quinta-feira, 2 de abril de 2015

Socialismo e Cristianismo são compatíveis?


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O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
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Sim, eu sei que muitos vão alegar que existem socialistas “cristãos”, e que portanto o socialismo não é estritamente ateísta. Mas isso surge por uma má compreensão do socialismo ou do Cristianismo (ou de ambos). Não, não é possível ser cristão e ao mesmo tempo socialista, a não ser no mesmo sentido em que é possível ser cristão e assassino, cristão e imoral, cristão e ateu, cristão e mau caráter, cristão e anarquista. Se você considerar “cristão” qualquer um que se diga “cristão”, então cristãos podem ser literalmente qualquer coisa, até mesmo anticristãos. Existem “cristãos”, neste mesmo sentido, que não creem nem na ressurreição de Jesus, nem que a Bíblia é a Palavra de Deus.

Mas se você excluir o sentido pseudo de “cristãos” e ficar somente com os cristãos mesmo, os cristãos de fato, aqueles que conhecem e vivem de verdade a fé cristã e são coerentes com os ensinamentos da Bíblia e com as palavras de Jesus, é lógico que não é possível ser cristão e socialista. Eu tenho observado constantemente que estes tais “cristãos” socialistas ou são falsos cristãos (infiltrados), ou não conhecem nada do socialismo a não ser uma caricatura totalmente deformada, do tipo: “o comunismo ajuda os pobres, o capitalismo ajuda os ricos”; “o comunismo é do bem, o capitalismo é do mal”, e discursos semelhantes convinientes a uma criancinha de seis anos, ou a um adulto não-crescido.

Há poucos dias eu encontrei um destes tais “cristãos” socialistas, que tem um site na internet onde defende ambas as ideias (Cristianismo e socialismo). É de dar pesar, mas ele simplesmente não sabe o que é o socialismo. Suas ideias sobre o socialismo são daquele nível de criancinha de seis anos. Ele disse que nunca leu Marx, nem Engels, nem outros socialistas de renome. Então eu entendi por que ele é socialista. Está explicado. Ele conhece apenas uma caricatura do socialismo, não o socialismo verdadeiro. Se ele se informasse melhor, estudasse Marx e os autores socialistas, conheceria o socialismo verdadeiro e sentiria uma enorme vergonha por um dia ter dito que Cristianismo e socialismo são compatíveis.

Ele, tragicamente, nunca leu a infame obra de Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, onde ele bombardeia simplesmente aquela que é a base de toda a fé cristã – a família. Um cristão que é contra a família não é cristão de jeito nenhum – é um infiltrado ou um ignorante. Ele também nunca deve ter visto Marx chamar a religião de uma “droga”, e não, ele não estava falando do sistema religioso, mas do próprio Cristianismo, da fé cristã em si, daquilo que até os desigrejados cristãos creem, que até ele mesmo (o “socialista cristão”) crê.

Ele também não deve ter lido Lenin, que, juntamente com Engels, afirmava que o marxismo é “absolutamente ateísta”[1]. Ele também deve ter um conhecimento histórico risível, e não deve ter percebido ainda que o socialismo, onde se tornou realidade no mundo, foi o regime que mais perseguiu, trucidou, torturou e executou cristãos sem qualquer parelelo na história, e onde cristãos eram forçados a renegar sua fé em Deus exatamente porque tais regimes eram essencialmente ateístas.

Ele não deve fazer a mínima ideia de como vivem os pastores nos regimes atualmente socialistas – Cuba e Coreia do Norte. Ele tem que agradecer ao capitalismo por ter um site cristão na web, porque se vivesse nesses lugares nem internet teria, e muito menos poderia escrever sobre Jesus. Não, ele não sabe nada sobre o socialismo. Está fora de órbita. Mais perdido que cego em tiroteio.

Como Olavo disse, “acabaram por deixar no ar uma sugestão satânica de que o socialismo, mesmo construído à custa do massacre de dezenas de milhões de cristãos, é no fundo mais cristão que o capitalismo. Não há alma cristã que possa resistir  a um paradoxo desse tamanho sem ter sua fé abalada. Ele foi e é a maior causa de apostasias, o maior escândalo e pedra de tropeço já colocado no caminho da salvação ao longo de toda a história da Igreja”[2].

