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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Os
neo-ateus costumam dizer que todo mundo “nasceu ateu”, e usam um bebê como
exemplo, que seria supostamente um ateu. Mas o bebê é tão “ateu” quanto este
teclado ou esta parede – ele simplesmente não tem capacidade ainda de
raciocinar e refletir sobre a existência ou inexistência do transcendental. No
entanto, embora o bebê em si não seja propriamente nem ateu nem teísta, ele tem
uma tendência de se tornar teísta, e
não ateu. Em outras palavras, as pessoas já nascem com a propensão de crer em Deus, como se a existência de Deus fosse tão
evidente quanto intuitiva. E isso explica o porquê que, de fato, a existência
de Deus sempre foi crida pela maioria esmagadora das pessoas que já habitaram
esse planeta.
O
historiador grego Plutarco (45-125 d.C) já dizia que “é
possível encontrar cidades sem muralhas, sem ginásios, sem leis, sem moedas,
sem cultura literária; mas um povo sem Deus, sem orações, sem juramentos, sem
ritos religiosos, sem sacrifícios, jamais foi encontrado”[1].
Jefferson Magno Costa, em seu livro “Provas da Existência de Deus”, nos passa
os mais diversos exemplos e evidências históricas da existência de Deus crida
de forma majoritária em todos os povos e culturas antigas, e afirma:
“A crença na existência de um Ser Supremo, criador de todas
as coisas, está documentada tanto nas antigas marcas e restos de utensílios e
pinturas encontrados nos locais onde viveram as primeiras famílias descendentes
de Adão e Eva, como também nos papiros e monumentos egípcios, nos tabletes de
barro da Assíria e da Babilônia, nos primeiros escritos do povo hebreu, nos
antigos livros da índia, nas gravações em ossos na China, nos pergaminhos
gregos e nos monumentos romanos”[2]
E,
por este motivo, ele conclui que a crença em Deus é a “posição natural” dos
seres humanos, que pode ser descoberta pela simples intuição inata a todos os
indivíduos:
“Ora, essa ideia da existência do Criador espalhada na
consciência de todos os povos nos leva a concluir que um sentimento comum a
todos os seres humanos não pode ser falso. Aristóteles já dizia que ‘o que é inerente à essência, é universal:
tudo quanto o homem tem instintivamente por verdadeiro, é uma verdade natural’.
E por esse motivo que o ateísmo, ou seja, a negação da existência de Deus
resultante de uma convicção clara e deliberada, é um fenômeno isolado, uma
degeneração da consciência do homem, mas nunca a expressão geral da humanidade”[3]
Até
mesmo o comunista e ateu Gorky, em uma carta escrita a Stalin, admitiu que:
“A ‘tendência’ para uma disposição religiosa
é muito notável – um resultado natural do desenvolvimento do individualismo.
Neste tempo, como sempre, o jovem está correndo em busca da ‘resposta
definitiva’”[4]
Dorothy Kelman destacava que as
crianças são teístas intuitivas[5].
Robertson comenta e sugere:
“Na verdade, eu
concordaria com isso e sugeriria, em contrapartida, que tal evidência contradiz
um outro mito ateísta – que as pessoas apenas são religiosas porque sofreram
lavagem cerebral quando crianças. Na verdade mesmo, a posição padrão para os
humanos é serem religiosos”[6]
Nury Vittachi publicou um artigo
intitulado: “Ceintistas descobrem que ateus podem
não existir, e isso não é uma piada”. Ele cita vários estudiosos do tema
que explicam que a crença na existência de Deus está embutida na natureza da
cada ser humano, admitindo ele ou não. Ele declara:
“Os cientistas
cognitivos estão cada vez mais conscientes de que uma perspectiva metafísica
pode estar tão profundamente enraizada nos processos de pensamento humano que
não pode ser expurgado (...) É claro que essas descobertas não provam que é
impossível parar de acreditar em Deus”[7]
Ele também refuta a “lógica” invertida
ateísta, segundo a qual o ateísmo é que é a “condição natural” e o teísmo a
“posição aprendida”. Vários cientistas chegaram às mesmas conclusões de
Vittachi, incluindo Graham Lawton, Pascal Boyer e Ara Norenzayan. Este último
chegou inclusive a pubicar um artigo no New
Scientist, onde declara:
“Quando as pessoas não
acreditam em Deus, isso não significa que elas não têm sensações que estão fortemente
ligados ao sobrenatural (...) Mesmo em sociedades que se declaram de maioria
ateísta, é possível encontrar um monte de crença no que chamamos de paranormal”[8]
Pascal Boyer, por sua vez, argumenta
que “uma série de traços cognitivos nos predispõe à
fé”, e que “os dados confirmam que
pensamentos religiosos parecem ser uma propriedade emergente de nossas capacidades
cognitivas normais”. Não é a crença que é um esforço deliberado, mas a
descrença, que para Boyer “vai contra as nossas
disposições cognitivas”, sendo, portanto, “antinatural”.
