal, a não ser que você creia que Jesus está no Céu em forma de cordeiro ensanguentado (Ap.5:6) com sete chifres e sete olhos (5:6), ou que criaturas dentro do mar falam e louvam a Deus (5:13), ou que as estrelas literalmente cairão na terra (6:13), ou que existem cavalos com cabeça de leão (9:17), ou que esses cavalos soltam fogo pela boca (9:17), ou que existem gafanhotos com rosto humano, cabelos de mulher e dentes de leão (9:7-8), ou que dragões perseguem mulheres grávidas no deserto (12:13), ou que a mulher grávida tem asas e voa (12:14), ou que os trovões falam (10:3), ou que altares falam (16:7), ou que duas oliveiras e dois candelabros soltam fogo pela boca (11:4-5). Bem, é melhor pararmos por aqui. Se você quiser continuar interpretando literalmente só o verso 20:10, fique à vontade!

O outro está em Mateus 25:46, que algumas versões lastimavelmente traduzem por “tormento” eterno, mas que no original grego está a palavra kolasin, que significa meramente “punição”, e não “tormento”. A palavra grega para “tormento” é basanos, e não kolasin! Em meu livro sobre o tema[4], que tem 806 páginas, eu mostro mais de dez léxicos do grego que mostram que kolasin e seus derivados eram usados no tempo do NT como sinônimo para a pena capital, o “despedaçamento” ou morte. Isso confirma e reforça o contraste bíblico que sempre foi entre “vida eterna vs morte eterna”, e nunca entre “vida eterna vs tormento eterno”[5]: 

CONTRASTE ENTRE VIDA ETERNA E MORTE ETERNA NA BÍBLIA
“Quem obedece aos mandamentos preserva a sua vida, mas quem despreza os seus caminhos morrerá (Provérbios 19:16)
“Quem permanece na justiça viverá, mas quem sai em busca do mal corre para a morte (Provérbios 11:19)
“Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu filho único, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna (João 3:16)
“Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo Espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis (Romanos 8:13)
“Porque o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Romanos 6:23)
“Que fruto vocês colheram então das coisas as quais agora vocês se envergonham? O fim delas é a morte! Mas agora que vocês foram libertados do pecado e se tornaram escravos de Deus, o fruto que colhem leva à santidade, e o seu fim é a vida eterna (Romanos 6:21,22)
“Pois para Deus somos o bom cheiro de Cristo nos que são salvos e nos que perecem. Para estes somos cheiro de morte; para aqueles, fragrância de vida (2ª Coríntios 2:15,16)
“Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá vida eterna (Gálatas 6:8)

Em outras palavras, o contraste entre vida eterna e morte eterna somente nos diz que um grupo (dos salvos) viverá para sempre, ao passo em que o outro grupo (dos perdidos) morrerá para sempre. Um herda uma vida, e esta vida é eterna (isso significa que a pessoa nunca mais vai morrer), enquanto o outro herda uma morte, e esta morte também é eterna (isso significa que a pessoa nunca mais vai viver). No primeiro caso há uma existência eterna, enquanto no segundo há uma inexistência eterna. A “morte eterna” não é um processo eterno de morte onde você está sempre morrendo e nunca morre de uma vez; ao contrário, é eterna nos efeitos – os efeitos desta morte são irreversíveis, sem volta, é para sempre.

Coincidência ou não, a Bíblia contém um arsenal de 152 versículos de aniquilacionismo dos ímpios[6], que provam que o destino final do não-salvo não é um tormento eterno em um inferno de fogo, mas sim a destruição (ou aniquilação) para sempre. Ela diz que os perdidos serão “exterminados” (Sl.37:9; At.3:23), “executados” (Lc.19:14,27), que “se farão em cinzas” (2Pe.2:6; Ml.4:3), que “desfalecerão como fumaça” (Sl.37:20; Sl.68:2), que serão “reduzidos a pó” (Sl.9:17; Is.5:24), que “desaparecerão” (Sl.73:17-20; Is.16:4,5), que serão “reduzidos a nada” (Is.41:11,12), que “deixarão de existir” (Sl.104:35) e que “serão como se nunca tivessem existido” (Ob.1:16). Certamente uma linguagem que não condiz com uma existência eterna no inferno!

