------------------------------------------------------------------------------------------------
O trecho abaixo é extraído de meu livro: "Deus é um Delírio?"
------------------------------------------------------------------------------------------------
Sim, eu sei que muitos vão alegar que existem socialistas
“cristãos”, e que portanto o socialismo não é estritamente ateísta. Mas isso
surge por uma má compreensão do socialismo ou do Cristianismo (ou de ambos).
Não, não é possível ser cristão e ao mesmo tempo socialista, a não ser no mesmo
sentido em que é possível ser cristão e assassino, cristão e imoral, cristão e
ateu, cristão e mau caráter, cristão e anarquista. Se você considerar “cristão”
qualquer um que se diga “cristão”, então cristãos
podem ser literalmente qualquer coisa, até mesmo anticristãos. Existem
“cristãos”, neste mesmo sentido, que não creem nem na ressurreição de Jesus,
nem que a Bíblia é a Palavra de Deus.
Mas se você excluir o sentido pseudo de “cristãos” e ficar somente com os cristãos mesmo, os cristãos de fato, aqueles que conhecem e vivem de verdade a fé cristã e são
coerentes com os ensinamentos da Bíblia e com as palavras de Jesus, é lógico
que não é possível ser cristão e socialista. Eu tenho observado constantemente
que estes tais “cristãos” socialistas ou são falsos cristãos (infiltrados), ou
não conhecem nada do socialismo a não ser uma caricatura totalmente deformada,
do tipo: “o comunismo ajuda os pobres, o capitalismo ajuda os ricos”; “o
comunismo é do bem, o capitalismo é do mal”, e discursos semelhantes
convinientes a uma criancinha de seis anos, ou a um adulto não-crescido.
Há poucos dias eu encontrei um destes tais “cristãos”
socialistas, que tem um site na internet onde defende ambas as ideias
(Cristianismo e socialismo). É de dar pesar, mas ele simplesmente não sabe o que é o socialismo. Suas
ideias sobre o socialismo são daquele nível de criancinha de seis anos. Ele
disse que nunca leu Marx, nem Engels,
nem outros socialistas de renome. Então eu entendi por que ele é socialista.
Está explicado. Ele conhece apenas uma caricatura do socialismo, não o socialismo verdadeiro. Se ele se
informasse melhor, estudasse Marx e os autores socialistas, conheceria o
socialismo verdadeiro e sentiria uma enorme vergonha por um dia ter dito que
Cristianismo e socialismo são compatíveis.
Ele, tragicamente, nunca leu a infame obra de Engels, A Origem da Família, da Propriedade Privada
e do Estado, onde ele bombardeia simplesmente aquela que é a base de toda a
fé cristã – a família. Um cristão que é contra a família não é cristão de jeito
nenhum – é um infiltrado ou um ignorante. Ele também nunca deve ter visto Marx
chamar a religião de uma “droga”, e não, ele não estava falando do sistema religioso, mas do próprio
Cristianismo, da fé cristã em si, daquilo que até os desigrejados cristãos
creem, que até ele mesmo (o
“socialista cristão”) crê.
Ele também não deve ter lido Lenin, que, juntamente com
Engels, afirmava que o marxismo é “absolutamente
ateísta”[1]. Ele
também deve ter um conhecimento histórico risível, e não deve ter percebido
ainda que o socialismo, onde se tornou realidade no mundo, foi o regime que
mais perseguiu, trucidou, torturou e executou cristãos sem qualquer parelelo na
história, e onde cristãos eram forçados a renegar sua fé em Deus exatamente
porque tais regimes eram essencialmente ateístas.
Ele não deve fazer a mínima ideia de como vivem os pastores
nos regimes atualmente socialistas – Cuba e Coreia do Norte. Ele tem que
agradecer ao capitalismo por ter um site cristão na web, porque se vivesse
nesses lugares nem internet teria, e muito
menos poderia escrever sobre Jesus. Não, ele não sabe nada sobre o
socialismo. Está fora de órbita. Mais perdido que cego em tiroteio.
Como Olavo disse, “acabaram por
deixar no ar uma sugestão satânica de que o socialismo, mesmo construído à
custa do massacre de dezenas de milhões de cristãos, é no fundo mais cristão
que o capitalismo. Não há alma cristã que possa resistir a um paradoxo desse tamanho sem ter sua fé
abalada. Ele foi e é a maior causa de apostasias, o maior escândalo e pedra de
tropeço já colocado no caminho da salvação ao longo de toda a história da
Igreja”[2].