O Dr. Jason Lisle segue nesta mesma linha e chegou também a escrever um artigo
onde mostra evidências de que todos os ateus sabem intuitivamente que Deus
existe, embora eles tentem conter e até mesmo lutar contra este sentimento até
convencerem a si próprios de que Ele não existe.
Até o biólogo neo-ateu Lewis Wolpert,
que já debateu com Craig e que considera a fé algo infantil, já admitiu que nós
somos “brain-wired” para a crença em Deus, como se o nosso cérebro já estivesse
programado para crer! De fato, seria necessária uma enorme e gigantesca
conspiração mundial se a crença em Deus não fosse a posição-padrão dos seres
humanos, uma vez que ela existe (e existe majoritariamente) em todos os povos, em todas as culturas e em todas as
épocas – até mesmo em tribos nativas que nunca tinham tido contato com o homem
branco, até mesmo antes da Bíblia começar a ser escrita, até mesmo pelos mais
letrados e sábios homens do passado e do presente: é uma crença universal que
transcende tempo, espaço, cultura e inteligência. O apóstolo Paulo já sabia
disso quando disse:
“Pois desde a criação do
mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina,
têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas, de
forma que tais homens são indesculpáveis” (Romanos 1:20)
Para Paulo, a existência de Deus era
tão autoevidente que chegava a ser intuitiva.
É absurdo olhar para toda a criação, tão complexa e originalmente perfeita,
e dizer que tudo é fruto do acaso – da mesma forma que seria absurdo se alguém
visse um quadro de Leonardo da Vinci (como a Mona Lisa) e achasse que ninguém
pintou o quadro, mas que ele se formou sozinho, acidentalmente. É necessário
cauterizar a consciência para ser ateu, enquanto que para ser teísta basta
seguir a própria intuição. O teísmo é a
posição-padrão. O ateísmo é um fenômeno isolado, um desvio do padrão.
Para usarmos como ilustração, pensemos
na questão da vida e da morte. A posição-padrão dos seres humanos é o apreço
pela vida. Há um forte instinto no ser humano pela sobrevivência, e é por esta
razão que ainda que haja bilhões de pessoas vivendo em condições sub-humanas,
passando fome, tendo necessidade de muitas coisas ou desiludidas com tudo e com
todos, ainda assim elas preferem continuar vivendo do que morrer! A
posição-padrão pela vida é tão forte que as pessoas preferem continuar vivendo,
mesmo quando não gostam da própria
vida! Em contrapartida, há uma minoria que se suicida, ou seja, que se desvia
desta posição-padrão, que luta contra o seu maior instinto (a sobrevivência).
Da mesma forma, nós temos uma
posição-padrão que é a crença na existência de um Ser (ou de seres)
transcendental, embora haja uma minoria de pessoas que cauterizam sua própria
consciência para negarem a existência deste Ser, o qual chamamos de “Deus”.
Elas negam sua própria intuição, e tentam convencer a si mesmas de que Deus não
existe. É interessante notar que mesmo com todos os erros que tantas religiões
já cometeram ou que continuam cometendo, a posição-padrão permanece sendo
religiosa e não irreligiosa – da mesma forma que uma pessoa que não gosta da
sua vida prefere continuar vivendo mesmo assim!
