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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Você já parou para pensar no por que
os cristãos sempre foram os que mais lutaram pelos direitos civis do homem
negro e pelo fim da escravidão, enquanto olhavam os humanistas seculares de
braços cruzados no outro lado? Se a Bíblia é “a favor da escravidão”, como
postulam Dawkins e demais neo-ateus, então por que o inverso não era
verdadeiro? Por que não foram os humanistas ateus que lutaram contra a
escravidão e os cristãos que lutaram pelo outro lado? O que levou os cristãos
confessos, como Wilberforce e Lincoln, a assumirem uma postura a favor da
igualdade e contra a escravidão?
Sabemos que houve uma transição do
Antigo para o Novo Testamento e uma grande ruptura no sistema da época. Os
judeus passaram de senhores a servos, debaixo do domínio e do jugo do império
romano. Todos deviam obediência e honra ao César. Paralelamente, como já
observamos anteriormente, o mundo romano estava cheio de escravos, vivendo em
condições desumanas, em direta oposição à forma de escravidão judaica. Era
neste contexto que escrevia Paulo de Tarso, o apóstolo cristão. A grande
questão então é: Paulo aprovava a
escravidão persistente em seus dias? A resposta é uma grande surpresa para
aqueles que insistem em acusar os cristãos de apoiarem a escravidão pela
Bíblia.
“Foi você chamado sendo
escravo? Não se incomode com isso. Mas,
se você puder conseguir a liberdade, consiga-a. Pois aquele que, sendo
escravo, foi chamado pelo Senhor, é
liberto e pertence ao Senhor; semelhantemente, aquele que era livre quando
foi chamado, é escravo de Cristo. Vocês foram comprados por alto preço; não se tornem escravos de homens” (1ª Coríntios
7:21-23)
“Não se tornem escravos de homens!”
Esta declaração, claramente contra a
escravidão, foi feita por Paulo há dezoito séculos antes do fim da escravidão
na maioria dos países do mundo. Para o apóstolo, era importante que um escravo
conseguisse a liberdade. Ao invés de ele dizer: “não tente conseguir a
liberdade”, ele os encorajava a consegui-la. Nenhum escravocrata diria uma
coisa dessas.
A única “escravidão” que Paulo
concordava era uma metáfora: a sujeição ao senhorio de Jesus Cristo, nosso
Senhor e Rei. Não uma servidão a homens, a quem Paulo dizia para não se
tornar escravos. Paulo, portanto, era contra a escravidão física a seres
humanos, e a favor de uma servidão espiritual a Cristo, no sentido de seguir os
seus ensinamentos morais e a conduta de vida cristã, da qual trataremos melhor
no capítulo seguinte.
Outra declaração explícita de Paulo
contra escravidão foi dita aos colossenses, quando ele fala sobre a “nova
vida”, que é a vida cristã de um regenerado:
“Nessa nova vida já não
há diferença entre grego e judeu, circunciso e incircunciso, bárbaro e cita, escravo e livre, mas Cristo é tudo e
está em todos” (Colossenses 3:11)
Paulo diz que Jesus quebrou a
barreira que dividia escravos e livres, da mesma forma que quebrou as
barreiras entre nacionalidade e etnia. Já não há mais diferença entre escravo e
livre, um não é melhor que o outro. Paulo foi um dos precursores ideológicos da
igualdade, tolerância e fraternidade, numa época em que quase todos
discriminavam e rebaixavam os escravos, ou sequer os consideravam plenamente
humanos. Para Paulo, todos estavam em igualdade espiritual, todos os seres
humanos tinham o mesmo valor diante de Deus e todos nós merecemos dignidade e
respeito, pois na teologia cristã todos os humanos foram criados à imagem e
semelhança de Deus:
“Criou Deus o homem à
sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gênesis 1:27)
Enquanto para os humanistas seculares
existem raças humanas mais “evoluídas” que as outras – o que quase sempre
resulta em discriminação e racismo – para a teologia cristã todos os seres
humanos possuem valor igual diante de Deus. O Cristianismo restaurou a dignidade
humana perdida no mundo. Gleason Archer se expressou muito bem quando disse:
"No que concerne ao
status moral da escravidão nos tempos antigos, devemos reconhecer que era
praticada por todos os povos antigos de que temos registros históricos:
egípcios, sumérios, babilônicos, assírios, fenícios, sírios, moabitas,
amonitas, edomitas, gregos, romanos, e todos os demais. A escravidão fazia
parte da vida e das culturas antigas, tanto quanto o comércio, os impostos e os
cultos no templo. Só depois do surgimento de um conceito mais elevado do ser
humano e de sua dignidade inata como pessoas criada à imagem de Deus, o qual
permeou o mundo em decorrência dos ensinos da Bíblia, é que surgiu também um