Pedro chega até mesmo a dizer que Deus “condenou as cidades de Sodoma e Gomorra, reduzindo-os às cinzas, tornando-as como exemplo do que acontecerá com os ímpios (2Pe.2:6). Ele diz que os ímpios serão reduzidos às cinzas, e, como se isso não fosse suficientemente claro, compara ainda com o que aconteceu com as cidades de Sodoma e Gomorra, que foram completamente exterminadas pelo fogo e não existem mais, ao invés de permanecerem existindo em meio ao fogo para sempre. A não ser que Pedro tenha usado uma linguagem com termos e analogia inválidos, o tormento no inferno não pode ser eterno. Ele dura até que cada um pague ali “até o último centavo” (Lc.12:59).

É por isso que Jesus distinguiu claramente aquele que leva “muitos” açoites daquele que leva “poucos” açoites, dizendo:

“Aquele servo que conhece a vontade de seu senhor e não prepara o que ele deseja, nem o realiza, receberá muitos açoites. Mas aquele que não a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receberá poucos açoites (Lucas 12:47-48)

Ninguém leva “açoites eternos”, e ninguém “receberá açoites para sempre”. Há um término que se segue necessariamente ao fato de alguns levarem “poucos” açoites, uma vez que o “pouco” presume o fim, senão não seria “pouco”! Nada que seja eterno pode ser considerado “pouco”, precisamente porque não tem fim! Se eu te digo que você terá poucos aniversários pela frente, você certamente não sairá feliz, pensando que viverá para sempre, com infinitos aniversários a comemorar. Se Jesus disse que um servo desobediente receberia poucos açoites, ele certamente não estava querendo dizer que “na verdade ele será açoitado para sempre, sem parar”.

O contraste entre o servo que leva “muitos” açoites com o que leva “poucos” açoites mostra que não haverá uma mesma punição indiscriminada a todos os pecadores, como um tormento eterno para todo mundo, mas um castigo que é proporcional aos pecados cometidos por cada um. Sendo assim, Hitler sofrerá por muito mais tempo do que um garoto de quinze anos que rejeitou o evangelho. Isso torna esse mundo muito mais justo e respeita o princípio da proporcionalidade estabelecido em toda a Bíblia, algo que não existe dentro da visão de tormento eterno.

É essa proporcionalidade que faz de Deus um Ser justo, amoroso e imparcial. Se ele decretasse que todos os ímpios teriam o mesmo fim (a morte eterna) sem que antes fossem castigados por suas más obras, ele estaria sendo injusto, especialmente por não fazer diferença entre o que fez muito mau e o que fez menos. Neste caso, não faria diferença se alguém que já está condenado por blasfêmia contra o Espírito Santo decidisse matar mais quinhentos que visse na rua – ele pagaria a mesma pena pelas duas coisas. Não haveria diferença na condenação de Hitler e de um ateu anônimo.

Um castigo é necessário para que exista o que chamamos de justiça, e é por essa razão que nos presídios existem presos condenados a um tempo diferente de prisão em relação a outro preso, sempre proporcional ao delito cometido. Alguém preso por roubar frangos não estará ali pelo mesmo tempo de um estuprador ou um serial killer. Por outro lado, se Deus decidisse condenar todo mundo a um tormento eterno, ele estaria sendo ainda mais incoerente e injusto, primeiro porque puniria alguém infinitamente por pecados finitos, e segundo porque o tempo de tormento ainda seria o mesmo para ambos os casos.

É somente com a lei da proporcionalidade que temos um Deus que é ao mesmo tempo amor e justiça, onde pessoas são castigadas pelo tempo proporcional ao que seus pecados mereceram, e por fim pagam o salário do pecado, que é a morte (Rm.6:23). E é exatamente isso o que a Bíblia nos ensina, embora exista uma multidão de teólogos que estão armados até os dentes contra qualquer um que ouse contrariar a instituição, denominação ou instituto religioso deles ao ensinar essa ou qualquer outra verdade das Escrituras que desafie a “tradição” e o “parecer oficial da instituição”.