O que os neo-ateus tentam
desesperadamente fazer a cada instante é nos convencer de que a posição-padrão
é o ateísmo, enquanto a crença em
Deus que é um desvio desta
posição-padrão. Isso porque, se Deus não existe, a posição-padrão seria crer na
inexistência deste Ser, e não na existência! Por exemplo, nós não temos a
propensão a crer em Bicho Papão, em Papai Noel, em fadas ou em bules voadores,
porque elas não são a posição-padrão do ser humano. Ninguém creria nessas
coisas a não ser que essas coisas lhe fossem ensinadas. E, consequentemente, a
esmagadora maioria das pessoas de fato não
crê nestas coisas, porque esta não é a posição-padrão dos seres humanos.
Mas com Deus é totalmente diferente, e
o paradigma se inverte. A crença em Deus é universal e majoritária; é, como
vimos, a posição-padrão do ser humano, algo inato, intuitivo, para o qual o
nosso cérebro já está programado para crer, e por esta mesma razão aqueles que
ferem essa consciência (os ateus) tendem a ser uma minoria e estão “indesculpáveis”. Mesmo que você não fale nada
sobre Deus a um recém-nascido, com o passar do tempo esta tendência por crer
será despertada, tornando inútil qualquer militância ateísta. Ele, no mínimo,
irá pensar seriamente sobre a possibilidade de Deus existir, o que não ocorre
com fábulas criadas pela imaginação humana.
Pensando na perspectiva da
posição-padrão, são os ateus que
devem explicar por que eles não creem, e não nós que temos que explicar por que
cremos! Nós estamos apenas seguindo a intuição geral da raça humana, e eles,
infringindo. Portanto, são eles que nos devem dar as razões pelas quais nós também temos que ferir nossa
intuição e quebrar a posição-padrão para seguir a um fenômeno isolado – o
ateísmo. São eles que negam essa posição-padrão e intuitiva que nos diz que
Deus existe e, no lugar disso, formulam teorias mirabolantes para tentar
convencer a si próprios de que Deus não existe, incluindo a crença em “infinitos”
universos para tentar “explicar” a complexidade deste Universo, ou a fé de que o Universo inteiro foi criado do
nada – coisas irracionais que definitivamente não são intuitivas à nossa natureza e nem a posição-padrão (nenhum
ser pensante realmente acredita que
alguma coisa possa surgir do nada!), mas que são defendidas pelos ateus como
uma forma de iludir a si mesmos, para não ter que admitir a óbvia, evidente e
intuitiva existência de Deus.
Tudo isso seria apenas o que
deveríamos esperar caso Deus realmente exista, pois ele teria todas as razões
para colocar a Sua existência intuitivamente nos corações humanos, embora não
de forma coercitiva, o que tiraria o
livre-arbítrio do homem e o forçaria a crer. Consequentemente, se Deus existe,
deveríamos esperar que a humanidade se dividisse em uma maioria que crê em Deus por essa intuição, e uma minoria que não crê em Deus por se
rebelar contra a posição-padrão e por fornecer teorias alternativas delirantes
que fizessem objeção à intuição humana. E é exatamente isso que é visível no
mundo hoje.
Isso também explica o porquê que os
ateus estão sempre falando em Deus, muito mais do que os cristãos. Antigamente,
falar em “missionários” só teria sentido caso os indivíduos em questão fossem
religiosos. Hoje em dia, há mais “missionários” ateus do que cristãos, e esses
“ateus missionários” são tão persistentes, proselitistas e obstinados que
colocam no chinelo qualquer testemunha de Jeová! Eles não suportam ver um vídeo
de caráter religioso no YouTube que já se aglutinam para falar mal do religioso
e pregar a “palavra de Dawkins” aos desconvertidos, eles não suportam ler um
artigo apologético em algum site cristão e já se aglomeram para “refutar Deus”
e “provar que Ele não existe e que os cristãos estão delirando”, eles não fazem
outra coisa na vida a não ser falar em Deus, Deus e Deus o tempo todo!