E a Bíblia? O que ela nos diz sobre o socialismo? Uma das primeiras coisas que você pode observar, ao ler o Antigo ou o Novo Testamento, é que a Bíblia condena o roubo. O problema do socialismo é que ele é inteiramente baseado no roubo da propriedade alheia. Aquilo que antes era seu, depois vem o Estado socialista e diz que não é mais seu. Ele toma a sua propriedade e faz o que quiser com ela, e nem pergunta a sua opinião sobre isso. É pior do que o ladrão, porque o ladrão pelo menos deixa algo. Sua vida não é mais sua, você se torna um escravo do Estado. Cristãos que seguem a Bíblia são contra o roubo. A Bíblia chama Satanás de ladrão (Jo.10:10). É ele quem vem para roubar a propriedade alheia. Isso por si só já deveria ser suficiente para tirar da cabeça a demência de que Cristianismo e comunismo são compatíveis. Jesus nunca ensinou nada disso.

Ou então leia as epístolas de Paulo, que todo bom cristão lê, ou deveria ler. Paulo disse mais claramente que a luz do dia:

“Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes ordenamos isto: se alguém não quiser trabalhar, também não coma” (2ª Tessalonicenses 3:10)

Certo. Não quer trabalhar, vagabundo? Então também não vai comer. Morra de fome. Você pode achar isso duro, mas essa é a mais pura realidade do capitalismo. Aqueles que não trabalham porque não querem trabalhar e nem procuram emprego tendem a fracassar na vida e a não comer nada. Então vem o socialismo e inverte tudo isso. Ele diz que se você é um vagabundo que não quer trabalhar, vai receber a esmola que o governo te dá, igual aquele que se esforça para trabalhar recebe.

Então se você é trabalhador, esforçado, dedicado, empenhado, acorda cedo, toma ônibus, fica horas e horas em um serviço chato e depois volta pra casa para poder alimentar seus filhos, vai ganhar a mesma coisa que o vagabundo que não quer trabalhar ganha. Isso é o comunismo. Isso é o que Paulo combatia ao escrever aos tessalonicenses. Este tipo de ideologia é o que incentiva a ociosidade e o que resulta em uma multidão de desocupados e vagabundos. A Bíblia combate isso, porque ela repudia a visão comunista sobre a vida.

Então vem aquela meia dúzia de comunistas irados, que se acham cristãos, distorcendo grosseiramente textos bíblicos que em nada tem a ver com socialismo, apenas na cabeça deles. Tem gente, acredite, que usa o episódio da multiplicação dos pães e peixes para provar que Jesus era socialista. “Vejam só, Jesus dividou o pão entre a multidão!”, dizem eles. Sim, criatura, mas você se esquece de dizer que Jesus não tirou pão e peixe de ninguém para dividir com os outros. Ele simplesmente fez um milagre e fez surgir pão onde antes não havia nada.

Se um socialista conseguir fazer este tipo de coisa e milagrosamente fazer surgir comida sem tirar nada de ninguém, parabéns (e aproveite a ocasião para se proclamar um novo Jesus, tipo um Inri Cristo), mas, se você não consegue fazer isso, deixe de estupidez e argumente de forma séria, sem manipular os textos bíblicos. Tem gente tão desesperada em distorcer a Bíblia que cita Atos 2:44-45 para “provar” que os discípulos eram socialistas, vejam:

“Todos os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um conforme a sua necessidade” (Atos 2:44-45)

Eles só se esquecem de dizer que essa caridade existente entre eles era voluntária, e não obrigatória, como ocorre no comunismo[3]. Nenhum discípulo forçava alguém a ser cristão agarrando-o pela gola de sua camisa e tomando seus bens e propriedades para depois dividir entre eles. Não existe Cristianismo coercitivo, ninguém nunca é obrigado a nada. Assim como ninguém era obrigado a se converter, ninguém era obrigado a dividir seus bens se não quisesse. Isso faz absolutamente toda a diferença, pois este tipo de caridade é exatamente o inverso do comunismo, onde o Estado toma as suas propriedades (você querendo ou não) e faz o que quiser com elas.

O tipo de caridade existente entre os discípulos era uma caridade “capitalista”, ou seja, voluntária. No capitalismo, todos podem dar ou dividir seus bens com outra pessoa caso assim deseje. No comunismo esse voluntarismo não existe. Você é coagido a isso, ou é morto. O Cristianismo trabalha com o conceito de caridade dentro de uma visão capitalista, e não dentro de uma visão comunista. Nenhum apóstolo jamais disse: “Se você quer ser cristão, será obrigado a vender todos os seus bens e dividir com os outros”. Não. O que aconteceu naquela ocasião específica de Atos 2:2:44-45 é que os mais ricos, voluntariamente e por livre e espontânea vontade, decidiram vender o que lhes era excedente para poder ajudar os mais pobres.