Por que é importante este parênteses sobre o inferno em um livro como esse? Porque provavelmente nunca houve uma temática que afastasse tantos cristãos da fé, que implantasse tanto medo em lugar do amor, que descaracterizasse de tal maneira a imagem do Deus da Bíblia e que servisse como munição infinita aos ateus como essa doutrina. A doutrina em um tormento eterno não pode ser concebida racionalmente, a não ser por uma cauterização da consciência moral do indivíduo, o que tem levado milhões de cristãos a fraquejarem na fé, a questionarem a justiça e o amor de Deus, a apostatarem de uma vez ou pior ainda: a continuarem com Deus apenas pelo medo do tormento do inferno, e não por amarem a Deus!

Se Cristo não for suficiente pra você, pode aumentar a pena do inferno o quanto quiser, pode dizer que não vai sair dali nunca, pode dizer que as chamas serão dez bilhões de vezes mais quentes do que você imagina, pode elevar ao máximo o número de torturadores e verdugos, pode atormentá-lo com milhares de invenções humanas, que nada disso terá efeito. Alguém que se “converte” por causa do inferno estará edificado no medo, e não no amor. A sua vida é que se tornará um verdadeiro “inferno”. É só Cristo que converte de verdade. Não o inferno.

Se por um lado o inferno eterno não tem o poder de converter ninguém genuinamente ao evangelho de Jesus Cristo, por outro lado ele tem um enorme poder de minar a fé dos que creem nele. Há muitos cristãos sinceros que ainda creem, por ignorância, em um tormento eterno, porque pensam que este ensinamento é bíblico, mesmo existindo 152 versículos que o refutam. Eles pensam que este ensinamento é “bíblico” porque ouviram isso a vida inteira por pastores ou padres, com o respaldo da tradição e da denominação que eles frequentaram. Assim, eles pensam ter o dever de crer e defender a existência do tormento eterno, pois acham que desta forma estarão honrando e servindo melhor a Cristo. Eles cauterizam sua própria consciência moral para tentar não refletir muito na dimensão do horror que isso significa.

Mas chega um dia, e este dia é inevitável, onde essa consciência pesa mais forte e muitos se vêem na impossibilidade de persistir crendo em uma aberração. E o problema é que tais pessoas têm tão fortemente impregnada a ideia de que a Bíblia defende o tormento eterno que elas não abandonam essa crença; ao contrário, elas abandonam é o próprio Cristianismo. Dizem que o ateísmo não possui doutrinas, mas eu discordo. O inferno eterno é uma legítima doutrina ateísta, é a que mais leva cristãos ao lado de lá e é a que mais fortalece a crença deles no ateísmo. O tormento eterno é a carta na manga de todo e qualquer ateu em um debate, e os cristãos não tem se saído bem em tentar defendê-lo, pois estão querendo defender o indefensável.

Isso seria perfeitamente resolvido e todo o problema acabaria caso os novos cristãos resolvessem retirar o véu da tradição e olhar mais adiante, para as Escrituras, sem as lentes papistas ou os víeis denominacionais. Se isso fosse feito, ninguém mais perderia a fé por causa do inferno, e muitos teriam sua fé renovada, perfeitamente revigorada, por entenderem, em conformidade com a Bíblia, que até mesmo a crença no inferno bíblico (o da proporcionalidade) não é um “mistério” que temos que “crer pela fé”, mas é exatamente o que deveríamos esperar de um Deus que age com amor e justiça.

É lógico que há muito mais em questão que poderia ser aqui ressaltado como coisas que levam pessoas ao ateísmo, mesmo que o ateísmo seja a posição antinatural e o teísmo seja a posição-padrão dos seres humanos. Há teologias tão descaradamente falsas que chegam ao cúmulo de ensinar os fieis que tomar remédio é “pecado”, porque “o cristão não pode ficar doente” e, se ficar, tem que ser curado “somente através da fé”. Teologias nefastas e diabólicas como essa, mesmo representando uma minoria até mesmo dentro da comunidade pentecostal, acabam moldando a visão do ateu, que acaba pensando que todos os cristãos são contra remédios, o que é, certamente, um absurdo.