forte sentimento na cristandade contra a escravidão. Passou-se a questionar a
razão da existência do escravo. Não se tem conhecimento de um movimento equivalente favorável à
abolição da escravatura em nenhuma civilização não-cristã”[1]
A Bíblia, desde Jó, já mostrava que
todos os seres humanos são iguais:
“Se neguei justiça aos
meus servos e servas, quando reclamaram contra mim, que farei quando Deus me
confrontar? Que responderei quando chamado a prestar contas? Aquele que me fez no ventre materno não fez
também a eles? Não foi ele quem formou a mim e a eles no interior de nossas
mães?” (Jó 31:13-15)
O próprio Senhor Jesus também condenou
a escravidão quando disse:
"Vocês sabem que
aqueles que são considerados governantes das nações as dominam, e as pessoas
importantes exercem poder sobre elas. Não
será assim entre vocês. Pelo contrário, quem quiser tornar-se importante
entre vocês deverá ser servo; e quem quiser ser o primeiro deverá ser escravo
de todos. Pois nem mesmo o Filho do homem veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por muitos" (Marcos
10:42-45)
Jesus claramente proibiu a escravidão
entre os cristãos, que se baseia na forma mundana onde as pessoas importantes
dominam e exercem poder sobre os demais. “Não
será assim entre vocês” é uma enfática declaração de que, em uma sociedade
com cultura cristã, a escravidão deveria ser completamente repudiada. A única
forma de servidão que Cristo ensinava, como vemos no contexto, é a da
humildade. É alguém fazer o que o próprio Senhor Jesus fez aqui na Terra: se
despir de toda a glória para humildemente viver para ajudar o próximo, dando a
própria vida pelos outros se assim for necessário.
O Cristianismo é tão revolucionário na
questão da escravidão que é o único livro antigo que possui uma carta inteira dedicada a interceder por
um escravo. O apóstolo Paulo, ao invés de não se importar com a vida dos
escravos (como era o costume da época que perdurou por muitos séculos),
escreveu uma carta inteira a Filemom, presente no Novo Testamento cristão, cujo
único objetivo era interceder pela vida de um escravo fugitivo, chamado
Onésimo. A lei romana punia com a morte tal ato de desobediência, mas Paulo
rogou a Filemom, o dono do escravo:
“Mesmo
tendo em Cristo plena liberdade para mandar que você cumpra o seu dever,
prefiro fazer um apelo com base no amor. Eu, Paulo, já velho, e agora também
prisioneiro de Cristo Jesus, apelo em favor de meu filho Onésimo, que gerei
enquanto estava preso. Ele antes lhe era inútil, mas agora é útil, tanto para
você quanto para mim. Mando-o de volta a você, como se fosse o meu próprio
coração. Gostaria de mantê-lo comigo para que me ajudasse em seu lugar enquanto
estou preso por causa do evangelho. Mas não quis fazer nada sem a sua
permissão, para que qualquer favor que você fizer seja espontâneo, e não
forçado.
Talvez
ele tenha sido separado de você por algum tempo, para que você o tivesse de
volta para sempre, não mais como escravo, mas, acima de escravo, como irmão
amado. Para mim ele é um irmão muito amado, e ainda mais para você, tanto como
pessoa quanto como cristão. Assim, se você me considera companheiro na fé,
receba-o como se estivesse recebendo a mim. Se ele o prejudicou em algo ou lhe
deve alguma coisa, ponha na minha conta. Eu, Paulo, escrevo de próprio punho:
Eu pagarei – para não dizer que você me deve a sua própria pessoa”[2]
Paulo sabia que Onésimo, o escravo
fugitivo, corria sério risco de morte se fosse pego pelas autoridades romanas,
e Filemom poderia exigir o cumprimento da lei romana que previa a pena de morte
para o escravo. Então ele escreve uma carta inteira em favor de um escravo,
fato este que não tem paralelo em nenhum documento da história secular
(não-cristã) da época, pois ninguém dava atenção aos escravos, além dos
cristãos. Paulo não apenas salvou a vida daquele escravo ao interceder por ele,
mas também disse que todo o prejuízo financeiro causado a Filemom lhe seria
pago do seu próprio bolso!
Pense nisso: quem, em uma época onde o
escravo não era tratado nem como gente, iria escrever uma carta inteira rogando
pela vida de um escravo, iria correr o risco de ser condenado como cúmplice do
crime por ter ajudado o escravo que de alguma forma o encontrou e foi ajudado
por ele, e ainda por cima iria arcar do seu próprio bolso com todos os
prejuízos financeiros causados pelo escravo pelo tempo em que estava foragido?
Quem iria perder seu tempo, arriscar sua vida e perder seu dinheiro por alguém,
a não ser que este alguém (o escravo) fosse valorizado por ele?