Já se foi o tempo em que era o cristão que puxava o debate com um ateu
tentando convertê-lo. Atualmente, a moda é o ateu tentar fazer de tudo para que
o cristão se “arrependa” de seu “delírio” e “creia na razão”. Eles levam muito
a sério a máxima de “ir por todo o mundo e pregar o ateísmo a toda criatura; aquele que não crer será salvo, quem crer
será condenado”. Já não se vê mais cristãos falando por aí: “arrependam-se, pois o Reino de Deus está próximo” (Mt.4:17),
mas está cheio de neo-ateus com uma “Bíblia” na mão (leia-se: um livro de Dawkins) pregando o
“evangelho ateu” para que o crente “se arrependa” da fé que uma vez professou e
“creia” que o Universo veio do nada, que estamos aqui por puro acaso e que Deus
é um grande delírio perpetuado por mentes pobres, fracas e irracionais. Este é
o ateísmo versão 2.0. Este é o neo-ateísmo.
Certo militante neo-ateu escreveu um
livro em que diz no prefácio: “Esperando ajudar
também aqueles com pouco conhecimento da Bíblia a resistir à tentação de
acreditar e aos que já a rejeitam, a defender e manter a sua posição”[9].
Qual a diferença disso para algum proselitista cristão que escreve um livro
dizendo estar “esperando ajudar aqueles com pouco conhecimento da Bíblia a
resistir à tentação de não acreditar e
aos que já a aceitam, a defender e
manter sua posição”? Nenhuma. O proselitismo neo-ateu é exatamente o mesmo do religioso
que ele tanto critica, apenas inverte-se a posição: ao invés de um missionário cristão, temos um missionário ateu, pregando a “Palavra de Dawkins” de
casa em casa, ou, melhor dizendo, na internet. O neo-ateu é apenas um religioso
enrustido, mas com ódio de Deus.
A situação fica ainda mais
constrangedora para os novos ateus quando vemos que o religioso tem razões para ser proselitista, e eles não.
Se o Cristianismo for verdadeiro, isso significa que todos os que decidiram não
crer se perderão para sempre, ou seja, deixarão de herdar uma vida eterna.
Estão apenas caminhando para a morte, e o cristão em questão, por amor e
vontade de ajudar o próximo, quer salvá-lo deste cruel destino e lhe dar a
oportunidade de ressuscitar para a vida eterna. Mas o ateu sequer tem uma razão
decente para pregar seu ateísmo, porque na visão ateísta não há vida eterna nem
para um nem para outro – há apenas a morte para sempre, indistintamente para
ambos os grupos.
Por que raios, então, o ateu iria
querer tanto “desconverter” o cristão? Por que perder tempo pregando o ateísmo,
se não vai ganhar nada com isso, de qualquer jeito? Por que dedicar toda uma
vida pregando algo que não vai mudar nada na vida de ninguém? Por que
desperdiçar tempo e energia se no fim das contas o final do cristão será o
mesmo final do ateu? Esta forma de ateísmo é total e completamente irracional.
Antigamente eles pelo menos tinham a desculpa de que as pessoas seriam mais
“felizes” aqui na terra se deixassem Deus de lado e virassem ateus, mas depois
que vários estudos concluíram que os
religiosos são mais felizes e mais sociáveis do que os ateus[10] eles
não podem nem usar este pretexto mais!
O ateísmo militante é tão estúpido e
irracional que faz um cidadão perder toda uma vida discutindo sobre a existência
de um Ser que para ele nem existe, tentando converter para o ateísmo pessoas
que seriam mais felizes se continuassem crendo, para que no final tanto ele
quanto elas tenham o mesmo fim da morte para sempre! E ainda chamam este
neo-ateísmo de “racional”! Como Dinesh D’Souza bem observou, “eles são ateus evangélicos, porque não estão satisfeitos
em não crer em Deus, eles anseiam também converter pessoas para o seu ponto de
vista. Eles são missionários ateus!”[11].
O ateu militante é o único tipo de missionário que prega o seu “evangelho” sem
nenhuma razão lógica. É um tipo de militância que começa tão errada que não
justifica nem a própria existência de tal ativismo!