Jó contraiu grandes doenças e um enorme sofrimento (Jó 2:7,8), mesmo sendo o homem mais justo de toda a terra da época (Jó 1:8). Eliseu, um dos maiores profetas que já existiu, “estava doente da enfermidade de que morreu” (2Rs.13:14). Ele não apenas ficou doente, mas morreu por causa daquela doença. Isaque, um dos maiores patriarcas e mais respeitados de Israel, ficou cego anos antes de morrer, razão pela qual não conseguia distinguir entre Jacó e Esaú: “Como Isaque envelheceu, seus olhos se escureceram, de maneira que não podia ver” (Gn.27:1). O rei Ezequias, de Israel, a quem a Bíblia descreve como “tendo feito o que era bom, e reto, e verdadeiro, perante o Senhor seu Deus” (2Cr.31:20), ficou “doente, a beira da morte” (Is.38:1). Lázaro, o amigo de Jesus, havia morrido em função de uma doença que tinha contraído (Jo.11:1).

Jacó também ficou doente (Gn.48:1), e morreu por causa dessa enfermidade. O grande rei Davi também disse em certa ocasião: “estou ardendo em febre; todo o meu corpo está doente” (Sl.38:7). Tabita, “que se dedicava a praticar boas obras e dava esmolas” (At.9:26), “ficou doente e morreu” (At.9:37). Até mesmo o grande Daniel, o “muito amado” (Dn.10:11) de quem a Bíblia dá tão grande testemunho e não relata sequer um único pecado, disse que ficou “exausto e doente por vários dias” (Dn.8:27).  Outro crente que ficou doente e à beira da morte foi Epafrodito, sobre quem Paulo disse:

“Pois ele tem saudade de todos vocês e está angustiado porque ficaram sabendo que ele esteve doente. Pois ele tem saudade de todos vocês e está angustiado porque ficaram sabendo que ele esteve doente. De fato, ficou doente e quase morreu. Mas Deus teve misericórdia dele, e não somente dele, mas também de mim, para que eu não tivesse tristeza sobre tristeza” (Filipenses 2:25-27)

No final de sua segunda carta a Timóteo, Paulo também diz que deixou Trófimo doente em Mileto:

“Erasto permaneceu em Corinto, mas deixei Trófimo doente em Mileto (2ª Timóteo 4:20)

O próprio Paulo tinha uma doença nos olhos, que os desfiguravam (Gl.4:13-15), o qual ele apelidou de “um espinho na carne” (2Co.12:7).  Até mesmo o jovem Timóteo, discípulo de Paulo, sofria de “frequentes enfermidades”:

“Não continue a beber somente água; tome também um pouco de vinho, por causa do seu estômago e das suas frequentes enfermidades” (1ª Timóteo 5:23)

Paulo, ao invés de dizer para “decretar a cura” e “tomar posse da bênção”, apenas recomendou Timóteo a tomar um pouco de vinho, que tinha efeitos medicinais para tratá-lo daquela enfermidade. Em outras palavras, em uma linguagem mais atual, seria o mesmo que dizer: “tome um remédio”! A Bíblia nunca mostra os cristãos como seres superpoderosos, imunes às doenças ou às adversidades da vida que são comuns a todos os seres humanos, e da mesma forma nunca coloca a fé contra a medicina, como se ambos estivessem competindo e se digladiando em um duelo mortal.

Ao contrário: biblicamente, Deus usa a medicina (atua através dela), ao invés de combater a medicina (lutar contra ela). Mais uma vez, os ateus acusam os cristãos por culpa de um remake do evangelho, que em nada se parece com o evangelho da Bíblia. Cristãos de fato não lutam contra a medicina, contra a ciência ou contra qualquer avanço do mundo moderno, mas se esforçam em aumentar estes avanços e se beneficiam deles, assim como os ateus.