Isso não é, nem nunca vai ser, a mesma coisa que comunismo. A Bíblia nos incentiva a caridade dentro de uma visão capitalista, onde nós somos incentivados a sermos caridosos e a ajudarmos o próximo com nossos bens caso sejamos ricos ou tenhamos mais do que um irmão pobre tem, e não a falsa “caridade” imposta pelo comunismo, que é onde o Estado toma tudo o que é seu (e tudo o que é do pobre também) e faz o que quiser com a sua propriedade sem perguntar a sua opinião sobre isso.

Infelizmente, tais mentes deformadas pensam que o estímulo à caridade significa ser comunista, o que é ridículo, só mostra o quão pobremente eles entendem o comunismo. O lei do Antigo Testamento, feita por Deus, estava cheia de exortação à caridade, e mesmo assim estava totalmente distante de ser uma lei “comunista”. Era capitalista no sentido pleno da palavra, e exortava a caridade mesmo assim. Em nenhuma parte do Novo Testamento Jesus ou os apóstolos mudam isso. Ao contrário, vemos por toda parte que os cristãos tinham propriedades privadas (Jo.20:10; At.16:34; Cl.4:15; Fl.1:2). Até os Dez Mandamentos prescrevem a propriedade privada, ao proibir tomar do outro aquilo que é dele (Êx.20:17).

Em suma, o fato de uma minoria de pseudos-cristãos que nada entendem de socialismo adotarem esta visão política em nada sugere que o socialismo real deixou de ser “absolutamente ateísta”, como diziam as mentes originais do marxismo. Isso também em nada tira do ateísmo o crédito pelo assassinato de mais de uma centena de milhão de pessoas. Os regimes socialistas no século passado eram oficialmente ateus, independentemente do que algum cristão pensasse a respeito. E o ateísmo não caiu de paraquedas no socialismo, como um acidente. Ao contrário: eles eram socialistas porque eram ateus.

Ao chegarmos a este ponto temos, ironicamente, que concordar tanto com um comunista (verdadeiro) quanto com um capitalista. Concordo com o comunista ateu Leon Tolstoi, quando ele disse que “o Cristianismo, em seu verdadeiro significado, destroi o Estado [comunista]”, e concordo também com o capitalista evangélico Martin Luther King, quando ele disse que “o comunismo existe hoje porque o Cristianismo não está sendo suficientemente cristão”.

Dawkins ainda nos pede, junto com John Lennon, que imaginemos um mundo sem religião. Felizmente, nós não temos que imaginar nada. Os regimes oficialmente ateus do século passado já nos mostraram o que é viver sem a religião. Como Robertson diz, “a filosofia e ideias que o senhor propõe nesse capítulo já foram experimentadas e, como já destacado, foram um fracasso espetacular”[4]. Um mundo sem a religião cristã provavelmente não teria a Inquisição e os dois malucos que mataram médicos abortistas há mais de uma década, e teria poupado 5 milhões de vidas. Mas um mundo sem o ateísmo teria poupado mais de 100 milhões de vidas só no último século.

Dawkins também nos diz que não acredita que um ateu no mundo demoliria Meca, Chartres, York Minster ou Notre Dame. Ele só se esquece de dizer que “a maioria dos ataques suicidas tem sido feitos pelos Tigres Tâmutes do Sri Lanka, seculares”[5].  Ele também se esquece dos ateus que queimaram milhares de igrejas e destruíram milhares de símbolos religiosos no século passado. Como Robertson diz, “bons mestres de classe média oriundos de Oxford não matam (a menos que o senhor assista a Inspector Morse), mas não era assim no tempo dos Mestres de Nuremberg nos anos 1930. Ateus não soltam bombas nem incendeiam? Experimente disser isso aos membros das 77 igrejas da Noruega que ficaram completamente queimadas quando alguns ultrazelosos jovens ateístas aceitaram e puseram em prática o ensino sobre quão perigosa e má a religião era”[6].