Eu não acredito em unicórnios e se
alguém acredita em unicórnios eu acharei que tal pessoa é francamente estúpida,
mas eu não vou escrever um livro chamado “Unicórnios, um Delírio”, nem um livro
chamado “O Fim dos Unicórnios”, nem um livro chamado “Unicórnios não são
Grandes”. É exatamente porque eu acho que a crença em unicórnios é uma bobagem
que eu não vou perder tempo escrevendo sobre isso! Eu vou perder meu tempo em
coisas que interessam, não em delírios.
Como disse Dinesh, “eu não vou passar muito tempo denunciando unicórnios,
simplesmente vivo a minha vida como se unicórnios não existissem”[12].
A verdade é que ninguém perde muito tempo escrevendo livros ou “refutando”
coisas que realmente acredita que não
existem. Quanto mais ridícula uma crença for, mais ridículo ainda é alguém que
quer perder tempo refutando-a. Foi por isso que Mahatma Gandhi (1869-1948) certa
vez disse: “Admira-me encontrar uma pessoa
inteligente que luta contra algo que ela mesma não crê absolutamente que
exista”.
Os verdadeiros
ateus – aqueles caras que realmente acham
que Deus não existe – não perdem tempo lendo o livro de Dawkins ou o meu, nem
perdem tempo discutindo sobre a existência de algo que tem certeza que não
existe. Os neo-ateus, no entanto, não
são ateus de fato – são simplesmente pessoas decepcionadas com Deus, ou que tem
tanta vontade de que Ele não exista
que tentam se convencer da inexistência dEle diariamente, até que acreditem
mesmo no que dizem! Essa é a razão pela qual eles falam tanto em Deus, como Heywood
Broun (1888-1939) salientou: “Ninguém fala tão
constantemente sobre Deus como aqueles que insistem que não há Deus”.
Que tipo de gente vive falando de
algo, mas não crê neste algo? Que
tipo de gente que dedica a vida inteira a falar sobre Deus, se não crê em Deus?
Se Deus é um delírio, e este delírio está no mesmo patamar do Papai Noel e das
fadas – como os neo-ateus estão sempre dizendo – então esse “delírio” seria tão
óbvio que sequer faria sentido dizer que
este delírio é um delírio! Quem é que precisa escrever livros para refutar a
existência do Papai Noel, de fadas, de gnomos ou do Bicho Papão? Não precisa,
porque a inexistência deles é evidente, e
toda inexistência que é evidente é um delírio. Mas eles precisam passar muito tempo escrevendo e falando sobre
Deus (e mesmo assim não convencem quase ninguém!), porque eles mesmos têm
dúvidas sobre a existência de Deus, e sentem até o medo da possibilidade.
Quando alguém descobre que o Papai
Noel não existe, ele não passa a escrever livros contra o Papai Noel, ele
simplesmente segue a sua vida não se importando mais com o Papai Noel. Mas
quando um ateu “descobre” que “Deus não existe”, ele passa boa parte da vida se
empenhando a escrever, falar e brigar sobre Deus, porque ele se importa, porque até mesmo o maior
ateu do mundo não sente segurança em seu ateísmo. Da boca pra fora dizem que
Deus é um delírio, mas só eles mesmos sabem o quão desesperados estão em
convencê-los de que isso é mesmo verdade, razão pela qual Deus não sai da
cabeça deles. Se Deus não existisse ou se fosse um delírio, ninguém precisaria
dizer isso – todos nós já saberíamos, assim como já sabemos que o Papai Noel e
as fadas não existem, ainda que ninguém tenha precisado escrever um livro com
mais de 500 páginas refutando o Papai Noel e as fadas para nos convencer de que
eles não existem!
Os ateus sabem que estão dando murro
em ponta de faca quando dizem que Deus é “um delírio”, e é por isso que eles
insistem tanto – e tão inutilmente – nesta ideia. No fundo, eles também sabem que a posição-padrão do ser humano
é crer, e que a existência de Deus é
tão intuitiva e evidente que eles podem escrever um bilhão de livros, aparecer
em um milhão de programas na televisão, organizar quanta militância for
necessária e até plantar bananeira, que não vão conseguir mudar isso.