E a Bíblia? O que ela nos diz sobre o socialismo? Uma das
primeiras coisas que você pode observar, ao ler o Antigo ou o Novo Testamento,
é que a Bíblia condena o roubo. O
problema do socialismo é que ele é inteiramente baseado no roubo da propriedade
alheia. Aquilo que antes era seu, depois vem o Estado socialista e diz que não
é mais seu. Ele toma a sua
propriedade e faz o que quiser com ela, e nem pergunta a sua opinião sobre
isso. É pior do que o ladrão, porque o ladrão pelo menos deixa algo. Sua vida
não é mais sua, você se torna um escravo do Estado. Cristãos que seguem a
Bíblia são contra o roubo. A Bíblia chama Satanás de ladrão (Jo.10:10). É ele
quem vem para roubar a propriedade alheia. Isso por si só já deveria ser
suficiente para tirar da cabeça a demência de que Cristianismo e comunismo são
compatíveis. Jesus nunca ensinou nada disso.
Ou então leia as epístolas de Paulo, que todo bom cristão lê,
ou deveria ler. Paulo disse mais claramente que a luz do dia:
“Quando ainda estávamos com vocês, nós lhes
ordenamos isto: se alguém não quiser trabalhar, também não coma” (2ª Tessalonicenses 3:10)
Certo. Não quer trabalhar, vagabundo? Então também não vai
comer. Morra de fome. Você pode achar isso duro, mas essa é a mais pura
realidade do capitalismo. Aqueles que não trabalham porque não querem trabalhar e nem procuram emprego tendem a fracassar na
vida e a não comer nada. Então vem o socialismo e inverte tudo isso. Ele diz
que se você é um vagabundo que não quer trabalhar, vai receber a esmola que o
governo te dá, igual aquele que se esforça para trabalhar recebe.
Então se você é trabalhador, esforçado, dedicado, empenhado,
acorda cedo, toma ônibus, fica horas e horas em um serviço chato e depois volta
pra casa para poder alimentar seus filhos, vai ganhar a mesma coisa que o
vagabundo que não quer trabalhar ganha. Isso é o comunismo. Isso é o que Paulo
combatia ao escrever aos tessalonicenses. Este tipo de ideologia é o que
incentiva a ociosidade e o que resulta em uma multidão de desocupados e
vagabundos. A Bíblia combate isso, porque ela repudia a visão comunista sobre a
vida.
Então vem aquela meia dúzia de comunistas irados, que se
acham cristãos, distorcendo grosseiramente textos bíblicos que em nada tem a
ver com socialismo, apenas na cabeça deles. Tem gente, acredite, que usa o
episódio da multiplicação dos pães e peixes para provar que Jesus era
socialista. “Vejam só, Jesus dividou o pão entre a multidão!”, dizem eles. Sim,
criatura, mas você se esquece de dizer que Jesus
não tirou pão e peixe de ninguém para dividir com os outros. Ele
simplesmente fez um milagre e fez surgir pão onde antes não havia nada.
Se um socialista conseguir fazer este tipo de coisa e
milagrosamente fazer surgir comida sem tirar nada de ninguém, parabéns (e
aproveite a ocasião para se proclamar um novo Jesus, tipo um Inri Cristo), mas,
se você não consegue fazer isso, deixe de estupidez e argumente de forma séria,
sem manipular os textos bíblicos. Tem gente tão desesperada em distorcer a
Bíblia que cita Atos 2:44-45 para “provar” que os discípulos eram socialistas,
vejam:
“Todos os que criam mantinham-se unidos e
tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens, distribuíam a cada um
conforme a sua necessidade”
(Atos 2:44-45)
Eles só se esquecem de dizer que essa caridade existente
entre eles era voluntária, e
não obrigatória, como ocorre no comunismo[3].
Nenhum discípulo forçava alguém a ser cristão agarrando-o pela gola de sua
camisa e tomando seus bens e propriedades para depois dividir entre eles. Não
existe Cristianismo coercitivo, ninguém nunca é obrigado a nada. Assim como
ninguém era obrigado a se converter, ninguém era obrigado a dividir seus bens
se não quisesse. Isso faz absolutamente toda a diferença, pois este tipo de
caridade é exatamente o inverso do comunismo, onde o Estado toma as suas
propriedades (você querendo ou não) e faz o que quiser com elas.
O tipo de caridade existente entre os discípulos era uma
caridade “capitalista”, ou seja, voluntária. No capitalismo, todos podem dar ou
dividir seus bens com outra pessoa caso assim deseje. No comunismo esse
voluntarismo não existe. Você é coagido a isso, ou é morto. O Cristianismo
trabalha com o conceito de caridade dentro de uma visão capitalista, e
não dentro de uma visão comunista. Nenhum apóstolo jamais disse: “Se você quer
ser cristão, será obrigado a vender todos os seus bens e dividir com os
outros”. Não. O que aconteceu naquela
ocasião específica de Atos 2:2:44-45 é que os mais ricos, voluntariamente e por livre e
espontânea vontade, decidiram vender o que lhes era excedente para poder ajudar
os mais pobres.