Alguns ainda chegam a contestar: se
Paulo era contra a escravidão, por que ele não incentivou os escravos a se
rebelarem contra os seus senhores para serem livres? Eu penso que quem faz uma
pergunta dessas é realmente inconsequente. Pipe Desertor fez uma ótima sátira
de como Paulo deveria ter feito isso caso realmente quisesse levar essa ideia
adiante. Ele teria dito:
“Rebelem-se! Não os
sirvam! Não se sujeitem! Não esperem ser livres pela lei romana. Libertem-se
por si mesmos! Se forem obrigados a servir, sirvam com amargura e ódio aos seus
senhores! Os odeiem! Não os honrem de maneira nenhuma!”[3]
O que vocês acham que teria acontecido
caso tivessem seguido este conselho? Pipe conclui que seriam todos executados
ou presos. É por isso que os primeiros cristãos, mesmo contra a escravidão,
tinham que agir com sabedoria e prudência a respeito disso em um mundo que era
todo regido à escravidão. É fácil falar isso em um mundo onde a escravidão foi
superada, mas dizer nestes termos para aquela época seria o mesmo que
sacrificar a vida de milhões de escravos que não teriam a mínima chance lutando
contra as legiões romanas muito mais bem preparadas e treinadas. Seria um banho
de sangue, e Paulo teria sido responsável por isso.
Portanto, os conselhos dos apóstolos
aos escravos no Novo Testamento em nada têm a ver com alguma apologia à
escravidão, e sim um conselho sobre como eles poderiam lidar em meio àquela
realidade, sobre como viver de uma forma cristã ainda que em meio às
adversidades. Os cristãos não tinham poder, naquela altura, para iniciar uma
rebelião, por isso tinham que se adaptar às circunstâncias da melhor forma que
fosse possível. Mas quando os cristãos evangélicos ganharam o poder na Inglaterra
e nos Estados Unidos, não faltaram políticos cristãos que lutassem contra a
escravidão em frente aos humanistas seculares e aos cristãos não-praticantes,
que eram como ateus na prática.
Essa é a diferença: enquanto o
Cristianismo, se levado a sério e vivido
na real, caminha para o fim da escravidão, o humanismo não possui nenhuma
moralidade objetiva que leve a este mesmo caminho, nem nenhum conjunto de leis
morais que movam o coração de um humanista e que o leve a refletir e a lutar
pelos direitos humanos. O contraste é gigantesco. Enquanto humanistas ateus
como Marx e Engels eram vigorosamente a favor da forma mais cruel de escravidão
em pleno século XIX, os cristãos praticantes já eram contra a escravidão no
século I. É preciso ser muito ignorante para não perceber o abismo que separa a
moral de um e do outro.
E, mesmo assim, Dawkins ainda tem a
cara de pau de dizer em seu livro:
“E
há, também, os avanços na educação e, em particular, a compreensão cada vez
maior de que todos nós possuímos a humanidade em comum com membros de outras
raças e do sexo oposto – ambas as ideias profundamente não bíblicas que vêm da
ciência da biologia, especialmente da evolução”
Ideias “profundamento não-bíblicas”?
Se ele se informasse um mínimo que fosse,
descobriria que desde sempre a moral judaico-cristã foi a única que, muito
antes de Darwin, sustentou que todos os seres humanos são iguais, criados à
semelhança de Deus (Gn.1:27) e que merecem todo o nosso amor e compaixão (Gl.5:14).
Mas o pior não é isso, mas sim ele dizer que essas ideias vêm da teoria da
evolução – sim, aquela mesma popularizada por Darwin, que disse isso sobre a
sua teoria:
“Em algum período
futuro, não muito distante se medido em séculos, as raças civilizadas do homem vão certamente exterminar e substituir as
raças selvagens em todo o mundo. Ao mesmo tempo, os macacos
antropomorfos... serão sem dúvida exterminados. A distância entre o homem e
seus parceiros inferiores será maior, pois mediará entre o homem num estado
ainda mais civilizado, esperamos, do que
o caucasiano, e algum macaco tão baixo quanto o babuíno, em vez de, como
agora, entre o negro ou o australiano e
o gorila (...) Olhando o mundo numa data não muito distante, que incontável
número de raças inferiores terá sido
eliminado pelas raças civilizadas mais
altas!”[4]
Dawkins deveria realmente ter vergonha
de dizer que a ideia de igualdade não vem da Bíblia e sim do darwinismo – se
ele estudasse um pouquinho do primeiro e não fosse tão tendencioso quanto ao
segundo, nos pouparia de ouvir tantas bobagens.
Por Cristo e por Seu Reino,
Lucas Banzoli (apologiacrista.com)
(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")
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