Neste sentido, a proibição que a Igreja Católica Romana faz à camisinha é também inútil e sem sentido. Uma coisa é dizer que a camisinha não é o método mais eficaz de prevenção, outra coisa totalmente diferente é se posicionar contra o uso da camisinha, que, querendo ou não, serve como um último suspiro de vida contra a depravação moral que ficaria muito pior se todo mundo tivesse relações sem camisinha e o número de abortos, de mães solteiras e de crianças criadas em condições precárias de vida aumentasse exponencialmente. Tal proibição traz um senso de atraso e retrocesso, que poderia ter sido perfeitamente evitado.

Outra proibição inútil que não faz nenhum sentido é aquela imposta por uma minoria de igrejas evangélicas, segundo as quais as mulheres são proibidas de usarem calça (só a saia é permitida) e de terem o cabelo curto, e o homem é igualmente proibido de ter cabelo comprido. Essas são proibições irracionais, tolas e sem sentido, pois não servem para matar a carne (ninguém vai controlar seus instintos pecaminosos por ter um cabelo mais curto ou por usar saia em vez de calça), mas apenas para impor mais e mais restrições que não servem para absolutamente nada que seja espiritual. O apóstolo Paulo já escrevia contra essas regrinhas, dizendo:

“Já que vocês morreram com Cristo para os princípios elementares deste mundo, por que é que vocês, então, como se ainda pertencessem a ele, se submetem a regras: ‘Não manuseie!’ ‘Não prove!’ ‘Não toque!’? Todas essas coisas estão destinadas a perecer pelo uso, pois se baseiam em mandamentos e ensinos humanos. Essas regras têm, de fato, aparência de sabedoria, com sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” (Colossenses 2:20-23)

A base “bíblica” que tais igrejas usam para perpetuar tais regras inúteis de restrição, no caso do cabelo, é o texto de 1ª Coríntios 11:14, que diz que é uma desonra para o homem ter cabelo comprido. Mas eles se esquecem de que este versículo é na verdade uma continuação do versículo anterior, o verso 13, que diz:

“Julguem entre vocês mesmos: é apropriado a uma mulher orar a Deus com a cabeça descoberta?” (1ª Coríntios 11:13)

Paulo, desde o início do capítulo 11, ensinava o uso do véu para as mulheres, e em seguida afirmou aquilo sobre o cabelo. Se uma igreja do tipo restritiva e legalista fosse séria mesmo, teria que proibir as duas coisas, ou seja, teria que impor o uso do véu para as mulheres e do cabelo curto para os homens. Mas essas igrejas, paradoxalmente, só proíbem o cabelo comprido, mas não a cabeça descoberta. Como explicar isso? Não há explicação. Eles são arbitrários e extremamente seletivos, fazendo aquilo que chamamos de teologia de fundo de quintal, ou de exegese de araque.

Mesmo que alguém diga que deveríamos então impor o véu também, isso não se justifica para os dias de hoje. Por quê? Porque Paulo escrevia a uma comunidade cristã em Corinto, num contexto específico daqueles dias, onde era costume de todas as mulheres usarem o véu, e somente as prostitutas que ficavam com a cabeça descoberta! Em outras palavras, o que Paulo está dizendo neste texto é para que as mulheres cristãs não se assemelhem às prostitutas em seu modo de se vestir, pois isso seria um mau exemplo. É totalmente óbvio que, em uma cultura onde apenas as prostitutas não usam véu, as mulheres cristãs o usem. Mas este mandamento perde totalmente o sentido na nossa cultura, onde o uso ou não uso do véu não é um elemento que distingue a prostituta em relação às outras mulheres.

O princípio (de não se assemelhar aos maus exemplos) é eterno, mas a sua aplicação depende do contexto cultural. Algo semelhante vemos em Lucas 10:4, quando Jesus diz para os seus discípulos não levarem sandália extra em suas missões evangelísticas. Seria ridículo, no entanto, que alguma igreja nos dias de hoje dissesse que os missionários estão proibidos de levar um tênis ou uma sandália da havaianas em sua mala de viagem. O princípio (de não acumular muitos bens terrenos) permanece, mas a sua aplicação varia de contexto para contexto.