Ninguém vai conseguir mudar a
posição-padrão (natural) dos indivíduos, assim como ninguém vai conseguir um
dia fazer com que a maioria das pessoas prefiram o suicídio do que a vida,
ou o homossexualismo ao heterossexualismo, ou o mal ao bem, ou uma ditadura à
liberdade, ou ter mais afeto a um estranho ao invés das pessoas da própria
família, ou que 2 com 2 dá 5 ao invés de 4, ou que estamos aqui sem nenhum
sentido ao invés de termos alguma missão na terra. As pessoas podem se
organizar e empregar toda a sua vida e todos os seus esforços para tentar
tornar o antinatural em natural e o natural em antinatural, mas estarão socando
uma parede, dando murro em ponta de faca, insistindo em algo que não vai mudar,
em algo que está acima de nós ou da nossa vontade. Estarão como que lutando contra Deus.
Dawkins erra na resposta porque faz a
pergunta errada. A pergunta certa não é por que há pessoas que creem, mas sim
por que há pessoas que não creem.
Se a posição-padrão é a crença e
não a descrença, por que há gente que decide se rebelar e não seguir a
intuição e as evidências? Em outras palavras: Por que existem ateus? O que explica esse fenômeno anormal? O que houve
para que existisse este ponto fora da curva? Eu acredito em duas principais
razões que levam essa minoria a não crer. Uma na conta dos ateus, e a outra,
ironicamente, na conta dos próprios religiosos. Vamos a elas.
[1] Plutarco, no capítulo 31 de seu tratado moral Contra
a Cólera, citado por Hans Pfeil no livro O
Humanismo Ateu na Atualidade. Petrópolis, Vozes, 1962, p. 167.
[2] Jefferson Magno Costa, Provas da Existência de Deus.
[3] ibid.
[5] Citado por David Robertson em “Cartas para Dawkins”,
Sétima Carta.
[6] David Robertson, Cartas
para Dawkins, Sétima Carta.
[8] ibid.
LUCAS MUITO BOM SEU TEXTO! LENDO ELE LEMBREI DE UM QUESTIONAMENTO QUE MUITOS ATEUS FAZEM... ELES DIZEM QUE TODO CRENTE É UM ATEU PORQUE POR EXEMPLO PARA SER CRISTÃO ELE IGNORA A CRENÇA ISLAMICA, BUDISTA E DE OUTRAS RELIGIOES...O QUE VC ACHA DISSO? ELES ESTAO CORRETOS? ATÉ QUE PONTO? OU ESSA INDAGAÇÃO PODE SER QUESTIONÁVEL? ABRAÇOS!
ResponderExcluirIsso não tem sentido nenhum. Ateísmo significa "Não-Teísmo", ou seja, "Não-Deus". Só pode ser ateu quem não crê em DEUS NENHUM; se você crê em um Deus - mesmo que descarte todos os outros - já não pode ser considerado ateu. Dizer que você é ateu igual ele só porque descrê em outros deuses seria o mesmo que alguém apolítico dissesse a um militante do PT que ele também é apolítico igual ele, só porque milita por um só partido e é contrário a todos os outros. Faz sentido dizer que esse militante petista é "apolítico"? É claro que não. Da mesma forma que não há sentido em um cristão ser chamado de "ateu" só porque não crê no Deus do Islã ou qualquer outro que não o cristão.
ExcluirAbraço!
Vale lembrar que uma das provas de que ninguém nasce ateu está na própria origem da própria palavra.
ResponderExcluirA origem da palavra vem do grego, THEOS, que significa Deus com a junção do prefixo "A" que caracteriza uma negação. Exemplo: "Atípico" - que quer dizer "não típico".
Portanto se a palavra ateu se refere a uma negação à existência de Deus, como podem afirmar que toda criança nasce sendo ateu se ela ainda não tem a capacidade de fazer escolhas, de optar pelo sim ou pelo não, de refletir sobre a existência de um ser superior ou não?
Torna-se uma imbecilidade afirmar que todos nascem ateus!