Dawkins demonstra uma descomunal ignorância e uma surpreendente ingenuidade ao comentar que não há evidência de que o ateísmo influencie ao mal. Ele parece viver em um mundo de fantasia, regado a fadas e a unicórnios – o mesmo delírio que ele atribui a Deus. Neste universo paralelo onde Dawkins vive, os ateus são os mocinhos e os cristãos são todo um bando de fanáticos que cometem atentados suicidas em nome de Deus. Como McGrath salienta, “está claro que Dawkins é um ateu encerrado numa torre de marfim, desconectado do mundo real e brutal do século XX”[7].

Sim, o ateísmo também pode levar ao fanatismo. Sim, o ateísmo pode levar alguém a odiar a religião e por sua vez os religiosos. E sim, esse ódio pode levá-lo a matar pessoas. Isso é histórico, sociológico e incontestável. A falta de crença nunca evitou que pessoas matassem outras, mesmo porque a falta de crenças religiosas não implica em não crer em nada, mas sim em adotar um outro conjunto de crenças (materialismo, darwinismo, humanismo, socialismo), que por sua vez também podem levar alguém a causar atrocidades, e de fato já levaram, muito mais do que a religião.

A “Encyclopaedia of Wars”, compilada por C. Phillips e A. Axelrod, contabiliza todas as guerras existentes desde 2325 a.C até hoje. São 1763 guerras. Destas, apenas 6% tem alguma motivação religiosa. Destes 6%, apenas metade envolvem cristãos (3%). E destes 3%, muitas vezes a religião atuou como causa secundária ou plano de fundo para algo maior que não a própria religião (como vimos anteriormente), o que abaixaria mais ainda este quantitativo que já é insignificante pelo todo.

Em contraste a isso, Vox Day, autor do livro “The Irrational Atheist”, constatou que 52 líderes ateus do século passado massacraram nada a menos que 148 milhões de seres humanos. Isso significa, em suas palavras, três vezes mais do que todos os seres humanos mortos em guerras nacionais, guerras civis e crime individual durante todo o século vinte combinado”[8]. Pense nisso antes de vomitar besteiras sobre a religião ser a causadora das guerras na terra e a raiz de todos os males. Não vomite ignorância.

Para terminar, vale a pena lembrar de um debate entre Dawkins e McGrath, que na verdade foi uma série de perguntas disparadas por Dawkins, sendo a primeira delas uma menção a um grupo de extremistas cristãos fanáticos que defendiam coisas absurdas que nenhum cristão normal defende, e então Dawkins despejou sua pérola:

“Como você se sente estando no mesmo grupo de pessoas deste tipo?”[9]

É claro que McGrath não se encontra no mesmo grupo de fanáticos que matam pessoas ou carregam uma bomba nas costas, mas se é verdade que um cristão tem que se sentir responsabilizado pelos atos de outro cristão em particular, então cairia bem a resposta de que se sente da mesma forma que se sentiria caso fosse ateu e estivesse no mesmo grupo de ateus convictos como Hitler, Stalin, Lenin, Mao Tsé-Tung, Pol Pot, Fidel Castro, Che Guevara e o desvairado da Coreia do Norte. Ou será que Dawkins usa um duplo critério?

Por Cristo e por Seu Reino,

(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")


        




[3] Além disso, ressalto que este é o único relato bíblico que mostra os cristãos fazendo este tipo de coisa. Não vemos nada parecido com isso ao longo de todo o resto do livro de Atos, nem nas epístolas, nem nos evangelhos, nem em mais lugar nenhum da Bíblia. Ao que parece, depois do fracasso evidente com a morte de Ananias e Safira (At.5:1-11), e especialmente depois que os discípulos foram dispersos pelas outras partes do mundo (At.8:4), os cristãos deixaram de agir desta forma, o que explica o porquê que não vemos nada sequer parecido com este sistema ao longo de todo o resto do Novo Testamento.
[4] David Robertson, Cartas para Dawkins, Décima Carta.
[5] David Robertson, Cartas para Dawkins, Primeira Carta.
[6] David Robertson, Cartas para Dawkins, Sétima Carta.
[7] Alister McGrath, O Delírio de Dawkins.
[8] Theodore Beale, The Irrational Atheist.

3 comentários:

  1. Obrigada pelo texto, pois estou cansada de só ver filósofos e cientistas ateus serem colocados como os que detêm a verdade, sendo que só há uma Verdade: Jesus. Deus te abençoe.

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  2. Excelente texto. Parabéns pelo trabalho e obrigado pelas informações.

    Que a Paz de Cristo seja com você sempre !

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  3. Nossa! Muito bom! Quero comprar seu livro.

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