A mesma coisa ocorre na questão do cabelo, que, como vimos, está no mesmo contexto da prescrição ao uso do véu. Naquela época era um escândalo que um homem tivesse cabelo comprido como o de mulher, e tal pessoa poderia ser equiparada a um marginal, mas hoje, na nossa cultura, isso já está mudando. O uso de cabelo comprido já não é mais uma distinção dos “maus moços” em relação aos “bons moços”, mas algo de cunho particular e de gosto pessoal apenas (a mesma coisa se aplica em relação às mulheres que optam por ter cabelo curto). Nós não podemos tratar todas as coisas como se estivessem sob o mesmo tempo e cultura – o contexto histórico deve ser preservado e uma hermenêutica funcional deve ser priorizada.

Vale ressaltar que a própria definição de “comprido” naquela época era totalmente diferente de hoje. Quando Paulo escrevia sobre o cabelo comprido ele não estava falando do que hoje consideramos “comprido” (cabelo até os ombros, por exemplo), mas sim do que naquela época era considerado “comprido” (cabelo até a cintura, como as mulheres tinham). A coisa mais comum do mundo na época era cabelo comprido no nosso sentido de “comprido” (até os ombros). Se Paulo estivesse falando do nosso conceito de “comprido”, então até Jesus estaria condenado, pois o Sudário de Turim, que possui um caminhão de evidências de sua autenticidade[7], retrata Jesus com cabelo até os ombros, assim como toda a iconografia antiga sobre Jesus (desenhos antigos que os primeiros cristãos faziam dele).

O próprio Paulo raspou a cabeça em função de um voto que fez em certa ocasião (At.18:18), e este voto só teria sentido se Paulo também tivesse um cabelo “longo” no nosso sentido de “longo”, de outra maneira o corte seria algo tão natural que quase nada teria de sacrifício ou renúncia, que é o significado de um voto. Em resumo, o comum na Palestina do século I era que os homens tivessem cabelo comprido até os ombros, e Paulo, ao falar contra o cabelo “comprido”, não estava se referindo ao que na nossa cultura entendemos por “comprido”, mas sim o que era considerado “comprido” na cultura deles – e mesmo assim só porque na época era um escândalo que um homem tivesse cabelo tão grande quanto o da mulher. Essas restrições também perdem o sentido nos dias de hoje, por todas as razões que já vimos.

O caso da proibição da calça é ainda pior, pois nem base bíblica tem! Nem na lei de Moisés (que já caiu) tem essa restrição! O que a Bíblia proibia era que o homem se vestisse como a mulher (e vice-versa), mas se isso se aplica nos dias de hoje o máximo que essa proibição se aplicaria seria aos travestis, não às mulheres que usam calça! A calça não é um elemento puramente “masculino”, ela é característica tanto dos homens quanto das mulheres, a não ser que você viva em algum universo paralelo que não tenha nada a ver com este, ou que tenha sido congelado numa máquina do tempo desde os finais do século XIX. Proibir que a mulher use calça só porque os homens usam calça é tão boçal quanto seria afirmar que a mulher não pode usar óculos porque o homem usa óculos... é simplesmente ridículo.

Por que estou falando essas coisas, aparentemente tão irrelevantes e secundárias, ainda mais para um livro cujo propósito foge totalmente destes temas? A resposta é simples: milhares e milhares de jovens deixam a igreja por causa destas regras restritivas que, como o apóstolo Paulo bem disse, “tem sua pretensa religiosidade, falsa humildade e severidade com o corpo, mas não têm valor algum para refrear os impulsos da carne” (Cl.2:23). A vida cristã já é difícil. Você já tem que lutar contra os instintos pecaminosos da carne, fazer o bem ao próximo, tentar amar a todas as pessoas e dar a outra face quando for necessário, e quando alguém adiciona regrinhas inúteis que não levam ninguém a nada acabam apenas colocando cargas pesadas – e desnecessárias – nos ombros dos fieis. A consequencia mais comum é que tais pessoas se sintam tão retraídas que um dia cansam disso tudo, chutam o balde e abandonam a fé de uma vez, indo para o “mundão”.