Isso não é, nem nunca vai ser, a mesma coisa que comunismo. A
Bíblia nos incentiva a caridade dentro de uma visão capitalista, onde nós somos
incentivados a sermos caridosos e a ajudarmos o próximo com nossos bens caso
sejamos ricos ou tenhamos mais do que um irmão pobre tem, e não a falsa
“caridade” imposta pelo comunismo, que é onde o Estado toma tudo o que é seu (e
tudo o que é do pobre também) e faz o que quiser com a sua propriedade sem
perguntar a sua opinião sobre isso.
Infelizmente, tais mentes deformadas pensam que o estímulo à
caridade significa ser comunista, o que é ridículo, só mostra o quão pobremente
eles entendem o comunismo. O lei do Antigo Testamento, feita por Deus, estava cheia de exortação à caridade, e mesmo
assim estava totalmente distante de ser uma lei “comunista”. Era capitalista no
sentido pleno da palavra, e exortava a caridade mesmo assim. Em nenhuma parte
do Novo Testamento Jesus ou os apóstolos mudam isso. Ao contrário, vemos por
toda parte que os cristãos tinham propriedades privadas (Jo.20:10; At.16:34;
Cl.4:15; Fl.1:2). Até os Dez Mandamentos prescrevem a propriedade privada, ao
proibir tomar do outro aquilo que é dele (Êx.20:17).
Em suma, o fato de uma minoria de pseudos-cristãos que nada
entendem de socialismo adotarem esta visão política em nada sugere que o
socialismo real deixou de ser “absolutamente ateísta”, como diziam as mentes
originais do marxismo. Isso também em nada tira do ateísmo o crédito pelo
assassinato de mais de uma centena de milhão de pessoas. Os regimes socialistas
no século passado eram oficialmente ateus, independentemente do que algum
cristão pensasse a respeito. E o ateísmo não caiu de paraquedas no socialismo,
como um acidente. Ao contrário: eles eram socialistas porque eram ateus.
Ao chegarmos a este ponto temos, ironicamente, que concordar
tanto com um comunista (verdadeiro) quanto com um capitalista. Concordo com o
comunista ateu Leon Tolstoi, quando ele disse que “o
Cristianismo, em seu verdadeiro significado, destroi o Estado [comunista]”,
e concordo também com o capitalista evangélico Martin Luther King, quando ele
disse que “o comunismo existe hoje porque o
Cristianismo não está sendo suficientemente cristão”.
Dawkins ainda nos pede, junto com John Lennon, que imaginemos
um mundo sem religião. Felizmente, nós não temos que imaginar nada. Os regimes
oficialmente ateus do século passado já nos mostraram o que é viver sem a
religião. Como Robertson diz, “a filosofia e ideias
que o senhor propõe nesse capítulo já foram experimentadas e, como já
destacado, foram um fracasso espetacular”[4]. Um
mundo sem a religião cristã provavelmente não teria a Inquisição e os dois
malucos que mataram médicos abortistas há mais de uma década, e teria poupado 5
milhões de vidas. Mas um mundo sem o ateísmo teria poupado mais de 100 milhões
de vidas só no último século.
Dawkins também nos diz que não acredita que um ateu no mundo demoliria Meca, Chartres, York
Minster ou Notre Dame. Ele só se esquece de dizer que “a
maioria dos ataques suicidas tem sido feitos pelos Tigres Tâmutes do Sri Lanka,
seculares”[5]. Ele também se esquece dos ateus que queimaram
milhares de igrejas e destruíram milhares de símbolos religiosos no século
passado. Como Robertson diz, “bons mestres de
classe média oriundos de Oxford não matam (a menos que o senhor assista a Inspector Morse), mas não era assim no
tempo dos Mestres de Nuremberg nos anos 1930. Ateus não soltam bombas nem
incendeiam? Experimente disser isso aos membros das 77 igrejas da Noruega que
ficaram completamente queimadas quando alguns ultrazelosos jovens ateístas
aceitaram e puseram em prática o ensino sobre quão perigosa e má a religião
era”[6].