Houve uma época, quando eu era mais jovem, que eu congregava numa dessas igrejas, e durante um ano me aceitaram sem se incomodar com o meu cabelo ser maior que o “permitido” pela igreja. Mas depois, com a chegada de novos dirigentes, fui “convidado” a cortar o cabelo para continuar ali – e, é claro, eu fui embora. A minha sorte é que eu já era maduro na fé e simplesmente decidi mudar de igreja, ao invés de tomar alguma decisão pior. Mas e se eu fosse um recém-convertido, ou mesmo um convertido há anos, mas que ainda tivesse a mente fraca? Com certeza não teria saído da igreja para ir a outra igreja – teria simplesmente desistido da fé, ou julgado que todas as igrejas eram iguais àquela em que eu ia. E este livro, muito provavelmente, não existiria.

É isso o que muitos jovens cristãos fazem, se decepcionando com igrejas e indo parar no “mundão”, onde estão expostos a toda a imoralidade secular e terminam por esfriar o amor por Deus em seus corações e até mesmo apostatando completamente da fé. Todos perdem com isso: a igreja perde um membro ou mesmo um obreiro ou ministro que poderia ser extremamente útil ali, e o indivíduo perde seu relacionamento com Deus e consequentemente a salvação. Desta forma, o lugar que deveria existir precisamente para conectar melhor o homem com Deus acaba sendo o lugar que afasta o homem de Deus – essa é a razão pela qual há urgência em renovar a Igreja e reformá-la a cada dia.

Eu poderia também passar dezenas de páginas expondo a infeliz teologia da prosperidade, que tem levado cada vez mais cristãos a um olhar materialista e totalmente distante das coisas espirituais, que tem enriquecido cada vez mais pregadores e empobrecido cada vez mais o povo humilde e simples, mas creio que tal “teologia” é tão néscia e cretina que não merece ser mencionada neste livro[8]. São essas falsas teologias que afastam as pessoas da fé e as tornam mais propensas a aceitar o ateísmo em função disso. As pessoas nascem com uma tendência religiosa, mas abafam este sentimento ao verem todo o lado podre que infelizmente ainda existe nas grandes religiões.

A triste realidade é que a teologia atual ensinada na maioria das igrejas, independentemente da congregação ou instituição a que sirva, está contaminada com doutrinas errôneas que, cada qual à sua medida, acabam apresentando um evangelho transgênico, modificado em laboratório, e é esse evangelho “transgênico” que é apresentado ao descrente, e não o evangelho real – ainda que mesmo estes evangelhos transgênicos guardem alguma coisa do evangelho real, e, portanto, ainda tenham um poder transformador de vidas, coisa tal que o ateísmo jamais é capaz de fazer.

Mas se mesmo com o evangelho transgênico e cheio de defeitos ainda assim os ateus são uma minoria quase insignificante na maior parte dos países, imagine o que seriam eles se o único evangelho existente fosse o original, que dá pouca ou nenhuma brecha para alguém se tornar ateu, que responde bem às perguntas mais críticas e polêmicas da fé e que apresenta uma doutrina que faz de Deus exatamente o que ele é nas Escrituras: um Deus de amor, justiça, graça e misericórdia, ao invés de algum espantalho que serve de ataque fácil por pessoas como Richard Dawkins. O evangelho certamente encheria toda a terra, e toda a terra estaria cheia da Sua glória. Recuperar este evangelho puro e original é uma utopia? Talvez. Provavelmente. Mas não custa nada tentarmos.

Por Cristo e por Seu Reino,

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


        




[2] Robert Leo Odom. Vida Para Sempre. Casa Publicadora Brasileira: 2006.
[3] Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho fé suficiente para ser ateu.
[8] Essa falsa teologia já foi refutada em outro livro meu, no capítulo 8 do livro “Chamados para Crer e Sofrer”. Disponível em: http://apologiacrista.com/index.php?pagina=1087350163

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