Dawkins demonstra uma descomunal ignorância e uma
surpreendente ingenuidade ao comentar que não há evidência de que o ateísmo
influencie ao mal. Ele parece viver em um mundo de fantasia, regado a fadas e a
unicórnios – o mesmo delírio que ele
atribui a Deus. Neste universo paralelo onde Dawkins vive, os ateus são os
mocinhos e os cristãos são todo um bando de fanáticos que cometem atentados
suicidas em nome de Deus. Como McGrath salienta, “está
claro que Dawkins é um ateu encerrado numa torre de marfim, desconectado do
mundo real e brutal do século XX”[7].
Sim, o ateísmo também pode levar ao fanatismo. Sim, o ateísmo
pode levar alguém a odiar a religião e por sua vez os religiosos. E sim, esse
ódio pode levá-lo a matar pessoas. Isso é histórico, sociológico e
incontestável. A falta de crença nunca evitou que pessoas matassem outras,
mesmo porque a falta de crenças religiosas
não implica em não crer em nada, mas sim em adotar um outro conjunto de crenças (materialismo, darwinismo, humanismo,
socialismo), que por sua vez também podem levar alguém a causar atrocidades, e
de fato já levaram, muito mais do que a religião.
A “Encyclopaedia of Wars”, compilada por C. Phillips e A.
Axelrod, contabiliza todas as guerras existentes desde 2325 a.C até hoje. São
1763 guerras. Destas, apenas 6% tem alguma motivação religiosa. Destes 6%,
apenas metade envolvem cristãos (3%). E destes 3%, muitas vezes a religião
atuou como causa secundária ou plano de fundo para algo maior que não a própria
religião (como vimos anteriormente), o que abaixaria mais ainda este
quantitativo que já é insignificante pelo todo.
Em contraste a isso, Vox Day, autor do livro “The Irrational
Atheist”, constatou que 52 líderes ateus do século passado massacraram nada a
menos que 148 milhões de seres humanos. Isso significa, em suas palavras, “três vezes mais
do que todos os seres humanos mortos
em guerras nacionais, guerras civis e crime individual durante todo o século vinte combinado”[8]. Pense
nisso antes de vomitar besteiras sobre a religião ser a causadora das guerras
na terra e a raiz de todos os males. Não vomite ignorância.
Para terminar, vale a pena lembrar de um debate entre Dawkins
e McGrath, que na verdade foi uma série de perguntas disparadas por Dawkins,
sendo a primeira delas uma menção a um grupo de extremistas cristãos fanáticos
que defendiam coisas absurdas que nenhum cristão normal defende, e então
Dawkins despejou sua pérola:
“Como você se sente estando no mesmo grupo de
pessoas deste tipo?”[9]
É claro que McGrath não se encontra no mesmo grupo de fanáticos que matam pessoas ou carregam uma bomba
nas costas, mas se é verdade que um cristão tem que se sentir responsabilizado
pelos atos de outro cristão em particular, então cairia bem a resposta de que
se sente da mesma forma que se sentiria caso fosse ateu e estivesse no mesmo
grupo de ateus convictos como Hitler, Stalin, Lenin, Mao Tsé-Tung, Pol Pot,
Fidel Castro, Che Guevara e o desvairado da Coreia do Norte. Ou será que
Dawkins usa um duplo critério?
Por Cristo e por Seu Reino,
(Trecho extraído do meu livro: "Deus é um Delírio?")
[3] Além disso, ressalto que este é o único relato
bíblico que mostra os cristãos fazendo este tipo de coisa. Não vemos nada
parecido com isso ao longo de todo o resto do livro de Atos, nem nas epístolas,
nem nos evangelhos, nem em mais lugar nenhum da Bíblia. Ao que parece, depois
do fracasso evidente com a morte de Ananias e Safira (At.5:1-11), e
especialmente depois que os discípulos foram dispersos pelas outras partes do
mundo (At.8:4), os cristãos deixaram de agir desta forma, o que explica o
porquê que não vemos nada sequer parecido com este sistema ao longo de todo o
resto do Novo Testamento.
[4]
David Robertson, Cartas para Dawkins, Décima
Carta.
[5]
David Robertson, Cartas para Dawkins, Primeira
Carta.
[6]
David Robertson, Cartas para Dawkins, Sétima
Carta.
[7]
Alister McGrath, O Delírio de Dawkins.
[8] Theodore Beale, The Irrational Atheist.
Obrigada pelo texto, pois estou cansada de só ver filósofos e cientistas ateus serem colocados como os que detêm a verdade, sendo que só há uma Verdade: Jesus. Deus te abençoe.
ResponderExcluirExcelente texto. Parabéns pelo trabalho e obrigado pelas informações.
ResponderExcluirQue a Paz de Cristo seja com você sempre !
Nossa! Muito bom! Quero comprar seu livro.
ResponderExcluir